“A lei do Grande Estudo ou da Filosofia prática consiste em desenvolver e fazer nascer o princípio luminoso da razão que recebemos do Céu, em renovar os homens, em localizar o seu destino definitivo na perfeição ou no bem soberano.”
Ta Hio ou Grande Estudo, Confúcio
No Dia Mundial da Filosofia, todos os Centros ou Escolas da Nova Acrópole, internacionalmente, mais de 300, celebram o poder transformador “deste princípio luminoso da razão que recebemos do Céu”. Chamamos a isto Filosofia Natural, porque em vez de se perder de forma estéril nos labirintos da mente, quer ler e lê na natureza infinita que nos rodeia, nos acontecimentos e no seu significado (a que chamamos história), e nos mesmos véus da alma humana, no seu mistério sempre vivo.
Chamamos-lhe Filosofia Ativa, porque, como diz Confúcio, quer renovar o ser humano e dar-lhe, ao “apaixonado pela sabedoria”, ferramentas para trazer o Céu à Terra, para que a prisão da matéria e as paixões e torpezas que despertam , não seja um impedimento para encontrar e conquistar a harmonia na Família Humana, mesmo que seja em pequenos núcleos, que como flores se espalham por toda a Terra. Ativa porque nos transforma e nos permite embelezar e dignificar os nossos passos no tempo e no espaço, na vida. Ativa porque nos compromete com os valores eternos que Platão chamou de arquétipos e que sentimos na alma humana como virtudes. Ativa porque, como diz H.P.Blavatsky, é dever da alma desperta, “honrar as verdades com a prática”.

Peregrinatio Nova Acrópole Portugal 2023
Chamamos-lhe também Filosofia Prática, porque dada a condição humana, não há nada mais prático, mais importante e vital que a Filosofia, no sentido clássico do termo. Isso não nos ajuda a nos encontrarmos? Não é graças à sua luz que encontramos a medida certa naquilo que fazemos, pensamos, dizemos, queremos, aquela medida que, quando não alcançada, ou quando superada, gera dor, violência, desarmonia? Não abre os nossos olhos para o sentido da vida, os olhos do nosso coração? Não nos educa a construir, passo a passo, uma escada que vai das sombras à luz, da ignorância ao conhecimento, da morte à imortalidade, como dizem os antigos livros indianos? Não inflama em nossa alma o desejo de servir Causas Nobres e Justas, como se diz da Deusa Atena, regente da FILOSOFIA, em letras maiúsculas? Pois esta deusa grega, nascida da mente de Zeus, encarnava e simbolizava a Sabedoria que inflama as almas atentas com amor e filosofia.
Essa sabedoria que Sri Ram nos contou, no seu lindo livro “Uma Aproximação à Realidade”:
“que não é uma questão de estudo, mas de vivência, de ação. Falamos de sabedoria, mas ao fazê-lo não nos tornamos sábios, exceto na medida em que sentimos o estímulo para sermos sábios. A sabedoria não é conhecimento, mas depende do uso que fazemos do conhecimento. Surge do conhecimento guiado pelo amor. Pois amar é uma forma de conhecer – quem ama tem um conhecimento divino do ser amado, de qualidade divina – e é um estado de integridade, um fim em si mesmo.”
A sabedoria é o que nos afasta do egoísmo, o que desperta a alma, o que a chama pelos caminhos da mente e do coração no que bem podemos chamar de Filosofia, o que despoja a alma de toda impureza e assim confere-lhe a capacidade de voar, que nos une com tudo o que vive e respira na natureza, a própria essência da compaixão no sentido budista. É a perfeição na vida, o poder que faz a alma avançar no labirinto e o fio prateado para que nele não se perca.

Curso de verão 2023
Como pode a Filosofia não ser a coisa mais prática que existe, se nos permite fazer música com a alma e a natureza da alma é fazer música, convertida em gestos, em discursos, em raciocínios, em matemática, em combinações de cores , formas, ritmos, intenções e ações corretas, na própria luz. A luz da razão e a luz flamejante que faz o coração acordar do frio inverno da ignorância.
O professor Jorge Ángel Livraga diz-nos:
“A Filosofia é uma Música que se faz com a Alma, não é uma simples coleção de conhecimentos e dados, mas uma construção harmoniosa que relaciona as coisas e lhes dá sentido, elevando-as às regiões onde as coisas fazem sentido e a essência invisível nos preenche o coração”
E também:
“A filosofia é a tendência para o conhecimento, para a verdade; portanto, todo homem e mulher são naturalmente filósofos”.

