Aspeto exotérico e esotérico das religiões
Toda a religião tem dois aspetos que a complementam, um exotérico e outro esotérico, porque existem crentes que não se contentam com o cumprimento dos rituais e normas de conduta, nem uma conceção intelectual da divindade, mas sim com uma experiência profunda que os leva à união com Deus. São aqueles que buscam, dentro da tradição, um caminho ascético ou místico, uma senda espiritual (tasawwuf), aqueles que caminham para o conhecimento esotérico à margem da corrente religiosa mais ortodoxa.
Assim como as duas faces da lua, a faceta exotérica ou externa é a faceta conhecida pelo grande público – aquela que nos é mostrada pela religião -, enquanto a faceta esotérica ou interna – aquela que alberga o conhecimento profundo isso que ainda sobrevive na religião – permanece oculta aos olhares indiscretos. De certa forma, o exotérico é o aspeto formal que é acessível para aqueles que se aproximam de qualquer religião, a aparência ou revestimento exterior que rodeia o verdadeiro conhecimento. Pelo contrário, o esotérico guarda a relação com o interno ou profundo, um aspeto reservado que contém as grandes verdades que foram reveladas pelo Avatar fundador da religião. Com o decorrer do tempo, parte dessas verdades esotéricas acabam se dissolvendo como um cubo de açúcar: ou porque o seu conhecimento acaba sendo conhecido por todos (é externalizado), sofrem um processo de mascaramento gradual (são internalizados), ou melhor, perdem as suas chaves ocultas para sempre. Escusado será dizer que, normalmente não se perdem para toda a gente.
Em suma, em cada religião se encontra, por trás dos aspetos exotéricos ou formais, inquietudes mais esotéricas que estão relacionadas com a substância da religião, pois para além do que aparentam podemos descobrir um centro ou círculo interno ao qual somente têm acesso aqueles que estão envolvidos na busca de Deus.
No Islão, esse círculo interno de saber foi preservado pelos sufis, chamados também os “companheiros do profeta”. Conta-se que viviam ao redor da tenda-mesquita de Mahoma e compartilhavam os ensinamentos mais diretos da sua doutrina, pois o profeta os considerava como discípulos. Alguns autores os consideram como “companheiros de sofá” do profeta, uma denominação mais específica que a de “companheiros do profeta”. Esta última denominação aplica-se hoje em dia a todos aqueles que conheceram o profeta ou que tiveram conhecimento dele pelo seu pai ou seu avô, quer dizer, até à terceira geração, de modo que podiam relatar os seus hadiths.
Os sufis preservaram, desde as suas origens, os ensinamentos mais profundos da religião transmitidos pelo profeta aos seus discípulos diretos, apesar dos atuais “girodançarinos” parecerem apenas uma sombra daqueles que os textos clássicos expressam.
A linha ortodoxa e heterodoxa
A linha tradicional do Islão (ou sunna) considera como base do seu credo o texto do Corão, juntamente com aqueles ditos ou factos históricos da vida do profeta (hadiths).
Na vertente mais formal ou ortodoxa do Islão, encontramos a sharia (o sistema jurídico que indica os preceitos morais, as obrigações legais e as proibições que marcam a conduta legal dos crentes), os clérigos, os sacerdotes (ou imãs) e também os ulemás ou alfaquíes, aqueles que mantém a pureza da religião e legislam sobre o bom sentido dos textos e regulam a sua aplicação; são eles que estabelecem os critérios da “verdade doutrinária”, embora estejam demasiado apegados à letra morta e ao sentido literal dos textos desprezando qualquer tipo de interpretação mais profunda e simbólica.
Porém, quem busca alcançar uma experiência espiritual mais intensa adota uma linha mais heterodoxa, baseada numa interpretação mais interna dos preceitos islâmicos, um conjunto de práticas, ritos e formas de conduta dedicadas à purificação da alma e às questões metafísicas. É o caso daqueles que seguem o caminho ascético, dedicados ao sacrifício pessoal, à mortificação, à superação dos apegos da personalidade, ao domínio do caráter e à renúncia ao mundo exterior, ou mesmo daqueles místicos que seguem o caminho contemplativo para chegar a Deus.
