Nesta quinta parte, continuaremos a analisar as estampas do Zodíaco de Johfra Bosschart (1919-1998). Desta vez, o signo de Virgem.
Pode rever os signos anteriores nos links a seguir:
- Touro: https://revistaacropolis.org/2022/05/07/el-zodiaco-de-johfra-tauro-arte-astrologia-y-simbologia/
- Gêmeos: https://revistaacropolis.org/2022/06/11/el-zodiaco-de-johfra-geminis-arte-astrologia-y-simbologia/
- Câncer: https://revistaacropolis.org/2022/07/23/el-zodiaco-de-johfra-cancer-arte-astrologia-y-simbologia/
- Leo: https://revistaacropolis.org/2022/08/20/el-zodiaco-de-johfra-leo-arte-astrologia-y-simbologia/
Lembremos que nas obras deste artista podemos encontrar ideias do neoplatonismo, passagens bíblicas, cabala judaica, astrologia hermética, gnosticismo, magia e mitologia.
A Virgem ou Virgo é um signo de terra. Por isso, os nascidos sob este signo costumam caracterizar-se pela força de vontade, que se traduz numa grande perseverança. São muito trabalhadores, de carácter calmo e introvertido, pacientes e tolerantes. A tudo isto, devemos acrescentar a necessidade de ser útil e receber apoio. Também são caracterizados por serem mais duros consigo mesmos do que com os outros.
O signo de Virgem é representado pela simbólica virgem estelar que é a mãe primordial de toda a vida, representada em quase todas as religiões. Johfra representa-a como a egípcia Ísis e a romana Ceres simultaneamente. Ambas deusas protectoras, figuras auxiliares, de quem os nativos de Virgem herdam o seu carácter prestativo.
A deusa egípcia Ísis é irmã e esposa de Osíris, a quem o seu invejoso irmão Seth matou, desmembrou e a cujos pedaços espalhou por todo o Egipto. Com o coração partido, Ísis, desconsolada, executou a missão titânica de juntar todos os pedaços do seu marido e, sendo a deusa da vida, ressuscitou-o. Mas não conseguiu encontrar o membro viril, simbolizando que Osíris não poderá gerar neste plano, já não pertence ao mundo dos vivos, mas sim ao além. No entanto, Ísis fica grávida de Hórus, que vingará a morte do seu pai matando o seu tio Seth e tornando-se faraó.
Ísis é a grande mãe que fertilizará a terra, cuidará da vegetação, servirá a humanidade e será venerada como a mãe do deus solar Hórus, características muito semelhantes às da Virgem Maria.
No eixo da folha podemos encontrar três níveis claramente diferenciados relacionados com a vida: a vida cósmica, a raiz da vida, a vida Una desenhada na nebulosa; que projeta a sua luz para a vida imanifestada, representada em Osíris; que por sua vez ilumina a vida manifesta simbolizada em Isis.
Ísis e Osíris constituem uma unidade, como irmão e irmã e como deus e deusa, cuidando Osíris das almas celestiais e Ísis cuidando das almas terrenas. O nome Ísis significa “passo a passo”, que é o desenho da coroa desta deusa e simboliza, entre outras coisas, que une a terra ao céu, o material ao espiritual. Por esta razão também se chama a “porta de Osíris”, pois todos aqueles que desejam tornar-se Osíris e alcançar a vida eterna, tiveram que passar por Ísis, a vida física e superar os seus testes.
É por isso que Johfra pinta a porta de um templo acima da cabeça de Ísis e, entre as duas colunas que representam a dualidade do mundo manifestado, encontramos Osíris, de pé, como símbolo de unidade.
Na mão esquerda, a Virgem leva um ovo transparente que é o símbolo original do nascimento, da vida e da fertilidade. E dentro do ovo encontramos uma chama, que simboliza o fogo divino, a vida invencível ou eterna.
