A arte é um meio de conduzir a alma humana pelo caminho da contemplação de Deus através da beleza.

“O Mensageiro”, possível referência a H.P. Blavatsky como mensageira dos Mestres de Sabedoria, abrindo as portas dos Mistérios a Ocidente.

Nicholas K. Roerich nasceu em San Petersburgo, na Rússia, no dia 9 de Outubro de 1874 e faleceu em New York no ano de 1947. Mundialmente conhecido pela versatilidade da sua missão humanista, deixou-nos o exemplo da sua vida: a sua mais bela obra de arte. Artista integro, pôs os seus dons ao serviço da humanidade e deixou-nos uma mensagem de beleza e grandeza de alma para iluminar o futuro que ele assinalava repleto de esperança. Em homenagem àquela grande alma que canalizou muitos dos anseios pela Paz do século XX, que melhor podemos fazer do que recordar o seu exemplo e deixar-nos levar pelas suas pegadas que resgataram dos cumes nevados dos Himalaias, um pouco desta luz cristalina por ele difundida na obscura caverna do nosso mundo.

Filho do advogado e notário Konstantin Roerich, Nicholas revelou muito novo possuir aptidões artísticas e intelectuais excepcionais, jovem super dotado dedica-se ao estudo do desenho, da pintura da escrita, da música, da arqueologia, da mineralogia e da botânica, criando o seu próprio Arboretum para estudar as árvores e as plantas. No entanto seguiu Direito para agradar ao seu pai e Belas-Artes para seguir o chamamento da sua vocação. Casou-se em 1901 com Helena Ivanovna Shaposhnikova, jovem mulher de descendência nobre, dotada para as artes e pianista de vocação. Juntos como almas gémeas tornar-se-iam inseparáveis em todos os desafios profissionais, criativos e espirituais que os uniria até a morte os separar. Ligados como duas guitarras em perfeita ressonância criaram aquela harmoniosa família que cresceu com os seus dois filhos prodígio: Yury e Svetoslav, ambos revelando-se jovens talentosos e seguidores da obra dos pais no decorrer e depois da vida deles.

Ordem de Rigden Jyepo, por Nicolas Roërich, 1933

 

Pintura de Nicolas Roërich

Em 1920, depois de terem-se encontrado com os Mestres Mahatma Morya e Mahatma Koot Hoomi, em Londres, Helena e Nicholas fundaram a Mística Sociedade Agni Yoga (Ensinamentos de Fogo para uma Ética Viva). Com a sua visão ampla e direccionada para a difusão dos ensinamentos dos grandes Mestres Orientais, Nicholas pôde ligar-se a várias personalidades, tais como, Rabindranath Tagore, Jawajartal Nehru, Indira Gandhi.

Helena Roerich, pintada pelo seu filho

Inspirado pelo seu amor pela música, começou a trabalhar como cenógrafo para as obras de Stravinsky, Rimsky-Korsakos e Wagner, do qual ele era um grande admirador. Depois de uma passagem pela Finlândia, para onde Roerich se retirou a fim de se tratar de uma pneumonia, o casal decidiu realizar o grande sonho das suas vidas: viajar para a Ásia Central. Entre 1925 e 1928 fizeram a primeira grande travessia europeia pelo Deserto de Gobi, que Roerich considerou como um desafio e uma busca espiritual. O amor pelo Oriente e o apelo espiritual pelas alturas imaculadas dos Hymalayas levou o casal a viajar várias vezes pelo Tibete, lugar onde será criado o Instituto de Pesquisas Himalaicas: URUSVTI que significa “A Luz da Estrela do Amanhecer”. Helena tornou-se a Presidente do Instituto e o filho Yary o Director, lugar que ele irá manter até ao início da Segunda Guerra Mundial.

Krishna (Primavera em Kulu), 1930

Situado a oeste dos Hymalayas, no mais profundo vale do Kulu, este centro de pesquisas dedicava-se ao estudo de idiomas e textos antigos, medicina tradicional tibetana, registos de botânica e zoologia, tudo isto com o intuito de poder ajudar a ciência do futuro a encontrar soluções para os grandes problemas da Humanidade. O incessante labor dos Roerich será coroado em 1935 graças à criação do Pacto Roerich, este tratado em defesa da paz e da cultura será representado através da bandeira da Paz com um circulo contendo três pontos magenta, dispostos em pirâmide, representando a Arte, Ciência, e Espiritualidade. Independentemente da nomeação de Nicholas Roerich para o Prémio Nobel da Paz, o seu Tratado só se verá concluído em 1954 na Convenção de Haye, permitindo assim a protecção dos Bens Culturais em caso de conflitos armados internacionais.

