Cada um de nós é como um pequeno mistério, como um batel navegando nas imensas águas, essas águas que são, como diria Sócrates, uma grande ignorância: aquele célebre «Só sei que nada sei».
Por isso, o verdadeiro filósofo deve tentar chegar a todos os temas, a todas as inquietudes humanas, para poder, de alguma forma, introduzir-se em todos os mistérios, em todos os cantos desta natureza que nos rodeia, na qual estamos submersos e que também está dentro de nós.
Lamentavelmente, com o correr dos séculos, muitos homens e muitos povos aferraram-se, de maneira fanática ou dogmática, a determinadas afirmações e não quiseram escutar e abrir-se a outras realidades que não fossem as próprias que eles perseguiam nesse momento.
O problema é que, como se fossem de vidro, essas realidades voltam a um estado demasiado frágil e quebram-se ao entrarem em contacto umas com as outras.
É assim que devemos tentar chegar a verdades dinâmicas, que sirvam para todos e não somente no metafísico, mas também no quotidiano, em cada momento da nossa vida.
Todos nós sabemos quem somos e sabemo-lo, fundamentalmente, porque recordamos. A nossa capacidade de unir as experiências é o que nos dá a afirmação do nosso eu, diferente em cada um de nós.
Se num dado momento sofrêssemos de uma amnésia não saberíamos nada acerca da nossa vida. É evidente que necessitamos de recordar para unir essas experiências e criar um eu. Algo de onde partir e poder entender todas as coisas.
Esse eu, para se recordar, serve-se da memória e é a memória no colectivo que forma as raízes da História.
A Humanidade é realmente Humanidade porque conserva essas raízes que lhe permitem, de alguma forma, estabelecer um devir histórico, uma comparação de experiências, poder criar um progresso e estabelecer uma evolução dentro das suas possibilidades.
Geralmente, quando falamos de evolução fazemo-lo em termos pouco absolutos e pensamos que tudo evolui. Mas se tudo evoluísse, tudo seria mutável, e se tudo fosse mutável, tudo seria imperfeito.
Tem que haver algo em nós que procura a perfeição, mas tem que haver também algo, no plano interno que já tenha essa perfeição e não evolua: uma perfeição que, como diria Platão, é um Arquétipo que nos está aguardando.
Este mundo em que vivemos, diziam os antigos egípcios e depois repetido mais adiante através das compilações das Escolas de Pérgamo e Alexandria dos neoplatónicos, é um mundo mental. Não porque tudo seja Mente, mas porque neste momento da evolução o nosso veículo de consciência, o nosso veículo de apreensão da realidade é mental.
Se temos uma tigela e a submergimos no mar obtemos uma quantidade de água. E se a submergirmos num balde, também obtemos a mesma quantidade de água. O problema não é tanto onde submergimos a tigela, mas a capacidade da nossa tigela.
A Filosofia, quando é real e viva, procura dar maior capacidade a essa tigela, a esse recipiente, para poder recolher cada vez mais água da vida, para poder ter um conhecimento cada vez maior. Daí que, no nosso momento evolutivo, neste instante da evolução da natureza e das coisas, desde a nossa própria perspectiva, seja necessário ter essa capacidade prática e elástica para poder captar um segmento cada vez mais amplo da Realidade.
Para isso é necessário, obviamente, uma humildade intrínseca. O homem que estabelece uma relação com a realidade, que se permite duvidar de um modo são, não como dúvida filosófica sempiterna, mas de forma vital e humana, é aquele que pode realmente engrandecer a sua capacidade de captação da realidade.
Todo o mundo se interroga sobre a realidade, sendo que, basicamente, todo o homem e toda a mulher são filósofos. Apesar de títulos e universidades, não acreditamos que haja alguém que possa inventar filósofos. O homem e a mulher nascem filósofos.
A criança que desde pequena pergunta aos seus pais o que são as estrelas ou sobre como nasce, cresce e morre, tem uma atitude filosófica, de tendência até ao conhecimento. E essa criança fá-lo, evidentemente, através de um veículo mental.
Os homens, antigos e modernos, estão estreitamente relacionados com essa atitude mental. O homem mentaliza tudo e, como vamos ver, vive o que ele acredita e pensa que está a viver.
