Por ocasião do 200º aniversário do seu nascimento
Se a enfermagem é o que é nos dias de hoje, devemos ao esforço e dedicação de Florence Nightingale, uma mulher suficientemente forte para desafiar o status social vigente na sua época e determinada em enfrentar todo o tipo de adversidade para colocar em prática aquilo que acreditava ser o melhor para a sociedade.
Florence Nightingale nasceu a 12 de Maio de 1820, em Florença, Itália, enquanto os seus progenitores faziam uma viagem por esse país. Era a segunda filha de uma abastada família inglesa. Seu pai era William Edward Nightingale e a sua mãe chamava-se Frances Nightingale.
Foi criada em Inglaterra em duas casas de campo que a família tinha, uma situada em Derbyshire e a outra em Hampshire, num ambiente de grande luxo e mergulhado numa natureza envolvente bastante serena e aprazível.
A sua educação foi esmerada, com a atenta supervisão de seu pai, um grande amante de línguas e metafísica. O seu currículo de estudo incluía línguas modernas (francês, alemão e italiano), latim e grego, gramática, composição, literatura e música inglesa. Para além da parte teórica, o progenitor incentivava as suas filhas não só a pensarem de forma clara, mas também a argumentar, falar e escrever convenientemente. Também tinha uma veia peripatética, pois dava longos passeios pelos bosques circundantes, de mãos dadas com as suas filhas, onde debatia diversos temas com elas.
Florence era quem mais lhe chamava a atenção, devido ao seu espírito inquieto e curioso. Era boa estudante em matemática e em história clássica, tendo chegado a traduzir alguns diálogos de Platão. Esta educação reforçou o seu poderoso intelecto bem como o seu forte carácter, algo que a impelia a não aceitar as limitações que lhe eram impostas devido à condição social da sua família.
A sua mãe, por exemplo, era uma típica mulher da classe abastada, que se dedicava a gerir as casas que a família tinha, a delinear menus para as refeições, a dar atenção ao conforto dos convidados que recebia, a ir às compras em Londres e a dirigir as conversas durante a hora do chá, de modo a que estas não causassem demasiada controvérsia.
Florence não via naquilo que a mãe fazia um bom exemplo, pois tinha uma natureza ardente que necessitava de liberdade para se expressar convenientemente.
Ela sentia-se espartilhada no ambiente familiar, pois era esperado que se comportasse dentro dos parâmetros sociais vigentes na época para uma rapariga da sua classe, ou seja, que a sua maior ambição fosse arranjar um homem adequado para se casar e que a sua felicidade se limitasse a tarefas similares às que a sua mãe realizava. Em suma, uma vida que ela considerava superficial e trivial. Era uma caverna psicológica que aprisionava a sua alma e a impedia de ser aquilo que verdadeiramente queria: uma pessoa útil e dedicada a uma causa maior do que ela própria.
Pelo menos podia respirar com as viagens que realizava constantemente, algo que ela aproveitava para passar longas temporadas, com a família ou amigos, em périplos por França, Itália e Alemanha (1837-39); Roma (1847-48); Egipto e Europa (1849-50).
Estas viagens foram importantes porque possibilitaram a Florence tomar contacto com diversas realidades, desde frequentar a alta esfera social italiana, onde chegou a ir a um baile promovido pelo Duque da Toscânia; até ao convívio com refugiados políticos italianos em Genebra. Nessa altura, os italianos buscavam a sua independência e, neste caso, as pessoas que encontrou lutavam contra a ocupação do norte de Itália pela Áustria.
Este último ambiente contrastou imenso com o cenário de luxo em que estava habituada a movimentar-se, pois deparou-se com um quadro de muita pobreza. Porém, mesmo nesse contexto, as pessoas não desistiam de lutar por aquilo em que acreditavam. Este exemplo marcou-a muito, pois ela tinha uma luta similar para conseguir a independência em relação aos seus pais e poder viver de acordo com os seus princípios e com as suas ambições. Levou aquela imagem consigo quando regressou a Inglaterra em 1839.

Florence Nightingale por Augustus Egg. Dominio Público
Também teve uma importante estadia no Cairo, onde tomou contacto com uma forma de sociedade totalmente diferente daquelas que conhecia: era dominantemente muçulmana, o que influenciava os costumes e comportamentos das pessoas; era uma sociedade predominantemente agrária e onde existia a escravatura.