Nesta segunda via, podemos incluir os sufis e, em parte, os filósofos islâmicos, que em geral não se contentam como uma filosofia especulativa (falsafa) e meramente racional – tal como acontece no Ocidente -, porque eles combinam isso com a visão teológica (kalam) e a teosófica (hikmat ilaiya), por outras palavras, uma compreensão religiosa e a sabedoria milenária transmitida pelos grandes mestres ou enviados.
A doutrina do centro
Embora a circunferência seja um símbolo do mundo manifestado, por ser desenhada a partir de um ponto sem dimensão que é invisível, mas necessário, e esse centro invisível está relacionado com Deus. Por analogia, diz-se que a religião é como a circunferência externa de uma roda, enquanto o centro dessa roda, no seu eixo governante é onde radica o esoterismo, entendido como o seu aspeto mais interno e profundo, ali onde se protege e oculta a revelação. Os raios que unem a circunferência com o seu centro, funcionando como um trabalho de enlace entre o externo e o interno, representam o método ou caminho que seguem as diversas associações de sufis para alcançar a verdade.
A revelação é a verdade transmitida pelo profeta, que foi preservada por aqueles que a ela tiveram acesso mediante um processo paulatino de ensino, recebida da mão de um mestre que a entrega a quem considera digno dela e capaz de continuar fortalecendo a cadeia de transmissão. Não é em vão, que os grupos sufis (denominados tariqas) seguem os ensinamentos diretos de um mestre (murshid) que por sua vez os recebeu de um grande mestreou iniciado (o sheijk), cujo conhecimento último provinha de uma linha ou manto iniciático (o jirka).
Origens do sufismo
A palavra sufi significa “lã”, dado que os primeiros mestres sufis vestiam humildes roupas de lã, muitas vezes confecionadas com retalhos de diferentes cores. Estas capas multicolores distinguiam, sobretudo, aqueles mestres itinerantes (dervixes) que iam de uma região a outra oferecendo os seus conhecimentos aqueles que os quisessem receber.
Alguns estudiosos creem que o sufismo existia ainda antes mesmo da pregação de Mahoma, pois já existiam grupos em Khorsan – área situada a nordeste do Irão – que professavam tais vivências; se bem que, é provável que seguissem ensinamentos mazdeístas ou indianos ainda mais antigos, cujo conhecimento tiveram raízes misteriosas com semelhantes antecedentes. No entanto, como citado por Frithof Schuon [1], a denominação sufi não foi utilizada até ao segundo século depois da Hégira (ocorrida no ano 622 d. C) quando, com a expansão imperial, foi decaindo a vivência dos ensinamentos de Mahoma. Historicamente o primeiro sufi que é citado é Abdak o sufi (morto no ano 850 d. C.). Para outros foi Hasan al-Basri (642-728 d.C.) asceta que iniciou a prática monacal no mundo islâmico imitando os monges budistas e os cenobitas cristãos da Síria e do Egito.
Alguns autores são da opinião que o esoterismo autêntico provém das grandes correntes iniciáticas de Bagdad, a de al-Yunaid e a de al-Bistani; outros creem que se refugiou no movimento xiita
Nos primórdios em que seu deu a conhecer o sufismo, entre o século IX e XI, foi considerado como um movimento herético por aqueles que se guiavam pela tradição canónica. A partir do século XII, seguindo as recomendações de Al-Ghazali, os sufis adotaram uma forma de expressão mais moderada, logrando que os sunitas (seguidores da sunna) aceitassem o seu ponto de vista.
Destacados sufis brilharam no firmamento do saber, tais como: Rabi’a al-‘Adawiya, uma célebre poetisa mística cujos poemas de amor dedicados a Deus inspiraram mais tarde os textos de Santa Teresa de Jesus e as correntes do amor cortês provençal. Também Dul-Nun al-Misri, alquimista e mágico que foi perseguido pelas suas ideias espirituais e influenciou, entre outras, a escola Masarri de Córdoba, en Tirmidi, Al-Yunaid, y Al-Hallaj.
