Este artigo é a continuação de uma série intitulada
A cultura megalitica e a linguagem das pedras erguidas“.

 

Para falarmos da função teremos que distinguir diferentes tipos de construção, pois o facto de serem distintos leva-nos inevitavelmente a supor funções diferentes. No entanto há algo que podemos considerar comum a todas elas e que é uma função sagrada, olhando o mundo como imagem de uma ordem cósmica à qual se procura ligar. Isso dá ao Homem um sentido de verticalidade, uma ligação entre a Terra e o Céu, um centro do mundo assinalado por um marco, seja ele montanha, pedra ou menir, criando um ponto de união do Céu com a Terra, das energias do céu com as energias telúricas entrecruzando-se e formando a rede da vida em que cada nó ou cruzamento constitui o ponto sagrado que permite a comunicação entre os mundos e desse modo potenciando essas mesmas energias também no ser humano, que se encontra colocado entre as duas dimensões.

Tendo como base o facto de hoje já se conhecer relativamente bem a presença de correntes energéticas na terra com pontos telúricos importantes, muitos deles onde se localizam construções megalíticas, estabeleceu-se uma relação entre este sistema e algo muito semelhante que são os meridianos e pontos de acupunctura no ser humano utilizados pela medicina chinesa e a acupunctura, que aliás, na China também se aplica na Terra, através da ciência do Feng Shui, no estudo das Lung Mei (veias do Dragão) que não são mais do que essas linhas telúricas. Parece, pois, que algumas destas construções poderiam funcionar também como equilibradoras energéticas e com reflexos na saúde ou fertilidade das terras e contenção de certos fenómenos geológicos e geográficos como o caso do menir “Pierre Bonde”, nas imediações do Mont St. Michel, que se dizia que “obstruía a entrada no abismo” e que evitava que as águas invadissem as terras.

 

Menhir de Pierre Bonde. Wikimedia Commons.

Menhir de Pierre Bonde. Wikimedia Commons.

O que se sabe, coincidência ou não, é que em tempos as terras em redor do Mont St. Michel eram bastante férteis e que na altura das invasões cristãs, para apagarem os vestígios pagãos, muitas das pedras erguidas que eram veneradas foram derrubadas, entre elas um enorme dólmen que coroava o monte e onde posteriormente foi erguida a famosa Basílica. Pouco tempo depois destes derrubes as águas invadiram a baía do Mont St. Michel. Mais uma coincidência deu-se após a invasão cristã da Bretanha, onde também foram derrubados vários megálitos, e se produziu o afundamento do Golfo de Morbihan. Não faltam também inúmeras histórias entre os camponeses da Bretanha que arrancando menires das suas terras as viram tornar-se estéreis.

Também tradicionalmente, e praticamente em todas as zonas onde se encontram megálitos, existem tradições que os ligam à fecundidade das mulheres. Citando, a título de exemplo, o dólmen da “Pedra Quente” na Bretanha ou o Penedo da Fecundidade no Monte Abraão (Belas), onde as mulheres se vão roçar, deslizar sobre as pedra ou abraçá-la, constituindo uma forma de magia simpática que liga a fecundidade da mulher à fecundidade da Mãe-Terra, mas também pela energia presente nas pedras desses locais. Segundo os relatos de J. Boulnois era costume das mulheres bretãs esfregarem o ventre com pó tirado da rocha de um dólmen ou menir assim como com a água da chuva que ficava nas concavidades das pedras.

Dólmen. Túmulo passagem Crucuno. Departamento de Morbihan, na Bretanha. Wikipedia.

Dólmen. Túmulo passagem Crucuno. Departamento de Morbihan, na Bretanha. Wikipedia.

Como teremos oportunidade de ver mais à frente, é possível que cada uma destas construções não tivesse apenas uma função e que cada uma das hipóteses que diferentes estudos têm apontado seja parte de um todo que se torna difícil ao Homem do séc. XXI entender pelo seu espírito utilitário e pela diferença enorme de mentalidade que o separa desse tempo. Como refere Mircea Eliade: “toda a capacidade de intuição do homem moderno não basta para abarcar a riqueza de matizes e de correspondências que qualquer realidade cósmica tem para a consciência do homem arcaico.” [1]

