Nos últimos anos comprovamos um interesse, a nível mundial, sobre a necessidade de harmonizar o Homem com a Natureza. Antigos preconceitos “religiosos”, unidos ao crescimento deformado da nossa civilização materialista degenerada, numa adoração aberrante do técnico–artificial e de um subjetivismo desumanizado, levaram-nos a este momento histórico altamente conflituoso e asfixiante, sumamente perigoso e com pressentimentos de um futuro apocalíptico.
É de desejar que não seja demasiado tarde.
Obviamente, temos seguido um caminho de desenvolvimento equivocado, que nos leva à beira do precipício.
O problema é grave.
A solução não pode esperar-se de “panos quentes”.
Disto sabe, de alguma maneira, uma interessante parte da Humanidade… os jovens. Os idosos e gentes maduras o entendem, mas apenas o “sentem” os jovens, com as excepções que confirmam toda regra.
Hoje existem “brigadas verdes” que combatem, em ocasiões, até fisicamente, a caça indiscriminada de baleias, a extinção de belas espécies de pássaros, a preservação “dos pulmões” do planeta, seus bosques e selvas.
Assim mesmo, o que sonhou o “futurismo” do século XX ao querer substituir roupas, medicamentos, móveis e casas feitos de elementos naturais, demonstrou-se perigoso para a saúde individual e colectiva. Em muitos países avançados foram proibidas as fibras sintéticas na confecção de vestuário e roupas de cama, para dar um exemplo, pois descobriu-se que não eram saudáveis, eram altamente inflamáveis e menos estéticas que os elaborados com materiais naturais, como são a lã, o algodão e o linho. Os corantes químicos e os próprios alimentos enlatados estão a ser submetidos a uma revisão crítica, no momento nada favorável.
Fala-se e escreve-se muito sobre contaminação e poluição. Assim como de empobrecimento dos elementos naturais submetidos a uma sofisticação que prejudica muito as suas propriedades benéficas. Hoje sabemos que o ar projetado pelos aparelhos de ar condicionado, está descarregado de iões negativos imprescindíveis para a saúde e que a água tratada e reciclada é francamente perigosa.

Desenho publicado na revista satírica Punch, em 21 de julho de 1855, sobre a poluição do rio Tâmisa, que causou no verão de 1858 o que é conhecido como o Grande Fedor em Londres. Domínio Público

Esta sensibilização da opinião pública é altamente positiva, mas encaram-se os problemas separadamente e coloca-se a acentuação, até exagerar, no estritamente material. O professor austríaco Wilhelm Gabler chega a afirmar que a queda do Império Romano se deveu, exclusivamente, ao excessivo uso do chumbo. Talvez a sua teoria esteja certa, mas só pode ser parcialmente, pois muitos outros impérios não usaram – ou pelo menos não abusaram – do chumbo e igualmente caíram. É óbvio que entraram em colisão muitos outros factores desestabilizadores, nem todos de carácter físico. O psicológico, o mental e o espiritual podem ter tido muito que ver; assim como o factor ou dimensão tempo, que carrega todas as formas e manifestações pelo inevitável caminho do nascimento, esplendor, decadência e morte.

Uma ideia global do problema aproxima-nos mais à realidade.

Há muitas coisas contaminadas e falseadas que não são rios ou ares.

O folclore, outrora espelho das tradições dos povos, está hoje manipulado e retorcido pela politicagem. O charango na Bolívia ou a gaita-de-foles da Galiza utilizam-se, frequentemente, para levar “mensagens” de tipo pseudo-sociais e chamadas à violência de todos contra todos.

A arte, no geral, sofre esse mesmo processo: uma aparente humanização simbólica desembocou na desumanização mais artificial. Forças cegas, misteriosas, quase “diabólicas”, transpiram através dessas manifestações que se encaixam, para o bem ou para o mal, num culto à fealdade, ao chocante e enervante.

A ciência também sofre de contaminação, já que os cientistas se colocaram à disposição de interesses criados, na indústria de guerra, e de tudo aquilo que dá bom dinheiro no menor tempo possível. Estes processos chegam às vezes até ao crime, pois um inventor que conseguisse uma fórmula que embaratecesse notavelmente a gasolina, correria a mesma sorte de Diesel, quando “caiu” do barco em que viajava, sendo portador da ideia de um motor ainda mais revolucionário e parcimonioso que o que nos deixou.

