Os Druidas das regiões celto-bretãs também eram chamados serpentes. “Eu sou uma serpente, eu sou um druida” – exclamavam. “O Grande Dragão só respeita as Serpentes de Sabedoria, as serpentes cujas tocas se encontram hoje debaixo das pedras triangulares” ou, por outras palavras, “sob as pirâmides nos quatro cantos do mundo”. Os Adeptos ou Sábios das grandes raças desaparecidas (Atlântida) viviam em habitações subterrâneas, geralmente por baixo de construções em forma de pirâmide, senão em verdadeiras “pirâmides”. Sim: havia pirâmides nos “quatro cantos do mundo” e não eram monopólio da Terra dos Faraós, embora pese na crença geral de que constituíam propriedade exclusiva do Egipto, crença essa mantida até à descoberta de outras pirâmides dispersas pelas duas Américas, sobre o solo ou subterrâneas, no meio de florestas virgens, bem como em vales e planaltos.
Teotihuacan, México.
Se na Europa não foram encontradas pirâmides geometricamente perfeitas, é no entanto inegável que muitas das cavernas primitivas ditas neolíticas, muitos dos enormes menires triangulares, piramidais e cónicos do Morbihan e da Bretanha, muitos dos túmulos dinamarqueses e “túmulos de gigantes” da Sardenha (…) representam cópias, ainda que grosseiras, das pirâmides. Tais monumentos são, na sua maior parte, obra dos primeiros habitantes do continente recém nascido e ilhas da Europa, de raças “algumas amarelas, algumas morenas e negras e outras vermelhas” que haviam sobrevivido à submersão dos últimos continentes e ilhas da Atlântida, há cerca de 850.000 anos (…). As “Serpentes de Sabedoria” conservaram bem os seus anais; a história da evolução humana está escrita no Céu, como está nos muros subterrâneos. A Humanidade e as Estrelas estão indissoluvelmente unidas entre si, em concordância com as Inteligências que governam aquelas últimas.
Extraído de “Helena Petrovna Blavatsky, A Doutrina Secreta, tomo III, cap. XII”
Fundamentos da Doutrina Druídica
Os Três Mundos
A concepção que os Celtas tinham do Universo está intimamente ligada aos três aspectos do Logos Solar. Os Celtas concebiam três mundos, cuja representação era feita por três círculos:
O Círculo de Keu-gant corresponde ao mundo dos arquétipos e é simbolizado por um círculo vazio. Nas lendas arturianas, esse círculo é representado pela abertura no meio da Távola Redonda.
O Círculo de Abred corresponde ao mundo sujeito à lei de causa e efeito, ao destino que se projecta como necessidade de evolução, ao longo da qual vida e morte se sucedem para produzirem renovação. É a cruz que no seu movimento de rotação desintegra e reintegra; é o homem/microcosmos crucificado na matéria para renascer como macrocosmos, sendo a sua unidade supra-consciente simbolizada pelo centro do círculo.

Os três mundos celtas representados por três círculos Keugant, Abred e Gwenved.
Este mundo está relacionado com Dagda e a sua moca: mata por um lado e ressuscita pelo outro. A justiça é aqui a própria realização do destino. Os hindus designavam essa justiça natural de Karma, lei de causa e efeito, o que significa que cada golpe da vida produz uma reacção, uma vibração íntima ao nível da consciência adormecida.
São os golpes que despertam o homem, pois a dor (a morte de algo) provoca um reajustamento ao qual corresponde um novo nascimento, num plano mais elevado da consciência. Este círculo é o mundo manifestado, cuja realidade espaço/tempo está representada pela cruz.
O Círculo de Gwenved é o mundo da beatitude, representado por um círculo de luz branca aureolado de folhas de carvalho, como símbolo da vitória final e da reunificação. Este círculo é o eterno retorno à Vida Una.
A Trindade Céltica
As três principais divindades do panteão irlandês são o deus supremo Lug e seus dois irmãos, o deus druida Dagda e o deus campeão Ogme.
O primeiro transcende as três funções sociais e cósmicas; os outros dois são as duas faces opostas e complementares da grande divindade. Equivalem à dualidade védica Mitra e Varuna e simbolizam a totalidade do mundo manifestado, o claro/escuro, o bom/mau, o celeste/terrestre.