Os dólmens (derivado do antigo bretão tol, mesa, e men, pedra) possuem vários subtipos: o dólmen simples, que consiste numa só câmara formada por suportes verticais e coberto por uma lage; o dólmen de corredor, que para além da câmara do dólmen simples, possui um corredor de acesso à câmara, formada por dois alinhamentos de suportes paralelos, sobre os quais pousam pedras planas que fazem de tecto; o dólmen de falsa cúpula, que consiste normalmente num longo corredor que termina numa câmara com abóboda cónica de alvenaria fechada normalmente com uma grande lage. Estes últimos são surpreendentes pela sua grandiosidade e perfeição da sua execução, só para termos ideia, um dos mais famosos é o de Romeral, em Antequera (Málaga) que tem um comprimento de 25 metros e uma câmara com 5,20 metros de diâmetro e o bloco maior pesa umas 170 toneladas. É curioso que este tipo de construção tem semelhança com construções presentes em outras culturas como a “Sala do Tesouro de Atreu” que se encontram em Micenas.

 

Tesouro de Atreu, Micenas. Wikipedia.

Tesouro de Atreu, Micenas. Wikipedia.

 

Dólmen do Romeral em Antequera, Espanha. Wikimedia Commons.

Dólmen do Romeral em Antequera, Espanha. Wikimedia Commons.

Para além destas classificações principais, uma série de detalhes aumenta a variedade de dólmenes. Acrescentando-se que se se encontram cobertos por terra, formando um montículo, denominam-se tumulus e em Portugal também denominadas mamoas. Se por sua vez o montículo que cobre é formado por pedras recebe a denominação de cairn. Embora uma grande maioria hoje não tenha qualquer cobertura, apresentando apenas as lages que formam o dólmen, pensa-se que na origem todos seriam cobertos.

Dólmen de Kercado. Bretanha, França. Wikipedia.

Dólmen de Kercado. Bretanha, França. Wikipedia.

Durante muito tempo sustentou-se que os dólmenes tinham uma finalidade meramente funerária, tendo em conta os restos humanos encontrados em alguns deles. Mas as características encontradas nesses enterramentos suscitaram questões intrigantes, pois aparecem indistintamente incinerados ou inumados, nuns aparecem crânios cuidadosamente perfurados, noutros aparecem ossadas propositadamente quebradas e por vezes os crânios pertencem a raças destintas e na maioria delas não existe qualquer vestígio de enterramento, embora nalgumas tenham sido enterrados exclusivamente amuletos. Perante tal mosaico de factos não se pode afirmar que a função, pelo menos a exclusiva, dos dólmenes tenha sido o de sepulturas, até porque o facto de nelas se encontrarem ossadas não prova que tenha havido essa finalidade entre aqueles povos que as ergueram, já que parece que muitas dessas ossadas são posteriores e se quisermos fazer um paralelismo entre estes dólmenes e as catedrais medievais, podemos observar que no interior destas últimas se encontram sepulturas e imensa gente aí foi sepultada, mas parece-nos evidente que nunca sustentaríamos a ideia que a finalidade das catedrais seria sepulcral, mas sim que aí foram enterrados por se tratar de um lugar sagrado.

Por exemplo, o Tumulus de Moustoir (Bretanha) onde para além de encontrados esqueletos, fragmentos de cerâmicas, achas (machados) votivas, também encontraram uma Vénus galo-romana, o que mostra a reutilização sucessiva por várias culturas, mantendo no entanto a mesma ideia sempre associada, pois neste caso em que aparece uma Vénus, faz todo o sentido já que é a deusa do nascimento, deusa dos inícios assim como da eterna juventude da alma, ideia que veremos estar presente no espírito destas edificações.

Uma das ideias associadas aos dólmenes é a da caverna, gruta ou antro, a matriz materna, centro de geração, símbolo da origem e por isso lugar de renascimento e iniciação. É o regresso “ad uterum” como o denomina Mircea Eliade, pois a forma dos dólmenes sugere-nos isso mesmo, um útero. É lugar de morte ou dissolução para poder renascer renovado num outro estado de consciência, uma câmara de regeneração. Por isso a gruta sempre fez parte dos Mistérios nas mais diversas tradições: no culto de Eleusis, nos cultos mitraicos, foi também o local de nascimento de Cristo e de culto dos primeiros cristãos, é de onde sai Amaterasu a deusa Sol do Japão, etc. Diz Louis Charpentier a este propósito: “Quando não há caverna, ou é insuficiente, cria-se uma caverna artificial que foi, para os megalíticos, a estância dolménica; para os cristãos, a cripta” [2]. A gruta era considerada o grande receptáculo da energia telúrica, a matriz da força renovadora e dadora de vida da mãe-terra onde desde sempre se realizaram os seus cultos que cristianizados deram origem ao culto das virgens negras, símbolo da matriz da vida, como no caso de Chartres onde antes da edificação da sua famosa catedral já havia um culto pré-cristão a uma virgem negra num dólmen e que para justificar posteriormente o seu culto cristianizado diz-se que tinha sido entregue por um anjo aos povos celtas anunciando o futuro nascimento de Cristo.

