A TRANSMISSÃO SEM FIOS – COLORADO SPRINGS

Por causa das investigações sobre a transmissão sem fio, Tesla usava tensões cada vez maiores, e isto era demasiado perigoso para o centro de Nova Iorque. Com a ajuda financeira do hoteleiro Jacob Astor, no início de 1899 ele construiu um novo laboratório em Colorado Springs, nas altas montanhas e longe dos olhos do público. O laboratório consistia num edifício quadrado de 30×30 metros com uma torre de 25 metros de altura. Nele havia um mastro de 65 metros em cima do qual foi colocado uma bola de cobre de um metro de raio. Construiu transformadores de alta frequência de várias formas e tamanhos. Também foi construído um gigantesco círculo primário de transformador que movia o seu amplificador-emissor (em inglês, the magnifying transmitter) que Tesla mais tarde proclamou a sua invenção mais importante.

Nikola Tesla, com o seu equipamento em Colorado Springs. Creative Commons

Tendo construído aquele gigantesco novo oscilador, que já na fase inicial atingiu os incríveis 12 milhões de volts, tornou-se no primeiro homem (por enquanto também o único) que conseguiu criar raios de 40 metros de comprimento (o mais comprido até agora); estes poderiam ser ouvidos a uma distância de cerca de vinte quilómetros.

É possível que esse amplificador-emissor tenha sido a maior invenção da mente titânica de Tesla. Esta invenção foi a encruzilhada no desenvolvimento da moderna tecnologia de radiofrequência. Ao contrário da crença comum, a sua torre não foi construída para emitir as ondas de Hertz no éter. O sistema de Tesla emitia milhares de cavalos de potência ao redor da Terra; assim, experimentalmente mostrou como é possível transmitir a força sem fios a partir de um ponto central. Na realidade, o amplificador-emissor de Tesla é um transformador especialmente sintonizado para que utilize a Terra para emitir.

 

“O amplificador-emissor foi o produto do meu trabalho de vários anos e o seu objetivo mais importante era resolver os problemas que são incomparavelmente mais importantes para a humanidade do que o desenvolvimento da indústria.”

 

Apenas um mês após o início da pesquisa da descarga em diferentes frequências, Tesla notou arcos densos e perseverantes de raios que reapareceram em intervalos de tempo quase regulares. Estava totalmente convencido de ter descoberto as ondas estacionárias.

“Por mais estranho que possa parecer, apesar do seu enorme tamanho, o nosso planeta comporta-se como um condutor de dimensões limitadas.”

A quantidade de trabalho em Colorado Springs era enorme. Examinava os osciladores de alta resistência, transmissão de energia sem fio, a receção e emissão de informações; realizou a transmissão sem fio de notícias a longas distâncias, não só com sinal telegráfico, mas também com a transmissão da voz humana. Em tempos de “descanso” fez muitas pesquisas sobre os efeitos simultâneos do campo elétrico de alta frequência. Media incansavelmente os campos gerados de choques elétricos naturais, desenvolveu inúmeros métodos de medição na área de radiofrequência e o modulador para recetores de rádio.

Com o desenvolvimento de dispositivos e as pesquisas realizadas, fundou todas as comunicações atuais de rádio e móveis. Na história da ciência está escrito que o amplificador-emissor de Tesla foi o primeiro dispositivo no mundo cuja força era suficiente para causar a ressonância de frequências extremamente baixas (1 a 3000 Hz) na ionosfera como condutor de ondas.

Motivado pela má experiência com o trabalho desaparecido no incêndio que destruiu o seu laboratório, durante a sua estadia em Colorado Springs de 1 de Junho de 1899 a 7 de Janeiro de 1900, escreveu um diário detalhado das suas pesquisas. O diário foi publicado em 1976, tem 400 páginas, numerosas fotos e desenhos e é o testemunho da revelação de muitos segredos da natureza, mas também da impossibilidade de submetê-la.

