Num artigo anterior (Um olhar filosófico a conceitos fundamentais da mitologia nórdica), tivemos comentando os fundamentos mitológicos das culturas nórdicas. Entre estes temas comentamos a origem do universo, a origem do ser humano e o Yggdrasil ou Árvore do Mundo onde todos os seres deste universo vivem e evoluem. Nesta oportunidade, aprofundaremos os diferentes mundos que estão contidos no Freixo Universal e nos diferentes seres que habitam cada um.
Os Nove Mundos de Yggdrasil
O freixo Yggdrasil é a “Árvore do Mundo” da cosmogonia escandinava; a árvore do universo, do tempo e da vida. Nesta cultura, o freixo “Askt” ou “Ash” representava a “Árvore do Conhecimento” e junto com “Embla” (o olmo), são as madeiras das quais os deuses Odin, Vili e Vé criaram o primeiro casal humano. O Yggdrasil é sempre fresco e verde, uma vez que diariamente é regado pelas Nornas – as três irmãs tecedoras do destino dos seres vivos, o Passado, o Presente e o Futuro -, com as águas da vida da fonte de Urd que flui na nossa terra [1]. É o Destino, a Lei hindu do Dharma, o que mantém o universo com vida e renovado.
As tradições nórdicas mencionam nove mundos compostos em três níveis dentro do Yggdrasil; um nível celeste, uma espécie de submundo e, no meio, um mundo terrestre. Embora as classificações atuais pareçam mostrá-los como lugares separados um do outro, é possível que alguns desses mundos estejam dentro de outros; ou que refiram, não a espaços “geográficos”, mas a diferentes estados de conhecimento e consciência, como comentaremos mais adiante.
É curioso destacar que o número nove é um símbolo fundamental em numerosas culturas. Por exemplo, podemos vê-lo resumido no artigo O simbolismo de… o número nove: “Nos escritos homéricos este número tem um valor ritual: Deméter percorre o mundo durante nove dias em busca da sua filha Perséfone; Leto sofre durante nove dias e nove noites as dores do parto para dar à luz os gémeos Apolo e Artemisa; as nove Musas nasceram de Zeus em nove noites consecutivas de amor com Mnemosine. Além disso, os nove intervêm frequentemente na imagem do mundo descrita na Teogonia de Hesíodo. Nove dias e nove noites são a medida do tempo que separa o céu da terra e esta do inferno. Segundo Dionísio Areopagita, os anjos são hierarquizados em nove coros, ou três tríades: a perfeição da perfeição, a ordem na ordem, a unidade na unidade.”
Este número nove, de mui difícil compreensão lógica, também será de grande importância ao medir a duração de grandes ciclos micro ou macrocósmicos. Nas antigas tradições da Índia, fala-se dos yugas, ou elos que representam as etapas do tempo no universo. O Mahayuga ou “Grande ciclo” cósmico, entre o seu início e a sua conclusão abarcaria um total de 4.320.000 anos, números que juntos dão 9. Entre os maias, o grande ciclo temporal chamado Alautun durou 23.040.000.000 dias, que somados os seus números dar 9 novamente. Entre os povos da Mesopotâmia, diz-se, por exemplo, que o rei-deus Dummuzi governou por 36.000 anos, mantendo esta chave numérica.
O número nove parece simbolizar o processo de gestação da vida, tanto nos embriões humanos, como em diferentes esferas sociais e cósmicas. É o símbolo da coroação dos esforços, o término de uma criação; a finalização de uma etapa que se completa, para dar lugar no próximo passo, para o número 10, ou seja, à unidade novamente; o começo de um novo ciclo.
Yggdrasil tem três raízes que chegam até ao frio Hel (inferno), até Jotunheim (mundo dos gigantes) e a Midgard (terra dos homens). Os seus ramos superiores estendem-se até dentro do céu e o seu ramo mais alto cobre com a sua sombra o Walhalla em Asgard (mundo dos deuses). Embora constantemente as suas raízes inferiores sejam mordidas pela serpente Nidhogg, do mal, das paixões e dos desejos, esta árvore secará e desaparecerá só no dia em que for travada a última batalha entre o bem e o mal, chamada Ragnarok.
É interessante mencionar que todos os povos antigos tinham a sua árvore do mundo, como explica H.P. Blavatsky: “Os babilónios tinham a sua “árvore da vida”, cujas raízes penetravam no grande abismo inferior ou Hades, cujo tronco estava na terra, e cujos ramos superiores chegaram ao Zikum, a mais elevada mansão celeste. Em vez do Walhalla, eles colocaram a sua folhagem superior na santa casa de Davkina, a “grande mãe” de Tammuz, o Salvador do mundo, o Deus Sol condenado à morte pelos inimigos da luz.”
