Este livro é, na verdade, a versão resumida de “Arqueologia Proibida”, de Michael A. Cremo e Richard L. Thompson, de quase mil páginas. Este último, editado em 1993, é talvez, e o futuro o dirá, um dos livros mais importantes do século XX, pelo menos no que diz respeito à revisão histórica, e usando a palavra “revisão” no melhor sentido, ou seja, o da revisão necessária do que foi manipulado, adulterado, intencionalmente ocultado, etc.
Nos Estados Unidos causou comoção e rapidamente se tentou demonstrar que as suas teses eram criacionistas, ou que Michael Cremo era um fiel do Hare Krishna, tentando assim desacreditar infamemente o autor no que respeita à sua seriedade “científica”. Mas a comoção que o livro causava era devida à objetividade das suas abordagens, ao volume dos factos inequívocos apresentados – fruto de um árduo trabalho de investigação –, à seriedade do seu raciocínio e a um descomunal senso comum. Como eles não podiam ser combatidos, era necessário afundar o autor na lama, fosse como fosse.
Atualmente, ler o artigo que a Wikipédia inglesa lhe dedica é simplesmente repugnante, o pouco que se centra nos factos e como usa todo o poder que tem para, isso sim, muito subtilmente sujar a obra de Michael Cremo.
Desde que surgiu o livro, segui de perto a polémica e esperei que chegasse à Europa, que, darwinista até à medula, estava blindada a qualquer tese contrária, por mais lógica e fundamentada que fosse. Levou quase 30 anos a ser publicado em espanhol, apesar disso, por ter sido revolucionário e bem justificado, teve um importante número de leitores. A qualquer momento as notícias podiam chegar a todas as partes do mundo, mas aí surge a conspiração do silêncio e o poder da infâmia, os chicotes da propaganda e as cortinas de fumo quando necessárias.
O livro demonstra, com uma enxurrada de factos – muitos deles enterrados por décadas – que a procedência do homem de um símio é uma construção mental baseada na “filosofia” do darwinismo, uma vez que foram encontrados fósseis ósseos totalmente humanos em estratos geológicos perfeitamente definidos, e muitas vezes junto aos de hominídeos. E isto sem contar com os “objetos fora do lugar” que são um pesadelo para os investigadores, pois não há forma de explicar o que fazem lá, aos quais lhe dedica um capítulo. Especifica claramente, e com o testemunho de especialistas que hoje são relegados, e não ouvidos, que os australopitecus ou são diretamente chimpanzés ou gorilas jovens, ou muito mais simiescos do que imaginamos, com estrutura óssea mais para mover-se entre as árvores do que para caminhar. Que o homo hábilis seria na realidade um macaco inapto, incapaz não só de construir, mas de manipular as ferramentas que se lhe atribuem que, sem dúvida, bem poderiam ser de outros homos por perto, sapiens, sem dúvida. Que as pegadas de Laetoli, de 3.6 milhões de anos e atribuídas, por essa antiguidade, ao australopitecus, são idênticas às que deixaria um pé descalço na atualidade, o que coincide com as encontradas há pouco tempo em Creta por uma equipa científica, de 5.7 milhões de anos, e idênticas também às pegadas de um homo sapiens sapiens atual.
E para culminar, um capítulo inteiro de evidências testemunhais sérias, e até fotográficas de homens gorila – a caminhar totalmente erguidos – em todos os continentes do mundo, mesmo que o famoso por excelência seja só o Yeti tibetano. Ou seja, os hominídeos existiram há cinco milhões de anos – se atendermos aos estratos geológicos em que se encontraram os fósseis – e continuam hoje, exatamente do mesmo modo que sucede com os homo mais ou menos sapiens, ou seja, nós próprios.
Muitos dos dados desta investigação foram obtidos antes da tese darwinista se cristalizar como dogma. As descobertas, contrariamente ao que é dito na Wikipédia, foram realizadas por especialistas em estratos geológicos e em trabalho com fósseis, e posteriormente aprovados por assembleias especializadas:
“Nos primeiros anos do darwinismo, quando ainda não havia uma história bem definida da descendência humana que fosse necessário defender, os cientistas profissionais fizeram e registaram muitas descobertas que não seriam hoje aceites nem mesmo nas páginas de uma revista do meio académico mais respeitada do que a National Enquirer.
A maioria desses fósseis e artefactos foram desenterrados antes da descoberta que Eugene Debois fez sobre o Homem de Java, o primeiro hominídeo proto-humano entre o Dryopithecus e os seres humanos modernos. O Homem de Java foi encontrado em depósitos do Pleistoceno Médio, aos quais, em geral, se atribui 800.000 anos de idade. Esta descoberta tornou-se num quadro de referência. A partir daí, os cientistas não deveriam esperar encontrar fósseis ou artefactos trabalhados por seres humanos anatomicamente modernos em depósitos de idade igual ou superior. Se alguém o fizesse (ou alguém mais cauteloso), teriam de concluir que tal era impossível e encontrariam um modo de desacreditar a dita descoberta, classificando-a como um erro, engano ou embuste. Porém, antes do Homem de Java, cientistas conceituados do século XIX encontraram uma série de restos de ossos humanos anatomicamente modernos em estratos muito antigos. Encontraram também um grande número de artefactos de pedra de vários tipos, assim como ossos de animais com sinais de terem sido trabalhados por mãos humanas.”[2]
É difícil, para aquele ainda não é escravo do paradigma atual, ler este livro e não descartar para sempre que o homem provém do macaco. Mente livre, raciocínio claro, factos fundados e aceites por legiões de especialistas atuais, não, vade retro, o ser humano não provém do macaco… em todo o caso e pelo que vamos descobrindo, é, porventura, o contrário.
José Carlos Fernández
Escritor e diretor da Nova Acrópole Portugal
[1] Raichlen DA, Gordon AD, Harcourt-Smith WEH, Foster AD, Haas WR Jr (2010) Laetoli Footprints Preserve Earliest Direct Evidence of Human-Like Bipedal Biomechanics. PLOS ONE 5(3): e9769. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0009769
[2] No capítulo 1, secção “A Aparição dos Hominídeos”. Pág. 29 da edição portuguesa, com o título “A História Secreta da Humanidade”