O deus Lug e a sua simbologia
Louis Charpentier, na obra Os Gigantes e o Mistério das Origens, sublinha o seguinte: “recordamos que o deus Lug, como principal divindade celta, assume várias funções. É o engenhoso, o construtor, o mago, o braço-longo, o operador; tem um caldeirão onde prepara poções que curam os doentes e feridos e ressuscitam os mortos. O caldeirão é o primeiro Graal da mitologia céltica. “Lug é médico e alquimista, operário universal e a esse título tem diferentes personalidades(…).

O caldeirão de Gundestrup
Se olharmos num mapa as concentrações de nomes derivados de Lug ou Lusine, verificamos que a sua sucessão desenha curvas ou espirais. Isso não se deve a acidentes geográficos, visto que não os segue. Descobre-se através dos nomes dados, tratando-se por isso de uma obra humana. Não encontramos nela dispersão nem desordem, mas antes uma concentração organizada e persistente, portanto tradicional (… ) A espiral liga locais que possuem certas particularidades, tratando-se portanto dum caminho relacionado com o deus Lug e com os monumentos megalíticos. Ora os caminhos fazem-se para serem percorridos, para se ir de um ponto a outro, e uma espiral não é de forma alguma o mais curto caminho entre dois pontos; não deve, por isso, tratar-se de um caminho utilitário, no sentido material, mas sim de um caminho iniciático, de peregrinação(…).
Altar que descreve um deus tricefálico identificado como Lugus, descoberto em Reim.
Nalgumas dessas regiões consagradas a Lug, a terra tem estranhos efeitos sobre os homens, que não deixam de ter relação com as qualidades que a tradição atribui ao Deus Mágico (…).
Assim Lyon (Lugdunum) foi sempre considerada uma cidade particularmente misteriosa. Durante muito tempo, foi e creio que ainda é um centro de estudos esotéricos, onde vivem muitos alquimistas. Continua a ser um viveiro de feiticeiros, artistas, ensaístas e artesãos.
Extraído de “Louis Charpentier, Os Gigantes e o Mistério das Origens Lisboa: Liv. Bertrand, 1978”
Na obra Portugal e os seus Lugares Mágicos, Eduardo Amarante, referindo-se ao simbolismo desta divindade celta, diz o seguinte: “Ao deus Lug está associado o lobo ou o cão psicopômpico [1], portanto com uma função iniciática e solar, pois considerava-se este animal pelo seu poder de ver nas trevas, como aliás o Deus Anubis no Egipto, ou Xolotl no México pré-colombiano. Para alguns investigadores, o nome epónimo e mítico Lusus estaria directamente relacionado com a luz espiritual e teria perdurado no tempo como uma reminiscência daquele imenso saber, outrora acumulado no Ocidente e transplantado posteriormente para Luxor no Egipto.” [2]
A Metempsicose
O que os Druidas procuram fazer é que as almas não morram, mas passem sim, com a morte, de um corpo para outro; isso parece-lhes particularmente apropriado para estimular a coragem, suprimindo o medo à morte.
Júlio César
Na verdade, os Celtas não temiam a morte. Ao contrário, podemos constatar através de vários relatos lendários que, para o guerreiro celta, a morte era uma via de acesso ao Além-Terra. Morrer na força da juventude, de pé frente ao inimigo, constituía um modelo de heroísmo e um meio seguro para alcançar a Terra Prometida ou Sid (paz).
O facto de os Celtas possuírem uma concepção tridimensional da vida (humana-heróica-divina) reporta-nos à antiga concepção tripartida do homem, que provavelmente se relaciona com os ensinamentos secretos dos Druidas.
Concebia-se o homem sob três aspectos: o fisico, o psíquico e o espiritual, ou seja, corpo, alma e espírito:
• o corpo é o veículo temporal, que serve nesta vida como mero suporte de experiências.
• a alma é o verdadeiro agente da evolução que, como receptáculo da consciência, transporta a carga psíquica positiva e negativa que perdurará para além da morte corporal; subentende uma evolução gradual do Eu individual cuja purificação se vai processando durante o seu ciclo de manifestação. A metempsicose significa a passagem de elementos psíquicos de um corpo para outro.
• o Espírito constitui o eixo central, invisível, imutável e eterno, em torno do qual tudo gravita.
“Assumi diferentes formas
antes de ser livre.
Fui uma espada estreita e matizada,
fui lágrima no ar,
fui a mais brilhante das estrelas,
fui palavra entre as letras,
fui livro no início”. [3]
‘Sid’ e Vida depois da Morte: o Druida Psicopompo
“Há uma ilha distante.
