Chegando, afinal, à margem do grande rio, o Amor avistou três barqueiros que se achavam, indolentes, recostados às pedras.
Dirigiu-se ao primeiro:
– Queres, meu bom amigo, levar-me para a outra margem do rio?
Respondeu o interpelado, com voz triste, cheio de angústia:
– Não posso, menino! É impossível para mim.
O Amor recorreu, então, ao segundo barqueiro, que se divertia em atirar pedrinhas ao seio tumultuoso da correnteza.
– Não. Não posso – respondeu secamente.
O terceiro e último barqueiro, que parecia o mais velho, não esperou que o Amor viesse pedir-lhe auxílio. Levantou-se, tranquilo, e estendendo-lhe bondosamente a larga mão, disse-lhe:
– Vem comigo, menino! Levo-te sem demora para o outro lado.
Em meio da travessia, notando o Amor a segurança com que o velho barqueiro navegava, perguntou-lhe:
– Quem és tu? Quem são aqueles dois que se recusaram a atender ao meu pedido?
– Menino – respondeu, paciente, o bom remador – o primeiro é o Sofrimento; o segundo é o Desprezo. Bem sabes que o Sofrimento e o Desprezo não fazem passar o Amor.
– E tu, quem és, afinal?…
– Eu sou o Tempo, meu filho – atalhou o velho barqueiro. – Aprende para sempre a generosa verdade. Só o Tempo é que faz passar o Amor!
E continuou a remar, numa cadência certa, como se o movimento de seus braços possantes fosse regulado por um pêndulo invisível e eterno.
Sofrimento, Desprezo… Que importa tudo isso ao coração apaixonado? O Tempo, e só o Tempo, é que faz passar o Amor.
Malba Tahan, in Os Melhores Contos