Jorge Ángel Livraga proferindo uma Conferência em Espanha (Valência). Imagem Nova Acrópole
E sua discípula Delia Steinberg Guzmán diz-nos:
“A filosofia é um modo de vida, uma busca constante pela verdade e pela sabedoria”
E nos diz também:
“Embora digam que a filosofia é impraticável e que é inútil, reafirmamo-nos dizendo: as grandes questões, as grandes preocupações… onde estão respondidas? O que fazemos com o que nos assalta quando estamos sozinhos com nós mesmos: e por que a vida, e por que a morte, e por que a dor, e por que envelhecemos, e por que as coisas que nos acontecem passam? Por que existe sofrimento e por que podemos passar do sofrimento à alegria e da alegria ao sofrimento, e o que é que nos leva como um vento de uma coisa para outra? Por que temos medos e por que duvidamos…?”

Delia Steinberg Guzmán. Imagem Nova Acrópole
E quando estas questões surgirem, ou as respondemos ou viveremos perpetuamente angustiados porque teremos fechado uma cortina diante dos nossos olhos mostrando que não estamos a ver o que é mais importante.”
A ação correta só pode ser alcançada após a compreensão correta. Uma visão do mundo segundo a nossa verdadeira natureza humana permitir-nos-á construir uma sociedade mais humana, menos violenta, mais feliz, mais estável, em maior harmonia com tudo o que nos rodeia, menos adulterada pelas mentiras, mais amiga da verdade, menos corrompida pelo medo e pela ganância, mais corajosa e idealista; menos insensível ao interesse e à dor dos outros, mais aberta à vida e à amizade das almas.
A Nova Acrópole, nascida na Argentina em 1957 e presente em mais de 50 países, é uma Organização Internacional de caráter humanista que endossa este sentido da Filosofia, que está ativamente comprometida com ela. Como a Academia de Platão, ou o Liceu de Aristóteles, ou a Escola Estóica ou Pitagórica, como os discípulos de Confúcio ou de Ptahotep, é, onde quer que seja constituída, uma Escola de Conhecimento e de Vida. A sua visão eclética, comparando ciências, artes, religiões e filosofias; o seu ideal de fraternidade e concórdia; o esforço para renovar a sociedade e o indivíduo, trazendo à tona as suas qualidades mais luminosas, torna-o um continuador, de certa forma, do impulso destas Escolas de Filosofia que de forma subtil animaram o pensamento e a história do seu tempo.
Estas Escolas de Filosofia, diz-nos o seu fundador, o Professor Jorge Ángel Livraga (1930-1991),
“Como eram entendidas no mundo clássico, eram de enorme amplitude. Eles iluminaram todas as possibilidades humanas de conhecimento e intuição. Estavam firmemente enraizados no seu tempo histórico, usando o antigo como pedestal para o novo, e projetavam-se corajosamente no futuro. “Eles criaram formas culturais e civilizacionais.”
“Elas chocaram o ambiente, purificaram-no e embelezaram-no. A milhares de anos de distância, as pessoas continuam a escrever e falar sobre elas. Em momentos críticos recorremos a elas em busca de conselhos e força.”
A Nova Acrópole é neste sentido uma Escola de Filosofia, não clássica, mas “à maneira clássica”, com uma forte projeção de futuro, como se verifica nas dezenas e dezenas de milhares de atividades realizadas nestes 66 anos, tendo sempre como eixo a Filosofia, a Cultura e o Voluntariado.
E aqui estamos nós, os Acropolitanos, que assim nos chamou o fundador deste Movimento Filosófico.
É fácil ver quem somos, o que fazemos, quais são as Estrelas para as quais olham as nossas almas.
Basta consultar, por exemplo, o último Anuário de Atividades:
Ali vemos a atenção e os sorrisos de quem se aproxima desta Escola de Filosofia à maneira Clássica, vemos as mil maneiras em que interpretamos como a Sabedoria bate à porta de cada um, vemos o esforço para nos conhecermos, para nos tornarmos irmãos com a Natureza e purifica-la de tanta poluição, limpando rios, montanhas e florestas; o esforço para salvar os nossos irmãos nas catástrofes, para dar voo e luz a cada joia da cultura que nos inspira e nos dignifica. Aí vemos o amor e a delicadeza generosa com os idosos e os desprotegidos, a bondade e a paciência com as crianças, o trabalho onde a solidariedade humana chama, o esforço gentil para estabelecer e cuidar de pontes e o diálogo onde outros querem destruí-los, de confiança nos poderes da alma humana quando o mais fácil é deixar-se levar pelo desespero.
Talvez a melhor forma de ver a Nova Acrópole como exemplo de Filosofia Natural e Ativa seja com este brevíssimo resumo do que fazemos em um único ano no mundo. Para as almas atentas, se as palavras as movem, os exemplos as arrastam corajosamente para a ação boa, generosa e nobre.
APRESENTAÇÃO DO ANUÁRIO INTERNACIONAL 2023:
https://www.acropolis.org/es/2023/anuario-de-2023/
José Carlos Fernández
Escritor e diretor da Nova Acrópole Portugal
Imagem de destaque: Imagem Nova Acrópole