Não me refiro ao seu Espírito Divino, que por sê-lo, não pode crescer nem decrescer, nascer nem morrer, mas àquela parte mais elevada em nós que comumente chamamos de Alma.

É sabido de todos que o exercício físico, por exemplo, desenvolve os músculos, e que qualquer aprendizado deve basear-se na tenacidade em exercitar aquilo que queremos fazer crescer, seja o domínio de um idioma ou de uma máquina qualquer.

Da mesma forma, se queres fazer a tua Alma crescer, deves exercitá-la incansavelmente, todos os dias. E, para isso, não são imprescindíveis exercícios especiais, mas basta ter uma atenção focada, naturalmente orientada para o espiritual. Ao observar o fototropismo das folhas de uma planta ou a casca das árvores, trata de captar aquilo que está mais interiormente colocado, aquilo que é o motor e a causa do que vês superficialmente. Acostuma-te a sentir as mãos de Deus ao teu redor, estudando cuidadosamente e com a pureza e a inocência de uma criança pequena, todas as coisas.

Acostuma-te a deter-te várias vezes ao dia, no teu trabalho e afazeres, para dedicar-te, ainda que seja por poucos minutos, a observar. Deixa o teu corpo quieto e em uma posição confortável, para que não te perturbe… e observa, escuta. Não te movas, não faças barulho, nem mesmo com a mente, e perceberás como te são reveladas coisas ocultas para o comum dos mortais. E essas coisas não são para serem proclamadas aos quatro ventos, nem para te vangloriares delas, mas para que vejas a existência das miríades de seres e acordos naturais que sustentam o Universo. Se compreenderes bem isso, tornar-te-ás mais humilde e mais inclinado às coisas do Espírito.

Para que a tua Alma cresça, a primeira coisa que deves fazer é percebê-la, e previamente a isso, deves silenciar o mais possível os tumultos de tua personalidade, pois, em meio de tanta gritaria, mal poderias escutar o murmúrio de um sábio.

Não é necessário que te tornes um asceta em nenhum sentido (o que, de qualquer forma, seria improvável que lograsses), mas simplesmente dar a cada coisa o seu verdadeiro lugar e a sua real importância. Que tens de comer? Então come, mas não busques consolo nisso, nem refinamentos que incitem a gula. E assim com todas as outras coisas. Controla a tua imaginação, pois é ela que dá reflexos dourados ao barro deste mundo, e te faz correr sempre para buscares tesouros que, finalmente, se desfazem em tuas mãos.

Essas são as coisas singelas que deves fazer para que te cresça a Alma.

Jorge Ángel Livraga
Publicado na Biblioteca Nueva Acrópolis, em 2016

Imagem de destaque: Pintura de William-Adolphe Bouguereau (1825-1905) retratando a alma de um indivíduo sendo carregada até ao céu por dois anjos. Domínio Público