Entre tantos valores que faltam, a cordura ocupa um lugar muito especial. Se ser cordato é o oposto de ser louco, hoje há traços variados de loucura em todos os níveis humanos, ao ponto de ser difícil reconhecer quem é quem e onde está o limite subtil que diferencia uns dos outros.
Não vamos analisar os casos clínicos de loucura em que, de alguma forma, é possível detectar causas físicas ou orgânicas que promovem o desequilíbrio. Ou, embora essas causas não sejam tão claras, o que fica evidente é a perda do equilíbrio mental.
Preocupa-nos, pelo contrário, a forma de criar e manter um bom senso ao longo da vida. Uma coisa é a saúde mental, e outra coisa é ir perdendo a capacidade normal do juízo por falta de formação, de educação, o que diminui as faculdades racionais, o grande diferenciador do ser humano.
Se tomarmos como certo que todos viemos ao mundo com um potencial que deve manifestar-se ao longo dos anos e em grau crescente, o que dizer do bom senso, o juízo sólido, inteligente, o que terá que discernir e escolher? Se as oportunidades que nos são apresentadas, longe de serem úteis ao desenvolvimento da compreensão, o vão distorcendo ou atrofiando, o que teremos são loucos mais ou menos perigosos.
Estamos imersos no reino das opiniões. Proliferam programas na rádio e na televisão, onde se trata de ver quem grita mais alto, quem monopoliza mais atenção com um escândalo mais notável ou com um disparate mais atraente. Não se busca a razão, mas cada um busca ter razão, a “sua” razão, além da verdade, da lógica ou dos factos reais.
Como se pode desenvolver assim o bom senso? Onde encontrará o equilíbrio quem se dedica apenas a estas fontes de informação?
Por outro lado, perante o mesmo facto, vemos como se esgrimem dois argumentos totalmente opostos, embora ambos aparentem ter o mesmo valor. O espetáculo diário das discrepâncias entre as altas personalidades do mundo é uma confusão que, longe de levar a um juízo saudável, leva à perplexidade, ao desencanto, ou pior, à solução fácil de “tomar partido” por uns ou por outros, segundo nos sejam mais ou menos simpáticos.

Discurso sobre a crise dos mísseis cubanos ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. Domínio Público
A tudo isso devemos acrescentar a imensa quantidade de argumentos que existem sobre o mesmo assunto. Todos têm os seus apoios e as suas demonstrações, e o espectador é aquele que fica sem saber o que fazer perante tamanha variedade de opiniões. Não se educa o critério de selecção, mas induz-se a pessoa a escolher algo sem pensar. De qualquer forma, os elementos que ajudam a decidir são: o que está na moda?, o que diz – mesmo que não pense – a maioria?, o que é mais prestigioso ou indica que se vive na vanguarda? Mas, infelizmente, nenhuma dessas opções é boa para que prevaleça a cordura.
Assim, os pobres seres humanos vivem a loucura da discordância, das opiniões que mudam de um dia para o outro, das modas arrasadoras e inconsistentes, das ideias que se sustentam pela força ou apenas pelo carisma pessoal. Ninguém está louco, mas também não goza de cordura, de inteligência, de sabedoria, da aptidão para pensar serenamente e escolher conscientemente.
É preciso muita força para penetrar nesta selva e encontrar um caminho através de tanta erva daninha caótica. Mas tal deve ser feito indefectivelmente. Esse é o caminho que traçaram, seguiram e apontaram os verdadeiros e duradouros sábios que a humanidade teve e tem, e o qual deve ser resgatado para dar o lugar de honra à cordura, ao pensamento educado, livre e, acima de tudo, eficaz.
Delia Steinberg Guzmán
Publicado na Biblioetca Nueva Acrópolis em 11-04-2015
Imagem de destaque: Atena, Museu do Louvre. Domínio Público