Rudolf Diesel. Domínio Público

A literatura não escapa tampouco e menos ainda o jornalismo de carril. A rádio e a televisão estão da mesma forma em mãos deformadoras que “mancham” quanta informação passa através delas, ou directamente as mutilam.

Em resumo: que o problema de romper a relação harmónica entre os Homens e destes com a Natureza e com Deus, é complexo e não promete nada de bom. Se com Platão, consideramos a soma das atitudes humanas englobadas na política, ou na ciência que se resolve na arte de conduzir os povos, vemos que o necessário é atacar o mal no seu conjunto e em suas causas e não nos seus efeitos parciais. Ou seja, que o primeiro que devemos respeitar é a ecologia política.

A política atual, tanto no Ocidente como no Oriente, está altamente contaminada e deformada por formulações hipotéticas que não foram extraídas da Natureza, mas dos interesses de grupos e elementos de poder.

À luz da Filosofia natural, chama-nos a atenção que os políticos do momento façam política contra-natura. Despreza-se a lei dos mais aptos; a de piramidalidade, a que contempla a dinâmica dos corpos; os próprios princípios da vida. Pelo contrário, potencia-se o número sobre a qualidade; a inflexibilidade fanática sobre a concorrência harmónica das correntes da vida; a ética inclina-se ante a força bruta e o direito à existência é imolado no grande holocausto das guerrilhas cancerígenas. As cidades converteram-se em verdadeiras armadilhas onde os fisicamente débeis são massacrados, violados, insultados. No campo são lançadas as colheitas ao mar em vez de vendê-las num mercado apodrecido pelos intermediários.

A educação ensina sem educar e assim as crianças crescem impregnadas de egoísmo, de intoxicações, de instintos animais à flor da pele. Nem os cemitérios são respeitados e tampouco os templos, porque as suas paredes são pintadas chamando à próxima greve fratricida empurradas por piquetes de verdadeiros gangsters que contam com a impunidade da indiferença geral. Os ricos esmagam os pobres e os pobres assassinam os ricos.

Bronx, Nova York. Domínio Público

As reservas dilapidam-se. A juventude corrompe-se com filmes de cinematografia pornográfica. A velhice é enganada nas suas economias e os heróis autênticos são perseguidos, até em seus nomes, enquanto se leva à macrofotografia, aos posters, os assassinos e as prostitutas. Os criminosos gozam – às custas do erário público – de celas com televisão e de comidas trazidas de distantes lugares, enquanto que honrados trabalhadores roem as suas tristes lamentações nos seus barracos ou amontoados com as suas famílias em quartos lascados onde não entra o sol.

A contaminação da política é a causa fundamental de todas as contaminações. Da economia, da moral, da estética, do simples viver diário. Se não conseguirmos descontaminar a política e moralizar os políticos, todo o restante esforço será inútil. Serão simples faíscas individuais no meio da noite destes tempos. E serão afogados brutalmente pelos poderosos da moda, pais de todas as trevas. Urge que a política seja descontaminada; que seja uma ciência e uma arte, no seu melhor sentido destas palavras, e não uma máquina robotizada que proclama igualdades inexistentes e aplica diferenças artificiais. Devemos superar esta sociedade-vampiro, robotizada, consumidora de uma energia que não produz e que queima as reservas naturais e históricas acumuladas com os séculos.

Da nossa Humanidade truncada pelo corte irracional deve surgir o verde rebento de um homem novo, de um mundo novo. A poluição deve desaparecer dos nossos espíritos envenenados de violência e injustiça. A podridão deve ser varrida pelos ventos novos, renovadores da vida e portadores da semente da bondade. De contrário, esta forma de Humanidade será destruída pela justiça equânime da Natureza. Faremos um esforço forte e contínuo; unamos as nossas vontades purificadoras. Que retorne a luz num novo amanhecer, pletórico de perfumes e de frescura. Voltemos à Natureza, começando por uma política natural, portada por uma nova Humanidade natural.

Jorge Ángel Livraga

Extraído do livro Artigos Jornalísticos. Edições Nova Acrópole

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Imagem de destaque: Reformadores, como o americano Joseph Keppler, descreveram o Senado dos Estados Unidos do século 19 como controlado pelos gigantescos sacos de dinheiro, representando os trustes e monopólios financeiros que foram mantidos por meio da corrupção política. Domínio Público