Recentemente, um artigo aparecido na Nature revolucionou a comunidade científica dizendo que o homem na América é dez vezes mais antigo do que imaginavam. Mas em todo o caso, as publicações adaptadas a leigos não sofriam muito, basta adicionar-lhes um zero, e assunto solucionado! De 13.000 para 130.000, é um belo aumento que logaritmicamente se expressa muito bem. Se não olharmos atentamente o número, quase não nos damos conta da diferença.
Encontraram-se evidências, num campo arqueológico na Califórnia, de ossos de mastodonte partidos à pedrada seguindo uma espiral, o que descarta que tenha sido a própria natureza a escultora. É um padrão humano deliberado, uma forma útil de partir o osso. Tudo, junto a pedras que devem ter sido usadas como martelos e picos. A descoberta fez-se nos inícios dos anos 90, mas só agora foi determinada a antiguidade segundo a datação de urânio-tório, dado que a inexistência de colagénio nos ossos não permitiu que fossem usadas as técnicas de radiocarbono.

Doutrina ortodoxa e já obsoleta, ou seja, falsa, sobre a distribuição do Homo sapiens pelo mundo / wikimedia
Esta descoberta e publicação não vem só, é na realidade a última gota que enche o copo, a mudança de um paradigma rígido, obsoleto, fanático e absurdo com respeito à antiguidade da presença do homem na América. Quantos martirizados, não por buscar a verdade, que é o esforço natural evolutivo do ser humano, mas por querer abrir caminho no meio do bloqueio, da idiotice, das máfias das teorias impossíveis, que como insaciáveis Molochs vão devorando as suas inocentes vítimas.
Em 1929, encontraram-se na localidade de Clovis, no Novo México, uma série de pontas de lanças e achas bifaces muito características às quais, pelos outros restos junto delas, se lhes deu uns 13000 anos de antiguidade. Depois encontraram-se restos semelhantes por distintos pontos dos Estados Unidos, no México e ainda na Venezuela. Tudo encaixava na perfeição, no final da última glaciação o mar tinha retrocedido o suficiente para que tivesse uma amplíssima passagem no atual estreito de Bering. O suficiente para que a hipótese se convertesse em teoria, e com uma ou duas gerações de estudiosos, em dogma inamovível. E ai de quem se atreva a atacá-lo! Por lógica evidente sabemos que basta um só facto inequívoco para demolir a mais sólida das teorias, em teoria. Mas isto só é válido se o investigador carece de preconceitos e é um enamorado da verdade. Se não é assim, os factos mais contundentes podem ser afastados como as pedras do caminho que simplesmente se mostram irritantes. Além disso é muito simples, trata-se somente de não olhar para onde não queremos olhar, ou meter a cabeça no buraco, como a avestruz.
Por outro lado, que se tenham encontrado indubitáveis e numerosos registos romanos, vikings, sumérios, fenícios, celtas e até egípcios, tal como demonstra Barry Fell (e muitos outros) nos seus livros American BC, escrito em 1976, Saga América (1980) e Bronze Age América (1982) e em numerosos cadernos de ESOP (Epigraphic Society Occasional Papers), também não é muito irritante, basta desacreditá-lo, e dizer como o faz a Wikipedia, infantilmente, que não acreditamos nele:
A survey of 340 teaching archaeologists in 1983, showed 95.7% had a “negative” view of Barry Fell’s claims (considering them pseudoarchaeology) 2.9% had a “neutral” view, and only 1.4% had a “positive” view (regarding them as factual).
Absurdo argumento, agora a verdade é por aclamação popular! Platão ensinou-nos que, mesmo que mil cegos neguem a luz e as cores, estas não deixam de existir. Finalmente são 3% dos especialistas os que geralmente vão fazendo avançar o carro da ciência e, portanto, da História. Seria interessante que voltassem a repetir esta experiência daqui a trinta anos e ver se mantêm esses mesmos dados. Porque às vezes aos ortoarqueólogos, tão apegados ao passado, custa-lhes ter visão de futuro, agarram-se a ele como os mesmos estratos que estudam.
Nos anos 30 um jovem aficionado na arqueologia, Juan Armenta Camacho[1] encontrou restos de animais já extintos no reservatório de Valsequillo, depois ferramentas de pedra, e em 1959 um osso de mamute gravado onde apareciam animais há muitíssimo tempo já extintos, como o Gonphotherium, uma espécie de elefante com quatro presas. Provou-se que tinham sido realizados pouco tempo depois da morte dos ditos animais. A Universidade de Harvard enviou uma equipa liderada pela jovem antropóloga Cynthia Irwin-Williams e encontraram utensílios de pedra junto dos ossos de mamute e mastodonte. Geólogos e uma especialista em estratos de cinzas vulcânicas juntaram-se à equipa. Os restos davam uma antiguidade entre 150.000 e 280.000 anos. Alarmadas, as autoridades arqueológicas mexicanas decidiram intervir, apresentaram-se agentes federais armados e intimidaram os obreiros para que confessassem a fraude de que eles mesmos tinham enterrado os artefactos, com um papel que deveriam assinar. Apesar das ameaças, somente três entre 60 o fizeram. Retirou-se-lhes a autorização para escavar, confiscaram-lhes as peças. Vários anos depois permitiu-se que voltassem a fazer escavações e medidas do estrato geológico no qual tinham encontrado os utensílios, e aplicaram-se quatro metodologias: séries de urânio, traços de fissão de zircão, hidratação da tefra (cinzas vulcânicas) e meteorização dos minerais, que deram datas sempre superiores a 250.000 anos.
