No manifestado, tudo é descontínuo e dual. Como as ligações de uma longa cadeia, como os ossos num esqueleto, como as ondas no mar, tudo o que a nossos olhos se mostra, vai conservando particularidades que articulam o conjunto. Mas não devemos ver nisto uma “dialética de oposições”, pois as “oposições” não são outra coisa que complementos de uma imensa Escala Harmónica. E através de tantas coisas e seres como há no Universo, circula potente a corrente da Vida com o seu destino ou direccionalidade, à qual os antigos magos da India chamam Sadhana.

Perceber esta maravilhosa união e enlace entre as coisas, este “Hierosgamos” de acordo com os filósofos da Grécia Clássica, faz-nos superar a aparente descontinuidade e violência do Universo para entrarmos na realidade, mais além das hipótese humanas saturadas de dor e de ignorância. E o Homem, quando pretende trabalhar na Natureza, cai facilmente na tentação de manipulá-la e contamina-la com os seus próprios prejuízos e as suas fantasias. O envenenamento atual do ar e das águas é o infeliz resultado do que os teóricos dos finais do século XIX exaltavam nas chaminés de fumo das fábricas, às quais chamavam “catedrais do trabalho”.

O fracasso dos esquemas político-sociais no século XX, e a pouca força das igrejas das distintas religiões que, por sobreviver, terão cometido o fatal erro de colorir-se segundo as épocas, perdendo assim a sua força espiritual tradicional e portanto popular e folclórica, coincidindo com o principio da Era do Aquário, produziram um espontâneo e desordenado aparecer de seitas, grupos e escolas aficionadas no esoterismo… pois há um esoterismo carente de reais raízes filosóficas e teosóficas, sobrecarregado de orientalismo barato, de afinidade pelas drogas idiotas, de tendência a converter o amor numa forma de sexo-veiculo inteiramente monstruoso e antinatural, copiado das figuras simbólicas dos tibetanos. Este esoterismo – que obviamente de esotérico tem pouco, ou melhor dizendo nada – terá engendrado seitas e colaborado com mais do que se crê na dissolução da sociedade, da família física, literária e espiritual, e da mesma pessoa humana degradada face às forças elementares da natureza psíquica inferior, criando um compadrio vicioso com todo o feiticeiro e malvado.

A Árvore da Vida, Ignacio de Ries. Wikimedia Commons

Como em alguns quadros do Bosco, diabólicas criaturas torturam aqueles que os procuram ou os temem, e como o mais moderno Goya nos deixa refletir nas suas tintas negras de insólitas bruxas que buscam cavalgar vassouras e ridículos aprendizes de bruxos que temem as corujas, mil dos mal chamados esoteristas andam à caça e à pesca de qualquer pequeno monstro misterioso, de palavras em sânscrito ou em hebreu – que por outra parte, jamais terão estudado – que lhes conferem poderes e conhecimentos… quando eles são escravos das suas mais elementares paixões e ignoram os princípios mais simples na relação das causas e dos efeitos.

Tudo isto provoca deformações perigosíssimas.

Não só os indivíduos se tornam imbecis, ampliando os seus defeitos e subtraindo as virtudes, enchendo os seus dias de perdas lastimáveis de tempo que poderia ser dedicado ao estudo e ao trabalho honesto e as suas noites de pesadelos e psicoses, mas tornam-se perigosos grupos que inicialmente foram “esotéricos”.

O Período de Aquário, que durará uns 2000 anos, tem quatro momentos. Um primeiro de gel, outro de líquido, outro de vapor e um final de transferência ao signo seguinte de luminosidade por reflexo sobre uma humanidade decantada pelo sofrimento.

Aquarius. Pixabay

A primeira parte, donde estamos inexoravelmente a entrar, dará aos próximos tempos as características de uma nova “Idade Média” com a consequente paralisia da tecnológica, das comunicações e da cristalização das consciências em ideias de grande estranhez, separatistas e híper-individualistas. Formarão-se clãs com seus “tótems” e seus “tabus”. Uma violência selvagem e desesperada imperará sobre um conjunto humano corroído pela fome e pelas pestes.

Enquanto grupos humanos despertam a uma nova e mais elevada espiritualidade, não podemos ignorar a imensidade de fanáticos e os que, por razões de força maior, tão só se dedicaram ao saque, ao roubo e às formas mais primitivas de sobrevivência.

Desgraçadamente, os grupos esotéricos que poderiam menorizar estes males dando à juventude uma formação espiritual adequada aos tempos modernos, dedicam-se, na sua maioria, a plantar desde agora as sementes desse fanatismo, manipulação do individuo e superstição. No alucinante acoplamento, os materialistas marxistas e capitalistas, provocam-nos com seus próprios erros e fracassos. Os bandidos invadem as nossas cidades, que se fazem mais e mais perigosas à noite e mesmo em pleno dia. Os infratores e as prostitutas são coisa quotidiana que começa a provocar a saída das pessoas das cidades, tal como se passou a partir do séc. IV, no velho Império Romano.

Busca-se no campo, nas montanhas e nos bosques uma segurança que nos grandes centros urbanos já não existe… mas as pessoas esqueceram como se trabalha e se vive no campo e nas montanhas… e nas partes mais povoadas do planeta são deixados poucos bosques ou são artificiais os parques abandonados.

A manipulação da opinião pública tornou-se antipática e odiosa ao guardião da ordem, à polícia e ao militar, uma vez que são cada vez mais aceites os ladrões e os assassinos, aos quais perdoa-se e amnistia-se a qualquer oportunidade, na razão de um conceito político baseado no número e não nas qualidades humanas. O fracasso dos sistemas terá provocado desemprego e necessidades e estes males levaram a conceber o roubo como uma forma de compensação de uma sociedade que não acerta com nenhuma solução vantajosa, obscurecida pelas utopias herdadas do positivismo ateísta do século XIX.

A barbárie começa. A Idade Média terá começado. E o falso esoterismo é um dos cavalos do Apocalipse, por causa da corrupção que causa nos mais jovens e da anulação das reflexões naturais de defesa.

Bom é investigar e viver o esoterismo, a alma do esotérico… mas faz falta uma preparação filosófica, uma moral alta, uma disciplina de trabalho, uma purificação que nos leve a uma alta espiritualidade. Faz falta uma alquimia espiritual que transmute a liderança do egoísmo no ouro inexorável da virtude, verdadeira coroa do novo homem.

Alquimia. Max Pixel

Jorge Ángel Livraga Rizzi