Há algo que sempre preocupou os filósofos: a vida e os seus diferentes aspectos: se a vida continua, se a morte existe; o que é que nos sucede quando nos retiramos deste cenário do mundo… E há algo que a mim, pessoalmente, me chamou a atenção e que é o facto de no momento actual haver tantos milhões de pessoas condenadas à morte. Todos havemos de morrer. Às vezes pensamos, dadas as características um pouco materialistas deste momento histórico, que é melhor não reflectir muito sobre isto. Pensamos sempre que vai acontecer aos outros; no entanto, é óbvio que todos nascemos, vivemos e havemos de morrer.
Desperta-me muito a atenção, como filósofo e como homem, que não haja uma preocupação mais profunda sobre o que é a vida e qual o seu sentido. Há coisas que afectam a uns e não afectam a outros, como os problemas políticos, económicos, mas há um problema comum que é o facto de que todos vamos morrer. Por isso surpreende-me, como filósofo e como homem, que haja tantos milhões de pessoas que não se preocupem seriamente em perguntar-se a si próprias e em perguntar aos grandes focos de Sabedoria da Antiguidade e aos grandes pensadores actuais o que é que tudo isto significa e que há por detrás disto.
Sabemos hoje que todas as coisas, de algum modo, estão vivas. Outrora diferenciava-se os seres orgânicos dos seres inorgânicos, e ainda hoje, em Química, continua-se a falar de Química orgânica e inorgânica. Assim, se alguém nos pergunta, dizemos que um ser vivo é um gato, um cão, uma pessoa, mas não uma janela ou um troço de madeira. Porquê?
As investigações actuais, recolhidas através dos tempos, ensinam-nos que a constituição de todas as coisas, de todos os seres, parte de elementos comuns: químicos, relações físicas, térmicas, eléctricas, magnéticas, etc.
Sei que é muito difícil poder dizer onde está a vida e onde não está. Talvez nos pareça a nós que quando acariciamos um gato ou lhe batemos e ele ronroneia ou grita, está vivo. Mas quando damos uma pancada na madeira também há um som…, esse som é a voz da madeira. E se a quebrássemos, essa madeira faria um “crack”, e esse “crack” é o grito de agonia de um ser que morre. Do ponto de vista filosófico, não podemos diferenciar o que está vivo e o que não está.
Uma coisa que a Filosofia Clássica nos ensina é não trabalhar com absolutos: neste mundo tudo é relativo. Aqui não há coisas absolutamente grandes nem absolutamente pequenas; não existe o preto e o branco, não existe nada que tenha características absolutas. No mundo manifestado todas as coisas são relativas. Estou a falar-vos, estou a dizer-vos algumas palavras e, no entanto, há quinze minutos atrás eu não vos estava a falar e dentro de meia hora também não estarei; são simples funções do momento que não há que confundir com a essência das coisas.
Uma coisa não é nem má nem boa em si, mas sim pelo uso que se lhe dá; uma faca, por exemplo, nas mãos desses delinquentes e assaltantes que há nas ruas, é um instrumento de morte, de opressão e, no entanto, uma faca nas mãos de um cirurgião é um elemento de bem, de salvação. Então, a faca é boa ou má? Isso é uma relatividade. Este palco em que vos estou a falar é grande ou pequeno? Se o compararmos com uma formiga é enorme, se o compararmos com a cidade de Madrid é ínfimo. No espaço não teria nem tamanho nem idade.
Se nós começarmos por considerar os problemas da vida com este critério, é provável que cheguemos a conclusões que talvez não sejam perfeitas, mas sim humanas, e que nos ajudarão a viver. E aqui está o primeiro problema que se nos coloca: o que é a Vida? As características que damos aos seres vivos são propriedades dos seres vivos, mas não da Vida em si.
Platão faz uma diferenciação entre o Belo e as coisas belas. Suponhamos um jardim; vemos uma estátua, uma pessoa e dizemos que esse jardim, essa estátua, essa pessoa, são belos. Porquê? Porque participam da essência do Belo. Ou seja, “o Belo” seria uma Essência, um Ser que está para além de todas as manifestações e que apenas se reflecte nelas; através delas vamos descobrindo-o, ainda que, como a areia, se nos escape das mãos, e quanto mais a apertamos mais nos escapa.
Assim, podemos deduzir que tudo o que nos rodeia está vivo.
A Vida em si, segundo os antigos filósofos, exprime-se como uma banda de actividade; e dizemos que tudo aquilo que está dentro desta banda está vivo e aquilo que não está nela teria uma vida diferente que, por vezes, não podemos compreender muito bem.