Se bebêssemos uma xícara de água limpa, boa e clara, e alguém nos dissesse que essa água estava empeçonhada, envenenada, o mais seguro era que começássemos de imediato a sentirmo-nos mal. A mente é terrivelmente poderosa. A mente dá realidade, cor, peso e sabor, a todas as coisas.
Um velho Mestre de Filosofia dizia que a repetição destas apreciações mentais é o que às vezes nos tortura. Suponhamos que um homem nos diz que somos tontos. Como não nos agrada, ficamos enojados interiormente. Se começamos a dar voltas ao tema, cada vez nos sentimos pior, agravando-se a situação paulatinamente. Disseram-nos isso uma vez e nós dizemos a nós próprios cem. Essa repetição, moldada pela nossa própria concepção das coisas, faz com que cada vez mais aceitemos isso de maneira concisa, forte e contundente.
Tudo o que nós vemos tem forma. Esta forma não é estritamente material ou física, o que é físico e material é a própria matéria, o sustento da forma mental que foi aprisionada numas dimensões e num tamanho. Porque o objecto foi pensado em algum momento por alguém, traçado, imaginado.
As formas das coisas são, pois, formas mentais presas na matéria e isso fá-las ter uma consistência especial.
Daí que tudo no nosso universo, quer seja físico ou emocional, está dentro dos esquemas mentais.
Como dizia o Kybalion, esse pequeno texto neoplatónico encontrado na pirâmide dos textos: «O Universo é mente, tudo é mental». Tudo o que vemos é fruto da mente. Tudo aquilo que deu um limite à matéria, à emoção ou ao pensamento, é produto da mente. O manejo destas formas ou veículos da mente é o que nos permite a comunicação e a vivência da realidade.
Dentro do nosso esquema mental, existe uma divisão septenária. Os esoteristas pensam que a única maneira possível de captação do homem e mesmo da Natureza, neste momento da evolução, é a captação mental. Nós vemos tudo através dos nossos olhos mentais, devido ao momento evolutivo em que vivemos. E esta divisão da constituição interna do homem, da sua capacidade de perceber a Natureza, é septenária.
Suponhamos que fazemos um exercício de retrocesso no tempo. Eu não sou o meu corpo, o meu corpo aparece, muda, desaparece e volta a aparecer, mas eu estou mais além do meu corpo. Estou mais além da minha parte vital. Tenho, obviamente, emoções, mas mais além das minhas alegrias ou das minhas tristezas estou eu, que sou o que recebe, interpreta e vive as referidas alegrias e tristezas.
Continuamos subindo até à parte mental que, na realidade se divide em duas partes: uma mente concreta, apoiada na realidade quotidiana e outra mente mais alta, que é a que especula sobre uma série de possibilidades metafísicas. Mas neste retrocesso eu continuo a estar por trás de tudo. Há uma relação entre o que passa entre o ser-devir e o ser-em-si, que sou eu mesmo e estou detrás de tudo isso.
Existe também uma possibilidade de intuição. De alguma forma, qualquer um de nós, diante do Parténon, não precisa de saber se pertence a uma ordem dórica, jónica ou coríntia, já que esta é uma especulação posterior. Somente a visão da obra de arte nos eleva e faz com que possamos captar essa beleza e nos situarmos em contacto directo com esse mistério que está frente a nós.
Mas haveria algo último por trás, neste exercício de retrocesso que podemos fazer prático, que podemos alcançar. Aquilo que está detrás de todas as coisas é o Eu.
O Eu vai sentir-se identificado com uma vontade de permanência. Essa identificação continua a ser um mistério. Mas haveria ainda que dar um grande salto no próprio mistério para poder fundir-se a todas as coisas, no Atman oriental e poder estar em todos os sítios ao mesmo tempo.
Desde há milénios, na Índia pratica-se um exercício que consiste em imaginar a haste de uma planta. Depois imagina-se que essa haste se abre em duas, sempre pensando nas duas partes. E assim sucessivamente, pensando sempre que se está em todas e cada uma das partes. Se se realiza, vê-se que é um exercício muito difícil e chega o momento em que praticamente se torna impossível poder perceber todas as ramificações da haste, poder estar em todas elas ao mesmo tempo. A nossa característica principal leva-nos até à unicidade, até um Eu que está em relação e num trabalho constante com o seu redor.