Dólmen de Menga, Antequera. Espanha. Flickr.

Dólmen de Menga, Antequera. Espanha. Flickr.

A gruta estava muitas vezes também em relação com o umbigo do mundo ou eixo do mundo, estabelecendo-se uma relação entre a gruta e a montanha. Na China, a “Casa dos homens” era uma gruta que tinha um mastro central identificado ao eixo do mundo ou estrada real. No templo-montanha indo-khmer um lingam (falo de Shiva) é esse eixo do mundo, que parte do cella do templo (uma caverna) e se prolonga ao céu. Em Delfos (Grécia), o Ônfalo ergue-se sobre o túmulo da serpente Piton. É interessante a presença deste eixo em tão diversos templos, pois assemelha-se com alguns dólmenes que no centro da câmara possuem um menir ou pedra erguida. Diz-se que funcionam como a chave de ressonância do templo, é como a “alma” (uma peça) do violino, que consiste num pequeno cilindro de madeira erguido na caixa acústica do violino: “a alma podemos compará-la connosco, sem ela não há vida. Alguém me disse que tentou tocar sem alma, ele e outros que tentaram, viram que é o mesmo que conversar com um cadáver… A alma, além de sustentar a pressão das cordas, serve também para transmitir a sonoridade, principalmente dos agudos para o fundo e consequentemente para toda a caixa de amplificação”[3].

Violino. Wikimedia Commons.

Violino. Wikimedia Commons.

 

A porta, local de saída da alma de uma morte real ou iniciática, tal como o fazem ainda nos nossos dias os xamanes, é a “porta do sol” ou o “olho cósmico”. Isso faz com que os dólmenes se encontrem na sua generalidade na linha Este-Oeste, pontos de nascimento e ocaso do sol, uns com abertura a Este e outros a Oeste, relacionando-se possivelmente com diferentes funções, segundo Robert-Jacques Thibaud do seguinte modo: “o eixo solar Este-Oeste é o símbolo do nascimento da consciência e da sua experimentação na Terra, da vida e da morte humana, da vigilia e do repouso e, naturalmente, da morte e da ressureição… o eixo Oriente-Ocidente materializa também o percurso daquele que vem regenerar-se junto da luz para, depois, difundi-la a Oeste, no mundo exterior e nas trevas” [4].

 

Newgrange. Foi construído de modo que, ao nascer do sol do dia mais curto do ano (solstício de inverno), um fino raio de sol ilumina por pouco tempo o piso da câmara no final de um longo corredor. Wikipedia.

Newgrange. Foi construído de modo que, ao nascer do sol do dia mais curto do ano (solstício de inverno), um fino raio de sol ilumina por pouco tempo o piso da câmara no final de um longo corredor. Wikipedia.

Uma grande parte dos dólmenes possui a sua entrada orientada para o nascer do Sol no solstício de Inverno, seguindo esta ideia da passagem da obscuridade à luz, pois é a partir do solstício de Inverno que a luz do dia vai vencendo a obscuridade noctura, é o despertar da luz espiritual daqueles que provavelmente realizaram a sua iniciação no seio destes dólmenes, do mesmo modo que Cristo, tal como Mitra têm o seu nascimento no solstício de Inverno no interior da gruta.

Existem dólmenes cujo “olho cósmico” ou “saída da alma” é um outro orifício ou abertura distinto da porta de entrada.

Restos de um dólmen em Aroz (Haute-Saône, França). Wikimedia Commons.

Restos de um dólmen em Aroz (Haute-Saône, França). Wikimedia Commons.

