Não te deixes enganar. Estas não são histórias para crianças. Estas são histórias sobre monstros, bruxas, robôs, espíritos e crianças, que se debatem com questões sobre violência social, ética, moralidade, justiça, heroísmo, identidade e sobre a alma.
Josef Steiff e Tristan Tamplin
Os animes têm-se manifestado cada vez mais relevantes no cultivo imaginário das crianças e jovens europeus e americanos, de tal forma que hoje estão, a meu ver, sistematicamente, a substituir a animação tradicional. Basta-nos passar rapidamente os olhos pelos canais de animação tradicionais, da nossa televisão, para vermos como a qualidade da animação e das temáticas abordadas, nas séries de animação ocidentais, decaíram. Nestes canais, já começam a ser transmitidas algumas séries de animação japonesas mais populares, o que nos mostra como se têm tornado populares no Ocidente.
Não irei colocar a animação japonesa num trono e afirmar que é superior em todos os níveis, e que nunca perdeu a sua essência. Infelizmente, o que vemos hoje em alguns dos animes é uma perda do contacto com a dimensão mitológica. Mas não totalmente, pois ainda há autores que a mantêm bem viva, e isso vê-se não só na sua popularidade, mas também na qualidade e maturidade das temáticas que aborda.
Nos animes, a arte e a imaginação expressam-se de uma forma mais direta e mais livre do que no tradicional cinema e, mesmo com os atuais “live-actions”, que tanto inovam, a atual arte cinematográfica ainda se mostra aquém do carisma e da magia produzidas na animação japonesa.
No Japão, tudo o que é produzido em termos de animação é considerado anime (diferente do conceito ocidental de anime, que apenas se aplica a animação japonesa) e uma das temáticas mais importantes da sua animação é: em que consiste ser um herói.
Há vários tipos de heróis, mas irei concentrar-me naqueles que são considerados, aqui no Ocidente, como os mais conhecidos e importantes.
Dragon Ball
Este popular anime, como todos os restantes animes japoneses, começou por ser criado em estilo de banda desenhada (ou manga, no Japão), em 1983, e foi mais tarde transmitido na televisão (em formato de animação), em 1986.
A história segue Son Goku, um jovem oriundo de um planeta distante, que aterra no planeta Terra, e que manifesta um poder e habilidade física fora do comum.
Desde muito jovem, Goku é treinado para se tornar um grande proficiente nas artes marciais e, durante esse treino, encontra desafios que o fazem crescer ao nível físico e moral. O seu objetivo começa por ser conseguir encontrar as 7 esferas do dragão (esferas que, uma vez reunidas, podem conceder qualquer desejo).
Tanto no Dragon Ball, como no Dragon Ball Z (a sua sequela), está bastante clara a ideia do herói que realiza grandes façanhas e protege a Terra. Son Goku é, portanto, o personagem central da história. Ele é descendente da fictícia raça de guerreiros “Saiyan”, muito poderosos, originários do planeta Sadala, e naturalmente agressivos a qualquer outra raça do universo, pretendendo mesmo dominá-las a todas. Por causa desta atitude agressiva e dominante, foram quase exterminados pelo “deus da destruição” Beerus. Um dos sobreviventes foi Goku, que foi enviado para fora do planeta, ainda bebé, pelos seus pais, com o intuito de o salvarem. Assim, Son Goku aterra no planeta Terra e lá cresce, afeiçoando-se naturalmente ao planeta e às pessoas que o habitam.
Ele, ao contrário dos demais da sua raça, torna-se muito “humano” (ainda que com características físicas muito peculiares), isto é, com as características do melhor do ser humano: uma grande caridade, doação e sacrifício, por todos.
Deste modo, Son Goku é naturalmente acolhido como o herói da série, pelo seu forte carisma, força, capacidade de sacrifício, superação, bondade, grande inocência e generosidade. Além disso, ele mostra claramente onde estão as suas mais fortes intenções e motivações. Ele é especialmente movido por ideias de justiça, poder (ao serviço do bem e contra o mal), nobreza, liberdade, fraternidade, coragem e paz, contrariamente a todos os vilões da saga, que naturalmente se mostram invejosos, egoístas e indiferentes à dor dos outros.
