O Vedanta é uma das seis darsanas e o seu nome significa literalmente “fim dos Vedas” ou “culminar do conhecimento” (veda=conhecimento; anta= fim, conclusão, culmino) e que é também conhecida como Uttara Mimmansa (“investigação elevada”). Baseado nas concepções dos Upanishads, a sua obra fundamental é o Vedantasutras ou Brahmasutras atribuídos a Badarayana, muitas vezes identificado com Vyasa. Os seus comentadores mais importantes foram Shankara (séc. IX), fundador da escola Advaita, não-dualista ou monistas, e a partir do Séc. X começam a surgir novas correntes com posições contra o Advaita puro e introduzindo elementos dualistas, entre os mais importantes temos Ramanuja (séc. XI), Nimbarka (séc. XII), Madhava (séc.XIII), Vallabha (séc. XVI).
Entre as diferentes formas Vedanta que vão surgir destacam-se três: o Advaita Vedanta ou monismo puro, o Shishadvaita ou vedanta qualificado e o Dvaita Vedanta ou sistema dualista.
O Advaita Vedanta foi fundado por Shankaracharya com a grande influência da sua obra Vivekachudamani. Tem como essência o monismo (advaita=não-dual), em que Brahma é a única realidade e o mundo tal como o percepcionamos é ilusório, fruto de Maya.
Brahman absoluto é Nirguna Brahman, o sem limites, sem essência, não diferenciado. Quando se manifestou como Brahma, Deus criador, é Saguna Brahman, o demiurgo. Tudo o que esteja fora de Nirguna Brahman e de Saguna Brahman é ilusório, não tem uma realidade, porque a verdadeira realidade não pode ser efémera nem limitada. A sabedoria consiste em discernir todo o ilusório e plural e reconhecer o Absoluto que está para além.
O desapego vedantico, com uma negação de toda a forma de prazer-dor, requer do aspirante a percorrer o caminho da renúncia seis qualidades essenciais: calma da mente (sama), autodomínio (dama), recolhimento interior (uparati), coragem moral (titiksha), fé (shraddha) e estabilidade mental (samadhana).
O ramo Shishadvaita surge com Ramanuja. Este sistema considera que o mundo fenoménico também é possuidor de uma certa realidade, não a pura realidade de Brahman, mas uma realidade secundária, mais fragmentada, estabelecendo-se assim três categorias: O Absoluto (o divino), a alma (parte divina do homem) e a matéria.
O Dvaita Vedanta, sistema dualista (dvaita=dualidade), surgido com Madhava, sofre alguma influência da cultura islâmica, tendo por base o pluralismo que afirma que a realidade completa inclui o mundo fenoménico e em que o conhecimento é um produto da própria consciência do homem.
Brahman e Atman
Para os Upanishads só existe uma realidade absoluta que é Brahman.
“Brahman é o único e sem par. Brahman não tem causa; não produz efeito. Nada pode referir-se a Brahman nem em relação ao interior nem em relação ao exterior. Nada se lhe pode atribuir. Não possui qualidades. Fora de Brahman nada existe; em Brahman não há diversidade alguma”
Shankara. Comentário aos Brahmasutras.
Para Shankara, Brahman é uma unidade tripla: sat-chit-ananda.
Sat – Realidade absoluta, sem forma ou qualidade, permanente imutável e infinito.
Chit – Sua essência é luz, pensamento puro, inteligência substancial. Nas palavras de Shankara: “do mesmo modo que um bloco de sal é salgado em todas as suas partes; salgado no interior, salgado no exterior.”
Ananda – Perfeitissimo, sem mácula, um oceano de bondade.
Brahman é sem par, pois nada existe fora dele, é a realidade mais profunda dos seres: Atman. Brahman é a realidade última de todas as coisas, oculto por detrás do véu das aparências.
Atman é o verdadeiro bem do homem e o objecto supremo do amor, a sua luz pura que permite conhecer verdadeiramente todas as coisas sem que no entanto Atman seja afectado por elas. Atman é Brahman no homem, ou talvez possamos dizer que Atman e Brahman são dois aspectos de uma mesma realidade: “Os antigos videntes dos Upanishads intuíram o absoluto do universo e o denominaram Brahman; o intuíram no seu próprio interior e o denominaram Atman.” (Juan Garcia Font, in “Dioses, ideas y símbolos de la India”).
A ilusão do mundo e a realidade de Maya
A causa para a nossa percepção do mundo, uma multiplicidade irreal, é a ignorância, Ajñana, sendo nos textos Vedanta os conceitos maya (ilusão), ajñana (ignorância) e avidya (falso conhecimento) empregues como sinónimos.
Avidya é o subjectivo e maya o objectivo, ambas provenientes da “obscuridade”. Para muitas das escolas um dos elementos base do mundo material é a obscuridade, as trevas ou ignorância, ou seja, que é parte da constituição do cosmos um elemento opaco e obstrutivo a todo o conhecimento.
Maya extrai de si mesma os 3 fios de aranha (3 Gunas) com que tece a teia do mundo: o fio vermelho do fogo que ilumina (Satwa); o fio branco que se expande, líquido como a água (Rajas); o fio negro da opacidade solidificante (Tamas).
“Tece os seus fios em variadas proporções para produzir, deste modo, o múltiplo e variado colorido dos seres manifestados.”
Vedantasara de Madhava
Maya é quem oculta aquele que é o seu substrato Atman, é a ilusão que estende o seu manto sobre a plena realidade do espírito. No entanto, uma débil luz da suprema inteligência atravessa esse opaco manto enganoso e é essa diáfana luz que permite captar a ignorância (ajñana).
A multiplicidade, o mundo, parece real para aquele que se acha imerso na ignorância e o Vedanta constitui a via da Libertação que conduz à realização do absoluto, a plena consciência da unidade do ser, a reabsorção do Jiva (Atma) em Brahman e a eliminação de avidya (a ignorância) e o Karma.
Shankaracharya na obra Vivekachudamani descreve o “Ser livre” – o Jiva-mukta:
“Aquele cuja mente é absorvida em Brama – mas que conserva, no entanto, uma vigilância completa – e que se libertou ao mesmo tempo de todas as características do estado de vigília – cuja realização é isenta de todo o desejo – esse é considerado um jiva-mukta.”
“Aquele que apaziguou em si todo a inquietude relativa ao estado manifesto – e que, embora possuidor de um corpo composto de partes, é ele mesmo sem partes, e cuja mente está livre de todo o temor, esse é considerado um jiva-mukta”
“A ausência de idéias tais como “eu” ou “o meu”, mesmo neste corpo vivo, ausência essa que segue como uma sombra – é a característica do jiva-mukta”
La metafísica de los Upanishads y de la Escuela Vedanta es uno de los más perfectos y sutiles de los creados por la mente humana. Si ya de sí la mente y caracter de la India es una tendencia al misticismo y a la filosofía, éste es el Summum. En comparación nuestros juegos mentales, los de occidente, son balbuceos infantiles. El mismo Kant sería un jovencito que va de la mano guiado por estos sabios de las Montañas Nevadas del Tíbet. El problema es que quienes nos podrían guiar por sus laberintos quizás ellos mismos vivan en laberintos mentales y de deseos de los que no son capaces de salir. La huella quedó grabada en la piedra, para siempre, pero el Caminante ya está lejos, dejando otras huellas… diferentes.