Disseram-me que os Deuses desapareceram da Terra, e que Eles não passaram de ingénuas mentiras que outrora, frente à fatalidade do assombroso acaso, os homens inventaram para afugentarem os seus medos. Frágil argumento que só serve para justificar a nossa ignorância. Nas antigas Religiões e nas suas Cosmogonias, as potências criadoras antropomorfizadas representavam os estados progressivos de revelação do Ser omnipresente em todos os fenómenos. Cada Deus é como um escalão de um complexo sistema matemático, que desde a sua essência imaterial se multiplica até à produção de infinitos corpos materiais.

As causas invisíveis produzem fenómenos visíveis, mas só conseguimos ver aquilo que a nossa mente é capaz de ver e compreender e assim se justifica que o acaso não seja mais que o tamanho da nossa ignorância. O homem de saber deve possuir rigor e objectividade para não confundir intuição com fantasia. O Filósofo estoico romano Séneca afirmava que “o sábio devia-se comportar no templo do mundo como o crente no templo de Deus”, querendo dizer-nos através deste aforismo que tivessem respeito e cuidado para não desformar a verdade afirmando aquilo que se ignora ou deformando a verdade por pura conveniência quando a sabemos.

Os nomes que vamos atribuindo às coisas variam conforme os tempos, Deuses ou Potências, elementos ou substância, hologramas ou aparições, atracção ou simpatia, Via Láctea ou mar de leite, Deméter ou natureza. Hoje a pergunta de “como” funciona o mundo proporcionou-nos respostas científicas cada vez mais precisas, no entanto continuamos com os mesmos “porquês”, no que diz respeito às nossas eternas perguntas existenciais: Quem eu sou? De onde eu venho? e para onde eu vou?

Afinal tudo está em tudo, quem detém a resposta final? A ciência ou a religião? A ciência antiga era filha dos mistérios do mundo e os mitos constituíam metáforas simbólicas com vários níveis de interpretação que só eram transmitidos àqueles que se tornavam dignos de os receber. Deste modo, na antiguidade não existia uma separação entre religião e ciência; o que sim existia era um véu púdico que só podia ser levantado na medida que os olhos da alma estivessem preparados para comtemplar a luz pura. Viver para a verdade era também iniciar uma morte progressiva para abandonar o mundo das aparências, isto exigia um sacrífico em detrimento dos prazeres fugazes que a vida mundana proporcionava.

Elêusis foi um trampolim e um ponto de reencontro entre os mistérios da natureza e do homem, onde a ciência e a religião se aliaram para dar ao homem um sentido e um destino comum partilhado desde do ventre da terra com os ciclos da semente, que germina, vive, morre e renasce de novo, e a vida da alma humana que depositada num corpo aprende a renascer através do seu próprio esforço.

Os verdadeiros mistérios nunca foram da exclusividade do passado. Os verdadeiros mistérios estão omnipresentes em qualquer época e lugar do mundo, nascem quando o homem desperta para a busca sincera da Verdade, iniciando a sua viagem interior, tendo o cosmos como templo e a sua natureza como matéria de estudo. Pouco importa o caminho que escolhemos porque todos eles convergem no sentido único do Universo (uni-versus = um só sentido). Os caminhos são tão variáveis como a diversidade de formas através das quais a vida se revela, seja ela a trajetória do átomo ou a expansão de uma galáxia, pouco importa o tamanho de cada coisa, o importante é a nossa participação no mistério da vida, oportunidade única de presenciar agora um pouco desta verdade que fez do homem a chave mestra que abre todos os segredos da natureza.

Os mistérios foram também uma porta de salvação para o povo, um lugar de regeneração e de redenção ou ”métanoia” para aqueles que procuravam uma resposta aos seus sofrimentos. Deméter, a Deusa mãe, venerada no santuário de Elêusis, era uma Deusa sofrida, pela perda da sua filha, a jovem Prosérpina; do mesmo modo encontramos no Egipto a Deusa mãe Isis que chora a morte do seu esposo Osíris; no Cristianismo Nossa Senhora das Dores que chora a morte do seu filho Jesus. São alguns dos muitos exemplos que podemos encontrar em todos os cultos e religiões, neles realça-se o valor da esperança do renascimento cíclico da natureza ou a ressurreição dos seus filhos prediletos que são a base dos grandes dramas litúrgicos das religiões mistéricas.