Goku tem, dentro dele, o poder de destruir o planeta Terra. Mas escolhe protegê-la.
A diferença entre os heróis e os vilões é também bastante distinta no que diz respeito ao seu crescimento, uma vez que os vilões crescem em poder na medida em que se tornam mais egoístas (quando “consomem” os outros para ganharem poderes ou quando se injetam com substâncias, para alterarem o seu poder). Já os heróis crescem quando cultivam ações altruístas e quando conseguem eliminar os seus bloqueios internos.
Com esta ideia, podemos compreender que o poder dos vilões vem de fora deles, enquanto que o poder dos heróis vem de dentro.
Também, nesta história, se denota a união de vontades entre todos os personagens ditos “bons”, e a reunião de esforços para salvarem o planeta Terra, o que demonstra grande capacidade de abnegação e sacrifício, pelo bem comum.
Contudo, apesar de tudo isto, Son Goku mostra-se um pouco egoísta, ao escolher muitas vezes estar constantemente em busca da auto-superação e do conflito, para se tornar cada vez mais forte, esquecendo-se dos seus filhos e da sua esposa.
Aqui podemos ver a nossa constante luta contra o que nos isola, nos limita ao amor e ao serviço principalmente dos que nos são mais próximos, nos amam e procuram cuidar de nós, a nossa dificuldade em deixarmos ser ajudados, cuidados e amados. E também a nossa insatisfação constante, o nosso querer sempre mais, sem nos permitirmos degustar verdadeiramente o que temos ao redor, toda a riqueza que nos foi dada.
No caso de Son Goku, esta distância nunca se tornou motivo suficiente para graves problemas familiares e a definitiva separação entre ele e a família, uma vez que para a sua família são claras as suas maiores motivações, isto é, as que ganham maior terreno dentro dele: os seus esforços procuram restabelecer e preservar a paz.
Naruto
Naruto é também uma das séries de anime mais conhecidas e populares, tanto no Japão, como no Ocidente. A história centra-se no personagem principal, e futuro herói, Naruto, cidadão da cidade de Konoha (na história, cada cidade é a capital de um clã, que governa um determinado território). Naruto perde os seus pais ainda bebé, quando se sacrificaram para proteger a cidade de Konoha de um ataque da Kyubi (“besta de chakra”, em forma de raposa gigante, com 9 caudas), que quase destruia a cidade. Os pais de Naruto controlaram e selaram a besta dentro de Naruto, sacrificando as próprias vidas para o fazer, já que selar tamanho poder não seria possível sem este sacrifício.
Naruto é adotado pelas autoridades da cidade, mas passa por uma infância complicada, uma vez que vive sozinho. Para piorar a situação, é tratado como uma pessoa perigosa, pelo facto de ter, dentro de si, um poder devastador. Com o tempo e a ajuda de alguns companheiros e mestres, Naruto vai formando amizades, e tornando-se num ninja que defende a sua cidade contra ameaças externas, e protege os inocentes da injustiça.
A sua ambição, desde criança, é ser o Hokage (chefe máximo) da cidade, com o intuito de ser
“reconhecido por todos”, uma vez que sentiu grande solidão e desprezo, pela parte de todos, na sua infância. Para o ser, ele entende que precisa de se tornar no ninja mais poderoso, pois só assim poderá ser nomeado. Este forte desejo, juntamente com o de ajudar os outros, irá levar Naruto a tornar-se num ninja cada vez melhor e no futuro herói da cidade de Konoha.
A principio, ele não se destaca muito dos companheiros, que competem com ele, em termos de capacidades físicas e intelectuais (e quando se destaca é pela negativa): não é particularmente inteligente, não sabe trabalhar em equipa e é impulsivo nas suas determinações, facto que o leva, no calor da batalha, a atuar de forma irrefletida e imprudente, o que resulta em grandes ineficácias e no gasto improdutivo da sua reserva de chakra (resultado da junção das duas energias do ser humano: “energia física” e “energia mental”).