Cena pintada por N. Roërich para a Consagração da Primavera de Stravinsky

Aquele que na Índia era conhecido como Maha Rishi ou Grande Santo partiu para a sua última grande viagem a 13 de Dezembro de 1947, tinha 73 anos e deixou-nos mais de 7000 pinturas que retratam as suas visões. Cada uma delas transporta-nos para outros estados de consciência onde nos sentimos arrebatados para as alturas como Ganimedes, o símbolo da Alma elevada no céu pelo poder da Águia de Zeus. O seu amor incondicional pela paz e cultivo do espírito levou-o a ser uma ponte entre o Oriente e Ocidente, aproximou e contribuiu para ligar culturas tão diversificadas como a russa, a sua terra de origem, e a Índia, continuando assim o labor da sua conterrânea e grande sábia russa Helena Petrova Blavatsky que no século XIX tinha aberto as portes do Oriente para o Ocidente. Como discípulo pôs-se ao serviço da humanidade, fez da sua vida um exemplo de entrega e dedicação aos mais nobres ideais da fraternidade universal. Bebeu pessoalmente da fonte do “Tecto do Mundo”, onde recebeu ensinamentos e orientação dos Mahatmas, Filhos da Imaculada Sabedoria Hymalayca. A Filiação da família Roerich com os seus guias espirituais proporcionou-nos uma nova oportunidade de contacto com os ideais puros e altruístas da Grande Fraternidade Branca, Aqueles que através da escrita de Helena Roerich diziam:

Vocês estão rodeados de cuidado constante, não duvideis disto, cada discípulo é precioso para o Mestre, cada movimento do seu coração encontra eco no Grande Coração. Nem sempre os raios projectados podem alcançar a vossa consciência física, mas em cada minuto, eles dissipam e apagam muitas centelhas hostis à volta de vós.

Fotografía de Roërich

Assim, também Nicholas Roerich, deixou à juventude o melhor tesouro do mundo, e este foi o seu exemplo e o seu protagonismo. Por tudo isto, fez mais para a humanidade que muitas das nossas revoluções sociais, económicas, tecnológicas e políticas. Levantou do lodo do egoísmo, da ignorância, da fealdade, os mais belos ideais mostrando ao Mundo que sempre que o altruísmo guia os nossos passos podemos vencer a adversidade e abrir luz sobre o nosso caminho evolutivo, não só para nós, mas sobretudo para todos aqueles que anseiam pelo regresso da beleza e da justiça no mundo. Esses propósitos são os nossos desafios para o século XXI, que exigem a responsabilização de cada um de nós para o renascimento de um mundo novo e melhor.

Pintura de Nicolas Roërich

Oiçamos a mensagem de Helena Roerich nas suas cartas para a América, escritas entre 1929 e 1932:

Cada época tem o seu chamamento, e a força motriz do Novo Mundo será a força do pensamento criativo, o primeiro passo nesta direcção será a abertura da consciência e a libertação de todos os preconceitos de todas as tendências e conceitos forçados, o pensamento é a fonte primeira da Criação do Mundo. O refinamento da receptividade mental dará ao homem a possibilidade de penetrar nos santuários do Espaço e abrirá o caminho alegre da conquista, além de uma ascensão continua e infinita. Meus Amigos trabalhem com toda a tensão das vossas forças porque só alcançando o limite da sua tensão é que novas possibilidades virão até vós. Não temam as dificuldades, estejam prontos para ultrapassar todos os obstáculos pois a superação de cada um deles vos fortalecerá, além de vos levar a futuras vitórias.

Selo em homenagem a Nicolas Roërich

Finalizamos esta homenagem a Nicholas Roerich e à sua família, ciente que a melhor maneira de não esquecer a sua obra e continuar a trabalhar para o bem no mundo é recordando o ensinamento de outro grande Mestre da Vida: o professor Jorge Angel Livraga, fundador da Nova Acrópole: ”Nunca estamos sós quando estamos acompanhados por grandes Pensamentos”, assim como por tão generosos exemplos.

A grande árvore da cultura é nutrida por um conhecimento ilimitado, por um trabalho esclarecido, por uma criatividade incessante. Pelo estudo, estima e admiração, nos tornamos cooperadores reais com a evolução, e, fora dos raios brilhantes da suprema luz não se poderá alcançar o conhecimento verdadeiro.

Fonte:
“La Família Roerich”, de Nicolás P. Banykin