O seu espírito curioso manifestou-se numa ocasião quando se vestiu de muçulmana para poder observar como eram feitas as orações numa mesquita por aqueles que ela considerava seus “companheiros humanos”. Demonstrava um ecletismo acima da média para a época. Movida por um espírito de tolerância religiosa e de busca por compreensão, leu livros de antropologia para poder comparar a religião egípcia com o Judaísmo e com o Cristianismo.
Acreditava, ao contrário daquilo que a maioria defendia, que a antiga religião egípcia, para os seus sacerdotes, era monoteísta. Para ela, a existência da multiplicidade de deuses era uma forma de satisfazer os menos educados. Também defendia que a Trindade Cristã era algo paralelo a diversas trindades egípcias. Todos estes elementos levaram-na a realizar, durante a sua permanência no Egipto, uma profunda reflexão religiosa.
Estas viagens enriqueceram-na imenso, a sua alma inundava-se de vivências que iam cimentando as suas convicções e lhe apresentavam novas perspetivas sobre a vida.
O seu interesse pela enfermagem manifestou-se quando ainda era criança, altura em costumava tomar conta de parentes, criados ou habitantes locais adoentados.
Aos 16 anos Florence sentiu uma “chamada para o serviço” feita por Deus, algo que ela nunca escondeu. Decidiu que tornar-se enfermeira seria a maneira de ser útil e cumprir com o apelo que Deus lhe tinha feito.
Foi fortemente contrariada pela família, principalmente pela sua mãe e pela sua irmã, que não entendiam sua escolha. A enfermagem, à época, era uma ocupação da classe baixa, logo, seria totalmente impensável para alguém da classe alta seguir tal via. Por isso, a sua entrada na vida que pretendia seguir viu-se adiada por alguns anos.
Dava a sensação de que teria de conquistar tudo com esforço e determinação, e que as suas convicções teriam que ser submetidas à prova do tempo.
No entanto, as oportunidades iam surgindo, como a possibilidade de ir para a Alemanha, em 1851, onde teve uma experiência que a marcou muito e que lhe permitiu responder, em parte, à questão da sua vida: “O que pode um indivíduo fazer para aliviar o fardo de sofrimento dos desprotegidos e miseráveis?”, uma inquietação que tinha partilhado com o Embaixador da Prússia no Reino Unido e com a sua esposa. Perante esta questão, ambos recomendaram aos pais de Florence que a deixassem visitar a Instituição Diocesana Luterana em Kaiserswerth-am-Rhein, perto de Düsseldorf, que procurava reviver a tradição bíblica de mulheres ao serviço da igreja. A instituição tinha um hospital e um orfanato, onde as mulheres podiam exercer as suas funções. Foi aí que Florence pôde experimentar uma ambiência próxima daquilo que seria o cenário onde ela queria exercer a sua função.
Teve um primeiro contacto com uma atmosfera de devoção e humildade, onde apesar das precárias condições sanitárias, as pessoas se dedicavam às suas atividades com disciplina e ordem. Tanto as enfermeiras como os pacientes eram de origem humilde, permitindo-lhe conviver com pessoas cuja maneira de ser era diametralmente oposta à das pessoas com quem privava nas casas dos seus pais. Não viviam numa atmosfera trivial, de conversas supérfluas, onde a finalidade era somente o deleite. Aqui, Florence comungou com pessoas que eram comprometidas com a chamada ao serviço cujas raízes se encontravam nas suas crenças mais profundas.
Toda esta vivência preencheu-a de vitalidade, sentia-se livre do sentimento de inércia a que tinha sido votada devido à proibição que os seus progenitores lhe tinham imposto de exercer enfermagem. Como ela própria diz numa das suas cartas: “Estou tão bem em tudo, corpo e mente. Isto é vida.”

Ministrando aos soldados em Scutari. Flickr
O espartilho social e familiar que a condicionava ia desaparecendo e ela sentia-se cada vez mais livre e, acima de tudo, feliz. Essa sensação é normal, pois nada aprisiona mais o ser humano do que permanecer num estado de inércia, limitado pelo medo de assumir aquilo que quer e de sair da sua zona de conforto para evitar conflitos. Este estado de limitação é a causa de insatisfação, de estados de desânimo e angústia porque impede a natureza própria de cada um de se expressar.