Apesar disso, as suas grandes armas são a enorme quantidade de chakra que tem disponível (em comparação com os outros), devido à sua ligação com a Kyubi dentro dele, o que lhe permite resistir por longos períodos às grandes agressões por parte dos oponentes; mas também a sua humildade, determinação, forte interesse em proteger os que são mais fracos, ou passam dificuldades, e um “poder misterioso” que lhe permite levar os outros a querem lutar por tornar-se melhores.
Desde cedo, na turma da escola ninja, Sasuke, um prodígio da mesma idade de Naruto, com grandes capacidades intelectuais, excelente técnica e popularidade entre as raparigas, enche, inicialmente, o Naruto de inveja, visto que, pelo contrário, Naruto era objeto de constantes críticas e desprezos por parte de quase toda a gente. No entanto, Sasuke também perde os seus pais muito cedo, facto que atrai a simpatia de Naruto e os leva, a partir de um certo momento, a formar amizade e companheirismo.
No decorrer da história, estes dois vêm a revelar traços de carácter diametralmente opostos. Por um lado, simpatizam um com o outro, pela semelhança na dor que sofreram na infância; mas, por outro, as respostas que vêm a encontrar e as decisões que vêm a tomar, para o rumo das suas vidas, levou-os a tornarem-se inimigos. Sasuke procura o responsável pela morte dos membros do seu clã e da sua família, para se vingar. Naruto procura preencher o vazio causado pela solidão aspirando tornar-se Hokage da cidade, ou seja, famoso e respeitado como o pai, e não quer permitir deixar desvanecerem-se os laços que começa a criar com os que considera agora amigos.
À medida que Sasuke cresce em poder, cresce também a distância entre ele e os seus companheiros e amigos, porque determinou-se a fazer o possível para se vingar, mesmo que para isso tenha de usar os outros, como meios para atingir este mesmo fim.
Naruto, em contrapartida, sente a responsabilidade de enfrentar e controlar o poder dentro dele (o poder da Kyubi), uma vez que com este poder, ele poderá destruir a vida de todos os que o rodeiam. Apesar dos maus-tratos que sofreu por parte dos cidadãos de Konoha, não escolhe vingar-se, mas provar que, sob a o seu domínio, esse poder poderá ser direcionado para a preservação e proteção, em vez da destruição.
Para Sasuke o inimigo está, portanto, fora dele, enquanto que, para Naruto, o inimigo habita dentro dele.
Estes dois personagens irão encarnar duas forças da natureza diametralmente opostas: uma o egoísmo, a outra, o altruísmo. Quanto mais Sasuke se distancia de tudo e de todos, obscurecendo o seu coração com o poder de dominar os outros, mais Naruto cresce em responsabilidade e poder para trazer novamente o seu antigo amigo para o caminho do bem.
Assim, Naruto irá mostrar simpatia pelos seus maiores inimigos, pois reconhece que o caminho que escolheram (que não leva à justiça, ao bem e à verdade) poderá ser advertido e corrigido. Essa simpatia, embora a princípio o enfraqueça diante do inimigo, porque o leva à clemência e por vezes hesitação diante do golpe final, mais tarde será um verdadeiro motor de força e convicção. Naruto vence os seus inimigos, porque os pretende ajudar e não aniquilar.
Neste anime é bastante claro o que compõe um herói. Ele é filho de uma tradição e de um ou mais mestres. Em contraposição, poucos são os vilões que herdaram uma tradição ou que foram orientados na sua vida por um mestre (ao longo do seu crescimento, Naruto é orientado por vários mestres, mas aquele que mais o ajuda a controlar o poder da Kyubi, e usá-lo para o bem, é o mestre Jiraiya).
A Kyubi constitui um grande motor de superação para Naruto. Ela move-se pelo ódio que alimentou pelos seres humanos, por usarem a natureza e as bestas de chakra para alimentar os seus interesses e desejos. No mundo em que Naruto vive, cada besta de chakra foi selada num pequeno jovem. Este jovem é posteriormente treinado a controlar esse poder e a usá-lo como arma na defesa da sua cidade, ou para o ataque de outra cidade. Há 9 bestas de chakra, cada uma possuindo entre uma a nove caudas. A Kyubi, dentro do Naruto, é a mais poderosa, com as suas 9 caudas. Ela representa, numa perspetiva filosófica, o aspeto animal e psíquico do ser humano que, uma vez dominado e governado pela inteligência, poderá ser orientado para o bem do mundo. Sempre que Naruto perde o controlo de si mesmo e deixa-se dominar pelo ódio ou a raiva, a Kyubi dentro dele intervém, potenciando essas emoções, de forma a que ele perca o controlo de si mesmo e a besta dentro dele se manifeste e liberte dentro dele.