À volta resplandecem os cavalos do mar.
Não há nem tristeza nem traição
no bem conhecido país do deleite.
Não há palavras rudes ou grosseiras,
apenas uma música agradável sussurra ao ouvido”. [4]
O Druida participava activamente nas cerimónias fúnebres. Como verdadeiro psicopompo, realizava o rito de passagem para o Além, restabelecendo o equilíbrio entre as obrigações humanas e a ordem cósmica.
Como intermediário entre os Deuses e os homens e, por isso, mestre dos elementos e do sacrifício, era ele que operava a magia cerimonial, tendo por finalidade facilitar a passagem da alma para o outro lado.
O corpo do defunto, antes de ser inumado, era lavado numa ribeira. Esse banho lustral e curativo recorda-nos a passagem simbólica da alma pelas águas do rio Letes, de que nos fala Platão.
Seguidamente, o Druida improvisava cânticos de lamentação e o rito finalizava com jogos fúnebres mediante a imolação de animais domésticos e de vítimas humanas que podiam honrar o nome do defunto (isto caso se tratasse de um herói ou rei). A viagem para o Além fazia-se de barco, pois os Celtas situavam o seu paraíso muito longe, no oeste da Irlanda, atrás do sol poente.

Cruz celta em Knock, Irlanda
O Sid, que etimologicamente significa paz, era um lugar onde não havia espaço para qualquer reminiscência da terra. Muito distante da ideia cristianizada do purgatório, o Sid é acima de tudo um lugar onde a alma pode esquecer-se das suas obrigações terrenas. Lá não existe sofrimento, culpa, doença, aflições que possam perturbar o repouso da alma. Como terra da felicidade, o tempo e o espaço estão aí abolidos, bem como todo o sentido da hierarquia. Ali não há rei nem druida; há apenas a promessa de amor da mensageira do Sid, as delícias do hidromel e os manjares divinos, acompanhados de música celestial.
Os Celtas acreditavam também que alguns lugares subterrâneos, montes e lagos, podiam servir de morada aos seus deuses e antepassados (ex: o túmulo de Newgrange, residência do Dagda). Esses lugares sagrados serviam como omphalos, ou seja, pontos de contacto entre este e o outro mundo, do qual o supremo sacerdote ou druida era o intérprete.
As Ilhas dos Bem-Aventurados
A viagem entre este e o outro mundo segue sempre uma estrada marítima:
A água é, no simbolismo universal, a matéria-prima, a Prakriti dos hindus, o germe dos germes, a origem da Vida, o elemento de regeneração corporal e espiritual. A água possui um poder purificador e a imersão é regeneradora, pois a água é ao mesmo tempo vida e morte / morte e vida, como o vaivém constante das ondas do mar.
Os Celtas representavam o Além através de ilhas maravilhosas situadas no noroeste do mundo. Os deuses irlandeses ou Tuatha Dé Danann, tribo da deusa Dana, vieram com os seus fabulosos talismãs de quatro ilhas do norte do mundo. A Irlanda, com a sua província central de Meath (que deriva de mide = meio) também é considerada uma ilha divina.
A ilha é sobretudo o símbolo de um mundo em tamanho reduzido, uma imagem completa e perfeita do cosmos, e tem um valor sagrado e concentrado, como se fosse ao mesmo tempo templo e santuário.
A ilha é simbolicamente um lugar de eleição, de ciência e de paz, no meio do oceano da vida agitada e da ignorância. Ela representa um centro primordial, por isso está sempre associada à cor branca.
Extraído de “J. Chevalier / A. Gheerbrant, Dictionnaire des Symboles”

A morte do rei Arthur. James Archer
Recordemos ainda que os Celtas diziam que os seus Instrutores (os druidas), provinham das ilhas situadas ao norte do Mundo, e que esta tradição indo-europeia se encontra também na Índia e na China, o que nos faz pensar que estamos perante uma tradição antiquíssima, talvez de origem mítica, relacionada com a Terra dos Hiperbóreos, a Terra de Apolo, deus da Luz e da Pureza, que constituía o centro espiritual dos primórdios.
Os Celtas falam também da Ilha Branca, Thule, ilha polar mítica em recordação da qual os Toltecas deram o nome de Tula à sua capital. Os Toltecas pertenciam a uma civilização da América pré-colombiana e diziam-se descendentes da ilha de Aztlan, que se situava no meio do Oceano Atlântico (Atlântida?).
