A leitura rápida tem seus benefícios, economiza tempo quando há falta de horas ou dias disponíveis, e o volume de páginas é impressionante, ou quando a atratividade do conteúdo não excede a de um manual de instruções.
O problema gerado pela leitura rápida, no entanto, pode ser resumido com a seguinte citação do espirituoso ator e diretor Woody Allen: Foi assim que li Guerra e Paz. Era sobre a Rússia. Um resumo notável para um livro de 1200 páginas.
Prefiro discutir a maneira de ler e não apenas a velocidade. Um ritmo lento garante qualidade de leitura? Infelizmente, não. Você pode fazer um exercício bem curto, quais os livros que leu, digamos, há dois anos? Sobre o que eram? Consegue lembrar-se de cinco ideias de cada um deles? Na maioria dos casos, a resposta é Não. Então, que diferença faz se lemos rápido ou devagar?
Nos tempos ocupados de hoje, sugiro Leitura Consciente, que inclui dois princípios simples. O primeiro é, claro, ser consciente. A velocidade da leitura é precisamente combinada com a velocidade da consciência. Leio para perceber. Percebo para compreender. Compreendo para fazer uso. Isso obriga-me a desacelerar quando não entendo a ideia por detrás das palavras, a voltar várias vezes a uma mesma frase e, se não entendi o seu significado, não deixar páginas e capítulos antes de entender a sua mensagem.
E assim, a poesia requer um ritmo lento, tempo para um eco interno da rima, na alma para capturar a estética das palavras. O romance permite, ou talvez até exija, uma velocidade maior para que possamos desfrutar da intriga do enredo. Um livro filosófico requer pausas, consideração, e às vezes retorno ao que já foi lido, porque na construção interna das ideias, falta algum tijolo na compreensão ou uma pedra para preencher as grandes lacunas da dúvida.
Mas todos os tipos de velocidade têm um denominador comum: prudência plena. A consciência não cumpre a sua função sem um instrumento, e esse é o foco. Não é a velocidade que é crucial para a leitura, mas o foco.
E o outro princípio: Pós Lectio – Raciocínio.
Digamos que temos uma hora para ler. Se lemos por 60 minutos e, depois de fechar o livro, imediatamente vamos fazer outra coisa, estamos perdendo um elemento-chave, pensar sobre o conteúdo enquanto ainda nos lembramos dele. Algo como uma assimilação qualitativa de ideias, uma digestão mental. Quem não está acostumado a isso, pode tentar pelo menos 59/1 em comparação com 60/0: um minuto para pensar e assimilar. Melhor, tente cinco, ou melhor ainda, dez minutos, ou por que não 30/30 minutos? E se não houver nada para digerir e assimilar após a leitura? Então podemos pensar por alguns minutos sobre a seleção de livros que lemos…
Com esse exercício mental, não apenas lembraremos as ideias dos livros lidos, mas também colheremos um benefício muito maior de seu conteúdo.
Este é um exercício que pode começar pelo caminho certo.
Espero que não tenha lido este artigo rápido demais.
Antonin Vinkler, Diretor da Nova Acrópole na Bulgária
Publicado na Biblioteca New Acropolis, em 27 de julho de 2024
Imagem de destaque: Leitura (1892), tela de Almeida Júnior. Domínio Público.