O sofrimento causado pela perda e a morte dos entes queridos ou o desaparecimento cíclico da vida vegetativa que ocorre durante o período invernal, levaram a humanidade a aceitar com fervor aqueles deuses que como eles, sofrendo e desafiando a morte, voltam a produzir o milagre do renascimento. Ao Chorar o seu drama, o homem exorcizava a sua própria dor; jubilando pela sua vitória partipava da sua imortalidade. A importância regeneradora destes festivais sagrados, que comemoravam a reconciliação do homem com a natureza, tornou-se na Grécia antiga o alicerce da civilização. Num mundo ferido e sacrificado pelas guerras, lutas de poder e práticas de cultos orgásticos ancestrais, alguns degradantes, fizeram de Elêusis um dos mais importante centros de unificação dos valores que irão dar à Grécia do século VI a.C. a sua projecção em todo o mundo mediterrânico.

Origens dos Mistérios

“Mais celestes do que aquelas estrelas cintilantes nos parecem os olhos infinitos que a Noite em nós abre. E eles veem, mais longe do que os mais ténues desses inumeráveis exércitos [….] glória à rainha do mundo, à grande mensageira de mundos sagrados, a do amor extasiado.” – Novalis

A religião dos mistérios, como vimos anteriormente, é muitíssimo antiga e os historiadores dão a Creta, berço das civilizações helénicas ou da Trácia, o ponto de difusão dos mistérios. A região histórica do sudeste da Europa denominada Trácia, antiga região macedónia, era habitada por populações de raça pelásgica. A Trácia foi um corredor natural para os povos Indo-Europeus que passavam em direção à Grécia (Aqueus, Jónios, Eólios e Dórios) ou à Anatólia (Hititas, Frígios, Celtas). Foi povoada pelos Trácios, que deram o nome ao país, e sofreu invasões pelos Citas. Os Trácios, segundo Heródoto, são descritos como tendo uma população considerável, apenas comparada com a Índia nessa mesma época. A tradição atribui a Eumolpo, nome grego, (Εύμολπος, que significa bela melodia) a fundação dos mistérios.

Este rei mítico seria descendente de Poseidon, o Deus dos oceanos e de Quióne, filha de Bóreas. Era representado acompanhado de um cisne, símbolo do pontifício sagrado e do rei poeta (o Aedes) inspirado por Apolo, o deus hiperbóreo da luz e da verdade. Também se atribui a Orfeu, originário da Trácia, a divulgação dos Mistérios.

A antiga veneração da Deusa ctoniana, mãe da agricultura e dos ciclos de renovação, dos Pelágios da Arcádia, da qual a Deusa Deméter é uma reminiscência, pode ter contribuído para mais tarde, através de novos mitos, atribuir a Triptolemo, príncipe de Elêusis, a função de difundir os segredos da agricultura que a Deusa Deméter lhe teria ensinado para agradecer a hospitalidade concedida durante o seu exilio na terra. Outra versão da autoria de Diodore de Sicilia situa a fundação dos mistérios no ano de 1423 a. C. pelo rei Erectée nascido no Egipto.

 

O DRAMA ELEUSINO

O mito de Deméter e da sua filha Perséfone possui duas chaves de interpretação, por um lado, um mito agrário, por outro lado um mito profundo revelador das metamorfoses que ocorrem com a alma humana durante a sua permanência num corpo terreno.
O mito agrário relata o drama vivido pela Deusa Deméter, encarnação do poder fecundo da terra, quando a sua única filha, a jovem e pura Perséfone, (Koré a virgem) atraída por um belo narciso dourado (narkissos, flor conhecida pelos seus efeitos narcóticos) se afasta das planícies do Olimpo e é raptada por Hades, Deus dos Infernos.

Num grande desespero, Deméter começou a percorrer o mundo de lés-a-lés, em busca da sua filha, abstendo-se de todo o alimento, envelhecida pela dor com o rosto coberto do negro véu do luto, abandonou ao descuido todas as suas tarefas. Acabou por conseguir que Apolo, o Deus Sol, que tudo vê, lhe revelasse o nome do raptor da sua filha. Decidiu então não mais voltar ao Olimpo, a morada dos deuses, e renunciou às suas funções divinas até que a filha lhe fosse devolvida.