A experiência vivida na Instituição Luterana ajudou-a a reforçar a sua inclinação na meritocracia, algo que demonstrou mais tarde quando foi responsável por orientar a formação das enfermeiras. Nessa altura as mulheres da classe alta chegavam com mais educação e cultura geral do que as mulheres de outras classes, mas para Florence isso não as devia isentar de efetuar a intensa formação que todas faziam nem de realizarem as tarefas mais básicas.
Para além do período passado em Kaiserswerth-am-Rhein, passou várias semanas, em 1853, com ordens de enfermeiras católicas-romanas, em Paris. Nesse mesmo ano, o seu pai concedeu-lhe uma anuidade que lhe permitiu ser superintendente de um pequeno hospital, o Estabelecimento para Damas durante Doença, em Londres. Pouco a pouco ia vencendo a resistência parental e ia atingindo os seus objetivos.
Saiu do hospital em 1854 para liderar a primeira equipa de enfermeiras enviadas para a guerra, pouco depois da abertura de hostilidades na denominada Guerra da Crimeia, que opôs uma coligação Britânica, Francesa, Piemontesa-Sardenha e Turco-Otomana contra a Rússia.
O exército britânico estava pobremente preparado e o cenário era muito mau. Basta referir que a taxa de mortalidade devido a doenças evitáveis era sete vezes superior às mortes provocadas por feridas.
A sua equipa foi destacada para o Hospital Barrack, em Scutari. A estrutura não era adequada para ser um hospital, pois tinha um sistema de esgotos defeituoso, algo que influenciava determinantemente na alta taxa de mortalidade, tendo esta baixado somente após ter sido feita uma intervenção para corrigir a estrutura.
O cenário com que se deparou era terrível. Em campos perto de Varna várias mortes tinham ocorrido devido a cólera e outras doenças de foro intestinal. As tropas também estavam a sofrer de má nutrição. Bastantes soldados tinham morrido ainda antes de qualquer tiro ter sido disparado.
Em Scutari constatou também que o exército britânico estava bastante mal equipado em termos de equipamento médico, tendo mesmo falta de elementos básicos como comida ou camas. O próprio espaço para cada paciente era diminuto.
Florence parecia ter nascido para aquele momento, pois perante este cenário de horror, ela e as suas enfermeiras entregaram-se às suas tarefas de uma forma determinada e convicta, apesar da desconfiança dos comandos militares e médicos, que viam com maus olhos a presença de mulheres naquele cenário.
Indiferente a isso, Florence empreendeu todo um conjunto de mudanças:
- Providenciou constantemente camas e roupas limpas para os pacientes;
- Melhorou a qualidade alimentar para os pacientes;
- Dedicava-se a escrever cartas para os moribundos;
- Instituiu um sistema bancário que permitia aos soldados enviar dinheiro para casa;
- Estabeleceu o primeiro mercado de lazer para soldados regulares;
- Montou o Inkerman Café para os soldados.
A preocupação e atenção que dedicava aos pacientes eram tal que todas as noites realizava uma ronda, portando uma lâmpada, para verificar se estavam bem e se não necessitavam de algo. Ganhou o carinhoso apelido de “Dama da lâmpada”.

Enfermeiras dos EUA e do Reino Unido honram a vida de Florence Nightingale. Official United States Air Force Website
Neste cenário difícil, onde imperavam a desordem, a desorganização, a dor e o sofrimento ela manifestou o melhor de si própria, conseguindo sublimar a natureza de mulher e tornando-se uma verdadeira Dama, ou seja, na grande protetora da Vida e numa fonte inesgotável de Amor.
As características femininas estão muito ligadas à compaixão, à sensibilidade e à paciência. Mas a isso, Florence acrescentou um forte sentido de renúncia de si própria em prol da sua obra; exprimiu uma generosidade sem limites ao dispensar uma atenção constante a todos os que dela necessitavam; foi de uma bondade extrema, ao cuidar com carinho e dedicação de todos os pacientes; foi uma promotora incansável de harmonia e beleza, procurando tornar o mais agradável possível o cenário em que se encontravam. Em suma, foi um arco-íris no meio do cenário cinzento onde estavam.
A única coisa que a parou foi ter sofrido de brucelose, uma doença que quase lhe causou a morte e que seria determinante para o seu futuro, pois 1 ano após voltar a Inglaterra retornou na sua fase crónica condicionando-a para o resto da sua vida.