Sendo o dólmen a gruta, ele encontra-se sob a montanha (tumulus ou cairn). Se a gruta ou a câmara se relacionam com a energia telúrica da Terra, a montanha é a que se aproxima e liga ao Céu, comportando a ideia da transcendência. É a terra primordial ou ilha sagrada surgida das águas no início dos tempos, a escada por onde se baixa do céu e por onde se sobe desde a Terra, a morada dos deuses e a meta da ascensão humana. Vista de cima é o ponto ou centro do mundo, vista de baixo é uma linha vertical, o eixo do mundo e escada por onde ascender, é por isso simultaneamente centro e eixo e é também o limite entre o mundo visível e invisível. Diz Richard de Saint- Victor que “a ascenção desta montanha pertence ao conhecimento de si, e o que se passa no cimo da montanha conduz ao conhecimento de Deus”. Com este sentido todos os povos tiveram ou têm as suas montanhas sagradas: Monte Meru para a India, K’uen-luen para a China, Fuji-Yama para o Japão, Olimpo na Grécia, Alborj para os persas, etc. Muitas culturas também criaram as suas montanhas artificiais através de pirâmides ou montes sagrados como são os tumulus ou cairnes das culturas megalíticas.

“O dólmen é pedra de religião. Está situado num lugar onde a corrente telúrica exerce no homem uma acção espiritual; está situado num lugar onde “alenta o espírito”. Recria a caverna e encontra-se no seio da própria terra, é na habitação dolménica onde o homem vai buscar o dom terrestre”. [5]

Os menires (do bretão men, pedra e hir, comprida) são pedras elevadas verticalmente no solo. O maior que se conhece é o menir de Locmariaquer, na Bretanha, com 23,5 metros de altura e que agora se encontra quebrado no solo em quatro pedaços. O maior ainda de pé é o de Plouarzel, também na Bretanha, e que mede 12 metros.

O Géant du Manio, um menir em Carnac, na Bretanha. Wikipedia.

O Géant du Manio, um menir em Carnac, na Bretanha. Wikipedia.

Estes recebem por vezes também a denominação de bétilos, termo que significa “pedra sagrada”, e que deriva da tradição hebraica e da pedra de Bethel (“Casa de Deus”) sobre a qual Jacob repousou a caminho da Mesopotâmia e onde sonhou com a escada em direcção ao céu e que seria também a escada por onde Deus desceu à Terra. Esta era pois a pedra que lhe permitia estabelecer a comunicação entre a Terra e o Céu e que mais tarde seria a base de construção do Templo de Salomão. É o centro ou umbigo do mundo.

Parece pois que os menires seriam algo semelhante a agulhas de acupunctura terrestre, que colocados sobre pontos especiais de energia poderiam ter funções de activação ou regulação das energias telúricas. Sabemos que a Terra emite forças horizontais e recebe forças cósmicas verticais, estas duas linhas cruzam-se gerando importantes pontos telúricos onde se ergueram estas pedras, que uniam essas duas correntes. Alguns menires sugerem esta mesma dupla função pelos petróglifos neles gravados, como o caso do da Belhoa, no Alentejo, que tem um sol irradiando, símbolo das energias cósmicas e linhas serpentiformes, símbolo das energias telúricas.

Popularmente são muitas vezes chamadas “sementes que se desprendem das estrelas” ou simplesmente “pedras vindas do céu”. São as que traçam o caminho, talvez não só pela sua posição erguida cravada na terra mas também aludindo a essa relação que estabelecem entre as energias cósmicas e telúricas, assim como muito provavelmente pelas relações astronómicas que identificam e estabelecem e que têm vindo a ser alvo de vários estudos da astroarqueologia, muito especialmente nos agrupamentos de menires, tantos alinhamentos como cromeleques.

Os alinhamentos são constituídos por uma ou várias fileiras, paralelas ou não, de menires. Alguns destes alinhamentos são precedidos de um cromeleque ou um dólmen e parecem estar relacionados com o caminho, não apenas físico mas energético, que conduz ao recinto sagrado. Os alinhamentos mais famosos são os de Carnac (Bretanha), compostos por mais de 3000 menires repartidos em três grupos principais de alinhamentos ao longo de quatro quilómetros de extensão. O mais conhecido destes grupos é o de Kermario, composto por 1.029 menires (embora esteja incompleto) distribuídos em 10 colunas ao longo de 1300 metros, ultrapassando os maiores mais de 7 metros de altura. Outro dos grupos é o de Le Ménec formado por 1099 menires alinhados em 11 fileiras ao longo de 1165 metros de comprimento, finalizando com um cromeleque que ainda conserva 71 blocos. O terceiro é o alinhamento de Kerlescan com 555 menires, dispostos em 13 linhas ao longo de 800 metros, encontrando-se no extremo oeste um cromeleque ainda com 39 pedras. Estes alinhamentos encontram-se sob uma linha solar, um eixo que vai aproximadamente de este a oeste, localizando-se os mais pequenos a este e os maiores a oeste. No entanto outros alinhamentos diferem desta orientação, dispondo-se de N-NE / S-SW.