A terra foi ficando estéril e os homens com fome, pois as culturas secaram e acabaram por morrer. Tudo era devastação e abandono. Então Zeus, o rei do Olimpo responsável pela ordem no mundo, preocupado com a calamidade causada por Deméter mandou o seu mensageiro Hermes para resgatar Perséfone. No entanto Hades não pôde devolver de forma definitiva Perséfone, pois a jovem incentivada por Hades, comera 7 bagos de romã, fruto infernal que representa as sementas dos desejos que aprisionam a alma, quebrando então o voto de jejum que permitia aos vivos de saírem ilesos dos infernos.

 

Por isso ficou o seu regresso condicionado a um período de dois terços do ano que passaria junto da sua amada mãe e o último terço voltaria a viver junto do deus dos infernos.

O significado do mito representa, através da imagem do regresso de Perséfone junto da sua mãe, o período do ano agrícola onde toda a natureza parece renascer depois da dolorosa letargia do inverno e que está associado à permanência de Perséfone nos infernos. Nas planícies de Elêusis, nome que significa literalmente “aquele que chegou”, festejavam-se os pequenos mistérios na chegada da Primavera. Período propício para a realização das bodas sagradas onde Deméter, agora transfigurada na imagem primaveril de Perséfone, reencontrava o Deus Dionísios, a potência vital da natureza, o fogo que dorme na seiva durante o inverno.

As celebrações principais realizavam-se no grande templo de Elêusis: o Télestérion. O povo reunia-se em júbilo à volta da espiga presente que Deméter tinha entregue à humanidade, símbolo da promessa da eterna vitória da vida sobre a morte. Para os sacerdotes de Elêusis estes ritos marcavam a renovação do pacto de aliança entre a natureza e os homens. Deméter foi chamada de Thesmosphore: aquela que dá a lei, porque para além da invenção do trigo ensinou aos homens a trabalhar respeitando a paz que nasce da justa partilha das bonanças da terra. As Thesmophories eram também festas celebradas em Atenas em honra de Deméter; nestas cerimónias, só podiam participar mulheres casadas. Estas realizavam-se entre o dia 9 e 13 de Novembro. Nestas festividades, Deméter, a Mãe fecunda era considerada aquela que ensinou aos homens o cultivo da terra e consecutivamente as normas de conduta que regem o lar e a cidade. As mulheres que participavam nestas festividades deviam manter-se castas e jejuarem sentadas no chão.

 

 

Hino Órfico a Deméter Eleusínia

 

Deo, divina mãe de todos, deusa de muitos nomes,
augusta Deméter, educadora de jovens e doadora de prosperidade e riqueza;
Tu nutres as espigas de milho, ó doadora de tudo,
e tu te delicias na paz e no laborioso trabalho de parto.
Presente na semeadura, empilhagem e debulha, és o espírito do fruto não-maduro,
tu que habitas no sagrado vale de Elêusis.
És charmosa e amável, dás sustento a todos os mortais,
foste a primeira a pôr o arado no boi para lavrar a terra
e a enviar de cima a baixo uma adorável e rica colheita aos mortais.
Através de ti, tudo cresce e brota, ó ilustre companheira de Brómio
e, carregando a tocha e sendo pura, delicias-te com a produção do verão.
De debaixo da terra apareces e com todos és gentil,
Ó sagrada cuidadora dos jovens e amantes das crianças e da boa descendência.
Tu conduzes a tua carruagem com rédeas nos dragões,
e circulas o teu trono girando e uivando em êxtase.
Com filha única, mas com muitas crianças e muitos poderes sobre os mortais,
tu manifestas a tua miríade de rostos à variedade de flores e botões sagrados;
vem, abençoada e pura, e carregada dos frutos do verão,
traz paz junto com as regras de boas-vindas da lei,
riquezas também, e prosperidade, e saúde que nos governa a todos.

