“Somente a verdade que se encontra dentro de um diamante é eterna e suprema”. H.P. Blavatsky.

Capítulo A – A linguagem simbólica

A linguagem simbólica era uma linguagem habitual e convencional na época antiga. Pessoas de distintas culturas sabiam utilizar o que se encontra à vista na natureza como uma visão dos processos internos ou externos que não estão à vista. A linguagem simbólica era importante pelo seu poder de sintetizar distintos aspectos que estão relacionados com o homem e com a natureza. Os animais, as plantas, as pedras preciosas, os diferentes fenómenos naturais e os símbolos obras do ser humano, eram utilizadas como portadores de um significado que se encontra mais além do mundo das formas que estão à vista. Em mais de uma situação aparecem paralelos incríveis de culturas diferentes, distantes uma da outra no tempo e na história que reflectem significados similares. A linguagem simbólica não está muito difundida hoje em dia, mas é talvez, o bem mais rico que o homem criou e os seus remanescentes enchem o nosso mundo também na atualidade. Analisando o tema com maior profundidade, talvez não seja o homem quem a criou, dado que ela se encontra sempre à espera de quem saiba lê-la. E foi dito que o maior livro do saber é a própria natureza. Quem souber lê-la, não necessitará de outros livros.

De acordo com os ensinamentos que nos deixou Jorge Angel Livraga, o fundador da Nova Acrópole, a palavra symbol, tem origem no latim e o seu significado é “representação”, “perceção”, “a significação convencional de uma realidade”. O significado da palavra faz finca-pé no seu conteúdo mesmo: “o que” se encontra oculto, guardado e representado por meio do símbolo.

Filósofos e sábios desde épocas remotas falaram e descreveram o símbolo como um objeto primário, básico e importante. Assim o manifestou o Dr. Rosso de Luna: “o símbolo é uma abstração, uma expressão sintética que não diz nada a quem não está inteirado do seu segredo e que descobre um mundo completo diante do sábio”. Platão disse, há 2500 anos, “Deus criou todas as coisas, quando surgiram pela primeira vez, com base em símbolos geométricos e números”.

Ou seja, acrescenta Jorge Angel Livraga, a sabedoria dos símbolos é toda a sabedoria, já que todas as coisas não são mais do que símbolos, quer dizer, não são mais do que um fenómeno externo de algo interno. Da mesma forma que as pegadas que foram deixadas no barro são apenas o símbolo de um acontecimento que se produziu no mesmo lugar.

É assim como em muitas culturas, o fogo aceso simboliza a sabedoria suprema. Esse é o fogo que foi dado ao homem pela mão de Prometeu para seu uso. Trata-se, por acaso, somente de um fogo físico? Ou talvez seja também o fogo da consciência espiritual que ilumina e que destapa a obscuridade, que queima a ilusão e, portanto, é também perigoso para todo aquele que se identifique com o passageiro e com o transitório? O fogo aquece e está cheio de mistérios e, como a consciência espiritual, dirige-se sempre para cima, até aos céus.

Prometeu a criar o homem na presença de Atena, Jean-Simon Berthélemy / Wikimedia Commons

O símbolo é uma espécie de espelho que permite à pessoa ver através de si e ver os valores que tem que desenvolver, ver o invisível expressado no mundo que está à vista.

O símbolo é o que me faz recordar. É como um filtro que me permite imaginar e desenvolver uma intuição cujo significado não posso abarcar.

É possível, evidentemente, observar todas as coisas com olhos materialistas e negar qualquer significado fora dos factos concretos. Esta é possivelmente a grande enfermidade do mundo dos nossos dias, mas também é uma ilusão que algum dia desaparecerá de nós exactamente como a escuridão é a ausência de luz e não algo que existe. A diferença entre viver dentro de um mundo misterioso e muito significativo, rico na sua beleza e no seu movimento rumo a uma meta, frente a um mundo vazio de qualquer significado, desagradável e sem nenhuma meta, encontra-se na nossa consciência e na nossa atitude perante as coisas. No final de contas encontra-se também uma verdade que não depende de nenhum tipo de teorias.