Retornou da guerra em 1856, como uma heroína, mas a fama não lhe subiu à cabeça. O que lhe importava era impedir que a alta taxa de mortandade a que assistiu, devido às pobres condições sanitárias, se repetisse novamente.
Usando a sua influência como heroína nacional, começou a trabalhar para conseguir apoios que promovessem uma reforma estrutural no exército, em primeiro lugar, e na sociedade civil, em segundo lugar.
Lutou para conseguir uma Comissão Real para investigar as causas do desastre médico ocorrido. Entrevistou testemunhas e analisou dados para poder apresentar um relatório, não se poupando a esforços a ponto de ter adoecido devido ao pouco descanso que tinha. Ao mesmo tempo que travava esta batalha, realizou uma análise que resultou num relatório de 900 páginas sobre o que correu mal no hospital onde esteve destacada.
Demonstrou uma grande coragem em apresentar tal trabalho pois não só uma “simples” enfermeira punha em causa o trabalho dos médicos, como uma mulher entrava na esfera pública que, nesses anos, era eminentemente masculina, cabendo à mulher ficar relegada para o plano doméstico. Nesta época a mulher somente tinha como obrigação conseguir um bom casamento, em que o amor não necessariamente seria o fator determinante, gerar filhos e limitar a sua influência à gestão do lar. Na sua vida de casal estavam legalmente obrigadas a obedecer ao marido e estes tinham direitos conjugais ilimitados. Como consequência, as mulheres engravidavam com alguma frequência.
Florence considerava este papel da mulher extremamente limitado pois a sua saúde e vida encontravam-se dominadas por forças que fugiam ao seu controlo. Por isso, apesar de ter tido alguns pretendentes decidiu não se casar, apesar de sentir, como qualquer mulher, a vontade de amar e ser amada.
Ela sentia-se como uma coadjuvante de Deus, e esse apelo era forte e ela encarava-o com grande responsabilidade e sentido de missão. Acreditava que Deus era o criador perfeito e que o mundo era governado pelas suas leis. Qualquer ser humano podia aceder à compreensão dessas leis através do estudo, evitando, deste modo, a realização de ações que tivessem repercussões negativas causando dor e sofrimento, tornando-se um agente do Bem.
Florence não acreditava que Deus quisesse que os seres humanos lhe dedicassem orações para serem poupados dos problemas da vida. Era sua convicção que Ele desejava que os humanos trabalhassem para tornar o mundo um lugar melhor para se viver. E dava exemplos práticos: de que valia realizar preces para que a praga, a pestilência ou a fome não afetassem ninguém quando Deus dizia diariamente que quem vivesse perto de um rio pestilento morreria e que quem se encontrasse mais afastado viveria? Portanto, o ser humano tinha que agir, mudar as más circunstâncias em seu redor e não permanecer num estado de inércia, aguentando as consequências como se não houvesse saída. Cada homem e cada mulher deviam tornar-se atores na História e não somente espetadores dos acontecimentos que se iam desenrolando.
Como foi referido anteriormente, após a guerra, Nightingale teve somente um ano de saúde. A brucelose retornou e permaneceu com ela, fazendo com que sentisse dores de cabeça, falta de apetite, fraqueza, depressão e dor de costas. Na altura ainda não havia cura para esta doença mas apenas formas de aliviar um pouco a dor.
Aos 37 anos de idade, tornou-se inválida, tendo que permanecer confinada aos seus quartos (realizava curtas viagens às casas de campo de parentes e que não excediam umas poucas horas de deslocação de comboio).

Florence Nightingale. Fotografia por Millbourn. Wikimedia Commons
Para uma pessoa tão enérgica como Florence Nightingale ter esta limitação deveria ser muito difícil. Porém, ela era de uma determinação notável e não se deixou abater. Começou a fazer uma gestão inteligente dos seus esforços. Todas as horas que podia, utilizava para escrever. Aproveitava os momentos em que estava mais lúcida para poder trabalhar em projetos que pudessem salvar o maior número de vidas. As visitas que recebia eram poucas, geralmente uma por dia. As pessoas que a procuravam iam em busca de conselhos ou iam debater algumas ideias. Pelos seus aposentos passaram líderes de enfermagem, especialistas médicos e políticos. Devido à sua saúde frágil, que a impedia de estar muito tempo em condições de lucidez, relegava as visitas dos seus parentes para último plano.