Se Deus existe, se os Deuses existem, estarão vivos, mas numa outra dimensão diferente desta em que nos encontramos. Estarão num outro grau de consciência e também estarão numa outra ordem do tempo. O tempo também é muito relativo. Para um pequeno insecto, algumas horas representam toda a sua vida; para uma estrela, a nossa existência humana é um instante. Daí que também as medidas do tempo sejam muito relativas. E é dentro destas relatividades que teremos de encontrar o sentido oculto da Vida.
O que é a Vida? Para que é que existe? E mais ainda: O que é que nos possibilita a Vida? Como se manifesta? Há diferentes doutrinas, diferentes ensinamentos.
Há teorias materialistas que afirmam que a Vida surgiu casualmente, que o choque de determinados elementos que não têm vida, ao porem-se em contacto, produziram a chispa da Vida e essa chispa vai-se perpetuando.
É evidente que, do ponto de vista filosófico, esta teoria não é muito sólida, porque… o que é que move a casualidade? Poderíamos responder que nada, mas… será que nada pode mover algo? É impossível. Toda a coisa que se move necessita de um motor, de algo que a faça mover, mesmo que seja um motor como o de Aristóteles, que ele concebia imóvel em comparação com todas as coisas que se moviam; porque as relações de velocidades também são muito relativas.
Por outro lado, as crenças religiosas transmitem-nos a ideia de um Ser Cósmico, superior, muitas vezes personalizado, que infunde a Vida nas suas criaturas. Mas… quem é que criou esse ser, Deus, Deuses ou como lhe queiramos chamar? É muito difícil poder abarcar com a nossa mente esse conhecimento.
Há um ensinamento que os meus antigos Mestres me deram e que, creio eu, poderá servir a todos: é imaginar que a nossa mente, a nossa mente concreta – não a nossa mente mais elevada –, é uma espécie de colher; se submergirmos essa colher num copo de água extrairemos um decímetro cúbico de água, e se a submergirmos no Oceano Pacifico também extrairemos um decímetro cúbico de água. Ou seja, o problema não está no lugar onde submergimos a nossa pergunta para obter respostas, mas sim em aumentar o nosso campo de consciência para poder captar e compreender cada vez mais; e isto é um trabalho individual.
A Filosofia Acropolitana propõe um crescimento individual, independentemente de nos podermos associar para estar juntos, para conversar, para realizar uma obra científica, literária ou, como estamos a fazer agora, para ouvir uma palestra quase informal vestida de conferência. Mas, para além de tudo isso há a procura e o encontro de cada um de vós com vocês próprios e com os seus problemas.
Só os encontros individuais nos dão a segurança interior de que necessitamos; tudo o resto, de uma maneira ou de outra, são crenças, e não me refiro apenas ao aspecto religioso.
Os materialistas troçam da existência dos Espíritos da Natureza, ou dos Anjos, ou Deuses. E qual é o seu argumento? Que nunca os viram. Perante isso, a resposta filosófica é muito simples: Já viu alguma vez um átomo? Alguma vez mediu a distância da Terra à Lua? Já alguma vez visitou o Japão? Assim também eu posso pôr em dúvida a existência dos átomos, a distância da Terra à Lua ou a realidade do Japão.
No geral, salvo excepções, nenhum de nós fez uma experiência pessoal e directa sobre o assunto. Simplesmente acreditamos nisso, aceitamo-lo, como aceitamos a existência de Tróia. Deste modo, não é assim tão difícil aceitar como hipótese de trabalho a existência de Seres Inteligentes, se bem que invisíveis, que estão de alguma forma a manejar a Vida, embora não os vejamos.
Um homem da época carolíngia também não via os micróbios nem nenhum tipo de bactérias; no entanto, nessa época houve pestes que se alastraram por toda a Europa e os ditos vírus existiam, embora não fossem vistos. Talvez existem Seres que impulsionam ou manejam a Força da Vida, ainda que não os percebamos directamente mas sim através dos seus efeitos, já que, no geral, vemos tudo através dos efeitos. Se agora soltasse o microfone, este cairia. Será que veriam a “lei da gravidade”? Não, veriam apenas um microfone a cair e nada mais. A massa da Terra, muito maior do que a massa do microfone, fez com que este caísse. Vimos o efeito de uma lei natural, mas não vimos a lei em si.
O que vemos da Vida são nada mais do que manifestações externas. Seguindo esta linha de pensamento, quem nos assegura então que não existimos antes de estar aqui, neste plano, e que não continuaremos a existir quando já não estivermos aqui? Do ponto de vista lógico, do ponto de vista filosófico, não podemos de modo algum negar a existência de uma Vida contínua, de um fluxo em constante manifestação.