 

O SISTEMA DE COMUNICAÇÃO MUNDIAL – LONG ISLAND

Graças às suas experiências com muito sucesso em Colorado Springs, Tesla acorda com o milionário J.P. Morgan a construção de uma estação de rádio para a telegrafia global em Long Island, perto de Nova Iorque. A construção da torre de 47 metros começou em 1901. A torre deveria ter um elétrodo de cobre de 30,1 m de raio, junto com os edifícios auxiliares. No entanto, sob os auspícios desse projeto, Tesla desenvolveu o seu principal sonho: o sistema de transmissão sem fio de energia elétrica.

No meio do trabalho, Tesla teve talvez a provocação mais forte de sua vida: em 12 de Dezembro de 1901, utilizando algumas patentes antigas da Tesla, Marconi consegue enviar o sinal de rádio através do Atlântico com um dispositivo muito mais barato e simples.

Embora nesse momento Tesla já tivesse patentes para a transmissão e receção do sinal de rádio, Marconi ganhou fama mundial e por essa invenção recebeu o Prémio Nobel. Só depois de sua morte, o Instituto Americano de Patentes cancela as patentes de Marconi e as reatribui a Tesla. Infelizmente, nas escolas aprende-se que Marconi construiu o primeiro emissor e receptor de rádio.

Morgan não tinha compreensão para as tentativas de Tesla de fazer muito mais e é por isso que em 1903 deixou de financiá-lo.

 

“O meu projeto foi interrompido pelas leis da natureza. O mundo não estava preparado para ele. Estava muito à frente do seu tempo. Mas as mesmas leis vão, no final, dominar e torná-lo um sucesso triunfal.”

 

TESLA – FILÓSOFO E HUMANISTA

Tesla não era apenas um cientista; o seu poder de concentração, excecional de visualização e memória, e a sua quase ascética maneira de vida fizeram que fosse uma sensação enquanto ainda vivia. As suas áreas de interesse excederam em grande medida os campos eletrotécnicos; falava oito idiomas, era amante da poesia, literatura, filosofia, astronomia, medicina e botânica, entre outras. Tesla era um homem que estava muito à frente do seu tempo. Pelo seu estilo de vida, seu desejo de erradicar as causas das guerras, a fome, a pobreza e a ignorância e preservar os recursos naturais, Tesla era acima de tudo um humanista.

Nikola Tesla, com o livro de Rudjer Boscovich “Theoria Philosophiae Naturalis”. Domínio Público

 

O espírito original e livre de Tesla não poderia ser fechado dentro de limites comuns da vida. Ele mesmo disse algo sobre este assunto:

Reconheceram-me como um dos trabalhadores mais diligentes, e talvez ainda o seja, se pensar equivale ao trabalho, já que penso quase sempre quando estou acordado. No entanto, se acreditamos que o trabalho é certo funcionamento em certo período de tempo, então sou um dos homens mais preguiçosos. Cada esforço compulsivo exige um sacrifício de energia vital. Nunca paguei esse preço. Pelo contrário, alimentava-me dos meus pensamentos.”

 

Dormia regularmente três ou quatro horas, ocasionalmente um pouco mais. Quando estava ocupado em algum problema, às vezes não dormia durante dias e descansava só para comer alguma coisa. De manhã chegava atrasado ao trabalho e quando chegava colocava as cortinas. Não precisava nem de esboços ou nem de planos, tudo “tinha na cabeça” como num grande arquivo. O seu empregado e montador tinha que manter na memória todo o trabalho. Tesla dava-lhe tantas explicações quantas fossem necessárias para a tarefa específica. Havia um esboço em pequena escala e explicava até que ficava perfeitamente claro o que tinha que fazer; então partia o esboço. Esta era a razão pela qual tinha dificuldades em encontrar trabalhadores, mesmo que lhes desse uma remuneração adequada.