Os nossos antepassados, que usavam os símbolos, investigavam o universo de um modo profundo, que não diferia em absoluto do nível das nossas investigações do presente mas, contudo, fazia-lhes falta a terminologia técnica que existe atualmente. Assim, por exemplo, sentiu isso quando me deparei com a notícia sobre um novo invento que foi registado por uma equipa da faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, de uma superfície impermeável lisa. O material desenvolvido imita a textura das folhas de lótus. As folhas oleosas do lótus, estão cobertas por uma fina capa de cera.

Numa observação microscópica descobriu-se que a superfície da folha está coberta de pequenas protuberâncias sobre as quais a água resvala e se vê como gotas. Esta textura permite à folha permanecer limpa, sem água e sem poeira.

Não tenho dúvidas que as civilizações antigas, que viam no lótus um símbolo de limpeza pureza, não o faziam tendo por base as demonstrações da estrutura microscópica das suas folhas, mas sim baseando-se numa profunda observação da natureza e põe meio da busca de um significado mais profundo em todo o ser vivo.

Flor de lótus

As referências científicas que encontramos na atualidade não são mais do que outras vias materialistas científicas de demonstrar o que se encontra aqui o tempo todo e está à vista de quem sabe observar em profundidade. Elas somente destacam mais ainda a profundidade do símbolo e o facto de que quanto mais investigarmos os seus distintos aspectos, mais descobrimos que o símbolo expressa sempre essas qualidades de maneiras distintas, algumas das quais podem ser vistas claramente enquanto outras se encontram ocultas da nossa vista.

Portanto, o símbolo pode ajudar-nos a conseguir um enfoque, ainda que seja limitado, do grande enigma que se encontra por debaixo das coisas e por fora de nós. O símbolo é uma espécie de escada que nos permite elevarmo-nos acima das possibilidades.

Outro exemplo é o ouro. O ouro é um material nobre que representa durante todo o curso da história humana um símbolo poderoso e significativo da pureza. O ouro como um material que não de mistura ou não muda perante a influência de outros materiais, foi comparado por muitos filósofos, à frente deles Platão, à situação a que tem de chegar o homem para alcançar a felicidade. “Este homem que foi denominado ‘o homem de ouro’, entende como funcionam as leis da natureza e actua de acordo com elas. É substancialmente estável e nenhuma circunstância externa pode movê-lo do equilíbrio perfeito em que se encontra. É nobre (perfeito) como o material ouro é um material nobre. Brilha e irradia de forma contínua ao seu redor, como o material ouro e está envolto num halo de santidade. Este homem sumamente singular chega a ser tal, depois de um grande processo de alquimia verdadeira. O que os alquimistas de hoje em dia tentam fazer com os metais, é o que ‘o homem de ouro’ fazia com os distintos componentes da sua existência, até alcançar uma alma nobre e sublime, refinando-a. Esta é uma grande guerra para combater todas as debilidades e todos os defeitos humanos e para o fortalecimento de todas as suas nobres qualidades…”

De entre os inumeráveis símbolos que existem no nosso mundo, farei uso no meu trabalho do diamante, como um dos símbolos belos e profundos, que contém no seu interior a essência das qualidades como a pureza e a estabilidade que o homem deve desenvolver durante a sua vida.

 

Capítulo B – O diamante

Diamantes / Wikimedia Commons

O que é um diamante? Uma pedra preciosa que se encaixa em jóias de prestígio de acordo com os ditados da moda? Um corpo com propriedades químicas e físicas particulares? Uma mercadoria de muito valor que se comercializa nos mercados de todo o mundo, que muda de mão entre comerciantes, lapidadores, mineiros de vida indigente, joalheiros? Clientes entusiasmados?

Seguramente que existem outros aspectos, mas talvez o mais interessante se encontre oculto no simbolismo do diamante, como representativo de um processo evolutivo para o homem.

Para poder começar a entender o que é o diamante e por que é que em distintas culturas simbolizou um processo de evolução, teremos que começar pelos aspectos físico-químicos, passar pelos aspectos históricos e, por último, entender de acordo com as propriedades do diamante, porque é que se converteu num símbolo significativo.

 

O diamante e as suas propriedades

Antes de mais, podemos dizer que o diamante é um mineral natural que contém um único elemento, o carbono.

O carbono é um elemento químico que se encontra em grandes quantidades na natureza e é um dos componentes básicos de todos os materiais orgânicos dos corpos viventes. (juntamente com o hidrogénio, o oxigénio e o nitrogénio).

