Nova Acrópole é uma Organização Internacional que propõe um ideal de valores permanentes para contribuir para a evolução individual e colectiva através das suas linhas de acção na Filosofia, Cultura e Voluntariado. Nova Acrópole está presente em 60 países nos 5 continentes e mantém mais de 400 sedes em funcionamento.
A sua acção no mundo baseia-se em três ideais fundacionais:
O Ideal da fraternidade universal, promovendo o respeito pela dignidade humana para além das diferenças de sexo, culturais, religiosas ou sociais.
O Ideal do conhecimento, fomentando o amor à sabedoria através do estudo comparado de filosofias, religiões, ciências e artes.
O Ideal de desenvolvimento, começando pela realização das melhores qualidades e valores de cada ser humano como base sólida para um mundo melhor.
O presidente da Nova Acrópole, Carlos Adelantado, explica-nos os caminhos para esses ideais comuns.
Quais são os principais desafios que a Nova Acrópole tem na actualidade? Que metas desejaria alcançar?

a) A nível filosófico, a grande meta é reivindicar a importância intemporal do conceito de Filosofia.

O Pensador, Auguste Rodin. Domínio Público

b) Hoje é uma palavra desvalorizada e esquecida numa gaveta, o que a torna, inclusive, um pouco maçadora. No entanto, é natural perguntarmo-nos sobre o porquê das coisas que nos aconteceram ou que sabemos garantidamente que nos vão acontecer. Deste ponto de vista, a Filosofia é uma ferramenta necessária para dar à existência um sentido coerente, e para tomar consciência do verdadeiro protagonismo que cada ser humano pode assumir relativamente à sua própria vida.

Também desejo que a Fraternidade vá abrindo caminho na vida quotidiana, com transparente realidade.

Que saibamos valorizar cada vez mais o que nos une por cima do que, em aparência, nos separa, e que possamos ir mais além das aparências superficiais e sempre mutáveis das pessoas e dos acontecimentos.

A Filosofia ensina-nos que com maior percepção interior do essencial, maior evidência exterior do fraternal.

c) Esforçamo-nos para que a Cultura tenha mais presença na sociedade.

O amor à verdade e ao conhecimento, Nova Acrópole

Não me refiro apenas a que aumente a quantidade de actividades culturais, mas sim a que realmente a Cultura sirva para unir os povos e para compreender as diferentes mentalidades, para que se possa cumprir uma função de elevação da consciência e abertura do coração.

Infelizmente, estou convencido de que algumas das atitudes de intolerância e agressão para com algumas pessoas ou determinados segmentos da população obedecem a uma falta de cultura provocada pelo desconhecimento de outras formas de expressão da actividade humana.

d) Com o Voluntariado, o nosso trabalho aspira a conseguir que o desenvolvimento interno de cada voluntário acompanhe a sua entrega altruísta ao bem-estar comum.

Todo o esforço, todo o serviço em prol dos outros pode ser aproveitado para se entender de maneira mais consciente o Sentido da Vida; e ao mesmo tempo crescem uma série de forças interiores como sejam o valor da solidariedade, a auto-estima, a esperança num futuro melhor, a empatia… e muitas outras. Mas, acima de tudo, aumenta a sensação de Liberdade e a força de Vontade.

Voluntariado, Nova Acrópole

Que experiências estão a recolher nas quase 500 sedes da Nova Acrópole nestes tempos difíceis em todo o mundo?

A nível pessoal estou muito satisfeito pois ficou demonstrado que a aplicação da Filosofia ajuda a encarar os medos e a incerteza.

Agora estamos a comprovar que as pessoas que vêm às nossas sedes mostram um maior interesse e uma autêntica preocupação para entender a Vida e o ser humano. É como se os espelhos que reflectiam a realidade se tivessem quebrado em mil pedaços e, então, ou nada se vê ou percebe-se uma realidade diferente. Em qualquer caso, isto é um motor que impele a caminhar para o conhecimento de si mesmo.

