Entre tantos valores que se sentem falta, a sanidade ocupa um lugar muito especial. Se estar lúcido é o contrário de estar louco, hoje existem características variadas de loucura em todos os níveis humanos, ao ponto que é difícil reconhecer quem é quem e de onde se encontra o subtil limite que diferencia uns dos outros.
Não vamos analisar os casos clínicos de loucura nos quais, de alguma maneira, é possível detetar causas físicas ou orgânicas que promovem o desequilíbrio. Embora essas causas não sejam tão claras, o que é evidente é a perda do equilíbrio mental.
Preocupa-nos, em troca, como criar e manter um bom juízo ao longo da vida. Uma coisa é a saúde mental, e outra coisa é ir perdendo a capacidade normal de juízo por falta de formação, de educação, diminuindo assim as capacidades racionais, o grande distintivo do ser humano.
Se damos por assente que todos viemos ao mundo com um potencial que deve manifestar-se ao longo dos anos, e em grau crescente, o que acontece ao juízo saudável, o juízo sensato, inteligente, aquele que terá que discernir e escolher? Se as oportunidades que nos apresentam, longe de serem úteis ao desenvolvimento do entendimento, o vão distorcendo ou atrofiando, o que teremos são loucos mais ou menos perigosos.
Estamos imersos no reino das opiniões. Proliferam programas na radio e televisão, onde se trata de ver quem grita mais alto, quem capta mais a atenção com um escândalo mais notável ou com um disparate mais atraente. Não se busca a razão, senão cada qual busca ter razão, a “sua” razão, além da verdade, lógica ou factos reais.
Como se pode desenvolver assim o bom juízo? Onde encontrará o equilíbrio quem apenas se dedica a essas fontes de informação?
Por outro lado, diante do mesmo facto, vemos como se usam dois argumentos totalmente opostos, embora ambos aparentam ter o mesmo valor. O espetáculo diário das discrepâncias entre as altas personalidades do mundo, é um quebrador de cabeças que, longe de conduzir ao juízo saudável, leva à perplexidade, à desilusão, ou pior, à solução fácil de “tomar partido” por uns ou por outros, segundo os acharmos mais ou menos simpáticos.
A tudo isto há que somar a imensa quantidade de argumentos que existem sobre um mesmo tema. Cada qual tem os seus apoios e as suas demonstrações, e o espectador é o que fica sem saber que fazer perante tanta variedade de opiniões. Não se educa o critério de seleção, embora se induza a pessoa a escolher algo sem pensar. Em todo caso, os elementos que ajudam a decidir-se são: o que está na moda? O que diz – não o que pensa – a maioria? O que é mais prestigioso ou indica que vive na vanguarda? Mas, desgraçadamente, nenhuma destas opções é boa para que prevaleça a sanidade.
Assim, os pobres seres humanos vivem a loucura do desacordo, de opiniões que mudam de um dia para o outro, de modas arrasadoras e inconsistentes, de ideias que se sustentam pela força ou apenas pelo carisma pessoal. Ninguém está louco, mas também não goza de sanidade, de inteligência, de sabedoria, de aptidão para pensar serenamente e escolher conscientemente.
Faz falta muita força para penetrar nesta selva e encontrar um caminho no meio de tanta vegetação caótica. Mas há que fazê-lo infalivelmente. Esse é o caminho que traçaram, seguiram e apontaram os verdadeiros e perduráveis sábios que teve e tem a Humanidade, e o que há que resgatar para dar seu lugar de honra à sanidade, ao pensamento educado, livre e, sobretudo, eficaz.
Delia Guzmán apresenta sempre uma brilhante claridade na sua escrita. Saber viver neste mundo de “vegetação caótica” é efetivamente o grande desafio.