O carbono encontra-se na natureza principalmente em duas formas conhecidas:

O diamante – O mineral natural mais duro conhecido pelo homem, que se encontra ordenado numa estrutura tetraédrica (mais à frente será desenvolvido).

A grafite – Um dos materiais mais moles, que se encontra numa estrutura plana bidimensional.

Diamante e grafite / Wikimedia Commons

Ou seja os dois materiais, tanto o diamante como a grafite, estão formados pelo mesmo elemento básico, o carbono; apesar disso, há entre ambos muitas diferenças, algumas que se podem ver e outras não, dado que são diferenças que estão relacionadas com o ordenamento interno dos elétrodos e dos átomos.

O diamante é brilhante e transparente, enquanto a grafite é negra/grisalha e opaca. O diamante é duro, enquanto a grafite é mole e desintegrável. O diamante não é condutor da energia eléctrica enquanto a grafite sim.

A estrutura do diamante está composta por uma só capa que se denomina “tecido atómico covalente” (estrutura cristalina ordenada composta por átomos de enlaces covalentes). Nesta estrutura, o material é sempre sólido e no seu interior há sempre ordem. Cada átomo tem 4 enlaces covalentes que são ligações muito duras que não podem ser anuladas.

A grafite, por sua vez, está composta por uma série de lâminas que não possuem um enlace covalente entre si, (por isso é possível esfoliar o material ao retirar parte das lâminas). Ou seja, a grafite está composta por várias lâminas de tecidos atómicos covalentes ao contrário da capa única no diamante.

Por outro lado, no diamante cada átomo de carbono encontra-se a uma distância idêntica do átomo de carbono vizinho. Nesta rede sólida, os átomos não podem mover-se e, por isso, o diamante é duro e possui uma alta temperatura de massa.

Na estrutura da grafite cada átomo tem um electrão não emparelhado pelo que possui liberdade de movimento.

Amostras de diamante e grafite com suas respectivas estruturas.Wikimedia Commons.

O cristal do diamante aparece geralmente na natureza numa estrutura tetraédrica dupla (octaedro). Esta é uma estrutura equilátera de 8 faces, formada por duas pirâmides quadradas, cujas faces laterais são triângulos equiláteros.

É uma estrutura muito estável e com baixo nível de energia, dado que os pares de electrões que formam parte dos enlaces covalentes perfeitos encontram-se distantes uns dos outros na medida máxima e portanto não se repelem entre si. A estabilidade desta estrutura é a que outorga ao diamante a sua fortaleza e dureza.

 

Octaedro / Wikimedia Commons

O Octaedro

O octaedro é um dos cinco “poliedros equiláteros” que também são chamados “os corpos platónicos”.

Platão fez um paralelo entre os quatros poliedros e os quatro elementos básicos, (o fogo, o ar, a água e a terra) e adjudicou ao tetraedro (4 faces) o fogo, ao octaedro (8 faces) o ar, ao decaedro (10 faces) a água e ao cubo (4 faces) a terra.

 

O processo de formação do diamante

O diamante forma-se nas profundezas da terra, a uns 150 a 250 quilómetros debaixo da superfície a temperaturas de 1.000-1.200 graus celsius. Condições como estas são as que regem a crosta terrestre que cobre o globo terráqueo, por debaixo dos continentes mais antigos. Segundo parece os diamantes formam-se do magma rico em carbono (kilberlit).

Depois da sua formação, os diamantes podem permanecer muito tempo na crosta terrestre até que são elevados ao nível do solo pela erupção do magma. Depois do desgaste de kimberlit, os diamantes fluem nos rios e formam de vez em quando jazidas secundárias dentro do material de sedimentos.

Quando o diamante se encontra na natureza, em geral não reluz e não brilha. É necessário um longo processo de limpeza e de lapidação para fazer destacar as suas características particulares.

 

A história do diamante

Para entender a história do diamante há que começar com a etimologia. No nome do diamante encontram-se ocultas as suas forças e encontra-se oculto o simbolismo que a ele se atribui.

O termo que se utiliza para diamante em sânscrito é “dyu” que significa “objecto que reflecte ou que brilha” – símbolo da luz da inteligência.

