O ser humano necessita, de maneira natural, de espaços mais ou menos fechados para habitar; esse é o seu espaço vital… o “território” que marcam os animais. É algo imperioso para todos nós fixar-nos certas metas, superar provas, sofrer fracassos, festejar os triunfos e mil outras coisas que nos mostram o horror ao vazio que subconscientemente sentimos.
A essa necessidade a nossa psique responde para que demos grande importância aos anos, segundo a cronologia aceite, e também aos nossos anos pessoais que vamos cumprindo, os primeiros muito esperançada e triunfalmente, pois vamos deixando para trás as limitações da infância; depois, com certa indiferença, e ao final, com um certo “apuro interior” em fazer as coisas, pois bem sabemos que para além das bondosas felicitações, da luz de muitas velas, o azeite da nossa lâmpada vital se está a acabar e ninguém gosta de deixar uma vida sem ter plasmado coisas bem feitas, projetos em boa marcha, livros ou trabalhos, ou versos, ou… tantas coisas!
E, de cara a cada ano, muitos de nós nos fazemos a pergunta de como enfocar o ciclo novo de uma maneira também nova, fazer progressos evidentes e dar-nos as satisfações que não pudemos no ano precedente.
Mas és um filósofo… nunca o esqueças… nunca!
Há uns mil anos, outros filósofos, que eram além disso cabalistas, comparavam o crescimento de um homem com o de uma árvore. Não recordo exatamente a parábola… mas referia que a uma árvore, para que cresça, devemos dar-lhe um cuidado especial desde a sua juventude, regá-la, podá-la e libertá-la de mazelas; pouco a pouco, insensivelmente, irá crescendo e engrossando, graças ao bom jardineiro que não esquece que o melhor jardineiro é Deus. As técnicas de mecanicismo psicológico que te recomendam observar-te dia a dia cuidadosamente para atestar o quanto cresces são nefastas, pois engendram angústia, já que ninguém pode ver o seu crescimento dia a dia. Assim, o homem tonto olharia a árvore querendo vê-la crescer de instante a instante. O sábio simplesmente cuida dela e sabe que cresce, coisa que constata muito de vez em quando, sem surpresa e sem angústia.
Assim hás-de fazer tu contigo mesmo. Não te dês demasiada importância… sê humilde e laborioso… rega e cuida a tua árvore interior (a tua Coluna de Estabilidade) a toda a hora e diariamente, mas não vivas pendente de quanto progrides. Deves ter a segurança interior de que progrides, mas não a angústia psicopática de uma vigilância que termina em auto-hipnose e a loucura surda de sentir-se fracassado. Tem fé, alegria e esperança, tem também orgulho interior… És filósofo!… Não estejas pendente do fruto da ação nem sejas vítima dos encantamentos dos jogos da ilusão. Assim, encara este ano com simplicidade, quase, quase, como se não existisse, com sabedoria e serenidade.