 

Sempre isolado, não dava nenhum motivo para se escrever sobre ele nos jornais. Como exceção, recebia no seu aniversário os jornalistas que se lembravam dele. Sobretudo, gostava de falar sobre as suas descobertas atuais e futuras, raramente do passado.

 

Nos seus artigos e palestras, expunha as suas atitudes e pensamentos que em grande parte explicaram a sua personalidade e sucessos alcançados. Os seus pensamentos sobre ciência e os cientistas são interessantes:

“Os cientistas de hoje vagueiam de uma equação para outra e nenhum tem nada a ver com a realidade.”

 

“O homem da ciência não se dirige para um resultado momentâneo, não espera que as suas ideias avançadas sejam recebidas imediatamente, o seu trabalho é como o trabalho da pessoa que trabalha para o futuro. A sua obrigação é estabelecer as bases para aqueles que vêm e mostrar o caminho.” 

 

“O objetivo do cientista não deveria ser como encontrar meios de destruição ou de defesa, mas a criação da paz através da educação das massas e da realização de novas possibilidades para a existência.”

 

Quanto lhe importava o tipo de descobertas aos que o cientista tem que aspirar e os critérios que tem que respeitar quando se trata de revelar os seus sucessos ao público (para governos e financiadores), se vê nos seus pensamentos sobre energia atómica.

“Se libertarmos a energia do átomo ou descobrir alguma outra maneira de obter uma força barata e ilimitada em qualquer lugar da Terra, esse sucesso, em vez de ser uma bênção, poderia ser catastrófico para a humanidade e provocar conflitos e anarquia que, no final, introduziriam o odiado regime de força. O maior bem é o avanço técnico que tende a se unir e harmonizar, e o meu emissor sem fio é, acima de tudo, assim.”

 

Aqui, deve-se destacar que a visão da Tesla do uso do seu emissor sem fio era para emitir energia pelo mundo inteiro e a humanidade utilizá-la como um bem comum, pois apenas se trata da transformação de uma energia existente na natureza.

 

Além de ser um cientista, Tesla tinha uma natureza filosófica. Não perdia a oportunidade de expressar as suas atitudes filosóficas durante as apresentações dos seus trabalhos científicos e descobertas.

“Quando falamos do homem, pensamos na humanidade como um todo, e antes de mudarmos os métodos de investigar a evolução do homem, temos que aceitá-la como um facto físico. Mas pode alguém hoje afirmar que todos os milhões de indivíduos e todos os inúmeros tipos de personalidade não formam um todo, uma unidade? Mesmo que sejamos livres para pensar e agir, estamos ligados com laços inseparáveis, como estrelas no céu. Não vemos esses vínculos, mas sentimo-los. Cortei um dedo e isso dói; esse dedo é uma parte de mim. Vemos o inimigo derrotado, mas isso também me dói. O meu inimigo e eu somos um só… não mostra isso que cada um de nós é apenas uma parte do todo? 

Durante séculos, essa ideia foi proclamada na perfeitamente sábia doutrina da religião, talvez não apenas como um meio de garantir a paz e a harmonia entre as pessoas, mas como uma verdade profundamente enraizada. Os budistas o expressam de uma maneira, os cristãos de outra, mas todos dizem o mesmo: todos nós somos um. As provas metafísicas, no entanto, não são as únicas evidências que podemos expor para confirmar esta ideia. A ciência também admite a relação dos indivíduos isolados, embora não da mesma forma que admite que Sóis, os planetas, a Lua e as constelações são um corpo e não há dúvida de que isso será confirmado por experiências futuras, quando os nossos meios e métodos de examinação de estados físicos, e outros estados e aparições se aperfeiçoem. Além disso, esse único ser humano segue vivendo. O indivíduo é efêmero, as raças e nações vêm e vão, mas o ser humano permanece. Esta é a enorme diferença entre um indivíduo e o todo.”

