INQUIETANTE: 1988 FOI O MAIS CALOROSO DOS ÚLTIMOS CEM ANOS.

O fenómeno de um progressivo aquecimento da atmosfera está a semear inquietude entre os cientistas e um princípio de pânico entre aqueles que estão sempre preparados para anunciar o fim do mundo, com o perigo de uma psicose coletiva que vem entristecer ainda mais a nossa angustiada civilização.

A Agência de Estatísticas da Comunidade Económica Europeia faz-nos saber que 1988, 1987, 1983, 1981, 1980 e 1986, nesta ordem de prioridades, foram os anos mais quentes de todo o século XX. Em detalhe, é referido que os valores mais altos da última década ocorreram no hemisfério sul. Os dados assinalam que enquanto o aumento no hemisfério norte, nos últimos cem anos, não chegou a 1ºC, no sul alcançou 3ºC.

Destacamos que estas cifras não devem ser levadas ao pé da letra, pois em boa parte são estimativas resultantes do facto de não ter existido, durante a primeira metade do século2, uma preocupação por este aquecimento; e não ter existido, até há poucos anos, várias estações fiáveis comparativas no hemisfério sul.

Embora não tenhamos registado um acordo total entre os especialistas, devido à complexidade teórica das causas possíveis do fenómeno, predomina a opinião generalizada –e muito provável– de que a outrora tão louvada “sociedade de consumo”, com o auge de indústrias, aerossóis, desertificação, aumento demográfico e aeronaves que voam a grande altitude; seja a responsável por um futuro desastre a nível mundial.

O oxigénio e o nitrogénio formam 99% da atmosfera e têm muito pouco efeito sobre a temperatura global média, que seria de cerca de -18ºC caso não existisse água líquida. O restante 1% é composto de dióxido de carbono, óxido nitroso, ozono e metano: permitem a passagem da energia solar para a superfície do planeta, mas retêm o calor que ascende da crosta terrestre, gerando o “efeito estufa”, que eleva a temperatura média em cerca de 15ºC – aproximadamente 33ºC mais do que se não existissem – tendo em conta que a maior parte do planeta está coberta por um “espelho” de água, grande parte em estado líquido.

As diferentes cores são devidas à dispersão da luz produzida pela atmosfera. Creative Commons

Mas o Homem modificou este equilíbrio natural.

Segundo a Convenção Mundial sobre Alterações Climáticas de 1988, realizada em Toronto, Canadá, registou-se, desde 1960, um aumento de 25% de dióxido de carbono. Além disso, estão a incorporar-se na atmosfera substâncias como os clorofluorcarbonetos, que são dez mil vezes mais eficazes enquanto geradores do “efeito estufa” do que o dióxido de carbono.

De acordo com o último estudo da Organização Meteorológica Mundial, se isto continuar assim, a temperatura média global ascenderia 4,5º em 2015, e em 2075 estes valores duplicariam.

Estas perspetivas são francamente tétricas, pois dentro de apenas meio século, ambas as calotes polares poderiam derreter, o que faria aumentar o nível das águas em mais de 20 metros, o que significaria a ruína de grandes cidades como Nova Iorque, Génova, Buenos Aires, Rio de Janeiro, Nápoles, Barcelona, Lisboa, Madras, Marselha, Valência, Miami, etc. O ecossistema sofreria uma desestabilização imprevisível, não só por ação direta das águas, mas também devido à salinização de terras, mudanças de marés e possíveis flutuações do eixo da Terra. Um verdadeiro cataclismo.

Em Haia e em Londres, detetaram a realidade do adelgaçamento da capa protetora de ozono, segundo medições feitas sobre cem nações. No hemisfério norte, em latitudes médias, a capa diminui cerca de 4% nos meses de inverno e 1% durante o verão. Também foi detetado um buraco não permanente e esporádico sobre o Polo Norte. No sul, a situação é muito mais grave: sobre a Antártida, em 1987, a espessura do “escudo de ozono” diminuiu para 50%, embora se tenha reposto parcialmente num momento posterior, segundo as observações atuais. E aparece, anualmente, um enorme buraco na camada de ozono.

Buraco na camada de ozono. Domínio Público

De acordo com diferentes autoridades médicas, o aumento das radiações está a causar um aumento do cancro de pele e de cataratas oculares. Além disso, a capacidade imunológica de todos os seres vivos estaria a diminuir, como demonstra o chamado “SIDA-2”, recentemente descoberto.

Também a atmosfera sofrerá mudanças ao ficarem muitas zonas actualmente férteis alagadas ou calcinadas pelo sol. Isto, unido ao crescimento demográfico desmedido nos países do terceiro mundo, provocaria, especialmente neles, fomes terríveis e carências gerais de elementos vitais. Tais marcos enquadrariam mudanças psicológicas importantes, com inclinação para a violência e para todo o tipo de fanatismos religiosos, com perseguições e “inquisições”, pois buscar-se-ia o “bode expiatório” de tais desastres, como já sucedeu durante a Idade Média e o Renascimento, quando as pestes açoitavam a Europa.

