Para Platão a educação é um dos pilares fundamentais para a construção de uma nova sociedade, de um novo estado. Nos seus escritos, o grande sábio deixa-nos um riquíssimo legado no que respeita a esta questão, sendo por isso considerado o primeiro pedagogo cuja visão está sempre acompanhada de um ideal filosófico objetivado no Cidadão Justo e Virtuoso. Quando entramos na visão de Platão, acerca da educação, rapidamente percebemos a profundidade da sua filosofia educacional cujas características assentam essencialmente no Exemplo e no Amor. Mais do que nunca, a pedagogia de Platão revela-se essencial ante os problemas educativos actuais, onde a falta de consciência perante o acto educativo encaminha crianças e jovens para um abismo do qual são acusadas. Mas antes de criticarmos a orientação de um jovem ou o mau comportamento de uma criança, deveríamos procurar responsabilidades nos seus educadores familiares e sociais, a fim de detectar comportamentos e práticas educativas desajustadas e desorientadas.
Numa pequena reflexão sócio histórica, rapidamente captamos a natureza do período que nos coube viver, caracterizado por uma crescente crise de valores ao estilo de uma nova “Idade Média”. Com maior ou menor consciência desta realidade, o núcleo familiar, também ele desorientado, actua em dois padrões: total indiferença ou exagerada protecção, dois extremos que edificam crianças formatadas, sem limites, ou jovens desestruturados, sem sentido de esforço e sacrifício. Entendemos que a raiz do problema nasce da incapacidade do adulto transmitir estabilidade, tranquilidade, segurança, amor, presença e exemplo quando observamos impaciência, revolta, ausência de tempo e desequilíbrio de pensamentos e emoções. Com esta pequena análise deveríamos reflectir sobre a responsabilidade dos educadores, seja ao nível familiar ou social, consciencializando o dever para com o compromisso educativo, tendo sempre presente que a educação deve estar acima dos interesses egoístas ou discórdias pessoais. Por esse motivo, vamos retirar de Platão ensinamentos simples mas bastante profundos e eficazes para que todos os responsáveis possam colocar em prática, pois só assim é possível quebrar este perigoso ciclo vicioso.
A Educação
Como já referimos, Platão apresenta na sua obra ideias muito concretas acerca da educação. O normal seria pensar que o seu contributo apresenta-se teórico e de difícil compreensão, no entanto, tal como a própria filosofia, Platão é prático e incisivo no que respeita a esta e outras questões.
Na sua obra “A República”, Platão leva-nos a reflectir sobre a importância do acto educativo ao afirmar que “a alma tenra recebe facilmente tudo o que se lhe quer dar”, e por isso “a direcção na qual a educação se inicia num homem irá determinar a sua vida”. Se na primeira infância a criança se nutre de conflitos, instabilidade, desordem, mau exemplo, ausência ou impulsividade, irá transportar estas marcas durante a sua existência. Para os mais cépticos, a Psicologia actual estabelece esta relação pelos inúmeros exemplos de adultos com obstáculos emocionais e mentais devido à instabilidade causada pela primeira infância. A educação é, como refere Platão, a principal “ferramenta de construção do homem justo e virtuoso” e no caso de existir “corrupção, a culpa é devido a esta falta de atenção”, gerada, neste caso, pelos educadores que negligenciaram a importância desta poderosa ferramenta de construção que é o Exemplo na educação. Platão assume no seu livro que esta “falta de atenção” provocada por parte do educador, pode gerar na crianças um conjunto de “fantasmas” que a acompanham durante toda a sua vida. Vemos o grande sábio a antecipar-se à Psicologia moderna sobre o impacto desta poderosa ferramenta na primeira infância e suas consequências quando corrompida. Negligenciar os primeiros anos de vida é anular todo o seu desenvolvimento e potencialidades. É importante entender que muitos dos medos, traumas, inseguranças, abismos emocionais e mentais apresentados pelos adultos, dos quais os próprios não se encontram conscientes, são consequência de práticas educativas desajustadas na primeira infância. O ciclo inicia-se quando estes abismos se reflectem em comportamentos desajustados para com as crianças onde a sobre protecção ou a total negligencia acabam por tomar lugar.
Soluções para Platão
Tal como muitos filósofos clássicos, Platão não só consciencializa as questões como também fornece respostas para os problemas levantados. Mais uma vez, de forma simples, Platão refere o único caminho para a boa educação, “a doçura e o respeito”. Sabemos que qualquer criança e jovem, até os adultos, necessitam de carinho, doçura, ternura e afecto. São estes gestos que vão transmitir amor próprio ao futuro adulto pois na base da baixa auto-estima está precisamente a ausência desta doçura. Por outro lado, Platão fala do respeito, uma prática cada vez mais ausente pela falta desta atenção, como refere Platão, na primeira infância. O grande Sábio clássico continua com algumas soluções práticas e junta à doçura e ao respeito um factor de grande importância “o amor à ordem” com a criação de uma disciplina interna e externa, crucial para a criança e com repercussões absolutamente vitais para o jovem e futuro adulto. Mas obviamente que nada disto é possível se não existir a premissa base de Platão, o Exemplo, o foco mágico da educação e da transmissão. Nas antigas civilizações esta grande virtude sustentava a cadeia de Mestres e Discípulos e por esse mesmo motivo a transmissão pressuponha o exemplo, a responsabilidade, o auto conhecimento e o sentimento de superação. Hoje, todos estes conceitos desapareceram da mente humana tornando as crianças pequenas vítimas da ignorância e mau agir, pois esquecemos que, tal como refere Platão, “os filhos seguem as pisadas dos pais” pois “os jovens são educados por imitação” visto que “as leis são melhor cumpridas quando observadas do que escritas ou ditas”.
Nesta brevíssima síntese sobre algumas das ideias de Platão, percebemos que a filosofia, enquanto fonte de sabedoria, ou seja, conhecimento prático, possui em si a génese de tudo. Neste contributo, tentamos sintetizar algumas das principais reflexões de Platão sobre os agentes de educação entendendo que as crianças e os jovens são seres em processo de descoberta e onde a extracção das suas potencialidades internas pelo grau de mergulho interior é da responsabilidade daqueles que os rodeiam através do Exemplo, do Amor e da Ordem.