Para compreender melhor isto é necessário fazer uso da imaginação. A imaginação é uma arma poderosa que nos permite realmente conhecer as coisas em profundidade. Há uma Vontade de Ser que faz com que as coisas sejam como são e não de outra maneira. Esta Vontade de Ser radica-se no nosso veículo superior, cujas formas mentais são de uma cor violácea para os videntes. Podem construir-se formas mentais como se fossem pequenas caixas, que são, nesta escala vibratória do ser, de uma forma precisa, quase pontual e de uma cor violácea. A cor está em relação com a decomposição da luz, precisamente em sete cores básicas.
Quando se querem manejar as formas mentais, há que trabalhar com cor, com ritmo e vibração, neste caso correspondentes com o violeta. As formas podem ser muito complexas, geométricas e entrelaçadas e podem mover-se em ritmos diferentes, mas é a vontade que faz com que permaneçam e que não sofram desgaste.
Quando na vida quotidiana se quer saber se algo é feito através da vontade ou por simples desejo, somente há que observar a passagem do tempo. Se, apesar do decurso do tempo se continua a fazê-la com um entusiasmo idêntico, corresponderá a formas mentais de vontade; se for decaindo, corresponderá a um simples desejo. O desejo satisfaz-se e cessa; a vontade perdura. Essa é a diferença que existe entre sexo e Amor. O Amor perdura não importando os anos que passam nem as circunstâncias.
Quando existe verdadeiro amor por outro ser humano ou por outra obra determinada, esse amor não se torna grisalho nem envelhece com os anos, participa daquilo que os antigos gregos chamavam a «Afrodite de Ouro», uma espécie de beleza interior que não decai jamais. E embora os anos passem e as adversidades se sucedam, esse amor, convertido talvez em ternura, talvez em amizade ou qualquer outra coisa, continua fortemente enraizado em nós.
Se, por outro lado, o amor não pertence à parte superior, vamos ver como se esgota, como muda violentamente, como desaparece com os anos.
Deste modo, o que mais dura para nós são as formas lavradas com a parte espiritual.
Existem outras formas mentais, por exemplo, aquelas que acontecem no plano intuitivo ou religioso. A sua cor costuma ser prateada, às vezes com variações douradas. De algum modo é uma forma inversa da puramente espiritual, o Atma dos hindus. Nesta última somos nós que temos vontade, enquanto que na intuitiva, denominada Budhi, muito mais receptiva, nós não nos impomos mas tratamos, de alguma forma, de fazer com que o espiritual nos absorva. Sustentamos uma relação especial, de maneira que é como se recolhêssemos o licor espiritual numa taça de ouro.
Nessa taça de ouro recolhemos a fé interior, aquilo que sentimos, quer seja uma mística cristã, budista, ou talvez não tenha nome. Mas sem que ninguém nos tenha explicado e sem que talvez tenhamos lido Platão, sabemos no fundo de nós mesmos, mais além de todos os ressentimentos e discussões, que somos imortais, que viemos de alguma parte e que andamos até alguma outra parte. E sabemos que existe algo mais além de nós: os Deuses, os Anjos, o próprio Deus, com o nome que lhe queiramos dar, e intuímos que há algo muito superior a nós, aquele que faz com que quando estamos em grande perigo o invoquemos.
Quando alguém cai num poço grita: «Deus!», ou grita: «Mãe!», coisas que de alguma forma são sagradas para nós. Quando estamos em perigo colocamo-nos em relação com aquilo espiritual que subjaz em nós e que nos aguarda na volta de qualquer caminho.
A diferença fundamental entre um homem e um animal não está no facto de o animal pensar ou não, mas no facto do homem poder conceber Deus.
Uma Humanidade que perde contacto com esse Deus, que perde contacto com a sua espiritualidade, deixa de ser uma verdadeira humanidade, convertendo-se praticamente num grupo de humanóides que simplesmente respondem às suas paixões e pertencem aos seus ódios.
Mas para além do ódio e da paixão, está a crença e o sentir que temos um Pai, uma Mãe, um algo no Céu, naquele lugar que está para além das nuvens, das galáxias e de qualquer outra coisa; encontrando-se noutro plano, recebendo-nos e abrigando-nos, de quem todos somos filhos e em quem todos somos irmãos.