Comprovámos a utilidade das novas tecnologias que nos permitiram prosseguir com o nosso labor apesar das dificuldades. Não obstante, também ficou claro que nada pode substituir a qualidade do contacto pessoal. Não em vão, a prática da Filosofia sempre se deu na antiguidade em escolas, em grupos onde o uso do diálogo como ferramenta pedagógica era fundamental, e o desafio de alcançar uma harmónica convivência era aceite por todos.

Há gente que desconfia das organizações

Certo, e não lhes faltam motivos em muitas ocasiões.

No entanto, eu creio que uma organização pode ser de muita utilidade, pois reúne e coordena esforços e vontades diversas. Mas sim, nunca devemos esquecer os perigos que podem surgir de certos desvios nas organizações.

Considero desvio impor certa opinião particular e pessoal, sem diálogo nem comparação alguma possível; afastar-se dos fins e princípios para que foi constituída; e aproveitar-se do seu funcionamento para conseguir renome e prestígio social.

Algo que considero muito positivo é a grande quantidade de pessoas que formaram parte da Nova Acrópole ao longo do tempo. Todos os anos milhares de pessoas beneficiam dos nossos cursos de filosofia, actividades culturais ou acções de voluntariado. Algumas incorporam-se na nossa organização, outras preferem colaborar esporadicamente, e outras, enfim, não querem juntar-se. Mas todas estas pessoas comprovaram os nossos esforços a favor de uma sociedade melhor.

Também há gente desagradada. Que responde aos que criticam a Nova Acrópole?

Que têm todo o direito a fazê-lo, que estão no seu direito.

Dada a maravilhosa diversidade e complexidade da natureza humana, não se pode pretender ser estimado e aceite por todos. Está fora de qualquer lógica.

Acredito, além disso, que a crítica pode ser muito construtiva se se conseguir desligá-la da malícia e da carga negativa que muitas vezes arrasta.

Não há que dramatizar com isto, pois é próprio dos seres racionais analisar, discutir, comparar raciocínios, submetê-los a exame e, finalmente, escolher. Se se eliminasse esse direito à crítica, estaríamos a limitar a liberdade humana e a eliminar uma parte importante da Filosofia, pois o pensamento crítico de submeter a análise e consideração a própria vida com todos os seus condicionalismos, é muito próprio dos filósofos.

E como explica que tenham existido detractores, sobretudo no passado?

Com certeza que há que transportar-se ao passado para encontrar este tipo de mal-entendidos. De facto, são situações que, dada a minha idade actual, não conheci de maneira directa.

Mas, segundo a minha opinião, foi um problema de falta de compreensão. Talvez provocado pela complexidade desta Escola de Filosofia à maneira clássica, que trata de reunir a teoria e a prática na sua concretização, como Ideal Filosófico que aspira a melhorar o mundo e os seres humanos, e que desde o princípio se viu que era um Movimento capaz de estender-se a nível internacional.

Inclusive, muitos membros da Nova Acrópole dessas primeiras épocas, aos quais há que agradecer o seu esforço e a sua dedicação, não entenderam muito bem as características profundas da Nova Acrópole. Não entenderam que era algo que vinha do mais remoto passado e que, portanto, era algo totalmente novo e desligado de qualquer comparação com tudo o que até então conhecíamos no século XX. Cometeram-se erros que se corrigiram gradualmente. E esta atitude de autocorrecção é válida agora e em todo o momento futuro, pois o espírito de autocrítica não pode desaparecer da vida filosófica.

Devemos ainda acrescentar que tudo o que é novo, quando surge, necessita um tempo de adaptação ao entorno, e também necessita tempo para mostrar através do seu desenvolvimento o verdadeiro potencial e as vantagens sociais que possui.

Infelizmente, é inevitável que sempre existam na sociedade pessoas que “vivem” de críticas, difamações e sensacionalismo.