Avalon ou Ilha das Maçãs (‘Aval’= ‘maçã’) é o nome da ilha mítica aonde o Rei Artur foi conduzido, para junto de sua irmã Morgana, a fim de ser curado das suas feridas mortais.
Aquela ilha é o paraíso dos Deuses e Heróis Celtas, o lugar onde se encontram as macieiras da sabedoria que conferem a imortalidade. O simbolismo é muito rico, pois este fruto, perpendicularmente ao seu pedúnculo, desenha com suas pevides a famosa estrela de cinco pontas, ou pentagrama, símbolo que é para todos os Iniciados a marca do homem que se liberta da matéria através da espiritualização do seu Ego.
A maçã é igualmente reconhecida como sendo o fruto que propicia a eterna juventude.
Em todas as mitologias, a macieira é considerada sagrada e venerada como “árvore do conhecimento”, regeneradora do Homem Interno.
Segundo os textos irlandeses, as mensageiras do Sid vêm buscar os heróis por mar, no seu barco de cristal. Aqui, a transparência do cristal simboliza a imaterialidade quer do navio, quer dos seus passageiros, fazendo alusão ao carácter espiritual daquela missão: transportar a alma para o outro lado da vida.
Druídas: o Bosque, Lugar Sagrado
A Árvore
A floresta céltica é um verdadeiro santuário: Nemeton. As árvores são o elo de ligação entre a terra e o céu; delas brotam as energias da vida universal.
A árvore representa uma manifestação muito especial das forças e do poder divino. Foi venerada em todas as culturas e em todos os tempos e esteve, desde os primórdios, intimamente relacionada com o Destino do homem. Nos seus primeiros tempos históricos, a Europa estava coberta de enormes selvas nas quais apareceram raras clareiras, como ilhas num mar verde. Nesse tempo, a vida do homem estava estreitamente ligada à selva e às árvores. A árvore alimentava a chama e, até há bem pouco tempo, a madeira e o carvão de madeira eram os únicos combustíveis. Por isso, a árvore fornece luz. E as abelhas que habitam nas árvores produzem mel e cera. Além disso, as árvores proporcionam alimentos básicos, não só frutos e bagos, mas sobretudo landes que se transformam em farinha e pão. Cedo se aprendeu a resinar as árvores e a transformar a resina em breu, alcatrão, perfumes, aromas e incenso. O homem viveu durante muito tempo com a árvore numa simbiose intensa. Por esse facto agradecia a sua presença, e via nela a origem do Mundo. [5]
Os Druidas tinham vários bosques sagrados, na Gália. Recordamos o grande centro iniciático da floresta dos Carnutes, no centro da Gália, onde eles se reuniam em segredo para eleger o seu sacerdote supremo e cortar o visco sagrado. O visco era o mais precioso talismã da magia druídica. Esta planta parasitária crescia em velhos carvalhos e tinha o poder sobrenatural de curar todas as doenças.

Bosque sagrado. Arnold Böcklin, 1886.
O Corte do Visco
Para os Celtas em geral e os Druidas em particular, o visco era um dos seus principais amuletos, senão mesmo o principal. O corte desta planta estava longe de ser algo corrente e quotidiano, pois compreendia um cerimonial extremamente complexo, que era realizado todos os anos pelo sexto dia após a primeira lua do ano. Uns dias antes daquela data e após os sacerdotes terem fixado o momento exacto do corte, os acólitos do grande druida percorriam as aldeias gaulesas e anunciavam a próxima celebração de tão fausto acontecimento, clamando em alta voz:
“Ao visco do ano novo!” Então, no dia fixado, o povo oriundo de toda a Gália reunia-se no bosque sagrado dos Carnutes, nas proximidades da actual cidade de Chartres. Este era o lugar eleito para se efectuar o seguinte cerimonial: Para começar, procurava-se um carvalho com pelo menos trinta anos de idade, face ao qual se colocava um altar, e até ele se dirigia uma longa procissão encabeçada pelos áugures ou adivinhos, os quais conduziam os touros brancos que iam ser sacrificados.
Acompanhavam-nos os bardos, cantando os hinos solenes, e atrás deles vinham os neófitos acompanhados pelo “arauto de armas”, personagem vestida de branco que agitava em suas mãos uns ramos de verbena com serpentes, enroscadas à maneira do caduceu de Mercúrio; encerrava a marcha o arquidruida, acompanhado pelos três druidas mais antigos, levando cada um deles um objecto determinado.
