“A intuição é um canal que há entre nós e o Universo”
Albert Einstein
A fama e a importância mediática de um dos mais célebres e reconhecidos cientistas do século XX levaram muitas pessoas a se interrogarem sobre quais teriam sido as fontes de inspiração deste génio e das suas inovadoras teorias que mudaram o rumo da física.
Tal como muitos outros grandes cientistas da história, Einstein não se contentava só em entender como funciona o mundo, mas procurava também entender o porquê dessas leis e fenómenos, aproximando-se ao conceito de cientista filósofo, e ainda mais quando observamos quantas vezes foi repudiado e rejeitado pelas suas teorias e hipóteses, como quando expôs a sua teoria sobre o efeito fotoelétrico. Vejamos os comentários incrédulos de Robert Millikan “a equação fotoelétrica de Einstein… parece que prevê exatamente em todos os casos os resultados observados… No entanto, a teoria semi-corpuscular pela qual Einstein chegou à sua equação agora parece atualmente completamente insustentável”, descrevendo também a teoria de Einstein sobre as partículas de luz como uma “hipótese ousada, para não a chamar de insensata”. Longe de assustá-lo, as críticas não lhe importavam e soube manter firmes as suas ideias e convicções, muitas delas semelhantes a alguns conceitos da tradição esotérica.
Num artigo intitulado “Visitei o Professor Einstein”[1], publicado no jornal Ojai Valley News, da localidade Ojai Valley, Califórnia, EUA, em 28 de setembro de 1983, o escritor Jack Brown relata a visita ocasional que pôde fazer com o seu amigo Howard Rothman à casa de Albert Einstein em Princeton em 1935.
No mencionado artigo, Jack Brown relata que Einstein convidou Howard Rothman para a sua casa para discutir algumas das publicações sobre matemática e física que este tinha escrito para a revista Nature. Rothman concordou e levou como cronista Jack Brown que relatará alguns dos acontecimentos da sua visita, dos quais extraímos aqui alguns significativos parágrafos onde Einstein comenta algumas coisas sobre A Doutrina Secreta de Helena Petrovna Blavatsky:
«(…) o professor Einstein desceu com Howard da sua sala de estudo. Pediu uma sanduíche e uma bebida gelada. “Gostarias de ver o meu estúdio, jovem?”, disse-me o professor. “Sobe por um momento para testemunhar a desordem do meu local de trabalho.” Subi ao estúdio dele, e foi como eu esperava. Tinha duas grandes estantes com livros que iam do chão até ao teto; além de livros sobre a mesa, revistas, jornais, vários cachimbos usados por toda a parte, cartas, cadernos e, para minha absoluta surpresa, uma cópia de A Doutrina Secreta de Mme. Blavatsky, no canto do grande escritório. “O que faz este livro aqui?” Perguntei-lhe, incapaz de me controlar. “Porquê, não sabes?”, Respondeu: “Esta é a Bíblia dos teósofos. Tal como todas as religiões, eles têm a sua Bíblia. Surpreendemo-nos pela sua total diferença em relação com o Antigo ou o Novo Testamento. É um livro muito estranho, até disse ao prof. Heisenberg, meu colega físico, para obter uma cópia e mantê-la na sua mesa. Recomendei-lhe que recorra a ela quando estiver abstraído em algum problema. A estranheza deste livro poderia relaxá-lo ou possivelmente inspirá-lo. É como uma caixa de variedades e mistérios ambíguos, mas solenes. (…)”
Continuou com as seguintes observações: “Madame Blavatsky é um pouco extravagante (…), mas admito que encontro algumas observações interessantes no seu livro publicado, como você sabe, em 1888, numa época em que a física e a ciência estavam na sua infância. Por exemplo, aqui está algo que ela escreveu que me intriga, e estou impressionado com a forma como concorda com a física moderna.” Virou-se para uma página marcada com uma folha de papel nela [e disse].
“Cito de A Doutrina Secreta ‘Basta isto para mostrar quão absurdas são as admissões simultâneas da não divisibilidade e da elasticidade do átomo. O átomo é elástico, ergo o átomo é divisível, e deve estar composto de partículas ou subátomos. E estes subátomos? Ou não são elásticos, e nesse caso não têm importância dinâmica, ou também são elásticos, em cujo caso estão igualmente sujeitos à divisibilidade. E assim ad infinitum. Mas a divisibilidade infinita dos átomos resolve a Matéria em simples centros de Força, ou seja, exclui a possibilidade de conceber a Matéria como uma substância objetiva.’
“Há muitas outras afirmações dela que me parecem interessantes, mas para as quais não tenho tempo para falar agora”, concluiu.»
Noutros artigos também se menciona que uma suposta sobrinha de Einstein na década de 60 levou para a sede internacional da Sociedade Teosófica, em Adyar, uma cópia de A Doutrina Secreta com anotações do próprio Einstein, mas esta cópia nunca foi encontrada e diz-se que Einstein não teve sobrinhas.
Qualquer que seja a precisão do relato de Jack Brown, a verdade é que a citação mencionada por Einstein está na página 252 do segundo volume de A Doutrina Secreta, e este trabalho foi publicado em 1888, como nos lembra o cientista, quando o modelo do átomo existente para a ciência não era nada mais do que uma partícula indivisível e indestrutível seguindo o modelo de Dalton de 1803. Também é interessante notar que A Doutrina Secreta menciona o conceito de “centros de força” que tem semelhanças com a teoria quântica dos campos.
Uma vez mais vemos no esoterismo e na magnífica obra do HPB as fontes para uma compreensão mais profunda da natureza sem esquecermos que a chave do mistério final do macrocosmos, está no micro cosmos, em nós mesmos.
“A ciência não pode resolver o último mistério da natureza. E isso deve-se a que, em última análise, nós mesmos somos uma parte do mistério que estamos tentando resolver.”
Max Planck
“Os átomos preenchem a vastidão do espaço, e pela sua contínua vibração, são aquele MOVIMENTO que mantém em perpétua marcha as rodas da Vida. É essa obra interna que produz o fenómeno natural chamado a correlação das forças.”
H.P. Blavatsky
“… A ciência surpreende-se novamente. É claro que a antiga teoria do universo como criação dos nossos sentidos não era adequada, mas que novas ideias poderiam ser aplicadas para explicar isto? Foi Einstein quem expressou finalmente uma explicação na sua famosa Teoria da Relatividade, na qual propõe que não há nada certo no universo: que tudo é relativo. A consequência de pensar o universo de acordo com os termos da Teoria da Relatividade são surpreendentes, observem que apenas o vosso conceito do universo, que foi concebido pelos conceitos dos sentidos, é que resulta tocado. Einstein primeiro demonstrou que o tempo é completamente relativo, que não existe o «agora», senão apenas na mente do homem. Segundo, demostrou que o espaço é relativo e se transforma com o movimento. Finalmente, ele mostrou que a massa é relativa, e que se transforma à medida que a sua velocidade se aproxima à da luz. A estranha conceção do universo, que foi adotada a partir da teoria de Einstein, forneceu respostas precisas para aquelas perguntas às quais os métodos clássicos não podiam responder. As mesmas foram demonstradas como sendo certas, de maneira tão evidente e em tão pouco tempo, ao ponto de teres sido recebidas como verdadeiras pela ciência moderna.”
Sri Ram
Rubens Merlino (Uruguay)
Publicado em Boletim Pitágoras nº 4, ano 2015
[1] O artigo completo em inglês pode encontrar-se em: http://www.blavatskyarchives.com/brown/jackbrownoneinstein.htm