Mas, de qualquer forma, as reações perante a nossa proposta filosófica não supõem nada de novo para uma Escola de Filosofia com raízes profundas que poderíamos denominar esotéricas. É uma constante que se repetiu ao longo dos séculos.

Que importância dá Nova Acrópole ao esotérico?

O termo “esotérico” significa “mais dentro”. Entende-se, portanto, aquilo que está oculto, que é interior, sendo o exotérico o exterior.

Universum. Versão colorida da gravura Flammarion (1888). Creative Commons

Na Nova Acrópole entendemos por esotérico o interno, o ser das coisas, o que se esconde ao nosso olhar, mas que é essencial.

Todas as coisas e seres vivos têm uma parte exterior, visível e uma parte interior que é o seu alicerce. Por exemplo, um edifício tem paredes, portas, janelas que estão à vista. Isto será o exotérico. Mas também tem uma estrutura composta por pilares, vigas e armações que é o seu esqueleto, que o sustém, o esotérico. E isto não é visível, de início.

No universo vemos planetas, estrelas, galáxias. São corpos feitos de matéria mais ou menos subtil, são o exotérico. O porquê da sua existência, a vida que anima estes corpos, a sua finalidade, será o esotérico.

Todos os dias realizamos actos que têm uma aparente razão prática, mas por detrás das nossas atitudes exteriores estão os verdadeiros motores dos nossos actos. Estes motores que são de ordem metafísica (no sentido de que vão para além do físico) formam a parte esotérica dos seres humanos.

Por isso falamos na Nova Acrópole de Filosofia das Causas, também conhecida como Filosofia Natural ou Esotérica, porque interessa-nos entender o porquê das coisas, as suas causas ocultas, que podemos perceber com a razão ou a intuição, se conseguirmos desenvolver uma maior sensibilidade, e uma maior capacidade de relacionar e integrar os elementos que nos rodeiam.

Árvore Cósmica Yggdrasil. Domínio Público

Porquê na Nova Acrópole têm igual valor a Filosofia do Oriente e do Ocidente?

E porque não? Não podemos empenhar-nos a negar o legado filosófico do que chamamos Oriente, povos como o indiano, o japonês, tibetano, chinês e outros, sem esquecer o contributo da filosofia do Ocidente. O problema é que ainda existe muito racismo latente, e não só no contexto físico. A vaidade e o racismo intelectual é muito pior que o racismo físico, e ainda mais o é a soberba e o racismo espiritual de acreditar ter a posse exclusiva da verdade.

Que papel têm as chamadas Forças Vivas na Nova Acrópole?

São grupos integrados por membros que livremente escolhem dedicar tempo e esforço para apoiar directamente o funcionamento vital das sedes. São, além disso, níveis de vivência, isto é, experimentação interior e exterior com a colocação em prática de conhecimentos e exercícios que podem ajudar a avançar pelo caminho da filosofia como forma de vida, como nos recomendam os clássicos do Oriente e Ocidente.

Em concreto, trata-se de dar Vida às Forças que temos dentro e também de conhecer e aproveitar as Forças da Vida. Estamos a falar de algo importante, e isto supõe a existência de certos requisitos nos componentes destes grupos, como seja a honradez e o bom senso, para citar alguns. Nem todos são admitidos, e isto pode provocar uma sensação de frustração naqueles que não são aceites e certas atitudes hostis, mas é um risco que há que correr.

Voltando ao nosso mundo, pode assinalar algum erro que considere fundamental na actualidade?

Do meu ponto de vista, o maior erro continua a ser confundir os meios com os fins.

Um claro exemplo é a Economia. A Economia deveria ser considerada um meio útil e necessário para a criação e conservação de estruturas, mas jamais um fim em si mesma.

Teria de servir para melhorar as oportunidades educativas e conseguir que a educação chegue a mais quantidade de população no mundo. Teria de servir para aliviar o esforço de trabalhos pesados, mecânicos e repetitivos. Teria de servir para dotar de possibilidades de desenvolvimento os seres humanos, mas em todos os âmbitos.