Por baixo deste estado evolutivo estariam as formas da Mente pura ou Manas. Neste caso, as formas mentais são firmes, directas, não pertencem mais do que a si mesmas e a sua cor é, geralmente, azul. São as formas mentais das ideias puras, ideias, por exemplo, sobre a Alma, sobre como teria que ser o mundo, sobre como nos deveríamos relacionar com o nosso Eu interior, sobre como nascemos, sobre a morte. São formas sempre em relação com o mental e o fenoménico. São veículos puros, azuis, firmes e não tão duradouros como os outros, visto não estarem banhados pela parte subtil e espiritual. Dois mais dois igual a quatro não necessita de uma vontade de perseverança, nem tão-pouco de uma relação com o mundo celeste ou divino. Dois mais dois são quatro; não há outra solução.
No entanto, necessitamos também de um veículo mental inferior que nos ajude a entender as coisas concretas. Este é um veículo mais sombrio e menos luminoso, embora nos permita estabelecer uma ponte e uma relação entre o de cima e o de baixo. Estas formas mentais têm a cor verde e correspondem à harmonia por oposição.
Verde é a cor fundamental da Natureza, não das plantas e das árvores, mas sim a cor interior do Universo no qual estamos. Mas aí, apesar da harmonia por oposição, é também onde estão, no entanto, as obsessões.
A repetição sistemática vai criando formas mentais complexas e inúteis. Quando foge do nosso controlo convertem-se naquilo que poderíamos chamar, na Psicologia actual, formas mentais circulares.
É devido a essa paixão circular escondida no interior desta outra mente, que os hindus a denominaram Kama-Manas, ou seja, a mente passional, tingida de desejos pelas coisas.
Há um desejo de recriar as coisas, de pensá-las de novo. E, às vezes, queremos parar mas não podemos.
Quando o nosso ciclo mental termina, recomeça novamente. Estamos no lugar das ideias-formas. É a mansão das obsessões.
Estas obsessões nem sempre são negativas. Existe nelas uma parte positiva, de acordo com o sentido e a direcção que tenhamos dado à nossa problemática.
Se continuamos a descer encontraremos o veículo Astral, o habitáculo dos desejos, a parte psíquica que realmente aparece sob formas vermelhas vivas, ou seja, veículos de pensamento que são desejos puros, não muito racionais embora sejam ainda formas de pensamento.
Aqui desejamos alguma coisa e simplesmente desejamo-la, sem razão. Às vezes inventamos razões para ficar bem, sem ter realmente argumentação lógica, e quando nos explicamos fazemo-lo para os outros.
Por baixo ainda estariam as formas prânicas, que são as formas da parte vital. A sua cor é o laranja. É aquilo que tem vida e duração, mas não com base numa vontade determinada. Estas formas vão-se mudando e recriando umas às outras, mas mantêm-se vivas.
Finalmente, as mais densas são as que correspondem à parte mental reflectida nos objectos físicos.
Estas formas mentais costumam também ter uma cor avermelhada, com tons similares ao sangue de touro, muito escuros, por vezes quase marrons, e estão envoltos ou reflectidos numa espécie de rede negrusca que também tem tonalidades das diferentes cores.
Corresponde àquilo que nos leva a concretizar algo, a desenhar algo, a formá-lo com as mãos. É a parte mais densa das nossas formas mentais e está em relação directa com o aqui e o agora.
Há que ter muito cuidado quando se trabalha com as formas mentais, porque podemos ferir os outros e a nós próprios.
As formas mentais são um pouco como esses instrumentos voadores de guerra ou caça que voltam à mão e que na Austrália se chamam boomerangs. Estas armas, que são muito primitivas, visto que existiam inclusive no período do Paleolítico Formativo, atiram-se e voltam para nós.
Um mau pensamento ou um mau desejo que atiremos para alguém, embora o alcance, embora o atinja, pode voltar de novo para nós e alcançar-nos. Isto está em relação com o que os orientais chamam Karma, a lei de acção e reacção. Ninguém escapa do Karma. O Karma actua sempre.
Quando semeamos trigo, recolhemos espigas de trigo, mas quando semeamos joio, colhemos joio.
É uma lei inexorável.
Geralmente, acredita-se que o sistema kármico é completamente mecânico, mas não é assim, porque é um sistema vital.
Acreditamos que se lançamos um mau pensamento, esse mau pensamento voltará para nós exactamente igual, mas não é assim. Quando se planta uma semente de batata, não se obtém uma nova semente mas sim uma planta com várias batatas.
