O filme JFK, de 1991, cujo título em Espanha era ”JFK caso aberto”, dirigido por Oliver Stone e protagonizado por Kevin Costner e cujo tema trata de uma conspiração para levar a cabo o assassinato do presidente Kennedy em 1963, por parte da cúpula das forças armadas e de alguns dos políticos do país, contradizendo desta maneira a versão oficial emitida pela comissão Warren pouco tempo depois do acontecimento, sobre a culpabilidade de Lee Harvey Oswald como único responsável do magnicídio.

No princípio da década de 60 os Estados unidos tinham um número cada vez maior de assessores militares no Vietname do Sul para apoio às suas forças armadas, face à ameaça comunista do Vietname do Norte, designado como o “Vietecong”. Ao que parece o presidente Kennedy tinha a intenção declarada de retirar completamente os assessores até 1965, algo que aos olhos da cúpula militar significava, por um lado, abandonar um aliado e por outro constituiria um golpe devastador para a indústria ligada ao armamento, podendo mesmo levar algumas empresas à falência por não terem mercado para colocar a sua produção. A guerra era, portanto, não só necessária, como indispensável para produzir e vender todo o armamento necessário.

O filme segue a linha de investigação do inspetor Garrison da polícia de Nova Orleães e da sua equipe, que tinha como objetivo descobrir o que realmente tinha acontecido na data em questão e também a descoberta dos culpados. O seu idealismo inicial foi-se deparando com uma realidade para o qual não estava preparado, porém de alguma forma consegue levar a investigação até ao final, deslindando muito do que acontecera, chegando a apelidá-lo de golpe de Estado que atingiu o seu objetivo, já que com a morte do presidente Kennedy o seu sucessor, o presidente Johnson, declarou guerra ao Vietname do Norte e os factos precipitaram-se. O que o inspetor Garrison não consegue é que a verdadeira versão do que se passara seja aceite pela via legal.

Jim Garrison. Wikimedia Commons

Oliver Stone, diretor conhecido pela sua posição “antissistema” e simpatizante dos governos de esquerda, (faz-nos recordar uma entrevista a Fidel de Castro), ofereceu o papel do inspetor Garrison a Harrison Ford, que o não aceita, (ia contra a sua imagem de herói americano), e passou-o em segunda opção a Kevin Costner, que o desempenhou com eficácia. A sua imagem de homem integro está de alguma maneira de acordo com o seu papel de Elliot Ness, no filme “Os Intocáveis”. Oliver Stone, nesta ocasião, utiliza elementos que recordam o cinema de Capra com o seu idealismo e fé na democracia a qual tem, de alguma maneira, que sair triunfante do impasse, ainda que neste filme tal não ocorra, conseguindo-se sim uma denuncia contra a corrupção do sistema nas mais altas esferas do poder.

Kevin Costner. Domeniu Public

Conviria recordar aqui que no seu discurso de despedida, o presidente Eisenhower antecessor do presidente Kennedy, e anteriormente general Chefe das forças armadas aliadas na segunda guerra mundial, advertiu para o perigo do excessivo poder e influência que o lobby industrial- militar dos Estados Unidos tinha adquirido e que algo se deveria fazer a esse respeito.

A minha nota pessoal sobre este filme é que, tendo tido a possibilidade de o ver no ano seguinte à sua estreia num País que tem uma enorme admiração por tudo o que vem ou está relacionado com os Estados Unidos, reservo o nome desse País, ao terminar o filme, enquanto passava no ecrã o elenco que muito pouca gente lê, incluindo eu, notei que muitas pessoas estavam de pé parecendo em transe olhando a passagem do elenco sem o ver, claramente impactados pelo que acabavam de ver, como se este filme tivesse destruído a imagem idílica de um País que tinham como modelo de sociedade avançada e no qual lhes encantaria viver um dia. Imagino que o efeito lhes passaria em poucos dias e voltariam à sua habitual forma de pensar, porém guardo comigo a extraordinária imagem, por inusual, daquelas pessoas tentando assimilar algo inimaginável para elas.

Foto do presidente Kennedy em Dallas, Texas, na Main Street, minutos antes do assassinato. Também na limusine presidencial estão Jackie Kennedy, o governador do Texas John Connally e sua esposa, Nellie. Dominio Público

Alfredo Aguilar