Sumo é uma forma de luta que expressa a religião japonesa Xintó. Tem no seu coração os princípios de dignidade e cortesia e, sendo o desporto nacional do Japão, é também um ritual religioso. Os lutadores de sumo, chamados Rikishi, podem parecer grandes e pesados, mas vencer as lutas envolve uma combinação de força, agilidade, velocidade, engenho, capacidade técnica e talento. Muitos lutadores são excelentes dançarinos! Treinar para se tornar um lutador de sumo bem-sucedido envolve um enorme sacrifício pessoal, com jovens esperançosos ingressando num campo de treino (heya) aos 15/ 16 anos de idade e vivendo e comendo lá, treinando 7 dias por semana e realizando todas as tarefas envolvidas na administração da heya, incluindo cozinhar, limpar e fazer as compras, até começarem a subir na hierarquia.

A primeira luta registada de sumo (ronda) foi por volta de 23 a.C.. Inicialmente existia principalmente nos santuários xintoístas populares como uma maneira de estabelecer contato entre o homem e o espírito. Tornou-se gradualmente mais competitiva na Idade Média durante a era dos Samurais e transformou-se numa forma de combate corpo a corpo para decidir qual dos dois lutadores deveria receber a bênção dos deuses.

Há seis torneios (basho) por ano. O ringue no qual as lutas ocorrem é chamado de Dohyo. É uma plataforma quadrada de cerca de 6.47 m de lado de argila cercada por 32 fardos de palha de arroz, erguida cerca de 76 cm acima do piso do estádio, com um anel de 4,55 m de diâmetro no centro marcado por mais 20 fardos de arroz. Construí-lo leva três dias, supervisionado por um padre xintoísta, e termina com uma cerimónia de abertura no dia anterior ao torneio. Aqui, três árbitros vestidos de branco consagram quatro varas de madeira, representando as quatro estações do ano, com as palavras “Longa vida à terra e que vento e chuva sigam fielmente”. Um pote de barro cheio de amuletos da sorte, como castanhas secas, algas e chocos, é enterrado no centro do ringue com ofertas de sal e saqué. Pendurado acima do Dohyo, está o telhado de madeira de um santuário xintoísta do qual pendem borlas de seda em cada canto nas cores das quatro estações do ano: verde para representar a Primavera paira no Este; o vermelho, representando o Verão, fica no Sul; o Outono é representado por uma borla branca no Oeste e o Inverno é representado no Norte por uma borla preta. O círculo de palha de arroz representa o ritual da colheita e contém o próprio anel que é “o reino do absoluto”. É considerado como solo sagrado.

As cores e as direções das borlas são baseadas no I Ching e, juntas com o anel interno, representam as Cinco Constantes (benevolência, justiça, ritos/costumes, conhecimento e integridade) e as Cinco Virtudes (piedade, justiça, altruísmo, lealdade e cerimónia) do Confucionismo. Cada luta dura em média apenas 10 segundos, mas é precedida por uma extensa sucessão de rituais, realizados por ambos os lutadores, que inclui atirar sal para purificar a atuação, bater o pé para expulsar espíritos malignos, bater palmas para atrair a atenção dos deuses, virar as palmas das mãos para mostrar que estão desarmados, enxaguar ritualmente a boca com água e limpar o corpo com papel, depois atirar mais sal e bater mais o pé e, quando satisfeitos, ambos lutadores agacham-se nas suas posições para se encararem. Esta parte é chamada Shikiri Naoshi e pode durar até 4 minutos – antes da TV, não existia limite de tempo! Shikiri Naoshi é um tipo de agressão ritualizada que envolve contato visual prolongado e posturas ameaçadoras, projetadas para minar a autoconfiança do oponente e aumentar a própria. Muitos especialistas de sumo conseguem dizer a partir daqui quem tem mais hipóteses de ganhar.

Então, chega o momento da verdade, o tachi-ai. Ambos lutadores têm de tocar a plataforma com ambas as mãos antes de se lançarem e devem levantar-se juntos, simultaneamente, para um começo limpo e harmonioso. Os lutadores podem prolongar este ponto, agachando-se, pondo-se de pé, reassentando-se, criando tensão até o momento em que ambos estão prontos. Ambos tocam a plataforma com as duas mãos e saltam exatamente ao mesmo tempo, encontrando-se no ponto médio preciso entre si com uma força imensa há quem diga que até 1 tonelada de força. Esta é a primeira e muitas vezes, a jogada mais importante – a forma como eles se encontram. A partir daqui, o resto da luta pode ser vencida ou perdida.

Tom Moran
Publicado em New Acropolis, 30 de Novembro de 2019