Para alguns místicos, como Hakim Tirmidi, para chegar a Deus basta refirmar-se na profissão de fé islâmica ensinada na primeira sura do Corão: “Não há outro deus senão Deus, e Mahoma é o mensageiro de Deus”. Também Al-Halla considerava que o sentido esotérico da mística islâmica não deveria ser reservado aos escolhidos, mas entregue a todos os seres humanos. Por isso, ao dar a conhecer os seus ensinamentos esotéricos foi crucificado, porque conseguiu colocar os teólogos e também os sufis contra ele.
Atualmente, o sufismo não apresenta uma visão unitária, nem mantém uma abordagem comum nos seus ensinamentos, exceto em alguns rituais práticos (canto, dança, êxtase místico, etc.) É uma amálgama diversificada de irmandades, fraternidades e linhas de conhecimento que, para além das suas raízes comuns, com o passar do tempo se foram separando do tronco original. Não obstante, as suas raízes ancestrais, este sufismo tradicional constitui um modelo de sabedoria que ainda tenderá a inspirar muitos buscadores inquietos pelo conhecimento.
O sufismo
Sem dúvida, este sufismo tradicional consiste num caminho de perfeição que busca alcançar a verdade, a sabedoria e a união com Deus. Ele é fiel aos preceitos islâmicos, embora se desvie da linha estrita estabelecida pelos ulemás, razão pela qual é frequentemente desprezado por aqueles que detêm o poder temporal e espiritual do Islão. Busca uma experiência espiritual direta que não se baseia numa linha intelectual, mas na intuição, aquela que percebe com o “coração” – considerado como o órgão físico, mas como sede de uma experiência profunda e interior. No sufismo, se entrelaçam a atitude moral – entendida na mentalidade islâmica como “nobreza de caráter” -, a purificação da alma e o misticismo.
É um caminho espiritual que busca a proximidade com Deus ou a santidade, através do desapego, da experiência interior, assim como a prática e experiência intuitiva que desperta o verdadeiro discernimento. No dizer de sábios como Ibn ´Arabi, o sufismo busca uma experiência interior, em relação direta com as realidades espirituais mediante a “revelação” e a inspiração provenientes da divindade.
A revelação expressa a necessidade de recorrer a um caminho iniciático progressivo, no qual, removendo os véus que impedem de ver claramente, possa aproximar-se da luz divina. Para o místico sufi, a revelação mostra a cada qual o que Deus permite que se veja Dele.
Desde então, o sufismo sempre teve diversos modos de expressar-se que, em princípio, podiam parecer contraditórios, tais como: o fervor religioso, o jejum, a oração, a invocação de Deus (a recitação contínua dos noventa e nove nomes de Alá), o ascetismo, a espiritualidade sem manifestações externas, a gnose (entendida como compreensão suprarracional das grandes verdades), a prática da cavalaria espiritual, os movimentos de militares que defendiam as fortalezas em zonas fronteiriças (as rabitas ou ribats), a veneração dos santos (morabitos), as danças rituais, as músicas tradicionais, e um enorme etc.
Nas danças rituais, o sufi tenta ser uma ponte entre o material e o elevado. A volta sobre si mesmo se realiza sempre na direção do coração, com uma mão assente no solo e outra em direção ao alto, de modo que a cadência da música e a rotação contínua, permitam alcançar um estado de transe ou êxtase pequeno arrebatamento teofânico que propícia um elevado estado de tipo místico e meditativo. Precisamente, esses mantras ou músicas curativas propiciam também um estado meditativo especial.
A cavalaria espiritual, no estilo medieval, representa uma forma de domínio de carácter, de retidão de espirito, nobreza, desapego, entrega, pureza, proteção dos fracos, apoio aos idosos, mulheres e crianças. Nos tempos antigos, os sufis tinham um sentido de monge-guerreiro, semelhante ao dos templários cristãos; por isso se dedicavam a proteger as fronteiras do mundo islâmico nos ribats. Com o passar do tempo,, quando aqueles lugares remotos são abandonados, instalam-se ali devotos eremitas, mosteiros, santos admiráveis que induzem peregrinações de fiéis, ou mesmo pequenas escolas (zawiyas).