Há quem sustente que já no século IX a.C. os diamantes eram conhecidos na Índia e durante muito tempo eram trazidos desde aí até distintas partes do mundo. Existe um antigo conto grego que relata sobre o desejo de Alexandro Magno chegar ao lugar onde são criados os diamantes. Era comum acreditar que o lugar encontrava-se num certo vale do Indo.

Os diamantes chegaram à Europa somente na Idade Média e no século XV as mulheres começaram a embelezar-se com eles.

A fonte ocidental da palavra diamante provém do termo Grego “adamas” cujo significado é “aquele que não pode ser conquistado” ou “aquele que não teme e não pode ser submetido”. Nos tempos dos antigos gregos, esta palavra fazia referência aos metais duros e aos minerais. Posteriormente “adamas” converte-se em “adamant”ou “diamante” e então em “diamond”.

Desde tempos remotos as pedras preciosas, e sobretudo o diamante, constituíram uma fonte de atração e interesse. O seu uso principal eram as cerimónias religiosas e místicas como, por exemplo, no Judaísmo: o diamante já é mencionado na Bíblia como uma das pedras peitorais do Sumo-sacerdote.

Muitos dos povos antigos estavam convencidos de que o diamante tinha mais força que qualquer outra pedra pela sua influência sobre o homem tanto no plano espiritual como no plano físico. O diamante representava a pureza e a inocência e era utilizado como uma defesa perante o mal. Os romanos adjudicavam ao diamante propriedades de defesa perante a loucura e os astrólogos antigos viam nele algo de singular, que influenciava especialmente o homem que nascia sob a influência do planeta Marte, acreditavam que era muito eficiente no reforço da fidelidade e das capacidades do pensamento. O diamante era, também, considerado como uma pedra que outorgava coragem, harmonia e amor quando se colocava no lado esquerdo do corpo e isto pelo facto de se considerar que o sentido de crescimento do diamante era em direcção ao Norte, como é considerado o lado esquerdo do homem quando este se encontra orientado para Este – para a saída do sol. Era considerado como um remédio universal, como uma defesa contra o mau olhado, que afasta os temores, que gera a vitória, que serve como defesa contra os animais selvagens e ajuda o homem a dominar os seus instintos e fantasias.

O Cameo de Blacas de Augustus / Wikipedia

O diamante converteu-se, com o decorrer dos anos, no objecto de sonho dos seres humanos que aspiram à riqueza e à felicidade. Para muitos representava a perfeição. Os reis levavam-no como símbolo de poder, de coragem e de fortuna. As jóias maravilhosas e complexas que eram utilizadas pelos reis e pelos sacerdotes do mundo antigo, serviam para um objectivo completamente distinto do sentido de engalanar como o que se conhece hoje em dia. Também não tentavam destacar o valor ou a singularidade da pedra, mas todo o contrário. O valor da jóia encontrava-se no seu conteúdo simbólico e no papel particular das pedras e dos metais que se engastavam em conjunto para se transformarem numa obra de arte.

O diamante simbolizava e simboliza até aos nossos dias o amor eterno e acredita-se que possui propriedades especiais de magia e cura e no passado utilizava-se, inclusive, para feitiços de amor.

Na Idade Média acreditava-se que os diamantes eram partículas de estrelas ou lágrimas dos Deuses e eram levados como um amuleto antes de se partir para a guerra.

O processo de formação do diamante, ou seja, a combinação desde a sua descoberta nas profundezas da terra até à sua forma cristalina e reluzente, oferece-nos um ponto de observação rico e profundo rumo aos arquétipos ideais que se reflectem na natureza na sua forma primária.

Em muitas civilizações o diamante era utilizado como símbolo do processo de evolução humana como, por exemplo, no Tibete com a “rota do diamante”.

 

Capitulo C – O diamante como símbolo das qualidades humanas

Movimento de evolução e desenvolvimento

Se o nosso mundo está em andamento até uma meta sublime, poderemos ver no processo orientado para a mesma, um movimento de evolução e desenvolvimento. Esta descrição não difere muito do conceito indiano de dharma que expressa a lei, a direcção e a meta para a criação. Tudo se encontra no meio de um processo de mudança e em movimento. O próprio homem é descrito como alguém que se encontra num processo de reconhecimento pessoal e de desenvolvimento espiritual. Mobiliza-se entre a identificação com a sua personalidade temporal, que está ligada com as coisas passageiras e a sua identificação pessoal com algo eterno, parte da vida universal que se encontra no seu corpo e dentro de todas as coisas. Este processo constitui sem dúvida alguma, uma enorme revolução para o homem, uma transmutação alquímica na qual o homem, segundo Platão, se recorda do Deus que leva dentro de si. De um ego central que se separa do mundo transforma-se num homem universal que não é corrompido pelos desejos pessoais.