Os Mundos dos Extremos do Frio e do Calor
Os mundos mais profundos e mais antigos são o Muspelheim e o Niflheim e representam as duas forças primordiais, que, ao se encontrarem no Ginnungagap, o vazio absoluto antes da criação, darão vida ao cosmos.
O Muspelheim é o reino onde se encontra o fogo criador; o movimento contínuo, o calor e a luz que dão vida. Este fogo sagrado é o que, em alguma medida, simbolizam Hefesto grego, Vulcano romano, Ptah egípcio, Agni hindu ou Pachacámac sul-americano. É o fogo que permite criar, o movimento que gera a manifestação, as chispas da consciência que no ser humano despertam o instinto da eternidade e a imaginação criativa. Este fogo é oposto e complementar à quietude absoluta e fria de Niflheim.
Neste mundo ígneo habitam Sutr e os gigantes de fogo, também chamados “os filhos de Muspell”, deus do fogo e pai das chamas. Como se pode encontrar no Glossário Teosófico de Helena Blavatsky, “Esses maus filhos do bom Muspell, (…) uniram-se formando um exército formidável, e travaram a “última batalha” (Ragnarok) (…)”. Estes gigantes do fogo tiveram um papel decisivo na batalha do fim do mundo nestas tradições.
O Niflheim mencionado é o inferno frio das tradições nórdicas. Um lugar de inconsciência eterna e inatividade. Representa o inerte e imóvel, a quietude da morte. O zero absoluto da escala Kelvin; o ponto onde não existe movimento de qualquer tipo. Niflheim era o reino gelado de escuridão e névoa.
Segundo a Edda em prosa, uma grande época antes da terra ser feita, existiu Niflheim. Dentro desta havia um poço fervente e venenoso chamado Hvergelmer do qual fluíam numerosos arroios (até esta fonte chega uma das raízes do Yggdrasil). O veneno dentro dos rios endureceu e transformou-se em gelo que se foi acumulando ao norte da Ginnungagap, o qual começou a encher-se de veneno gelado e tempestades formaram-se no seu interior. No entanto, na região sul de Ginungagap, faíscas incandescentes saíam de Muspelheim. Quando o calor e as faíscas de Muspelheim encontraram o gelo, ele começou a derreter. Estas chispas continuariam para criar o Sol, a Lua e as estrelas e as gotas formariam o ser primitivo: o gigante Ymir, de quem viriam as raças de gigantes, pelo menos os gigantes da geada.
O Jötunheim, um Lugar dos Gigantes
Sintetizados no ancestral Ymir, nestas tradições os gigantes representam as forças antigas e caóticas da natureza; a primitiva e rude matéria orgânica que num primeiro momento da criação daria vida aos elementos, de modo que mais tarde, novas gerações vivessem no universo.
Um gigante do gelo, descendente de Ymir, seria a mãe dos primeiros deuses e estes, da humanidade. Como menciona H. P. Blavatsky: são “(…) os gigantes, ou as Forças Titânicas pré-cósmicas da Natureza que se rebelam, e que, enquanto vivem na região da Matéria (o mundo manifestado de Platão), resistem a serem dominados pelos Deuses, os agentes da Harmonia Universal (…).
Grandes e poderosos magos, incrivelmente velhos, carregam a sabedoria de outros tempos, por exemplo, Odin procurará o gigante Mímir para obter a sabedoria completa e para a qual deverá entregar um olho. Perversos e versados em magia, os gigantes, equivalentes aos titãs gregos, seriam os principais dos deuses, liderada esta luta por Thor. Enquanto os jotun simbolizam a quietude, a inércia titânica própria da matéria que resiste, Thor é o deus do trovão e do raio, símbolo da vontade em prática. É a vontade a única que pode dominar e vencer a inércia material, colocando ordem sobre o caos, civilizando aquele não tem forma e isto aplica-se às culturas humanas e ao homem também.
Jötunheim era a terra dos gigantes (também conhecidos como jotuns). Este era um mundo caótico e selvagem que era retratado como um lugar escuro com densos bosques e montanhas cobertas de neve; um mundo frio e de gelo. De lá ameaçam os humanos no Midgard e os deuses que habitam Asgard. A cidade principal de Jötunheim é Utgard. Este último contém o sufixo – gard, que faz referência a “guarda” ou “próximo”; Utgard significaria “além da cerca”, lembrando-nos dos seres de gelo que habitam “além do muro” na Guerra dos Tronos.