 

Apontamentos dispersos sobre os Mistérios

Depois de concluir a consagração da espiga, sendo a farinha de trigo a matéria prima utilizada para confecionar o pão, sustento essencial nas sociedades agrícolas, retiramos um ensinamento que constitui só por si um profundo mistério.

O processo alquímico que permite transformar a farinha lacerada em contacto com a água e o azeite, fermentando com o ar, depois cozida pelo fogo produz o pão da vida que também na última ceia de Jesus Cristo é um símbolo pascal do corpo que serve de nutriente e de oferenda no altar do fogo espiritual; é este o profundo significado da Eucaristia. A doutrina da Igreja Católica ensina que Jesus, antes de morrer, já se referia a este ritual sacramental:

«Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne. Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como pode este dar-nos a comer a sua própria carne? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos.» – (João 6:51-71)

Os grandes mistérios realizavam-se no início do Outono, o dia 19 do mês de Boédromion (Setembro) e duravam 9 dias, número que na matemática sagrada corresponde ao fim de um ciclo de manifestação. Os mistérios de Elêusis correspondiam aos dias que Deméter errou ao redor da cratera onde estava retida a sua filha, este período correspondia também à conclusão das colheitas e início das tréguas de 52 dias que interrompiam qualquer tipo de hostilidades entre as cidades gregas que participavam das festividades.

Iniciava-se então a grande procissão da estrada sagrada (22 km separava Atenas de Elêusis, caminho que devia ser feito a pé) com um primeiro rito de oferenda guiada pelo sacerdote “o Archégéte”, nome ao qual o poeta Aristófanes se referia como “a estrela flamejante da festa noturna”, durante a qual os mysthai (do grego, designação dos discípulos dos mistérios, significando insondável, inaudível), aqueles que têm os olhos fechados, transportavam as relíquias sagradas (as Hiéra) até ao Eleusinion, santuário que se encontra na base da Acrópole de Atenas. Só era permitido o acesso aos mistérios exclusivamente aos gregos que se encontravam de consciência e mãos limpas de qualquer impiedade ou crime. Duas famílias sacerdotais tinham a responsabilidade da organização dos mistérios, uma Eleusiana, os Eumolpides, e outra ateniense, os Kéryces, entre os quais eram escolhidos os portadores de tochas (a tocha era um dos atributos da Deusa). No hino homérico o nome etimológico de Eumolpos significa “aquele que canta” ou “aquele que possui o poder do verbo invocatório”. O hierofante, iniciado do mais alto grau, era incumbido de presidir ao momento solene do desvendamento das coisas sagradas.

Relatos falam de viajantes que “viram uma luz gigantesca, que partia de Elêusis, e uma caravana de trinta mil homens aproximadamente, que cantavam em coro o nome sagrado de Iachos, deus máximo de Elêusis juntamente com a deusa Deméter e a sua filha Koré – Perséfona”.

Enquanto que o primeiro dia dos mistérios representava a escolha voluntária do caminho discipular, que tem por finalidade conduzir a alma da ignorância do mysthai em direcção à luz da Verdade. O segundo dia (halade mysiai) que significa “para o mar”, representava a necessidade de purificação. Os aspirantes acompanhados de um pequeno porco que seria sacrificado, mergulhavam no mar. O porco constituía um dos animais escolhidos para os sacrifícios de Deméter.

   

Nos dias seguintes, uma vez chegada a Elêusis, os mysthai em perfeita abstinência recolhiam-se no recinto sagrado, agora selado para sempre pelo voto do silêncio. A tradição fala de uma dança ritual em espiral que se realizava com tochas (Eikas) em redor do poço sagrado (Kallichoros) por vezes chamado “a pedra triste” em memória das lamentações de Deméter, e que ainda hoje pode ser vista nas ruinas de Elêusis.

Na grande sala de iniciação, o telesterion, realizava-se o rito secreto de iniciação dos candidatos. A terceira e última parte dos mistérios chamava-se Epopteia, a revelação e recepção dos segredos, o último grau de clarividência que lhes permitia aceder à vivência da sua transfiguração, selado pelo voto de silêncio que caso fosse quebrado seria punido pela pena de morte.

“Feliz aquele que entre os homens da terra viu esses Mistérios, mas aquele que não é iniciado nos ritos sagrados, aquele que deles não participa, nunca tem um destino semelhante, mesmo o que está morto nas trevas brumosas.”