A ânsia por possuir, acumular bens, tem como consequência prejudicar outros, fomentar excessivamente a competitividade e a exploração dos outros para obter maiores lucros. É nefasto, de uma perspectiva humana e de uma projecção para um futuro melhor.

Na Nova Acrópole, por exemplo, financiamo-nos essencialmente com as quotas mensais com que contribuímos todos os sócios, com a venda dos nossos livros e com pequenos ateliers internos que cumprem funções de auto-abastecimento. São pequenas quantidades que permitem manter os nossos locais abertos e desenvolver uma série de projectos culturais e de voluntariado.

Apesar da economia dirigir e governar neste momento o rumo da humanidade, não pensamos que constitua a única força de progresso para os povos e indivíduos.

Qual é a sua opinião sobre o materialismo?

Desde há muito tempo esta é a ideia dominante que move o mundo. E é a ideia que acabou por impor-se no campo da política, da ciência, da economia, da educação e também, infelizmente, da moral. Penetrou no coração dos nossos lares e no cérebro das pessoas. A mentalidade materialista rege a vida da imensa maioria dos habitantes do planeta.

Isso é bom ou mau? Certamente é uma experiência que a humanidade necessita viver em conjunto. Talvez seja necessário esgotar o caminho do materialismo para que regressem outros valores da existência humana. 

Neste momento não é descabido reconhecer que os cientistas materialistas chocaram com um grande obstáculo: esclarecer como da evolução aleatória da matéria chegou a surgir a Consciência. Sabemos muito acerca do comportamento da matéria, mas não sabemos o PORQUÊ.

A educação, a política e a economia baseadas no materialismo também fracassaram. Os povos, em geral, não são mais felizes apesar de terem mais posses materiais e mais comodidades (nalgumas zonas do planeta muitíssimo mais que noutras). Há que reconhecer que não se conseguiu erradicar a fome, a pobreza e a tremenda desigualdade que reina no planeta.

Podem conjugar-se a Política e a Filosofia?

A Filosofia pode conjugar-se com qualquer faceta própria do ser humano: com a Arte na capacidade de captação do belo, com a Ciência no seu afã de chegar ao verdadeiro, com a Religião na sua expressão do bom, e com a Política na necessidade de justiça.

Precisamente, para regular a convivência em sociedade necessita-se estabelecer de maneira clara os direitos e deveres dos cidadãos, e aí entra o conceito de Justiça. Já desde a antiguidade, tanto Confúcio como Platão (entre outros), foram eco desta busca do justo, e o diálogo de Platão “A República” é talvez o texto mais significativo.

Isto demonstra-se pelas frequentes críticas que recebe, pelos grandes elogios e inúmeras referências que podemos encontrar em obras de autores posteriores, desde contemporâneos de Platão até aos nossos dias.

Pessoalmente, não creio que a intenção do filósofo ateniense fosse a de conseguir edificar uma sociedade ideal formada por seres humanos perfeitos, mas sim de contribuir com reflexões e possíveis soluções aos numerosos males dos diferentes regimes das cidades gregas da sua época. De facto, em “As Leis”, um diálogo posterior, modifica alguns argumentos da “República”.

Platão é considerado totalitário nalguns ambientes intelectuais.

Penso que também é justo dizer que, para a grande maioria dos investigadores intelectuais sem preconceitos, Platão adquire a categoria de sábio. Na antiga Grécia, o conceito de sábio era muito amplo: implicava ser filósofo, matemático, cientista, médico da alma, poeta, assessor político… um conceito de “totalitas”, de totalidade. Isto é contemplado por Platão quando propõe uma formação cidadã baseada numa educação integral que abarcasse os vários aspectos da natureza humana.

Aqueles que criticam Platão esquecem-se de mencionar as obrigações que o grande filósofo estipula para a classe dirigente.