Alinhamento de Kermario, Carnac. França.

Alinhamento de Kermario, Carnac. França.

Estes alinhamentos estarão provavelmente relacionados com a disposição das linhas telúricas que, alinhando-se de forma serpenteada, facilmente nos transpõem para o imaginário sugerido por procissões e danças da serpente muito presentes ainda hoje em várias culturas, na realização de cerimónias tipo ofídicas decorrendo em deambulações serpentiformes rodeando estes menires até alcançarem o recinto sagrado.

Os cromeleques (do bretão crom, circulo e lench, praça) são disposições de menires em circulo, elipse, semicírculo ou rectangular. Embora o cromeleque mais conhecido seja o de Stonehenge, o maior é o de Avebury (Inglaterra), cujo círculo principal tem 365 metros de diâmetro e encerra uma superfície de 105.000 metros quadrados, num total de 650 pedras erguidas.

Avebury, Wiltshire, Reino Unido. Wikipedia.

Avebury, Wiltshire, Reino Unido. Wikipedia.

As orientações precisas das construções megalíticas fazem deles verdadeiros observatórios astronómicos. Embora Stonehenge seja o mais estudado e por isso também o mais espectacular pela quantidade de dados astronómicos aí presentes, muitas outras construções megalíticas têm vindo a ser estudadas e revelado impressionantes conhecimentos dos movimentos estelares.

Grandes trabalhos pioneiros na investigação da geometria, unidades de medida e orientação nas edificações megalíticas devem-se a G. Charrière e Alexandre Thom que tiveram início no ano 1961, de onde resultaram descobertas extraordinariamente interessantes sobre as principais edificações da região de Carnac além de descoberta de uma unidade de medida presente nestas construções e que era a mesma que foi utilizada na Grã-Bretanha, tendo sido denominada “jarda megalítica”. Embora as posições mais importantes do Sol, nos solstícios e equinócios, possam encontrar-se facilmente e de maneira evidente nestas construções, muitas outras são resultado de relações mais complexas. Charrière buscou por isso relações com um calendário lunar e detectou em centenas de edificações diversas orientações que à primeira vista resultavam incoerentes mas que de facto estabeleciam correspondências entre o calendário solar e o calendário lunar.

Um dos exemplos surpreendentes foi o cromeleque quadrilátero de Crucuno, composto actualmente por 22 menires medindo 40m por 30m e em que o ponto médio de cada um dos lados corresponde a um ponto cardinal e as diagonais às linhas solsticiais no nascer e pôr-do-sol.

Crómlech retangular de Crucuno. Wikimedia Commons.

Crómlech retangular de Crucuno. Wikimedia Commons.

A propósito da curiosa relação dos lados do triângulo rectângulo que o formam, 3-4-5, diz-nos M. Guillaume o seguinte: “O triângulo 3-4-5 é interessante desde o ponto de vista do simbolismo geométrico quanto ao homem: o seu lado mais pequeno, formado por 3 unidades, é o da verticalidade e corresponde ao Norte; o lado maior, formado por 4 unidades, é o da horizontalidade e das saídas do Sol nos equinócios (a linha Este-Oeste), e corresponde ao desenvolvimento das potencialidades no tempo; a hipotenusa, formada por 5 unidades, relaciona a verticalidade com a horizontalidade, e corresponde portanto ao homem no seu papel de conciliador entre o Céu e a Terra, quer dizer, o homem realizado, cuja representação clássica antiga é o pentágono estrelado (divisão do circulo em 5); esta linha indica a direcção da saída do Sol no solstício de verão (Noroeste).” [6]

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Mais à frente veremos também como alguns estudos têm vindo a estabelecer relação entre os petróglifos e conhecimentos astronómicos desta cultura.

(continuar a ler)

[1] Mircea Eliade: Tratado de História das Religiões
[2] Louis Charpentier: El enigma de la catedral de Chartres
[3] Luthier Tavares: Para que serve a alma do violino?
[4] Robert-Jacques Thibaud: Dictionnaire Symbolique de l’Art Roman
[5] Louis Charpentier: El enigma de la catedral de Chartres
[6] M. Guillaume: De la Astronomia a la Geometria Sagrada