Apesar da seriedade e qualificação impecável da equipa científica, e da possibilidade de que quem quisesse repetisse as experiências ou recolhesse novas provas, nenhuma revista científica quis publicar os seus resultados. Somente uma breve resenha do quão desconcertante tinham sido os resultados obtidos. A especialista em tefrocronologia, que tinha datado os estratos de cinzas vulcânicas, Virginia Steen-McIntyre foi “queimada” pela Inquisição da ciência dogmática. Foi difamada, a sua reputação profissional foi arruinada e teve que trabalhar como jardineira para ganhar o pão de cada dia. Finalmente conseguiu publicar muitos anos depois numa revista, a Quaternary Research, graças à amizade com o editor. Mas pouco importou no seu momento, a datação oficial de Hueyatlaco ficou em 20.000 anos. Foi necessário esperar a obra formidável de Michel Cremo, Forbiden Archaeology, que removeu os cimentos de tudo aquilo no que acreditavam geólogos, antropólogos e historiadores (obra lida por milhões de estudiosos e que, paradoxalmente, nunca foi traduzida e editada em Espanha), quem destapou o caso de Valsequillo.
Todo este assunto nos recorda a da pirâmide circular de Cuicuilco, debaixo da lava de um vulcão, no México, datada pelos arqueólogos no séc. I a.C. Os geólogos demonstraram que os depósitos de lava e sedimentários antes de chegar à pirâmide abarcavam um período de 6.500 anos, algo que para a ciência do momento era totalmente impossível de aceitar. Além disso encontraram-se figurinhas muito semelhantes às do neolítico europeu da mesma época, esculturas com “cascos” e a a figura de um homem com barba.
As evidências de Valsequillo constituem só uma das provas da presença do homem na América muito além da versão oficial. Em Pedra Furada, no noroeste do Brasil, encontraram-se populações humanas com uma antiguidade superior a 58.000 anos, datas determinadas utilizando o Carbono 14, ou inclusive 100.000 anos segundo a termoluminescência.
Em Colico, Califórnia, o mesmíssimo Louis Leaky encontrou indústria lítica que tinha sido datada com uma antiguidade superior aos 200.000 anos. Claro, os seus opositores conseguiram que suspendessem as escavações, porque não se devia escavar nem encontrar o que é impossível, o telescópio de Galileu ainda dava dor de olhos à Inquisição, as crateras da lua eram na verdade manchas nas lentes desse artifício demoníaco.
E assim muitas descobertas, sem contar com os ossos de gigantes e o misterioso gigantopithecus, pois tais são silenciados – apesar das universidades que querem divulgar o que se encontrou – ou se não é possível, olha-se para outro lado com olímpico desdém.
Devemos então rasgar as próprias roupas com esta nova descoberta, mencionada no princípio do artigo? Não, seria melhor tê-las rasgado com toda a manipulação, ocultamento, afastamento de investigadores, silêncio cúmplice e processos inquisitoriais da ciência a respeito durante cinquenta anos.
Além disso, que digam agora os investigadores que quem fez isto não são humanos, que são homo, mas neandertais ou denisovanos, é gratuito, pois não se encontraram ossos deles. Simplesmente não se quer aceitar a presença do homem na América tão cedo, pois entra em contradição com os termos que aprendemos em criança de que a América era o “Novo Continente”. As rotas de como foi propagando o “homem” desde o seu berço em África (?) como australopitecos, depois Espanha, em Atapuerca, ou pela China com o Sinantropus, etc. etc., semelhante a um mapa de Londres, dá-nos riso, pela soberba e audácia dos que sabendo algo, um pouco, crêem sabê-lo quase tudo. Deste modo cada três meses aparece uma nova “estação” pela que não passava o “comboio subterrâneo” e há que mudá-lo todo. Não aprenderam a lição de geometria básica que é que “dois pontos não necessariamente definem uma linha recta”, ou seja, que se a linha é recta efetivamente só haverá uma possível (supondo o espaço plano euclidiano) mas se é caprichosamente sinuosa, ou curva, pode haver infinitas.
Muy irónico y mordaz el artículo. Pero el autor tiene razón, qué facil dogmatizamos con lo poco que sabemos. El esfuerzo más terrible y consumidor de la ciencia no es buscar y encontrar verdades, lo que es en sí gratificante, da sentido a la vida. Lo que consume a los verdaderos científicos -castigados tantas veces por ello- es luchar contra los muros inquisitoriales de dogmatismo y monopensamiento, contra esos castillos de telarañas sofísticas, pero que cortan como navajas de afeitar cuando queremos deshacernos de ellas.Al final la verdad se impone, pero con cuánto sacrificio inútil.