Asgard e os Deuses
Os principais deuses da mitologia nórdica são conhecidos como os Ases, Asios ou Aesir e são os descendentes de Odin. São as personificações das forças criadoras da natureza e, por este motivo, inimigos eternos dos caóticos e destruidores gigantes.
O reino e a residência dos deuses escandinavos é o Asgard, o Olimpo nórdico; situado, segundo H. P. Blavatsky, “mais alto que a casa dos Elfos da Luz”, mas no mesmo plano que o Jötunheim. É governado por Odin e a sua esposa Frigg. O largo rio que separa a mansão dos deuses, da dos jotuns é o Ifing. Dentro de Asgard há um templo para os 12 deuses, Glaðsheimr, e outro para as 12 deusas, Vingólf e a planície de Iðavöllr é o centro. Esta nação celestial é composta por 12 reinos menores.
Snorri Sturluson descreve que Asgard é uma terra mais fértil do que qualquer outra, abençoada com uma grande abundância de ouro e joias. Correspondentemente, os Æsir sobressaíam entre todos os outros seres pela sua força, beleza e virtudes. Além da criação do ser humano, aos aesir se lhes atribui a criação de anões e elfos.
Os Elfos e as suas Moradas
“Ali [no céu] há um lugar que é chamado Casa de Elfos (Álfheimr). As pessoas que vivem lá são chamadas de elfos da luz (Ljósálfar). Mas os elfos escuros (Dökkálfar) vivem no subsolo, e não se assemelham na aparência a eles – e tampouco se assemelham a eles na realidade. Os elfos da luz são mais brilhantes que a aparência do sol, mas os elfos escuros são mais negros do que a própria escuridão.” (Snorri, Gylfaginning 17, Prosa Edda)
Alfheim é o mundo da harmonia onde tudo convive em paz, uma espécie de paraíso. É o reino da luz, o lugar de equilíbrio perfeito, onde habitam os elfos da luz. Segundo o Glossário Teosófico, “Debaixo do Asgard estava o Midgard, onde no radiante éter estava erguida a morada dos Elfos da Luz. Na sua disposição e ordem de localidade, todas essas mansões correspondem ao Devaloka e outras regiões dos hindus habitadas pelos vários tipos de deuses e asuras (equivalentes aos gigantes nas tradições hindus)”. De alguma maneira, também nos recordam os génios do Médio Oriente ou os anjos do cristianismo.
Originalmente estavam relacionados com a fertilidade, o culto aos ancestrais e representados como homens e mulheres jovens, de grande beleza, que vivem em florestas, cavernas ou fontes. Eram considerados seres de longa vida ou imortais e com poderes mágicos, libertados das algemas do mundo físico.
Os elfos luminosos têm relação direta com os elfos escuros, pois são “parentes de sangue compartilhado”, mas com objetivos diferentes. Elfos escuros, elfos de escuridão ou anões negros arrastam-se de um lado para o outro nas escuras cavernas da Terra e fabricam armas e utensílios para os seus pais divinos, o aesir.
O Svatalfheim é o mundo subterrâneo onde habitam estes elfos escuros. Numa chave de interpretação, este é o plano do oculto, o que habita entre a superfície e o submundo; o que permanece no mundo subconsciente e desde aí constrói para o mundo da superfície.
Esses seres ocultos e com grandes poderes de construção, poderiam se relacionar com os cabiros, ajudantes de Hefesto no mundo grego. Diz-se que os filhos do anão Iwaldi foram os que fabricaram para Odin a lança mágica e estas personagens também teriam forjado o famoso martelo de Thor para enfrentar os jotun, o Mjolnir. São grandes arquitetos, inteligentes e trabalhadores, e entre outras maravilhas, criaram o martelo Mjolnir para Thor, a lança Gungnir para Odin, o anel mágico Draupnir, e o navio Skðblaðnir. O colar Brisingamen de Freyja, a corrente Gleipnir, que amarra o lobo Fenrir, e o javali dourado de Freyr, Gullinbursti, são outras obras suas.
É curioso destacar que esta dualidade e familiaridade entre elfos e anões pode ser vista em obras mais recentes, como as de J. R. R. Tolkien. Por exemplo, no “O Senhor dos Anéis”, o anão Gimli competirá constantemente contra Legolas, o elfo. Na trilogia de filmes chamados “O Hobbit” o rei dos anões deve entrar no interior da montanha, para resgatar um poderoso cristal protegido por um dragão; nesta tentativa, deve enfrentar a sua própria personalidade e libertar-se de todos os seus desejos egoístas para usar a arma contra as trevas.