Sempre existiu nos sufis uma mistura bem ponderada filosofia, teologia e misticismo na sua vertente esotérica. Enquanto no caminho místico, o sufi se aproxima de Deus após desapegar-se das roupas e máscaras que o cobrem, dos aspetos materiais; diz-se que é iluminado pela luz divina, porque sua força interior e sua vontade estão inseridas na luz suprema e se identifica com Deus. Também Al-Ghazali fala da união mística com Deus e afirma que o místico necessita fundir-se com Deus, como a borboleta necessita da luz, ainda que se queime ao alcançá-la.
Com a expansão do Islão, o sufismo instalou-se naqueles territórios que Alexandre Magno tinha conquistado, recuperando os conhecimentos filosóficos e esotéricos do mundo clássico, da sociedade alexandrina, da Pérsia e Mesopotâmia, tais como o hermetismo, a alquimia, a astronomia e a astrologia, a numerologia, a cabala, o simbolismo, etc.
A relação entre mestre e discípulo
Estes conhecimentos sempre foram entregues por meio da relação de mestre-discípulo. Este vínculo nasce naturalmente, pois sempre há alguém com sede que precisa de água de uma nascente… e sempre um professor que precisa ampliar seus conhecimentos como um semeador, por sentimento de amor altruísta.
Enquanto o mestre tenta esvaziar-se dos laços materiais para preencher-se de conhecimento, o discípulo tenta seguir o seu exemplo, emulando cada gesto e cada palavra de ensinamento. Ambos estão ligados por um sentimento de devoção mútua seguindo um estrito sigilo secreto. Quiçá, por isso, não existem muitas publicações onde surjam à luz tais conhecimentos. Eles só aparecem, reunidos discretamente em forma de histórias cheias de sabedoria. Basta olhar o livro The Magic Monastery [2], de Idres Shah, para admirar o profundo significado pedagógico de tais histórias. Vejamos como exemplo o conto intitulado: “El portero”.
“Perguntaram a um sufi:
– O que estás a fazer? Queremos aprender consigo e não nos permite estudar os livros. Você não realiza rituais; e nega-se responder a perguntas; Você ignora a elogios e repreensões.
O sufi disse:
– Sou um porteiro. E um porteiro certifica-se de que a porta está aberta quando deveria estar aberta e que está fechada quando deveria estar fechada. Permite a entrada de qualquer coisa ou pessoa que deveria entrar e nega a entrada daquilo que deve ser excluído. Se você quer que eu faça barulho, “sacuda a porta, crie um efeito, use roupas opulentas ou pobres, que prometa ou discuta, faça pantomimas, aceite subornos ou fale em vez de trabalhar… não és um homem que pode lidar com o guardião de uma porta”.
As linhas iniciáticas que acorrentam os sufis aos seus venerados mestres da Pérsia ou Bagdad e sinalizam a filiação do seu conhecimento, também chegaram até à Andaluzia, onde se criaram ribats, confrarias e escolas como a de Ibn Masarra em Córdova, a de Ibn Al-‘Arif em Almería, a de Ibn ‘Arabí, Ibn Qasi no Algarve, Avu Madian e tantos outros que seria impossível mencionar. Conhecimentos nos quais se admitia a mulher, pois apesar de todas as carências eram outros tempos.
Estas primeiras escolas de filosofia sufi (essa mistura de filosofia, teologia, ascetismo, mística e teosofia) retomaram junto das ideias neoplatónicas a visão de Pitágoras, Sócrates e Aristóteles, de Empédocles e Dul-Nun al-Misri. Ibn Masa, pregava o livre arbítrio contra a predestinação a preexistência da alma antes de ser encerrada num corpo material, a necessária coexistência de matéria e espírito, a crença nas leis de causa e efeito como reguladoras de tudo o que acontece no mundo, etc. Quando os seus ensinamentos foram perseguidos por serem considerados heréticos pelos ulemás, os seus discípulos partiram para outros lugares, ajudando na sua expansão. Em virtude disso, surgiram sábios relevantes como Ibn ‘Arabí, em última análise considerado um segundo Platão ou um segundo Mahoma, ou Abu Madian, “mestre dos mestres”.