O primeiro levava o pão para o sacrifício, o segundo levava uma taça com vinho, o terceiro e último uma espécie de bastão, rematado por uma mão de marfim em forma de punho. Depois de pronunciar as fórmulas sagradas, o arquidruida queimava no altar um pouco de pão, derramava sobre ele umas gotas de vinho e depois distribuía aquela oferenda pelos elementos presentes. Como podemos constatar, este rito da repartição do pão e do vinho assemelha-se bastante ao da consagração e comunhão na missa cristã, não sendo descabido perguntar até que ponto muitos dos ritos cristãos são exclusivos desta religião, ou não serão cópias transformadas de ritos de religiões anteriores.
Após as cerimónias preliminares, o arquidruida subia ao carvalho e, com uma foice de ouro previamente consagrada, cortava o visco, que ia deixando cair sobre uma túnica que os outros sacerdotes seguravam. Em seguida, e enquanto os touros eram degolados, o arquidruida repartia o visco, como presente de ano novo, pelos participantes na cerimónia.
Extraído de Revista Nueva Acrópolis, Espanha, nº 137.
Símbolos Druídicos
O Ovo de Oursin
No simbolismo universal, o ovo é o gérmen a partir do qual se desenvolve a manifestação. Plínio, historiador romano da Antiguidade Clássica, chama a este ovo Ovum Anguinum, ou seja, “ovo de serpente”, símbolo do Verbo Criador que emana das águas primordiais.
Por ser ovípara é que a serpente se tornou símbolo da Sabedoria e emblema do Logos, dos “nascidos por si mesmos”. No templo de Filae, no Alto Egipto, preparava-se artificialmente um ovo de argila misturada com incensos diversos. Era um ovo incubado por um processo especial, dele saindo uma cerasta ou víbora de chifres. [7]
Ainda relacionado com o ovo, Plínio diz o seguinte: “Há uma espécie de ovo muito famoso nas Gálias. Durante o Verão, uma enorme quantidade de serpentes ficam enroladas umas nas outras com a baba e as secreções de seus corpos, formando uma bola a que se chama ‘ovo de serpente’. Os Druidas dizem que este ovo é projectado para o ar pelos silvos dos ofídios, sendo conveniente recolhê-lo no ar, sem o deixar cair ao chão” (Plínio, Hist. Nat. XXIX, 52).
O ovo de oursin representa provavelmente um símbolo arcaico do Ovo do Mundo, gérmen primordial da luz, do qual os Druidas (Serpentes ou Ovates) extraíam o seu saber original. Foram encontrados ‘oursins’ fossilizados em montículos de xisto na França (Saint Amand Deux Sevres e Barjou Côte D’Or); no entanto, não foram encontrados nenhuns elementos arqueológicos que pudessem ser associados a cultos funerários.
O Javali
O símbolo do javali é muito antigo. Tem uma origem hiperbórea e é o emblema do poder espiritual. Do mesmo modo que os brahmanes e os druidas também o javali vive refugiado nos bosques, alimentando-se do fruto sagrado dos carvalhos as bolotas. A fêmea do javali ainda hoje é escolhida para encontrar os famosos cogumelos negros, ou “trufas”, que se desenvolvem nas raízes dos carvalhos. Este cogumelo subterrâneo tem uma origem lendária misteriosa. Produto do relâmpago, ele era considerado um alimento sagrado, revelador do saber oculto.
Na Festa de Samain, dedicada ao deus Lug, o javali era o animal sacrificado para o manjar real.
O Carvalho

Bosque de carvalhos. Ivan Shishkin
O carvalho é a árvore consagrada às entidades celestiais. Zeus tinha um carvalho sagrado, em Dodona, tal como Júpiter no Capitólio de Roma. Símbolo da força e da realeza, o carvalho tem também a particularidade de fornecer o visco sagrado, denominado por vezes “a água do carvalho”. A árvore tem, na simbologia universal, uma analogia com o Eixo do Mundo, que faz a ligação entre os três mundos – o subterrâneo, o terreno e o celestial. Segundo Plínio o Velho, o nome grego dris, que significa carvalho, estaria ligado à etimologia do nome druida. Não deixa de conter alguma verdade a associação que somos levados a fazer entre o carvalho e o druida – a sabedoria e a força, pois, como diz um antigo axioma brahmânico, “o poder pertence àquele que sabe”.