Actualmente os conselhos de Platão continuam a ser válidos como por exemplo para os GOVERNANTES:

– Devem ter demonstrado o seu amor pelo bem comum mediante serviços voluntários e altruístas, e o seu grande amor pela virtude mediante uma vida privada exemplar.

– Não disporão de bens próprios, apenas de uso. Ou seja, não podem enriquecer no desempenho do seu cargo.

– Não utilizarão a demagogia para manipular o povo.

– Antes de serem nomeados, serão postos à prova para verificar a sua suficiente capacidade moral e intelectual.

– O exercício do poder deve entender-se como um sacrifício. 

E ainda há mais requisitos…

Que exigimos aos políticos que nos governam? Que critérios seguem os partidos para seleccionar os seus candidatos? É uma boa pergunta.

Pode melhorar-se a democracia?

Sem qualquer dúvida, tal como pode melhorar tudo o que existe à face da Terra. Na minha opinião, deveria realizar-se um verdadeiro esforço em avançar na conquista do bem comum, mais além dos interesses partidários de um ou outro sector.

Os confrontos, às vezes quase irracionais entre diferentes facções, ocasionam uma série de marchas e contra-marchas que atrasam o avanço geral. O afã em desqualificar o adversário, a falta de ética na hora de cumprir as promessas eleitorais, o peculato e duvidoso financiamento de muitos dos partidos e a escassa preparação de alguns candidatos é algo que, sem dúvida, se pode melhorar.

Também há que prestar muita atenção em melhorar a educação, porque é o sistema que mais necessita dela visto que o cidadão pode escolher periodicamente nas urnas. Para pensar e decidir todos necessitamos de uma educação contínua. E, sobretudo, é necessária para dirigir outros.

O Prof. Jorge Ángel Livraga, fundador da Nova Acrópole, ensinava que os sistemas são bons se os seres humanos que os compõem forem bons. E deixam de sê-lo quando os seres humanos que os formam se tornam corruptos e ineficazes.

Qual é a posição da Nova Acrópole perante a Religião?

É a mesma que tiveram todas as Escolas de Filosofia ao longo do tempo, isto é, de absoluto respeito perante as diferentes formas religiosas, mas essas formas não podem ser impostas nem dogmáticas.

Para a maioria das pessoas, pertencer a uma religião advém do lugar geográfico no qual se nasceu, e pelo entorno familiar. Mas é inegável que à medida que se desenvolve a capacidade de introspecção e de reflexão, tarde ou cedo, cada indivíduo considera a sua postura perante o que podemos chamar O Sagrado.

Essa posição considero-a muito íntima e muito livre, porque intervém a mente, o coração e a consciência. E creio que, mesmo os que se confessam ateus, mantêm essa relação no seu interior.

A uns lhes servirão as formas religiosas estabelecidas, outros adoptarão as suas próprias formas religiosas; para uns será uma conexão baseada em elementos objectivos, e para outros será um encontro altamente subjectivo. É um bom exercício de tolerância para todos.

Mas a questão é que ninguém pode ser dono da espiritualidade dos outros.

O imperador mogol Aquebar (1542-1605), um pioneiro no diálogo inter-religioso. Domínio Público

Porque é tão importante o simbólico?

É possível que forme parte da conexão com esse Mundo Inteligível e Superior de que falava Platão. Há que ter em conta que a lógica e os seus mecanismos têm as suas limitações, próprias de um mundo linear. Mas numa realidade não linear, as características do Tempo e do Espaço são modificadas e, por consequência, a Consciência é afectada de maneira diferente: há um aumento e expansão da Consciência que repercute numa captação mais profunda e subtil da Realidade.

Não me refiro ao subconsciente nem ao inconsciente, mas sim, se me permite a expressão, ao supraconsciente. Uma dimensão superior da Consciência, onde ganha vida um conhecimento sem intervenção dos sentidos e onde as experiências actualizadas estão sob o completo domínio do indivíduo. Os símbolos ajudam-nos a exercitar as analogias que os relacionam com as ideias superiores.

