Aqueles de vocês da época vintage podem lembrar-se do programa de TV japonês Monkey ou “Macaco” dos anos 70. Foi a primeira vez que este romance chinês da dinastia Ming foi trazido a um público de massas ocidental e reuniu seguidores de culto. Ofereceu um vislumbre de uma terra estrangeira onde se poderia entrar num mundo de fantasia, ficção e esoterismo.
O romance chinês original, Jornada ao Oeste ou Xiyou Ji (chinês: 西游記), significa literalmente “Crónicas errantes do Oeste” e foi escrito por Wu Cheng’en (吴承恩) no século XVI. É um dos quatro grandes romances clássicos da literatura chinesa. O escritor foi inspirado na história real de um monge budista, Xuanzang (玄奘), da dinastia Tang (séculos VII ao X), que fez uma peregrinação solitária à Ásia Central e à Índia em busca das escrituras originais dos ensinamentos de Buda. A sua jornada durou 15 anos e fez com trouxesse 657 textos em sânscrito para a China.
O objetivo desta “Jornada ao Oeste” era alcançar o Pico do Abutre e adquirir as verdadeiras escrituras. Buda, desanimado por “a terra do Sul conhecer apenas ganância, hedonismo, promiscuidade e pecados”, instruiu o Bodhisattva Guanyin (Avalokiteśvara) a procurar na China um campeão que traria de volta ao Oriente os sutras budistas da sabedoria.
A missão é liderada pelo personagem principal Tripitaka (o monge budista Xuanzang). Na sua jornada, ele é guiado por Guanyin, que inspira uma comitiva de viajantes intrépidos a reunir-se em seu redor e concordam em servi-lo como discípulos ao longo da jornada, a fim de repararem os pecados das suas vidas passadas. Somente com essa companhia Tripitaka poderia fazer uma jornada tão perigosa. No caminho, Tripitaka e seus companheiros enfrentam inúmeras adversidades e provações ao encontrar monstros, ogres e demónios.

Uma representação do monge chinês Xuanzang na sua viagem pela Índia, do período de Kamukura – séc. XIV, Museu Nacional de Tóquio. Domínio Público
Tripitaka ou Tang Sanzang (唐三藏): Os Três Cestos
Embora ele seja indefeso quando se trata de se proteger, ele tem o apoio dos seus três discípulos, Macaco (na série da TV: Monkey), Porquinho (na série da TV: Pigsy) e Arenoso (na série da TV: Sandy). Com o apoio de habitantes locais, ajudam-no a combater inúmeros monstros e demónios que querem comer a sua carne para ganhar a imortalidade.
O nome de Tripitaka refere-se aos “três cestos” dos ensinamentos budistas. Na história, ele representa a tríade ou eu superior, o elemento terra que simboliza o “coração”. Os demónios na história querem comer o seu coração “puro”, o que lhes dará pureza para criar um elixir da longevidade. O caractere kanji para coração (心) tem um duplo significado em chinês: coração e também mente. Tripitaka tenta estar sempre presente no momento – para que a sua mente e o seu coração não sejam perturbados pelos elementos caóticos em seu redor. Os demónios referem-se a pensamentos e emoções que constantemente interrompem os seus esforços. Quando alguém tenta estar presente, o eu inferior (os demónios) fará tudo o que puder para causar perturbação.
Macaco – Sūn Wùkōng (孫悟空) – significa “Macaco Desperto para o Vazio”. Refere-se ao conceito budista de Śūnyatā ou à realização da iluminação. Despertar para o vazio é deixar de lado as armadilhas do mundo ilusório.
Macaco é de longe o personagem mais icónico do romance. Tem a qualidade de ser brincalhão, infantil e ser dotado de uma mente astuta. Isso, juntamente com seu grande poder, faz dele um herói trapaceiro com um coração de ouro. Ele também tem a falibilidade humana de ser ganancioso, egoísta e propenso a mudanças repentinas de humor e explosões de violência. Ele representa a qualidade de “rajas”.
Porquinho (na série da TV:Pigsy) – Zhū Bājiè (八戒 八戒: lit. “Porco dos Oito Preceitos”) – refere-se aos oito preceitos budistas pelos quais ele precisa viver para manter-se no caminho budista. No entanto, é ganancioso, preguiçoso e, com a menor dificuldade, quer desistir da jornada e voltar à vida confortável que tinha antes. Ele representa os vícios do eu inferior e os desejos corporais. Ele representa a qualidade de “tamas”.
Arenoso, o Demónio da Água – Shā Wùjìng (沙 悟凈: lit. “Areia Desperta para a Pureza”) – é um personagem calmo, mas geralmente confiável, conhecido por ser o mais obediente, lógico, educado e equilibrado. Ele representa a qualidade de “Sattva”.

Ilustração chinesa do século XVIII de uma cena de Jornada ao Oeste. Domínio Público
O significado esotérico e exotérico
A Jornada ao Ocidente é um texto esotérico com muitos significados simbólicos ocultos relacionados com o caminho do cultivo espiritual, o controlo dos sentidos e do eu inferior, e com os princípios de auto-realização que levam à descoberta do Eu Real. Os discípulos de Tripitaka são todos imortais caídos que foram reencarnados num mundo onde precisam seguir um caminho de redenção para descobrir o seu verdadeiro eu.
O significado externo da história diz respeito às aventuras dos personagens, às suas provações e tribulações, tramas, esquemas e vitórias sobre as adversidades. Serve um papel igualmente importante ao fornecer acesso aos ensinamentos de todas as esferas da vida. Convido-vos a todos a dar um salto com uma Mente-Macaco na jornada ao oeste.
Jim Pang
Publicado em New Acropolis Library, 10 de junho de 2019
Referências
www.britannica.com/topic/Journey-to-the-West dragonball.fandom.com/wiki/Journey_to_the_West innerjourneytothewest.com/english/en-meaning.html en.wikipedia.org/wiki/Journey_to_the_West anderfarnoria.nghtchld.com/mediawiki/index.php/Journey_from_the_West_characters#Sun_Wukong_aka_Monkey_Fallen_Immortal_.28Season_One_and_Two.29 Monkey – Wu Cheng’en by Arthur Waley
Imagem de destaque: O homem-macaco. Creative Commons.