Numa cena memorável do seu percurso de desenvolvimento, Naruto é instruído a confrontar-se a si mesmo. Esta é uma das provas mais difíceis que enfrenta, porque o seu inimigo, sendo “a sombra de si mesmo”, conhece todas suas técnicas, vícios, hábitos, motivações e medos, e utiliza-os contra ele. Naruto consegue, depois de muito esforço e inteligência, dominar o seu “eu egoísta” e destrutivo, e essa vitória permite que possa defrontar e vencer a Kyubi.
Ao vencer-se a si mesmo, Naruto também domina a sua fonte interior de ódio. Essa fonte era a raiz, usada pela Kyubi, para dominar o Naruto.
Para além disso, aliada ao domínio de si mesmo está a sua forte compaixão pelos outros (que com ela se veio a intensificar, uma vez que, liberto de si próprio, pode, de modo mais radical, entregar-se ao amor pelo próximo), a qual vem a permitir que sinta empatia com a dor e as intenções da Kyubi. Assim, Naruto enfrenta a Kyubi, vence, e consegue convencê-la a aliar-se a ele contra aqueles que querem destruir o mundo.
Inicialmente a Kyubi mostra-se relutante e só partilha o seu chakra quando é forçada, mas, mais tarde, fá-lo de livre vontade, porque reconhece que o seu ideal de bem e de paz é o mesmo de Naruto, e poderá ser mais facilmente concretizado com a sua ajuda.
Graças ao poder da Kyubi e à aliança de toda a humanidade contra as forças do egoísmo, motivadas pelo ideal de compaixão de Naruto, o inimigo é derrotado.
Naruto torna-se, assim, no Herói da história, modelo de todos os jovens que aspiram a melhorar-se a si mesmos, para melhor ajudar a melhorar o mundo!
Demon Slayer
Demon slayer é o anime mais recente dos três que me propus falar, mas não deixa de ser interessante e, em alguns níveis, mais idealista que os outros dois.
A história segue Tanjiro Kamado, um jovem que vive uma vida simples, mas que perde quase toda a sua família devido ao ataque de um demónio. Sobrevive apenas a sua irmã mais nova, com ligeiros ferimentos e uma mordidela (sinal de que foi infetada e que irá transformar-se num demónio). Os demónios (neste mundo imaginário) são seres humanos infetados, que possuem um incontrolável desejo de se alimentar de carne e sangue humanos. A sua força física é, devido a isso, aumentada, e tornam-se imortais a não ser que, literalmente, lhes cortem o pescoço, e os coloquem à luz do sol, pois debaixo dela morrem instantaneamente queimados.
Tanjiro, depois de conseguir controlar a sua irmã, cria em si próprio a resolução de acabar com os demónios, e de a curar.
Este é um herói um pouco atípico no mundo dos animes japoneses, porque geralmente os heróis crescem nas suas convicções, na sua moral e nas suas aspirações do ideal, ou seja, o seu carácter vai sendo formado à medida em que o herói passa pelas suas provas.
Ao contrário desta norma japonesa, Tanjiro não sofre praticamente nenhuma alteração nas suas convicções, nem nos seus princípios, mas esforça-se por manter-se íntegro, à medida em que vai-se esforçando nos desafios que encontra, para alcançar a meta. Essa meta é, desde o início, clara e objetiva: encontrar a cura para a sua irmã e eliminar o responsável pela criação dos demónios.
Ele não deseja nada mais do que uma vida simples e pacífica, ao lado dos que ama. A perda abrupta de tudo aquilo que constituía a sua forma ideal de vida fez com que perdesse a inocência e acordasse de “um sonho paradisíaco”.
O crescimento deste herói dá-se apenas ao nível físico e técnico de combate, pois esta é a sua única limitação e o seu motivo de grande desgosto, porque sente que não tem força para proteger quem ama.