Alguém poderá pensar que tudo isto tem uma duração limitada, na ordem de muitos milhões de anos. Talvez, mas para nós isso é uma eternidade. Os velhos livros orientais falam-nos dos Manvantaras ou dos Pralayas: para nós são eternidades, embora tenham um número, real ou não, de anos de duração.
Os antigos pensavam que todas as coisas manifestadas estavam dentro de um grande Macrobios, de um imenso Ser vivo. Os hindus chamam-lhe Brahma que desperta e dorme, que desperta e dorme… A mesma história existe no Ocidente quanto ao Rei do Mundo, que está desperto durante um período de tempo e dorme num outro. Pelos vistos existe algo continuo que vemos como descontinuo porque fixamos a atenção ora num ponto ora noutro.
Daí que os antigos filósofos tenham dito que todo este Universo não é uma casualidade, mas sim um imenso Ser Vivo. Os platónicos e os neoplatónicos também nos falaram deste imenso Ser Vivo, de que faz parte o Universo, o qual também teria, sob o ponto de vista físico, órgãos, tecidos ou células, exactamente como o nosso corpo. Assim, no Universo, as galáxias, os sóis, os planetas não seriam nada mais do que partes vitais desse grande Ser que está em movimento, que vem de algum lado e se dirige para outro.
Se nos despojássemos dos nossos preconceitos veríamos que todas as coisas estão em movimento. Percorri os desertos do Egipto e outros lugares onde perduram, imponentes, essas construções de há milhares de anos. Quando nos dirigimos para elas, de longe parece que ainda estão vivas, que os sacerdotes vão sair lá de dentro para saudar-nos, que os abanicos de Amón vão-se abrir de novo; mas à medida que nos aproximamos, vemos que tudo é areia, que as pedras estão rachadas, as colunas apoiadas umas sobre as outras para não caírem… Esse templo está vivo, nasceu um dia quando cortaram as pedras, criaram as colunas e talharam-nas: é o Templo de Karnak, talvez o maior templo do mundo. Esse Templo foi o primeiro pensado com base numa necessidade teológica, politica, social… foram chamados determinados especialistas que escolheram as pedras mais aptas para poder construí-lo; fez-se uma delimitação do solo onde iria assentar, que tinha de reflectir uma zona celeste para que houvesse uma concordância entre os astros e os símbolos terrestres e para que o Templo fosse uma ponte entre o Céu e a Terra. Foi feito um estudo astronómico-astrológico.
Esse grande Templo, ao qual se foram acrescentando detalhes e mais detalhes, até à época ramésida e pós-ramésida, esteve em actividade durante muito tempo, mas pouco a pouco deu sinais de desgaste e foi sendo abandonado e foi-se desmoronando.
O Universo, de alguma forma, segundo as modernas teorias do Big Bang ou as antigas teorias religiosas que afirmavam que tinha saído de uma parte do rosto de Brahma ou que tinhas sido criado por um determinado Deus, teve um começo. O Universo está em movimento.
Os antigos pensavam – e os filósofos podemos corroborá-lo com o nosso pensamento – que aquilo a que os hindus chamavam Sadhana, o sentido da vida, existe, porque está presente em todos os seres vivos.
Procuro sempre que os meus discípulos observem o fogo e a água: se vertermos um pouco de água em qualquer sítio, essa água começará a cair ou a deslocar-se; tem uma sabedoria, está à procura de algo, dirige-se para algum lugar e caminha, caminha, caminha, sem se deter; e quando não pode caminhar em linha recta, desvia-se, rodeia as pedras e as montanhas até chegar inexoravelmente ao mar. E o que é que acontece quando chega ao mar? O calor evapora a água e formam-se nuvens; essas nuvens flutuam no ar até que, num determinado momento, caem convertidas em chuva. E de novo é água, e quando cai na terra procura outra vez chegar ao mar. Se a água tem essa sabedoria de poder viver, procurar, encontrar, sublimar-se, voltar novamente em busca de mais experiências e culminar esse ciclo, porque é que nós não havemos de responder à mesma lei da Vida? Se, inclusive, o nosso corpo está constituído em grande parte de água, porque é que não procurará também o mesmo fim, e porque é que a nossa alma não irá ao encontro, como dizia Plotino, da Alma do Mundo, num plano mais elevado e agradável do que este?