Porque as pessoas utilizam símbolos? Estão presentes no mundo comercial, no social, no transcendente e até no quotidiano.

Para começar, posso dizer que parece que existe uma necessidade de pertencer a algo, e isso leva à utilização de anagramas, símbolos e emblemas como meio de reconhecimento. São usados por funcionários de grandes e pequenos comércios, pelas marcas de roupa e calçado, associações desportivas e culturais, corporações financeiras, etc. O uso dos símbolos é algo presente em todo momento e lugar.

Mas também é possível que todos saibamos, de maneira natural e inata, que necessitamos alcançar estados elevados de consciência, intuitivos, que nos permitam ir mais além dos limites do plano conceptual.

Quiçá porque o mundo simbólico configure a grande diferença evolutiva que distingue os seres humanos de outros reinos: o imaginário simbólico está presente quando nos casamos, quando acabamos os estudos; quando alguém nasce e vem ao mundo colocamos-lhe um nome, e nos despedimos no final da sua vida, tudo de maneira simbólica. As pessoas levam anéis, colares, roupas e cores… inclusive as tatuagens, tão na moda hoje em dia, são uma aproximação ao mundo dos símbolos. Como podemos comprovar, algo tão humano como o riso e o choro não podem compreender-se se eliminamos o seu fundo simbólico.

Há que ter em conta que há símbolos que têm idêntico significado em todas as civilizações ao longo da história: a mão aberta ou fechada, a roda como construção e como ciclicidade, o fogo em relação à sabedoria, águia como mensageira, o Sol como Senhor do Céu…

Como curiosidade, chama-me a atenção o bom acolhimento que tem nos espectadores as séries e filmes nos quais os guionistas empregam esta linguagem simbólica.

Também da Nova Acrópole usamos símbolos segundo a actividade que estamos a realizar: desporto, voluntariado, ateliês artísticos, artes marciais e filosofia propriamente dita. Na nossa escola de Filosofia dedicamos muito tempo a analisar os símbolos relacionados com o sagrado nas diferentes civilizações.

E nas nossas celebrações filosóficas das estações do ano também estão presentes os símbolos relacionados com a Primavera, o Verão, o Outono e o Inverno.

Que conselhos daria alguém que sente que a vida não tem sentido?

O primeiro conselho é que aprenda a fazer-se perguntas. Se essa pessoa é capaz de fazer-se perguntas, e não encontra a resposta, talvez não esteja a procurar de maneira eficaz, nem no lugar adequado.

Eu lhe diria que busque dentro de si mesmo e não fora, porque há respostas que não podem chegar do mundo externo. Que procure perceber os valores que guarda no seu interior e, à medida que os vá desenvolvendo, encontrará naturalmente os pontos de conexão com a vida.

Porque aqui há outra questão, não menos importante: se a Vida tem sentido (e vamos supor que tem) como podemos perceber esse sentido da Vida? Com que tipo de sentidos? É óbvio que necessitamos desenvolver algumas forças latentes, por exemplo, o poder perceber o sentido da Vida.

E onde reside a autêntica força?

Sem dúvida alguma no desenvolvimento da Consciência, como finalidade, e na educação como meio para alcançá-la.

O Prof. Jorge Ángel Livraga ensinou desde o início que Educação é a utilização da cultura para acelerar a evolução humana, para efectuar a sua transmutação. Insistiu assinalando que educar não é torcer ou forçar naturezas, mas sim libertá-las do jugo instintivo e das estreitezas psíquicas e espirituais que as aprisionam e são causa de sofrimento.

E isto é possível porque todo o ser humano nasce com determinadas potencialidades e qualidades latentes que pode desenvolver se for educado de maneira adequada.

Dizia o Prof. Livraga que a verdadeira pedagogia consiste em informar sem enganar, instruir sem politizar e educar sem deformar, com o objectivo de conseguir um cidadão consciente, feliz e útil que saiba manejar as mãos, o coração e a mente.