O Vanaheim e os Vanires
Nesta zona intermediária entre os mundos extremos também encontramos o Vanaheim, o mundo da natureza pura habitada pelos vanires ou wanes. Estes eram uma raça de deuses de grande antiguidade, adorados na aurora dos tempos pelos antigos escandinavos e mais tarde pelas raças teutónicas [2].
Os vanir são deidades que representam as forças e inteligências naturais, como o vento, o mar e a fertilidade nas sementeiras. Relacionam-se com a terra, a água, a magia, a paz, o amor e a riqueza. Tinham um profundo conhecimento das artes mágicas, pelo que eram capazes de prever o futuro. No Vanaheim encontram-se as maçãs sagradas que os aesir devem procurar para se alimentar e manter a sua imortalidade intacta.
Houve um tempo em que Odin convocou os deuses em assembleia em Asgard, e decidiram que nunca haveria uma guerra dentro do reino de Asgard, que sempre haveria paz enquanto os aesir governassem. Durante um período houve paz entre todos os seres, mas a decisão dos ases de assassinar uma poderosa bruxa, tão apaixonada por ouro que causava repugnância entre os deuses, enfureceu os vanir. A poderosa bruxa, depois de ser morta três vezes, tornou-se a deusa do mal.
A guerra entre os dois grupos de deidades foi feroz durante muito tempo e nenhum dos lados conseguiu superar o outro. Ficou claro aos olhos dos dois lados que não poderia haver nenhum vencedor, pelo que acordaram uma trégua. Decidiram que aesir e vanir viveriam em paz. Para chegar a este acordo, ambos os lados trocaram os seus chefes. Assim encontramos vanir vivendo em Asgard e ases vivendo em Vanaheim.
A Humanidade, Habitantes do Midgard
Então encontramos o Midgard, o plano estritamente intermédio, onde habita o ser humano. Este estado intermédio é a essência do ser humano, pois será visto como um ser intermediário e unificador dos mundos superiores com os inferiores; como uma árvore, que é nutrida a partir das suas raízes invisíveis, desenvolve o seu tronco na superfície e, portanto, estende-se em direção ao celeste.
A mentalidade escandinava era regida pelos valores da luta interior-exterior, que levava o ser humano a assemelhar-se aos deuses, sendo guerreiros e construtores. Os valentes guerreiros mortos em batalha tinham o seu lugar ao lado de Odin em Asgard, este paraíso perseguido por mulheres e homens era conhecido como Valhalla. Aqueles que dedicaram as suas vidas às virtudes, aos valores atemporais e não temiam a morte do corpo enfrentando-se em batalhas (que nem sempre eram externas), quando morriam eram escoltados pelas Valquírias para este grande salão. Esses heróis passariam o resto das suas vidas desencarnadas na sala de jantar que Odin preparou para eles; durante o dia eles treinariam para enfrentar os gigantes em Ragnarok e à noite haveria festins. O resto dos mortos acompanharia Freya e descansariam no Folkvang, o prado verde em que vive a deusa.
De acordo com a poesia popular dos escandinavos, as valquírias eram belas mulheres, cujas armaduras de brilho particular, provocam as auroras boreais. Montadas em cavalos alados, escolhiam os mais valentes guerreiros e santificavam com um beijo os heróis que sucumbiam na luta levando-os à “morada dos heróis bem-aventurados”, o Walhalla (equivalente ao Devachan na Índia). Estes heróis, segundo as tradições, deviam morrer com a espada na mão para serem escolhidos.
Além disso, os deuses podem comunicar com o mundo dos humanos graças a uma ponte arco-íris, construída para defender os Asgard, chamada Bifrost. Esta ponte implícita em si mesma o símbolo dos sete, porque é construída pelas sete cores do arco-íris. Conhecemos sete cores, sete notas musicais, sete dias da semana, sete planetas clássicos; esse número é um símbolo de completude, de unidade. Assim, os nórdicos parecem nos dizer nos seus mitos que os deuses descem a este mundo chamado Midgard, através da lei do sete.
Hellheim, o Inferno Nórdico
O nono mundo é o Hellheim, do qual deriva possivelmente a palavra “hell” em inglês, para nomear o inferno. Este é o reino dos mortos na mitologia escandinava. No Edda, Helheim cerca o Niflheim.