Para poder alcançar esta meta ele torna-se num “Demon Slayer”, um caçador de demónios e, ao mesmo tempo, num membro de uma organização que caça demónios, desde o tempo em que foram criados.
Tanjiro é um herói extremamente esforçado, carismático, decidido, justo, bondoso e extremamente caridoso. A sua caridade é tão forte que se estende aos seus inimigos. A princípio, esta caridade levou a que os seu mestre achasse que não fosse capaz de matar demónios, porque sentia as suas dores e tinha pena do estado em que se encontravam. Mas, com o tempo e o treino, Tanjiro consegue transformar o ato de tirar uma vida, num ato caridoso, uma vez que ele reconhece que ajuda os demónios a abandonar uma vida que, apesar de livre e eterna, não passa de uma vida de escravidão aos desejos da carne, e à completa perversão da sua própria dignidade humana.
Muitos são os demónios que, depois do golpe misericordioso da morte, se arrependem da vida que tiveram e perdoam os que os levaram àquela condição, assim como a si mesmos.
O olfato de Tanjiro é extremamente apurado, de tal forma que não só sente e distingue todos os cheiros a largas distâncias, como consegue determinar, pela intensidade ou subtileza do odor, a intenção de quem o produz. Isto permite que consiga determinar qual o grau de bondade ou maldade nas intenções de quem está com ele e, dessa forma, identificar e corrigir eventuais condições de perigo.
O seu senso de justiça é como um músculo, que endurece e fortalece. Quanto mais atrocidades são cometidas, mais forte Tanjiro se transforma, pois não tolera a injustiça cometida sobre os outros. O seu caminho no mundo é, por isso, de constante busca pela perfeição, física e espiritual, e, à medida que procura e encontra os dons da vida para si, verte-os naturalmente, para todos os que o rodeiam. Nunca deixa de pensar no bem dos outros, em todas as ações que realiza, de tal maneira que, por vezes, esquece-se de si mesmo e das suas limitações humanas.
Um dos grandes exemplos de vida e inspiração para Tanjiro foi Kyōjurō Rengoku, porque este guerreiro e herói, mostrou-lhe a força e nível de sacrifício necessários para conseguir vencer os demónios mais fortes. Numa das cenas em que um demónio oferece-lhe a possibilidade de converter-se num demónio e aumentar o seu poder, tornando-se imortal, ele responde: “Tanto envelhecer como morrer são enfermidades que mostram a beleza da vida humana. O facto de que envelhecemos e morremos, torna a nossa existência extremamente preciosa e nobre. “Força” não é uma palavra que apenas se restringe ao corpo.”
Diante da tentação de poder crescer o seu poder e tornar-se imortal, Tanjirou mostrou-se igualmente irresolúvel, nunca cedendo, mostrando que não está disposto a perder a sua humanidade. Ele é o completo oposto do antagonista da história, Muzan (o primeiro demónio e criador dessa raça), pois só pensa no bem para si mesmo, em detrimento dos outros, e procura a imortalidade física, para poder satisfazer, livremente, todos os seus infindáveis desejos.
Tanjiro mostra-se, assim, o modelo do herói perfeito ao nível moral. Embora lhe falte o poder físico, para praticar a justiça, não há dúvida de que o irá conseguir, pois todos os deuses e anjos estão do lado de quem é puro de coração.
Muitos dos seus companheiros comovem-se com o seu espírito de sacrifício e com a sua extrema humildade. As suas mentes entram num estado de perplexidade, face àquele que escolhe descartar a sua vida para salvar a dos outros, ao mesmo tempo que se rendem face à sua poderosa bondade. Esta produz discos invisíveis que os protege e laços de amor impossíveis de ser rasgados.
Conclusão final
Com estes 3 exemplos, pretendo demonstrar como a animação japonesa não se destina apenas às crianças, mas, à semelhança dos grandes mitos, procura nutrir o imaginário e os corações de todos os que com ela têm contacto.
Como os mitos, as melhores criações de animes abordam temas intemporais, e despertam em nós a necessidade de formar uma consciência heróica, para melhorar o mundo, melhorando-nos a nós mesmos.
Carlos Ramos
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