Não será tudo isto similar ao facto de encarnar e desencarnar, de nascer e morrer? Quando nascemos há como uma nuvem que, de alguma maneira, condensa as nossas almas em gotinhas; cada um de nós é uma gota e essas gotas reúnem-se, caminham, formam sociedades, grupos, até que, chegado o momento desaguam nesse mar onde “aparentemente” se dissolvem. E talvez haja uma força cósmica que nos eleve outra vez, que nos converta de novo naqueles espíritos que descem sobre a Terra.
O que exponho é uma possibilidade lógica, embora na antiguidade fosse considerada uma verdade irrefutável. Há uma velha teoria que afirma que tudo isto tem uma razão porque, se assim não fosse, não estais de acordo que a Vida seria de uma crueldade imensa? Estaríamos no seio de uma verdadeira loucura. Imaginai: põem-nos no cenário do mundo, em Espanha, na Tanzânia ou em qualquer lugar em que tenhamos nascido: aparecemos, somos pequenitos, dizem-nos que estes são a mamã, o papá, o tio, a avozinha; levam-nos ao colégio, estudamos, vivemos, amamos, odiamos, temos problemas e quando aprendemos a viver a mesma mão que nos trouxe começa a tirar-nos a vida. É precisamente quando temos mais experiências, quando realmente temos mais experiências, quando realmente poderíamos manejar as coisas, que nos tiram a vida e partimos deste mundo.
Se tudo isto não tivesse sentido, se não tivesse uma continuidade, este mundo estaria louco.
Observemos uma planta qualquer e veremos a imensa inteligência com que foi desenhada. Hoje fala-se dos painéis térmicos para aproveitar a luz solar, sim, mas já desde o período pré-carbonífero que havia painéis térmicos para aproveitar a luz solar: eram as folhas das plantas. As folhas das plantas aproveitam a luz solar para a fotossíntese; além disso, através do sistema da capilaridade (descoberto pelos físicos há poucas centenas de anos), as plantas conseguem que a sua seiva vital vá desde as raízes até às folhas, se renove e desça de novo até às raízes; ou seja, tudo está tremenda e magnificamente pensado. Detenhamo-nos agora num animal, por exemplo uma pantera ou um tigre. Porque é que o tigre tem riscas e porque é que a pantera do Brasil tem manchas? O tigre tem riscas porque estas lhe servem de camuflagem pelo facto de viver entre os bambus. A pantera do Brasil tem manchas porque vive numa selva em que há flores, folhas e essas flores e folhas de diferentes cores escuras, douradas fazem com que ela também se confunda dentro desse panorama.
Tudo isto significa que há outras inteligências, para além das nossas, que estão a pensar ou pensaram, os Arquétipos que regem as plantas e os animais. E que me dizem, por exemplo, dos minerais? Já observaram as rochas, as pedras, os cristais, repararam na maneira perfeita com que estão desenhados, talvez melhor ainda do que a Grande Pirâmide? E como é que a Natureza, com uma única substância, o carbono, pôde criar a confusa grafite e o transparente diamante. Isso demonstra que há um pensamento em toda a Natureza que nos rege e que tudo está perfeitamente pensado.
Aquele ou Aquilo que idealizou as curiosas tracções que permitem que as amibas se movam, que os pássaros tenham os ossos ocos para serem mais leves e poderem voar, que desenhou as escamas dos peixes para que possam penetrar mais facilmente na água, que os doou de uma bexiga-natatória para subir e descer como os submarinos modernos; aquele que pensou em tudo isso, porque é que não teria pensado na nossa constituição física e também na nossa constituição psicológica, mental e, em ultima analise, na nossa finalidade?
Porquê pensar que esta Inteligência Cósmica se preocupou com as plantas, os animais, os minerais e não se teria preocupado com os homens, se nós também somos seres vivos? A Vida existe e está perfeitamente calculada, pensada por Alguém, por Algo. Porquê? Para que é que se utilizou tanto e com tanta intensidade o Pensamento para dar a todas as coisas esta harmonia maravilhosa? Tem que ser para algo. Ninguém faz uma ponte se ninguém vai atravessar. Ninguém faz um barco se ninguém vai navegar nele. Ninguém faz uma cadeira se ninguém vai sentar-se nela. É evidente que a nossa construção orgânica e a construção orgânica da Natureza foram feitas para algo, para serem aproveitadas por algo que irá durar mais do que o objecto em si, algo que irá poder utilizá-las. E àquilo que vai utilizá-las nós, filósofos, chamamos Alma, o Espírito que passa através das coisas.