A rainha-deusa da região dos mortos era Hel ou Hela. Sendo mencionada como inescrutável e horrenda, era filha de Loki e irmã da serpente Midgard e do lobo Fenrir, ambas as bestas terão um papel de protagonismo no fim do mundo. Hela é uma espécie de Hades feminina, tenebrosa rainha do império das sombras, a que introduziu a morte neste mundo e a dor depois. Na frente da sua morada habitava Gnypa, o cão protetor deste mundo infernal, semelhante ao Cérbero grego.
Para este mundo desciam aqueles seres humanos que, por astutos, mentirosos, egoístas, por violar as leis da natureza, tiveram uma vida pouco digna; não foram dignos humanos. Este é o mundo do esquecimento.
Comentários Finais
Na mitologia nórdica são nove os mundos compreendidos dentro da grande árvore Yggdrasil: Muspelheim, Niflheim, Jotunheim, Asgrad, Alfheim, Svatalfheim, Vanaheim, Midgard e Hellheim. E são sete os principais seres vivos que entre os seus ramos se desenvolvem: os gigantes do gelo e os do fogo, que representam as forças pré-cósmicas e destrutivas, aquelas que governavam antes de que o universo se manifestara e que obterão novamente o poder no fim do mundo. Os aesir, que personificam as potências criadoras da natureza; os vanirs e os elfos de luz intimamente relacionados com as forças e fenómenos naturais; os elfos escuros, poderosos construtores que moram nas entranhas da terra e, finalmente, o ser humano.
Os caóticos e indomáveis gigantes vão enfrentar-se numa longa luta. As vitórias dos deuses simbolizam o triunfo da cultura e a civilização sobre a natureza selvagem; a ordem sobre o caos, a luz sobre a escuridão, embora à custa da eterna vigilância.
O fim do mundo é conhecido como o Ragnarok. Nesta terrível batalha os aesir, os vanir e os bravos guerreiros que tinham chegado a Valhalla, juntamente com outras personagens, enfrentarão o grupo da destruição. Este exército de gigantes, liderado por Loki, com a participação do lobo Fenrir e a serpente Midgard, serão os vencedores. Do sul virão os gigantes de fogo e do norte os de gelo; o encontro destas forças titânicas será o momento do caos, onde apenas alguns, os mais notáveis em virtude, se salvarão para dar vida a um novo mundo.
A humanidade era a esperança dos deuses para criar de acordo com as leis divinas neste plano manifestado, pois os ases não podiam trabalhar aqui. Os seres humanos, inspirados por ideais de luta, de construção e de fraternidade, seriam os representantes dos deuses e do mundo invisível em Midgard. Viver seguindo o instinto da eternidade e dos valores intemporais, imitando as forças civilizadoras dos habitantes de Asgard oferecia-lhes um lugar no céu, onde poderiam continuar a lutar eternamente. Opor-se a estes princípios, deixar-se levar pelos desejos, as paixões e o egoísmo assegurava-lhes um lugar no Hellheim, acompanhando Hela num mundo de sofrimento, inconsciência e esquecimento. Talvez o ser humano, seguindo o seu destino, se torne ajudante das Nornas e os seus trabalhos mantenham fresca e viva a Árvore Cósmica, para que possa dar os seus frutos. E, embora a lei dos ciclos afete o cosmos e termine num momento determinado, nada valia mais do que mantê-lo vivo o máximo tempo possível.
Franco Soffietti
Publicado em RevistAcrópolis. Revista digital de filosofia, cultura e voluntariado em Córdoba Argentina, 19 de junho de 2021
Referências:
[1] – Doutrina Secreta de Helena P. Blavatsky.
[2] – H.P.Blavatsky: notas da simbologia viking, de José Carlos Fernández: https://josecarlosfernandezromero.com/2018/05/31/h-p-blavatsky-notas-de-simbologia-vikinga
[3] – Yggdrasil e os nove mundos da mitologia nórdica, de Juan Pérez Ventura: https://vaventura.com/cultura/literatura/yggdrasil-y-los-nueve-mundos-de-la-mitologia-nordica/
[1] Estas noções foram extraídas do Glossário Teosófico de Helena P. Blavatsky.
[2] Segundo o Glossário Teosófico.
Imagem de destaque: Yggdrasil, a Árvore do Mundo, Oluf Bagge (1847). Domínio Público
Parabéns aos responsáveis! Os artigos são maravilhosos, um cuidado por resgatar e preservar a cultura no sentido amplo, aquela que toca o coração humano