O seu trabalho na reforma do Ministério da Guerra, na formação de enfermeiras no Reino Unido e no estrangeiro, bem como outras causas, foi tudo dirigido a partir do quarto onde estivesse confinada.
Por exemplo, a colocação de enfermeiras formadas em vários locais hospitalares de Liverpool e Londres avançou devido aos esforços e incentivos empreendidos a partir dos seus aposentos.
Também foi por sua causa que foram abertas as portas para que as mulheres da classe média pudessem ser enfermeiras. Outra reforma importante foi separar o trabalho de limpeza da tarefa de cuidar dos pacientes. Antes da sua época, as enfermeiras eram basicamente responsáveis pela limpeza dos hospitais, embora durante os turnos noturnos tivessem algumas tarefas relacionadas com a vigilância dos pacientes. Florence lutou para que as enfermeiras se tornassem somente cuidadoras e que a profissão se tornasse decente, com um vencimento adequado e que fosse fundamentada no mérito e não na origem de classes.
Florence encontrava-se em constante troca de correspondência para poder dar recomendações, aconselhar e receber informação de como as coisas estavam a evoluir nos projetos que apoiava.
Em qualquer campanha que o exército britânico entrasse, o corpo de enfermagem que o acompanhava tinha a sua ajuda na preparação.
Mesmo não podendo estar presente fisicamente, a sua influência fazia-se sentir na sociedade através das pesquisas e constantes escritos que realizava.
Florence trabalhou bem até aos 70 anos. A partir daí teve mais dificuldades, mas continuava a fazer o que podia, já não tanto em termos de escrita, mas aconselhando quem necessitasse. Durante a sua vida teve uma produção escrita considerável tendo sido responsável por mais de 10.000 cartas, muitos relatórios, livros, artigos e panfletos.
Jamais utilizou a sua fama para fins próprios, mas não se negava a utilizar o seu nome se isso ajudasse a impulsionar ou a promover os projetos que defendia. A sua satisfação não advinha de receber os louros pelas suas ações mas em resolver os problemas ou a intervir corretamente. Nunca se esqueceu de que era uma serva de Deus e que agia em prol do bem comum.
Esse bem comum incluía especialmente as classes desfavorecidas. Desde muito cedo na sua vida que Florence teve noção da grande disparidade que existia entre o modo de vida da classe mais abastada, onde ela se incluía, e o dos mais pobres. Tal como muitas outras mulheres praticou atos de caridade para com os desfavorecidos, mas teve clara noção de que eles eram inadequados. Mais do que caridade, as pessoas necessitavam que lhes fossem dadas boas oportunidades para trabalhar e terem acesso a melhores condições de vida. Para ela não havia diferença entre o laço que a unia a Deus e aquele que a deveria ligar aos outros seres humanos, pois tal como ela todos eram criaturas de Deus.
Sentiu-se identificada com os mais pobres e desfavorecidos porque estes, tal como ela, esperavam pouco da vida. Esta atitude para com os mais desprotegidos notou-se na Guerra da Crimeia, pois foi graças à sua ação que as condições de acolhimento para os soldados regulares foi melhorada substancialmente. Foi nessa altura, e devido às circunstâncias que a rodeavam, que forjou a sua convicção de que não iria permitir que vidas se perdessem devido a negligências sanitárias como aquelas com que se deparou.
Nos últimos 10 anos de vida, Florence quase que não escrevia nada, visto que já se encontrava bastante débil, com uma fraca visão e tremores que lhe impediam de escrever convenientemente.
Em 1907 foi-lhe concedida a Ordem de Mérito, tendo sido a primeira mulher a ser concedida tal honra.

A estátua de Florence Nightingale, na London Road. Creative Commons
O seu impacto na sociedade foi imenso, pois foi graças à sua liderança que houve uma reforma profunda na saúde pública. E o mais impactante foi o facto de ter sido uma mulher, enfermeira, a dirigir uma equipa de homens, médicos e políticos, nesse hercúleo trabalho que mudou drasticamente o panorama dos cuidados de Saúde no Reino Unido e no mundo.
Faleceu discretamente aos 90 anos, a 13 de Agosto de 1910.