Percebemos que existe no Ser Humano uma necessidade intrínseca de entregar-se a um projeto ou uma obra de ajuda ao outro, pela inevitável conclusão de possuirmos no nosso interior um fundo altruísta e generoso.

Suportados pela história e pela própria sociologia, percebemos que ao longo dos tempos sempre existiram Seres Humanos entregue a causas cujo fim seria o apoio físico, emocional e espiritual. Não há dúvida que existe dentro de cada um de nós uma capacidade de dação e de amor imensuráveis. Da mesma forma que possuímos no profundo oceano, a capacidade de resistência ante a adversidade e ante as quedas psíquicas de grande complexidade. Mas funcionando o Ser Humano como um espelho, também é verdade que a entrega ao outro surge quando sentimos e vivemos, por experiência própria, uma situação dolorosa e verdadeira. Aquilo a que poderíamos chamar de empatia.

A entrega ao outro também pode surgir pelo sentido de Dever ante a Sociedade, ante a própria Humanidade, que convive ao nosso lado mas que carece de oportunidades ou possibilidades, de diversas ordens. Esta dedicação e ajuda às necessidades do outro, denomina-se hoje de Voluntariado. Palavra cuja raiz provém de Vontade. Entende-se assim, que o Voluntariado é uma acção movida pelo Compromisso adjacente a essa mesma Vontade. Ou seja, quando o Ser Humano verbaliza “sim, eu ajudo”, “sim, eu estou disponível” está a comprometer-se com outro Ser Humano através de um ato livre de Vontade. No entanto, sabemos por experiência, que o “sim eu posso”, rapidamente se transforma em “não, não posso” para o desespero de toda uma equipa que o esperava.

Mas se existe uma necessidade intrínseca do Ser Humano participar em projectos de ajuda aos outros, porque motivo não se consegue comprometer?

Seguindo a linha de pensamento filosófico do Oriente e do Ocidente, existem alguns pontos interessantes que poderíamos referir. O mais importante encontra-se na confusão entre duas palavras muitos simples : Desejo e Vontade. Voluntariado provém da palavra Vontade pois equipara-se à imagem do Homem que sobe à montanha com uma pedra grande e pesada. Uma pedra que ele carrega pois acredita que no topo da montanha existe um Ideal, neste caso, de ajuda pura e isenta de recompensa. O Desejo, do qual não deriva a palavra Voluntariado, equipara-se à imagem do Homem que sobe a montanha com uma pedra, mas que desiste ao terceiro ou quarto movimento pois o vento começa a soprar, a chuva começa a cair, a tempestade a surgir e o seu comodismo leva-o à procura de outra montanha mais fácil, mas que nunca irá encontrar.

Como no mito de Sísifo, a Vontade é que pode fazer-nos chegar ao cume dos nossos Ideais.

O Homem do Desejo não tem um Ideal, tem uma ambição de prestígio, de reconhecimento, de aplausos pela sua “grande generosidade”. O Homem da Vontade, quer construir um caminho para todos pois o seu Ideal move-se por um sentido sincero e profundo de ajuda. Por este motivo, vemos no Voluntariado uma motivação inicial, como um fósforo que se acende, mas cujo azeite, ou seja, Vontade, não existe. A Vontade é denominada de Motor Interno, pois é aquilo que coloca em movimento todo o nosso Ser. A Vontade abre caminho para a verdadeira Essência, ou Vocação interior. Mas para que ela possa despertar é necessário existir um conhecimento de nós próprios. Uma interiorização consciente dos motivos pelos quais estamos entregues a uma obra de Voluntariado e que podemos dividir em:

Motivos egoístas e Motivos altruístas.

Como os reconhecer no nosso interior? Pela intenção que move a nossa acção.

Existem muitas armadilhas no Voluntariado. Uma delas centra-se na entrega movida pelo desejo de bem estar pessoal. O que não deixa de ser egoísta.  “Eu dou mas recebo mais”. O objectivo do Voluntariado não está na palavra “receber”. Esta palavra é contrária à essência do altruísmo. É importante ver o Voluntariado como uma via de expressão do Amor e da Boa Vontade que existe no interior do Ser Humano. E todo o Ser Humano, quando movido por ações Bondosas, Éticas, Cordiais, Generosas e Harmoniosas, sem uma intenção de recompensa e “holofote”, sente uma conexão interior, humilde e silenciosa.

Voluntariado implica Amor.
Amor implica Generosidade.
Generosidade implica Compromisso.
Compromisso implica Palavra.
Palavra implica acção.