Na outra mão a Virgem segura uma espiga, representando agora a deusa romana Ceres, deusa da agricultura, as colheitas, o alimento que permite a vida física. Também deusa da vida e da morte, dos ciclos, das estações. Ao redor da cabeça da Virgem há espigas e flores, que crescem na espiga; do seu vestido, que se confunde com o solo, nascem plantas.
O regente de Virgem é Mercúrio, o mensageiro dos deuses e também o astuto deus dos mercadores e dos ladrões, uma mistura interessante. Mas acima de tudo é o deus da razão, com a qual tenta esquadrinhar o mundo. Esta característica está muito presente nos nascidos sob este signo que buscam entender tudo e conseguem ser críticos e objetivos. Por isso, Johfra pinta Mercúrio na parte superior esquerda da imagem, com as mãos estendidas para a nebulosa, como se quisesse envolvê-la, compreendê-la.
Mercúrio é frequentemente representado com uma vara em torno da qual se enrolam duas serpentes. Neste caso, Johfra as pinta na parte superior, uma à esquerda e outra à direita, simbolizando os opostos complementares ou a harmonia por oposição.
No Egipto, o equivalente a Mercúrio é o deus Toth, deus da sabedoria, das leis e dos livros sagrados, relacionado com tudo o que pode ser medido ou calculado. Geralmente é representado com a cabeça de um íbis ou como um macaco cinocéfalo.
Toth está presente no julgamento da alma, momento em que se pesa o coração do defunto, comparando-o com a pena de Maat, que representa a verdade e a justiça. Se o coração for leve como uma pena, significa que o falecido é puro e pode entrar em Amenti, a terra dos deuses, onde reina Osíris. Se o coração é mais pesado que a pena, então o falecido ainda não está pronto e deve reencarnar para se purificar ainda mais.
Na imagem encontramos Toth no canto superior direito, na forma de um macaco cinocéfalo, segurando, numa das suas mãos, a balança com um coração e uma pena e na outra o selo planetário de Mercúrio. Também encontramos este deus representado, nos dois íbis pintados no canto inferior direito. Neste aspeto representa a sabedoria e o oculto. Por isso, juntamente com as aves, encontramos um pergaminho e dois livros: o pergaminho deixa ver o teorema de Pitágoras relacionado com a plasmação da matéria; um livro aberto que é a cabala judaica mostrando a árvore da vida e um livro fechado em cuja lombada vemos um “M”, fazendo referência ao livro que se diz ter sido encontrado no túmulo de Rosenkreuz, sobre a Materia Mater, a matéria primordial que originou tudo.
No canto inferior esquerdo, encontramos um chacal, representação do deus egípcio Anúbis, também presente no julgamento da alma. É um deus psicopómbico, pois é ele quem conduz as almas dos mortos até ao paraíso no momento da morte e à terra no momento do nascimento. De certa forma, Ele transmuta a vida em morte e a morte em vida e por isso Johfra o pintou ao lado de uma retorta e de um atanor, o forno em que os alquimistas realizavam a sua obra.
Ainda em relação à alquimia, Johfra incluiu nesta pintura os animais simbólicos dos quatro elementos que são, por sua vez, os dos quatro evangelistas, os da visão do profeta Ezequiel no Antigo Testamento e os do Apocalipse no Novo Testamento. O anjo no canto superior esquerdo representa o evangelista São João e o elemento Água. A águia à direita é São Mateus e o elemento Ar. O leão, abaixo no centro, é São Marcos e o elemento Fogo. E o touro, no centro à direita, é São Lucas e o elemento Terra. Os quatro aparecem a dourado para simbolizar a operação alquímica, a transmutação em ouro.
Eva Garda
Publicado na RevistAcrópolis, Córdoba, Argentina, em 11 de setembro de 2022.
FONTE: O Simbolismo do Johfra Zoodiac, Hein Steehouwer, 1975
Imagem de destaque: Signo astrológico de Virgem no Capitólio do Estado de Wisconsin. Creative Commons