 


O destino das almas

“A meio da noite, eu vi o sol brilhar de uma luz resplandecente.” – Apoleio

“Devemos esperar em silêncio que a luz divina nos apareça, tal como o olhar voltado para o horizonte aguarda o sol que se vai levantar sobre o oceano. (…) Aqui, pomos de lado toda a aprendizagem; disciplinado a este ponto, alicerçado na beleza, aquele que busca ainda sustém o conhecimento do chão em que assenta, mas, de súbito, é arrastado para fora dele pela crista da onda do Intelecto que emerge por baixo dele, é elevado e vê, nunca sabendo como; a visão inunda-lhe os olhos de luz, não se trata porém de uma luz que mostra outro objecto, a luz é em si mesma a visão.” – Plotino Enéadas, V, 8 e VII

Para Plutarco (46 d.C. – 120 d.C), sacerdote em Delfos e iniciado nos Mistérios, os Mistérios de Elêusis referem-se às duas mortes, uma que ocorre na Terra, quando a alma se desprende do corpo e a segunda na Lua, onde se separa o Nous, ou dimensão espiritual, da alma. A primeira morte está relacionada com Deméter, e a outra associada à Lua está relacionada com Perséfone. Ambas as mortes são o prelúdio de uma iniciação, uma para o corpo e outra para a alma. O Homem seria então composto de três partes: o Corpo (Terra), a Alma (Lua) e o Espírito (Sol). Plutarco dizia que a lua é chamada de Trioditis: as três vias ou o caminho triplo, do qual Artemisa representava o crescente lunar ou nascimento, Selene a lua cheia ou maturidade, e Hécate a lua nova ou a morte. Proclo na sua obra de Facie: o rosto da lua (phusis ousia) comentava que a substância da lua, composta de terra e de éter era considerada uma mistura equilibrada de pesado e leve, em virtude do éter, misturado ao elemento terra, a lua é animada e fecunda para receber as Almas.

As planícies do Hades são o purgatório onde as almas uma vez separadas dos seus corpos vagueiam algum tempo. As almas culpadas são julgadas e lhes é dada a oportunidade de se redimirem, preparando-se novamente para o regresso a uma nova vida. As Almas justas permanecem nas planícies como o filho pródigo que reencontra a sua pátria, experimentando no mais puro êxtase as suas alegrias feitas de esperança e encantamento. Concluído o tempo suficiente para se purificarem e elevando-se no mais puro Ether alcançam a coroa de luz dos Bem-aventurados.

“Bem-aventurados aqueles que pela sua pureza e sabedoria moram nesta Terra superior, lugar de felicidade que os Gregos chamavam os Campos Eliseu e os Egípcios, os campos de Ialou.” – A religião dos egípcios de A. Erman

Aqui termina este memorial sobre Elêusis, como muitos outros estudiosos que tentaram fazer luz sobre os mistérios, não fiz mais que aproximar-me respeitosamente do vestíbulo do templo, sabendo como é fácil para a ignorância de fantasiar sobre a verdade e como filósofa eu também me reporto às palavra de Sócrates “eu só sei que nada sei”. O pouco que redescobri neste regresso a Elêusis, é que os deuses nunca nos abandonaram e que fomos nós que deixámos de caminhar na sua luz, porque eles são o pedaço de céu onde mora a nossa estrela e a terra interior que temos que cultivar.

Elêusis fez-me sonhar com esta Acrópole que devemos erguer de novo no rochedo das nossas pequenas vitórias sobre a ignorância que nos faz reféns da morte interior. Participando todos os dias na festa do divino sacramento da eucaristia conjugando o verbo amar em todas as parcelas deste universo maravilhoso onde nos cabe viver. Derramando das espigas cheias das nossa vivências as sementas que germinarão no caminho que nos levará um dia a ver na Planície da Verdade o Sol que brilha à meia-noite.

Bibliografia
Florence Quentin- articulo: Cultes á mystéres, l´âme purifiée
Guy Soury- la vie de l’au-delá. Prairies et Gouffres- Mort et Initiation
Dupuis- Origine de tous les cultes-Traité des mysteres