Isto acontece porque na Natureza há uma série de elementos que os esoteristas chamam akáshicos que são espelhos de reflexão que potenciam as nossas ideias-formas. De modo que, se lançamos um dardo, seremos alcançados por muitos dardos e se lançamos uma rosa, chegar-nos-ão muitas rosas. Esta é a magia vital da Natureza. É a causa pela qual crescemos e é também a causa pela qual temos que defrontar, às vezes, terríveis problemas.
Se uma pessoa transmite um ensinamento, fá-lo com um grupo pequeno de pessoas. Mas se esse ensinamento se plasma, volta a ele com a potência de centenas ou milhares de pessoas. Isso cria em nós uma enorme responsabilidade: a responsabilidade sobre as nossas formas mentais.
Portanto, devemos cuidar não só da higiene do nosso corpo físico ou da nossa casa, mas também das nossas formas mentais. Devemos lavar-nos por dentro. É fundamental, porque as formas mentais voltam de novo para nós, e quando temos uma forma mental muito má e pesada, temos que tratar de a deitar fora, com cuidado para que não alcance os outros e trabalhá-la para que se vá transmutando pouco a pouco e volte para nós com outra natureza.
Isto seria a transmutação alquímica, e desde o ponto de vista moral, é a capacidade de aperfeiçoamento, de perdão interior, um perdão não outorgado mas elaborado, que nos permite adquirir algo válido, mesmo tendo lançado algo pernicioso.
Mas mesmo sendo bons, se num determinado momento lançamos uma má ideia, uma forma mental má, nesse mesmo instante devemos tratar de a transmutar, para que essa ideia lançada sem pensar passe de uma arma para um elemento que volte para nós mansamente.
Os antigos Magos da Cesareia imaginavam as formas mentais como se fossem animais e faziam com que tivessem formas animadas, similares a pássaros que voltavam sempre para as suas mãos.
Dentro dessas formas mentais os antigos Magos podiam inclusivamente efectuar exercícios de desdobramento, ou seja, trasladavam a sua consciência para uma forma mental determinada, para que essa forma pudesse passar determinados planos da Natureza e voltar de novo para o lugar onde o corpo estava à espera.
Mas isto já corresponde à parte prática, que quase nem vale a pena mencionar aqui, já que entramos numa zona perigosa.
Para poder manejar as formas mentais, o fundamental é ter mente e nem todos temos mente. Muitos somente temos uma massa de paixões, pensamentos e coisas encontradas, mas não temos uma mente verdadeira.
Como dizia Platão, há que recriar em nós o Indivíduo, aquela parte indivisa, aquela parte que não teme a morte, que não teme a adversidade, que vai seguir para diante e mesmo com os seus temores, defeitos e mesquinhices, continuará a caminhar e a caminhar.
Essa é a imagem do cavaleiro andante, de D. Quixote e de todos aqueles que na solidão, nas trevas e na adversidade, continuam a cavalgar. Benditos sejam! Porque graças àqueles que continuam a cavalgar na escuridão, graças àqueles que mantêm elevada a tocha da espiritualidade, graças àqueles que mantêm a vontade firmemente apontada até ao horizonte, graças àqueles que estão acima das suas mesquinhices humanas e sonham com um mundo melhor, todo o Universo continua, as nossas crianças nascem com esperanças, os nossos anciãos fecham os olhos com fé e os nossos homens e mulheres laboram por um Mundo Novo e Melhor, à espera desse Homem Novo que possa canalizar as formas mentais de tal maneira para que este mundo seja mais justo, melhor, mais honrado, menos agressivo e onde todos possamos viver realmente como irmãos.
Talvez, de tempos em tempos, tropecemos, é inevitável, entre irmãos; mas que seja um tropeção que não ofenda e depois possa converter-se em carícias e riso. Sejamos uma família outra vez, pois todos somos irmãos.
Façamos uma grande forma mental de uma grande paz, de uma grande concórdia, não de uma atitude estúpida e contemplativa, mas de um verdadeiro trabalho interior e exterior que nos permita conviver e recriar o que está roto, unir os pedaços da história velha e recriar uma História Nova em unidade, em força, em limpeza e em liberdade.
Maravillosas enseñanzas sobre este capítulo de la Magia que son Las Formas Mentales. El texto es en realidad una conferencia impartida porel profesor Livraga, convertida después en artículo.