O diamante como símbolo, reflecte os diferentes níveis do potencial espiritual. Origina-se a partir do material mais simples e chega à mais sublime das materializações. Igualmente, o ser humano tem uma direção e um caminho pelo qual tem de avançar. Assim como o diamante se transforma de grafite em diamante, também o ser humano tende a aperfeiçoar a sua essência interna e descobre lentamente o potencial elevado que se encontra oculto no seu interior. Ao ver o processo lento da materialização do diamante, o aluno buscará em toda a ação e em todo o pensamento, a natureza da sua alma eterna.

Grafite e diamante / Flickr

Este é o ser humano que passa do egoísmo ao altruísmo, de um aperfeiçoamento do pessoal a um anulamento do pessoal, ou melhor dizendo, a um engrandecimento de si mesmo. O homem, em primeiro lugar, dedica-se somente a si mesmo. Vê somente as suas próprias necessidades e não é consciente das necessidades dos outros. Não é uma má pessoa, mas a sua visão é limitada e abarca principalmente o seu próprio ego. Num processo gradual este homem vai ampliando a sua consciência e começa a ver outras necessidades em seu redor. Primeiro começa a tomar consciência das necessidades das pessoas mais próximas – dos seus amigos e seus familiares, posteriormente amplia a consciência ao ponto de ser consciente das necessidades da comunidade e, inclusive, de toda a humanidade. Esta situação de consciência ampla permite-lhe expressar o seu altruísmo – que é a situação do homem que busca satisfazer os outros sem necessidade de procurar a sua própria satisfação. Este processo não é seguramente um processo fácil.

É necessário libertar-se de tudo o que nos ata e nos limita, trabalhar de uma forma astuta e estar aberto sem nenhuma defesa em relação ao mundo. Isto obriga-nos a libertarmo-nos lentamente de todo o desejo como também de toda a barreira entre si mesmo e os outros. Para isto, é necessário não somente tempo mas também uma vontade férrea.

O ser humano gira no meio de toda uma serie de metamorfoses que experimenta durante a sua vida, forjando as suas virtudes, eliminando as suas falhas e mudando a sua identidade.

Assim como o diamante que se encontra nas profundezas da terra, oculto entre as capas de matéria sendo descoberto pouco a pouco ao nível da superfície da terra e que, no entanto, ainda não brilha e não é formoso, sendo necessário limpá-lo de todo o barro que se colou a ele durante o decorrer dos anos e descobrir pouco a pouco o seu brilho sublime; também a essência humana interna se encontra oculta dentro da cobertura profunda da matéria, oculta debaixo de capas de terra, de poeiras e aí, como o diamante fisicamente, encontra-se invisível, e desvelar-se-á somente a quem o observe por entre as capas da matéria; se desvelar-se-á somente a quem tiver a coragem de retirar as capas de barro aderidas; somente a quem se atrever a buscar o invisível.

 

O agregado da ordem

O filósofo grego Pitágoras ensina-nos que a inteligência do homem caracteriza-se pela sua possibilidade de aprender valores corretos e ordená-los de uma forma certa dentro da matéria.

O carbono começa como grafite e culmina o processo da sua expressão máxima como um diamante. A única diferença entre a grafite e o diamante encontra-se na estrutura e no ordenamento interno. Portanto, o diamante é o carbono que soube ordenar-se de um modo correto. Desta forma, a luz do Logos não atravessará o homem simples, mas sim ao homem que saiba encaminhar a sua personalidade e ser como um diamante entre as pessoas.

O trabalho com o diamante dá-nos a entender também sobre a importância da forma exterior. O processo de desenvolvimento espiritual pode se concebido, às vezes involuntariamente, como um processo no qual a forma material não tem nenhuma importância. Isto pode ficar expresso, por exemplo, num desprezo das necessidades de manutenção e de subsistência, apesar de que sem alimento não poderemos levar adiante um processo espiritual durante muito tempo… É o abster-se da necessidade de expressar a beleza e a estética na envolvente exterior “nada importante” como fica expresso em certas ocasiões em sociedades religiosas extremistas.