E talvez também possa actualizar-se um elemento superior ao estritamente mental, como seja a imaginação e a intuição, para conhecer o mundo onde vivem os grandes Ideais, as Ideias arquetípicas, os mais puros Sonhos.

Tem que ser difícil chegar a ser professor na Nova Acrópole

É uma questão de capacidades demonstradas, estudos realizados e méritos alcançados.

Aqui necessito explicar brevemente que a Nova Acrópole é uma Instituição de carácter educativo reconhecida oficialmente como uma Organização Internacional sem fins lucrativos.

Ao tratar-se de uma Instituição de carácter privado pode, por estar legalmente reconhecida, criar modelos próprios de formação académica, seguindo sempre uma lógica que não é diferente das instituições oficiais.

Assim, os nossos Graus Académicos estão inspirados nos modelos utilizados nas Universidades europeias. É o que se conhece como o Sistema de Bolonha que se está a aplicar a nível geral.

Neste sentido, as Universidades utilizam dois tipos de Graus: os chamados Graus oficiais e os chamados Graus de ensinamentos próprios.

Seguindo o modelo de Ensinamentos Próprios, e dado que o nosso Programa de Estudos é muito amplo, configurámos os nossos Graus Académicos em: grau de Expert, grau de Especialista, e dois níveis de Grau Master.

Os nossos professores pertencem a algum destes Graus.

E além disso, e não menos importante, hão-de ser um claro exemplo de cumprimento do Código Deontológico ao qual estamos todos comprometidos. Se há uma falta demonstrada ao Código de Ética não podem formar parte do Colégio de Professores e são excluídos como tais.

O que pensa que conseguiu a Nova Acrópole até agora e que tem que conseguir ainda?

De todos os êxitos e conquistas que se acumularam nos 65 anos de vida deste Ideal filosófico, vou ressaltar o ter conseguido que a Convivência e a Fraternidade seja uma realidade em milhares de jovens dos cinco continentes, pois a Nova Acrópole está formada por mulheres e homens de todas as raças, de diferentes culturas e crenças religiosas ou de nenhuma, de todas as condições sociais. Para nós, a categoria de ser humano está muito por cima de qualquer outra consideração sectária.

O nosso labor proporciona conhecimento, com um enfoque ecléctico e não dogmático, e foi reconhecido em vários países como “de interesse público”.

Que temos que conseguir?

Temos que encontrar a maneira adequada de ser correctamente compreendidos. Temos que conseguir que a nossa voz chegue a vibrar em muitos mais corações para que possam encontrar-nos todos aqueles que nos estão a procurar.

Escolha você mesmo as palavras finais desta entrevista…

Então vou acabar falando de filosofia, porque já sabemos que num universo curvo os Princípios e os Fins convergem. E volto a afirmar a sua necessidade e a sua utilidade.

Filosofia é estabelecer uma verdadeira relação entre os conhecimentos objectivos que temos do mundo e a subjectividade da nossa parte interna (que nem por isso é menos real, antes é outra realidade).

Uma RELAÇÃO VERDADEIRA dá-se quando os actos correspondem a uma maneira de sentir e pensar. E esse sentir e pensar deve estar em concordância com a união e síntese das nossas experiências objectivas e subjectivas, isto é, à nossa experiência da vida.

Isto implica que, com uma correcta atitude, a Filosofia particular de cada ser humano melhorará com o tempo pois as nossas experiências de vida também podem ser cada vez mais profundas e mais subtis.

A Nova Acrópole é um campo de experimentação, externo e interno, que oferece a possibilidade de melhoramento individual e de melhoramento colectivo. Nova Acrópole é um mundo pleno de possibilidades. Tal como a própria Vida. É Filosofia em acção.

 

Publicado na revista Esfinge em 1 de outubro de 2022.

Imagem de destaque: Carlos-Adelantado. Bibblioteca Nueva Acrópolis