 

Também é interessante que Tesla durante a sua vida. passou a maior parte do tempo com artistas. Isto poderia parecer estranho para um cientista, se não se tratasse do homem que reconhecia o verdadeiro propósito da arte e o seu papel na vida do indivíduo e da comunidade.

 

“O artista é o homem que despertou esse espírito altruísta, que ainda nos tempos antigos brilhava nos ensinamentos de nobres reformadores e filósofos, aquele espírito que faz as pessoas de todas as áreas trabalharem não tanto pelos seus ganhos e recompensas materiais, mas pelo sucesso, a satisfação na realização do bem que podem dar à humanidade. Por meio de sua influência (do artista), as pessoas avançam, motivadas pelo profundo amor pelo seu trabalho e realizam milagres em todos os campos, cujo principal objetivo e prazer são alcançar e disseminar conhecimentos. Estas são as pessoas que olham muito mais sobre as coisas terrestres e cuja bandeira é a Glória.”

 

Uma vez que Tesla viveu no período entre as duas guerras mundiais, não poderia deixar de comentar sobre esse fenómeno que é, a sua maneira específica, típico apenas dos seres humanos. Neste caso, ele também expõe a sua posição, que estava dentro das minorias tanto no seu tempo quanto no nosso.

 

“… O que mais precisamos agora são os contactos mais diretos e uma melhor compreensão entre indivíduos e as sociedades em todo o mundo, e também remover essa lealdade fanática aos ideais exaltados do egoísmo e orgulho nacionais; ela é sempre capaz de bater o mundo na barbárie e os conflitos primitivos. 

 

Nenhuma organização ou ato parlamentar poderá impedir tal infortúnio. São apenas algumas novas maneiras que expõem os fracos à vontade dos fortes.

 

A paz pode ser criada exclusivamente como uma consequência natural da educação ampla e da fusão das raças, e estamos muito longe desse estado de beatitude.”

Retrato Azul de Nikola Tesla, Vilma Lwoff-Parlaghy. Domínio Público

 

As suas palavras visionárias sobre o futuro em que vivemos agora atestam como sentia o pulso da civilização; palavras que na sua época soavam a sonhos de um entusiasta.

 

“É mais do que provável que os jornais diários sejam distribuídos pelas casas através da transmissão sem fio. Nas nossas cidades crescerão as torres para estacionar carros, e as estradas se expandirão e se multiplicarão por pura necessidade, ou no final serão totalmente desnecessárias quando a civilização mudar as rodas para as asas. Se utilizarão pequenos aparelhos que caberão no seu bolso, incrivelmente simples em comparação com os nossos telefones. Testemunharemos e ouviremos dos acontecimentos como a tomada de posse do presidente, jogos desportivos, o horror de um terremoto ou alguma batalha, como se estivéssemos presentes.”

 

Apesar dos grandes esforços aos que se expunha e dos perigos durante a investigação de radiação, Tesla viveu até à velhice profunda. Considerando a sua vitalidade, é provável que tenha vivido ainda mais tempo se aos 81 anos não tivesse ficado ferido num acidente de trânsito. Recusou o tratamento médico, embora algumas fontes digam que ele tinha três costelas partidas. Morreu em Nova Iorque em 7 de Janeiro de 1943, aos 86 anos.

 

Attila Barta

 

Bibliografia:

  • N. Tesla, Artigos, Zavod za udžbenike i nastavna sredstva, Beograd, 2006.g.
  • N. Tesla – Era luz!, Grupo de autores (editor Zoran Filipović), ZORO Zagreb – Sarajevo, 2006.
  • As minhas invenções, N. Tesla, Školska knjiga, Zagreb, 1984.g.
  • Nikola Tesla – Investigador, inventor e génio, Muljevic-Petkovic-Par, Školska knjiga, Zagreb, 2006.g.

 

 

Publicado em Boletín Pitágoras nº 9, março 2019