Esta é para mim, a paisagem mais bela e mais triste do mundo (…) Aqui foi onde o principezinho apareceu na terra e depois desapareceu.
Que belo presente, Saint Exupéry, deste ao mundo! Entregaste-lhe o teu principezinho. É difícil saber onde se gerou, de onde nasceu, antes de o lermos impresso no papel e o conhecermos nas tuas aguarelas, tão simples mas tão cheias de vida.
Quem sabe, não se terá criado nas solidões infinitas e no silêncio do deserto do Sahara, em finais do ano 35, quando uma avaria te obrigou a comungar com as suas extensões e luz ofuscadora, com o vislumbre de uma morte presente que transforma.
Foi quiçá nos primeiros esboços que de ele fizeste, quando esse menino de cabelos de ouro começou a rir e a dançar no teu coração, querendo aparecer no mundo, filho de uma estrela, procurando amigos.
Quantos leitores ávidos dos teus livros ficaram no início defraudados, pois estavam acostumados aos teus romances de aventuras e reflexões filosóficas: Correio do Sul, Piloto de Guerra, Voo Noturno, Terra de Homens… Mas em pouco tempo o mundo se rendeu perante o seu encanto e é hoje um dos livros mais lidos de toda a História, o primeiro em língua francesa. Não é, na verdade, um livro para ser lido por crianças, mas sim pela criança interior que se esconde na nossa vida, como um poço de água num deserto.
Enamorámo-nos do teu Principezinho, sempre fiel a uma rosa na sua longínqua estrela, sempre puro, sem renunciar nunca a uma pergunta, uma vez formulada, sem medo a nada e procurando sempre amigos.
Ensinaste-nos a importância de criar vínculos, alma com alma, pois a vida carece de sentido sem eles, é o compromisso que faz com que não sejamos simples fantasmas deambulando pelo espaço e tempo; e o perigo de não ter imaginação, de ser como o eco que repete o que os outros dizem. Advertiste-nos contra as sociedades que não se adaptam ao novo e escravizam os seus, como o faroleiro, obrigado a repetir normas já antigas e obsoletas. Fizeste-nos ver como está absolutamente só o vaidoso, com as suas graças de palhaço. E a vida insípida, como a do geógrafo, que chama “efémero” precisamente ao único que deixa marca na alma. E se Buda dizia no Dhammapada, que é insensato contar as vacas do outro como se fossem suas, ou a sabedoria do outro como sua (simplesmente por repetir as suas palavras), vimos essa estupidez no homem de negócios, ao contar como suas as estrelas inacessíveis, das quais nada extrai, e às quais não serve de arauto. No antigo castelhano dizemos que “tem valor quem serve, servir é uma honra”, quem a ninguém nem a nada serve, com lealdade, nada tem e nada vale.
Ensinaste-nos que entre as rosas, é a tua a que te chama ao céu, é lá que ela te leva, e que “o essencial é invisível aos olhos”. A importância de limpar os nossos pequenos vulcões diariamente, e de arrancar as ervas daninhas que se convertem em embondeiros, de cuidar o pequeno mundo em que vivemos, a nossa casa, a terra emocional e mental que nos serve de suporte.
Um homem letrado e um herói na guerra e na paz conduziu-te até nós, e agora aprendemos a ouvir o teu riso no tilintar prateado das estrelas e a tua alegria e dança no vento e na água que corre… Já não estamos sós, não somos órfãos, simplesmente tínhamo-nos esquecido e tu despertaste-nos e seguiste o teu caminho de retorno ao abismo celeste que te trouxe.
Que estranho, sabes? Passaram 75 anos? Ou apenas um piscar de olhos, um sorriso desde a tua alegre eternidade?
Gracias, Principito al recordarnos que no debemos dejar nunca de ver el mundo con ojos de príncipe y de niño.
Gracias a la Revista Fenix por este homenaje. En el mar de fango y saciedad de la sociedad de consumo es necesario rendir homenaje a los que nos enseñan a ver y comprender las estrellas.