Todos pedimos coisas à vida. Cada qual, à sua maneira, quer conseguir algo especial mas na nossa ingénua ignorância, consideramos que a vida deve-nos esse obséquio, que só pelo facto de existir já temos direito a receber.
Supondo que a vida nos dá presentes, encontramos as seguintes consequências:
- Um presente não nos custa nada, por isso mesmo, o que finalmente vamos fazer é pedir mais e mais;
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As coisas que não nos custam nada, não se valorizam. Ou seja, têm um valor mas nós não o conhecemos e nem nos importamos;
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As coisas presenteadas aumentam o falso sentido de posse, de aquilo que é “nosso”;
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Também aumentam a vaidade, porque cada um convence-se de que merece isso e muito mais;
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As coisas oferecidas não implicam nenhum esforço, excepto – e no melhor dos casos – o de dar graças a quem as nos concede;
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As coisas oferecidas mingam o sentido da generosidade. O que se acostuma a receber, torna-se lento a dar.
A Vida é como uma corrente que flui, que está em movimento e nós não podemos estar fora da Vida. Assim, cabe-nos fluir, mover, actuar e trabalhar.
A acção constitui uma enorme fonte de energia pela qual conseguimos desfrutar da vida, mais do que a sofrêr com ela. Esta energia faz-nos criativos, ajuda-nos a resolver as situações mais difíceis, permite-nos ver as coisas para a frente sem necessidade de ser “adivinhos”. A Acção tem em si a magia do movimento.
O trabalho não é somente “ganhar a vida”. O homem é um produto das suas acções, do seu trabalho constante. O que trabalha desenvolve e acrescenta as suas aptidões, a maioria das vezes escondidas e adormecidas; o trabalho é o que nos ajuda a activar os nossos poderes latentes, a descobrir vocações ocultas e a obter realizações insuspeitas. Fortalece a nossa vontade e a nossa inteligência; ensina-nos a amar.
Em síntese, mais do que uma maldição, o trabalho torna-se a nossa oportunidade de redenção. É assim que tomamos contacto com o melhor de nós mesmos e com a vitalidade que circula pelo Universo inteiro.

Delia Steinberg Guzman. Presidente Honorária Internacional da Nova Acrópole