Ultimamente, soma-se uma nova teoria para explicar as causas do fenómeno. O Sol seria uma “estrela pulsante”, segundo se deduz dos registos do satélite artificial “Missão Máximo-Solar”, que orbita em redor da Terra desde 1980. Isto confirmaria as antigas tradições esotéricas de que o Sol é como um coração que palpita constantemente. É evidente que, se isso é assim, haveria períodos da História em que o Sol enviaria mais ou menos energia para a Terra e que de um período expansivo poderiam provir boa parte das alterações do “escudo” protetor do nosso planeta. Mas isso não basta para justificar as degenerações que sofre o nosso meio ambiente e pelas quais o Homem é o responsável… e a vítima.

Recriação artística do nascimento do Sistema Solar (NASA). Domínio Público

É IMPARÁVEL O EFEITO ESTUFA?

Evidentemente, não. A Natureza previu todas as ocasiões em que foram alteradas as suas funções e para isso ela tem os seus remédios.

Mesmo se a Humanidade seguisse com a sua atual loucura antiecológica, somente a subida da superfície geral das águas reduziria, de maneira direta ou indireta, através de pragas e de pestes, a massa humana que hoje formiga, concentrada até à exasperação, em alguns pontos, justamente próximos ao mar. Isto reduziria a emissão de gases tóxicos e, além disso, ao ampliar-se o espelho das águas em não menos de 20%, estas serviriam como refrigerantes, e ao formarem–se enormes e muito densas massas de nuvens, estas impediriam a passagem dos raios solares, logrando em conjunto que a temperatura média baixasse, até se formarem outra vez as calotes polares devido à congelação das águas, com os quais estas baixariam para o nível atual ou menos.

Este “mecanismo de segurança” talvez tenha sido empregado já noutras ocasiões pré-históricas que deram origem às tradições sobre dilúvios, extinção de espécies e mutação de outras; desaparecimento de civilizações e aparecimento de sucessivas “idades da pedra”.

Existem muitas outras possibilidades, se bem que para o caso de um trabalho jornalístico nos encostemos aos extremos, e um destes é o mais otimista, embora, talvez, o mais trabalhoso e improvável.

Consiste numa modificação profunda e a muito curto prazo das nossas crenças, mitos e hábitos de vida. Podemos resumir:

  1. Deus é um mistério e ninguém, nem livro nem pessoa, tem realmente o segredo do que Ele determinou para nós: ignoramos o nosso destino. De tal forma, pretender desumanizar-nos com base em simples opiniões de mortais que se autoproclamam “representantes de Deus”, ao ensinar-nos como devemos comer, dormir e reproduzir, é demasiado nestas circunstâncias. É mais lógico regermo-nos pelas cifras constatadas e apressarmo-nos em reduzir a população do globo. A mística é própria do Homem e é o que o diferencia realmente dos animais: mas “mística” pouco tem que ver com “confissões”, “Testamento”, etc.
  2. Os mitos não foram dados somente na Antiguidade: no século XX, temos outros, vários e numerosos. Há que conseguir o discernimento que teve Gandhi, que chamava aos médicos ocidentais de “magos negros”, mas, ao sentir-se doente de apendicite, deixou de lado as suas posturas propagandísticas e fez-se operar cirurgicamente, salvando a sua vida. Hoje necessitamos de uma política ágil regida por especialistas e não pelo voto dos ignorantes, superando qualquer forma de burocracia e arquivando muitos “direitos do Homem”, para substituí-los pelos “deveres do Homem” e aplicá-los com todo o rigor. O derrame de venenos industriais, incêndios florestais, contaminação dos mares, rios, campos e ares, devem ser severamente penalizados.

Os hábitos de vida devem mudar e, com isso, os nossos meios de transporte, aquecimento, refrigeração e demais elementos contaminantes que destroem os “escudos” protetores de ozono, etc. Há que regressar ao ponto de partida correto, sem vaidades, que nos permita o ressurgimento de uma sociedade tradicional onde o Homem e o seu entorno se harmonizem, abolindo, desde logo, a chamada “sociedade de consumo”, que nos obriga a fabricar constantemente objetos e serviços que, voluntariamente, são construídos para serem efémeros e que promovem uma louca fuga para a frente. Refazer, na consciência coletiva, o sentido da duração, deixando de viver o hoje sem nos importarmos com as gerações futuras.

O futuro dirá o que espera a Humanidade, mas é óbvio que o horizonte está carregado de nuvens ameaçadoras e que muitas coisas terão de mudar para que o Homem e as restantes criaturas terrestres possam sobreviver e regenerar esta etapa de sujidade e poluição na qual nos coube viver.

 

Jorge Ángel Livraga
Extraído do livro Artigos Jornalísticos. Edições Nova Acrópole

Link de aquisição do livro Artigos Jornalísticos:
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1 Artigo publicado em Junho de 1989.

2 O autor refere-se ao século XX. (N. T.)

Imagem de destaque: Nuvem de poluição sobre Kuala Lumpur. Creative Commons