Neste artigo gostaria de compartilhar convosco um interessante artigo intitulado: “Quatro formas como a tecnologia tem mudado negativamente a Educação”, pela Dra. Kadija Alhumaid. Nele, ela descreve até que ponto a tecnologia tem sido gradualmente integrada nos nossos processos da metodologia da educação.
A tecnologia não é algo novo e específico na nossa civilização industrial, mas tem estado sempre presente desde que a humanidade começou a caminhar sobre a terra, como uma ferramenta para “aproveitar a natureza e desafiar as suas forças invencíveis”. No entanto, ao longo do último século, tem estado cada vez mais presente a ponto de não ser apenas uma mera ajuda, mas realmente indispensável às nossas vidas. Por exemplo, 300 horas de vídeo são carregadas no YouTube a cada minuto, e mais ou menos 5 mil milhões de vídeos são vistos diariamente. Ferramentas digitais tais como computadores, tablets, iPads, processadores de texto, e-mails e a Internet entraram nas salas de aula e alteraram o ensino e a aprendizagem. Os professores são incentivados a usar a tecnologia com a maior frequência possível e os alunos são diariamente expostos a largos conteúdos de informações que lhes chegam via uma variedade de dispositivos tecnológicos. E se existe um amontoado de investigação elogiando um efeito inequivocamente positivo da inserção de tecnologias no normal curso do desempenho dos estudantes há muito pouco relacionado com o efeito negativo que isso mesmo acarreta.
É um facto que cada vez mais os estudantes têm acesso a mais tecnologia em todo o mundo. Por exemplo, nos EUA, em 2015, mais de 80% do 8º ano, dizem utilizar o computador para os trabalhos escolares.
No entanto, vários estudos têm demonstrado que o uso da tecnologia não melhora necessariamente o desempenho ou as suas habilidades. Houve sinais de impactos negativos nas habilidades de escrita entre alunos, pois eles tendem a escrever rápido e descuidadamente, usando cada vez mais abreviaturas nos seus escritos do que fariam ao se comunicar eletronicamente. Um instituto canadiano mostrou que 51% dos alunos do ensino médio em uma pesquisa reconheceram ter copiado durante os exames, e que a tecnologia faz parte do jogo, tornando mais fácil copiar.
Como o título do seu artigo sugere, a Dra. Alhumaid descreve quatro principais meios onde a tecnologia tem um impacto negativo no processo de educação: a deterioração das competências dos alunos na leitura, escrita e aritmética, que são as três aptidões básicas que é esperado cada estudante domine; a desumanização da educação em muitos contextos e a distorção da relação entre professores e estudantes. O isolamento dos alunos num mundo digital e virtual que os afasta de qualquer forma de integração social e o aprofundamento das desigualdades sociais dos que têm dos que não têm, isto é, estudantes que podem possuir essas tecnologias e aqueles que não podem.
Isto não quer dizer que a tecnologia não desenvolve os estudantes no seu conteúdo académico ou impede a sua motivação para cumprir as suas tarefas, embora demasiada dependência tecnológica afete negativamente as suas habilidades na leitura, escrita e conhecimentos aritméticos. O que é normal quando a digitação é preferível à escrita, ou quando a leitura de artigos em PDF e Word é preferível aos livros e às revistas em papel. O próprio uso da pontuação é um bom exemplo quando testado tem tido uma influência negativa. Olhando a aritmética, o uso das calculadoras tem tido um impacto negativo na capacidade dos estudantes chegarem à conclusão correta. A matemática e a aritmética são duas formas puras que promovem a descoberta, a exploração e o pensamento crítico.
O excesso de dependência da tecnologia nas salas de aula tem criado uma barreira entre professores e alunos, porque eles comunicam diretamente através da máquina. E, portanto isso, dificulta uma sã relação com os seus alunos e tem um enorme impacto sobre eles. Isto gera um elevado grau de ansiedade nos alunos do ensino médio e universitário. No geral, conduz a um “desgaste total nas relações sociais envolvidos no ensino, assim, corroendo um dos principais objetivos da educação”.
Como a Dra. Alhumaid tão bem sublinha: “Uma das características distintivas do ensino presencial é o coletivismo e a colaboração, enquanto característica distintiva do ensino baseado na tecnologia é a ausência de sentimento de coletividade e união”. Um mecanismo natural de defesa da mente é o isolamento, porque pode desenvolver uma sensação de segurança e proteção, quando os estudantes estão “ligados aos seus gadgets”. A tecnologia tem um efeito de casulo e dá-nos a ilusão de conforto enquanto nos vai privando da necessidade social de interação e colaboração, conduzindo a um sentimento de solidão.
Em relação ao uso e à posse da tecnologia, existe um distanciamento entre as classes sociais. A ausência de equipamentos mesmo nos países em desenvolvimento gera problemas para os alunos encontrarem empregos bem remunerados e competirem no mercado de trabalho global. Mesmo nos países desenvolvidos existe uma “divisão digital” entre diferentes origens sociais. E, essa divisão ainda é maior dentro dos países mais pobres.
Embora o nosso uso continuado da integração tecnológica tenha conduzido a mudanças substanciais na nossa sociedade e no mundo dos alunos estudarem e os professores ensinarem, ainda há tempo de mitigar os efeitos negativos e “aproveitar o bem”. Isso pode ser feito promovendo a interação humana, comunicação e colaboração, compartilhando e comparando trabalhos e projetos que ajudem a melhor unir os estudantes em todo o mundo e incentivando “estudantes com experiência em tecnologia” a criar conteúdos interativos que irão enriquecer as suas aprendizagens.
A nossa obsessão com a tecnologia necessita de supervisão e reflexão, caso contrário pode conduzir a inúmeros problemas que, nalguns casos, podem ser extremos. Devemos ter cuidado para não ficar tão cegos pelos bons aspetos que a tecnologia nos trás de tal modo que não prestamos atenção às suas consequências negativas. O objetivo do artigo da Dra. Alhumaid foi elucidar sobre os aspetos negativos tantas vezes omitidos da tecnologia na educação e oferecer algumas chaves de como eles podem ser mitigados.
Florimond Krins
Publicado em Biblioteca Nueva Acrópolis em 16 de maio de 2022
Imagem de destaque: Hardware, software, códigos estão muito presentes no nosso dia a dia. Creative Commons