É certo que a forma não é o principal, mas não deixa de ter importância. Como sabe todo o lapidador de diamantes, para que o diamante brilhe e reflicta a luz através de si, é necessário encontrar, cortar e lapidar a forma correta. Da mesma forma, o ser humano na sua busca da pedra preciosa da vida humana, não tem que se isolar da sua envolvente mas sim converter o seu envolvente de vida em algo mais harmónico e adequado aos princípios que regem a sua vida. O marco permite à essência expressar-se e num sentido oposto, um recipiente sujo nunca poderá conter água limpa. A ordem e a beleza que saiba expressar através do seu corpo, no seu sustento, nos seus pensamentos e nos seus sentimentos, como também no espaço em que vive, possibilitarão a expressão da beleza interna e da harmonia.

Os cristais do diamante ordenam-se de uma maneira natural com a forma de uma pirâmide dupla. Esta forma reflecte, em muitas culturas, uma lei da natureza que expressa “o mesmo que sucede na parte superior, ocorre também na inferior”. O que significa que existe uma unidade na natureza. As leis que têm vigência no macrocosmos regem também o mesocosmos e também o microcosmos (o homem). As leis que têm a sua expressão na natureza são as mesmas que o homem deve descobrir e expressar durante a sua vida.

 

A pureza

De acordo com a tradição budista, o diamante expressa o máximo do simbolismo. A fim de demonstrar a importância do diamante como símbolo, vamo-nos deter por um momento na tradição budista tibetana. A escola budista tibetana denomina-se Vajrayana cujo significado é o “caminho do diamante”. Já a partir do próprio nome podemos ver que os tibetanos atribuíam ao diamante uma grande importância como símbolo do processo de evolução do homem e denominaram com o seu nome toda esta escola.

A palavra vajra tem origem no sânscrito e tem o mesmo significado que a palavra dorje no Tibete.

As palavras dorje ou vajra são palavras utilizadas com referência à arma que se encontra na mão de Deus e que lhe outorga a força para repelir as más influências. É “uma maça feita de diamante” ou “um ceptro de diamante”, exactamente igual ao ceptro de Indra, divindade indiana, que se manifesta na forma de um raio.

Estátua de Buda Vajrasattva com um vajra na mão direita (Tibete) / Wikimedia Commons

É um ceptro secreto de aprendizagem e quem o empunha é a pessoa que domina todos os siddhis, que são as mais altas capacidades humanas. O domínio destas capacidades, como a pessoa que é chamada dorjesempa, cujo significado literal é “a pessoa que aferra o diamante” ou “a Pessoa com alma de diamante”, refere-se à pessoa que reflecte as características da firmeza, de dureza e de transparência do diamante.

O que quer dizer que o vajrayana, o caminho do diamante do budismo tibetano, utiliza o diamante como exemplo de um processo pelo qual o ser humano também atravessa. Um processo de purificação e de limpeza. Um processo de transmutação e de mudança pelo qual o homem passa a ser completamente transparente e capaz de irradiar luz através de si.

O diamante começa o seu caminho sendo de cor negra e vai mudando as suas características até ficar transparente e puro. A luz que penetra o diamante choca com os átomos que o compõem. Estes delicados movimentos transmitem-se dentro da sua estrutura átomo a átomo. A estrutura particular do diamante permite à luz branca que o atravessa romper-se e abrir-se num espectro completo de ondas largas que se vêem como um arco-íris de cores.

Do mesmo modo o homem no processo de ampliação da sua consciência transforma-se do negro, como o carvão que assimila toda a luz, em transparente, que transmite a luz branca por completo, brilhante e radiante. Uma luz branca que reluz do aluno a quem a sua alma se transformou em diamante resplandecente que se reflecte em um espectro de cores através de todo o pensamento, sentimento ou feito.

  1. Sri Ram escreve no seu livro The Way of the Wisdom:

“Devemos preparar-nos, desenvolver o nosso entendimento e elevar o nível da nossa consciência. Devemos transformar-nos em puros para atrair esta natureza que se encontra oculta dentro de nós. Então, a natureza irá expressar-se por si mesma. Não é possível forçá-la através de um feito externo e muito menos é possível preservá-la por intermédio de alguma ação fora da purificação”.