Ibn Arabí desenvolverá a ideia de unidade de Deus (considerada como a unidade do ser e da existência), da revelação e imaginação criativa, da convicção na misericórdia e a proteção de Deus, da necessidade de ir mais além das barreiras que dividem e enfrentam as diferentes doutrinas, de vivenciar a virtude e compartilhar o alimento e a preexistência de ensinamento com os mais desfavorecidos. Assim, dir-se-á que cada ser é uma expressão de Deus (o Uno), e, ao mesmo tempo, é único e irrepetível.
Princípios e valores do sufismo
O Islão teve a capacidade de recolher os ensinamentos que encontrou nos povos que conquistava e fundamentou as suas próprias crenças religiosas nesse conhecimento.
O Alcorão afirma que Deus é Allah o único Deus, um Deus transcendente que está para além das coisas e de qualquer outro deus. Por esse motivo, o Islão considerou “A unidade de Deus” como preceito fundamental, o qual equivalia a considerar que “o todo é uno”. Deste modo, o Islão encontrou nas ideias neoplatónicas de Plotino a visão do Deus absoluto expresso como “o Uno”, um conceito que se enquadrava na perfeição com as suas ideias.
Contudo, as ideias neoplatónicas também tinham uma visão mais esotérica e panteísta, o que não era admitido pelo Islão. Em alternativa, o sufismo adotou estas ideias panteístas da filosofia neoplatónica; por isso concebe que Deus está presente em todos os elementos um passo mais além da doutrina ortodoxa, pois aspira a unificar o transcendente e o material. Assim dirá: embora o mundo não seja Deus, ele se mostra através do mundo. Portanto considera que nos pequenos detalhes de cada dia há uma experiência com Deus.
O sufismo tenta transcender as fórmulas e os convencionalismos, busca a nobreza de caráter, um caminho de superação e de serenidade interior. Busca estar mais além da tirania do ego, perdoar aos outros, aprender com quem possui a verdade, vivenciar as elevadas virtudes de generosidade, misericórdia, do amor e da renúncia. Não acredita em nenhuma guerra santa (jihad), e concebe nela somente o seu verdadeiro significado: a guerra interior que leva a vencer-se a si mesmo.
Os sufis reverenciam tanto a sabedoria quanto a santidade; os sufis orientais aspiram, acima de tudo, alcançar a sabedoria, enquanto o sufismo do Ocidente reverencia a santidade. Por isso afirmam, a partir do conhecimento popular, que “os verdadeiros sábios são os que conhecem Deus”.
No caminho místico realça-se a necessidade de superar a própria personalidade, “matando o ego, porque é um obstáculo para todo o adulto”. Da mesma forma que recomendaram Pitágoras e Parménides, afirmaram que: “é preciso morrer antes de morrer”, o que numa linguagem menos esotérica significa descer aos infernos, olhar-se face a face e alcançar a imortalidade consciente. Esta única frase pode dar-nos uma ideia do que está contido em determinados conhecimentos, ainda que a grande maioria que acede a eles não consiga entendê-los.
Como já foi dito, o coração assume um significado especial no sufismo. Não é em vão que a grande mística Mevlana Rumi dirá que o coração deve ser limpo do egoísmo e amadurecer através do amor “o amor transforma o coração em ouro”. Por isso se diz do sufismo que “é a ciência da purificação dos corações”.
No sufismo, tal como ocorre em todas as correntes esotéricas, há uma profunda compreensão dos valores que são postulados, pois só a experiência nos aproxima da verdade e de Deus. Para Abu Hafs al-Nishabiri: “O sufismo é cortesia espiritual… a cada instante, em cada circunstância e em todo o momento”.
Publicado na Revista Esfinge em 1-06-2023
[1] Compreender el islam, Frithof Schuon, traduc. Esteve Serra, Edit. PADMA, Bllomington-Indiana-USA, 2009.
[2] El monasterio mágico, pág. 99. Idries Shah. Paidós Orientalia. Ediciones Paidós Ibérica, S.A.. Barcelona, 1997.
Imagem de destaque: Mausoléu do santo sufi Shah Rukn-e-Alam, em Multan (Paquistão). Domínio Público