Cuida-te dos idos de Março! Falei para ti César… e agora jazes inerte sobre o gélido mármore, aos pés da estátua de Pompeu… César, crivado a facadas… facadas de ódio, de raiva, de vingança, de inveja; facadas de ignorância, de medo, de cobardia; facadas de ignominia, verdade Brutus?…
Cuida-te dos Idos de Março! Falei para ti César…
Pobre Calpúrnia! Sozinha, abandonada e impotente no seu grande palácio. Rodeada de serventes mas sozinha finalmente, à espera da chegada do mensageiro que traz notícias do seu senhor. Os videntes nunca tiveram muita credibilidade e os teus presságios, Calpúrnia, não encontraram eco na vontade de César. Choraste, imploraste de joelhos, tentaste convencê-lo para permanecer em casa e quase que conseguiste. Mas a força do teu sonho não era compatível com a força dos argumentos sinuosos que utilizaram contra ti; e César cedeu perante os traidores. Esses traidores que desfrutaram da hospitalidade da tua casa, que beberam e comeram hipocritamente com o objeto dos seus rancores. Pobre Calpúrnia! As palavras têm o valor de quem as pronuncia e esqueces-te que as tuas são palavras de mulher…
Cuida-te dos Idos de Março! Falei para ti César…
Pobre Marco António! Pobre filho órfão de pai e de rei! Como esquecer a dor do seu rosto quando viu o corpo ensanguentado de César, morto pela cobiça e pela debilidade de alguns. E como esquecer a sua consternação dolorosa ao saber que o seu irmão, Brutus, ousou levantar a mão contra o pai… Não descansará até vingar-se e levantará o povo de Roma para que colabore na sua empresa. Os traidores serão expulsos e ver-se-ão condenados a vagar pelos caminhos sem encontrar braços amigos que os acolham. E nessa procura de justiça encontrará consolação…
Mas tu, Brutus, nunca encontrarás a paz e a culpa aninhará no teu interior até o final dos teus dias. E a sombra da traição e da debilidade pairará sobre ti por sempre porque não há nem haverá maior crime que o pecado da ingratidão. E não haverá dia em que abras os teus olhos sem ver os do teu pai moribundo, incrédulo perante a imagem do seu filho bem-amado que ousa levantar a mão contra a sua dignidade. Et tu Brutus?
Cuida-te dos Idos de Março! Falei para ti César… E agora jazes sem vida sobre o frio mármore do Senado… aos pés da estátua de Pompeu… hoje, nos Idos de Março.