A purificação refere-se à purificação do egoísmo e da baixa auto-estima. Estas modalidades penetram na natureza do homem de forma inconsciente e, inclusive, fazem-no atuar de maneira indireta. Mas quando tudo o que denominamos de baixa auto-estima, ou seja, a ambição, a glorificação pessoal, o desejo, ir por um mau caminho, etc., desaparece, então o céu parece mais claro e a natureza da alma entra em cena com as suas formosas qualidades. Inclusivamente se tivermos consciência só de uma destas qualidades, todas as outras virão atrás dela. Dado que todas se despertam a partir do mesmo nível de consciência.

E, por isso, quando existe no homem uma inclinação para a beleza, tudo o que ele faça será belo. Da mesma maneira poderá haver uma inclinação para outra qualidade como a justiça e então, quando chegar o momento de atuar, tudo o que o homem faça, pense ou sinta será correto, belo e justo.

 

A estabilidade

O diamante é o material mais duro que se encontra na natureza. Este facto representa o homem que conseguiu dominar-se a si mesmo e que se converteu em quem não pode ser desgastado pelo mundo material que o rodeia. “Parece-se com um penhasco contra o qual as ondas batem sem cessar, enquanto ele se mantém firme e à sua volta jazem as águas turbulentas”, como escreveu o Imperador Marco Aurélio.

A enorme dureza do diamante representa de um modo simbólico a estabilidade e o inalterável das características arquetípicas da natureza. Modelos eternos, qualidades eternas, um caminho eterno que sempre foi certo e que sempre perdurará como certo para o homem.

Os diamantes foram encontrados em profundidades de 3.000 quilómetros e superiores, mas também se encontram sobre a superfície de meteoritos longínquos, o que indicia um único processo de evolução universal.

A estabilidade do diamante caracteriza-se, também, pela sua possibilidade particular de resistir perante condições de alta temperatura e pela sua resistência a quase todo o tipo de ácido ou a qualquer outro material corrosivo. Um pequeno diamante cúbico, localizado numa conexão eléctrica sensível, assegura-nos que em nenhum momento ficará quente ou deixará de funcionar. Devido a esta qualidade, encontramos diamantes em muitas das instalações de agência espacial NASA. Como, por exemplo, um diamante grande cortado em forma de disco que se encontra na lente de uma câmara fotográfica do satélite que foi enviado ao planeta Marte. Ou seja, que o desgaste é ínfimo e mantém a sua qualidade e irradia-a à sua volta. Do mesmo modo, o homem que purifica o seu espírito, domina a sua consciência estável. O potencial interno começa a expressar-se e irradia a sua essência interna.

Na Voz do Silêncio, o livro de instruções tibetano para o aluno em formação diz-se:

“A luz de um mestre, uma luz de ouro do vento, que não se apaga, irradia com os seus raios brilhantes sobre o aluno desde o início. Os seus raios atravessam as obscuras e espessas nuvens da matéria. Uma vez aqui, outra vez além, os raios iluminam qual centelhas de Sol que iluminam a terra por entre a espessa vegetação da selva. Mas, oh aluno, se a carne não se converter em algo passivo, a cabeça clara e o espírito claro e puro como um diamante resplandecente, a radiação não deverá chegar à cavidade do coração. A sua luz solar não aquecerá o coração, e o ouvido não reconhecerá o som místico das alturas akáshicas, apesar do seu entusiasmo no período de aprendizagem”.

O diamante é uma pedra de enorme valor, não somente no sentido monetário, mas como a representação da magia que se esconde na própria vida. A sua luz brilhante pode brindar-nos com a recordação e a demonstração da alquimia interna que permite também ao homem chegar aos cumes mais altos. De acordo com teorias filosóficas do Oriente e do Ocidente, o homem é capaz de mudar por intermédio das suas próprias forças e a sua beleza e a sua meta elevam-se acima de tudo o que possa ser imaginado. O diamante ajuda-nos a recordar que tais milagres existem ou em verdade, não se trata de um milagre como algo sobrenatural, mas sim a essência da própria vida.

 

 

Bibliografia
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Roach, Geshe Michael; The Diamond Cutter, Doubleday Publication, 2003.
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Blavatski, Helena Petrovna; The Voice of Silence
http://www.theosophytrust.org/tlodocs/symbols/Diamond