É evidente que, imersos como estamos nesta prisão da carne, nos nossos problemas económicos, familiares, vitais, é muito difícil por vezes reflectir sobre estas questões. Recordo de um fragmento do livro de Ovídio Nasón, A Arte de Amar, que me impressionou muito da primeira vez que o li. Ovídio era, como sabeis, um dos grandes poetas da época do Imperador Augusto e, digamos que era um pouco boémio; gostava de andar com mulheres pela noite fora, beber, deitar-se muito tarde (ou melhor dito, muito cedo, quando o sol já tinha nascido) … Mas, claro, além de ser assim, era Ovídio. Conta-nos, entre muitas outras coisas, o que lhe aconteceu com uma das suas amadas, à qual atribui um pseudónimo (naquela época existia a honra de não mencionar os nomes das damas, mas de inventá-los; um bom costume). Chamou-lhe Corina, não sabemos quem era. Ovídio relata que um dia chegou ao palácio de Corina, uma dama da alta sociedade romana que possuía tesouros preciosos, entre eles um papagaio vindo provavelmente das Índias, que sabia falar. O papagaio repetia tudo o que ela lhe dizia, respondia, falava com ela, era uma grande companhia. Entretanto, Ovídio chega e vê Corina a chorar com o papagaio nos braços, aparentemente morto. Ovídio pergunta-lhe: Corina, porque choras? E ela respondeu-lhe: Lembras-te do papagaio que falava connosco, que repetia as nossas palavras de amor, os nossos cantos, que era uma jóia maravilhosa, verde como uma esmeralda? Hoje é um montão de penas e nada mais. Onde está o papagaio? Que se passa? Porque é que as coisas acabam? Ovídio procura consolá-la, iniciá-la nas coisas que ela ignora, e diz-lhe: Hás-de saber, Corina, que há um céu onde estão os homens e também há um céu para os animais. Há uma pequena banda entre o céu dos homens e o dos animais onde estão os animais superiores, aqueles que inclusivamente podem falar ao homem e repetir as suas palavras e assim consolam esses animais recordando-lhes a voz dos seus amos; mais tarde voltam novamente à Terra para acompanhar os homens. Corina chora e diz; Não, não me contes isso a mim; aqui há simplesmente um montão de penas verdes, o meu papagaio já não existe, já não vive mais. E então, o papagaio, num último esforço antes de morrer, levanta a sua pequena cabeça, fita Corina e diz-lhe: Corina, Corina, a morte não existe.
É muito belo encontrar estes velhos exemplos. É muito belo pensar que às vezes os animais, as plantas e as árvores morrem em paz, porque têm um conhecimento que nós já perdemos ao intelectualizar demasiado a vida. Perdemos o conhecimento da nossa própria eternidade, perdemos o conhecimento da nossa vida interior, perdemos o conhecimento da nossa Alma imortal.
Hoje temos de retomar esse conhecimento, porque no fundo e apesar de todos os nossos progressos tecnológicos, às vezes estamos tristes; e apesar de vivermos em megalópolis, de estarmos no meio de multidões, de podermos conversar e ler os jornais, ver televisão ou ouvir a rádio, por vezes sentimo-nos muito sós, tremendamente sós. Às vezes gostaríamos que alguém nos dissesse alguma coisa, como esse papagaio, que a morte não existe, que a Vida tem um sentido, tem uma direcionalidade; e é evidente que a tem.
Se virdes uma flecha no ar, não pensareis que surgiu de um arco e que vai em direcção a um alvo? O que nós estamos a ver na Vida é uma flecha no ar, e essa flecha foi lançada por um Arqueiro Divino. Um dia, com um som inconcebível, fomos lançados através do tempo e do espaço, mas chegaremos a um alvo, chegaremos a um lugar. Toda a nossa Vida tem um sentido; têm sentido as nossas alegrias porque nos confortam para continuar a viver e também têm sentido as nossas dores e as nossas lágrimas porque nos permitem adquirir experiências, fazem-nos um pouco mais sábios e talvez um pouco melhores.
Quem tenha compartilhado risos, sabe que isso é bom para o entusiasmo, e quem tenha compartilhado lágrimas sabe que isso é bom para a união das almas. Porque nesta Vida e na Natureza não há nada que seja realmente mau; tudo é bom no seio do seu Oculto Sentido.
Conferência proferida em Outubro de 1987
¡Bellos y excelentes razonamientos y analogías sobre el sentido de la vida y la inteligencia perfecta con que todo ha sido diseñado! ¡Es tambien asombroso como describe la “vida” del Templo de Karnak y la comparación de cómo encarnan y desencarnas las almas con el proceso de las gotas de lluvia.