O medo é essencial à vida, pois gera no ser humano o instinto de sobrevivência e proteção. Mas o medo que paralisa, que retira a visão, o discernimento e a esperança enterra o ser humano no escuro local onde habitam as suas maiores dores. Como todas as polaridades, como todos os contrastes da existência, também o Ser Humano carrega no interior a dualidade: branco e negro, luz e escuridão, ilusão e realidade. Conceber um estado de harmonia e tranquilidade torna-se por vezes impensável quando o medo se transforma num profundo pavor do porvir. Se enquanto crianças sabemos que a escuridão é um espaço escuro e sombrio, aquilo que desconhecemos enquanto adultos é o quão profundo este espaço pode chegar a ser.
Mas como retirar a nossa consciência deste medo, conferindo um pouco de esperança? Como pode o ser humano subir em direção à luz e à libertação do pavor atávico que o medo produz?
Existem algumas leis universais que, quando compreendidas podem ajudar:
Princípio da Eternidade
Para nós, cada momento, cada segundo parece ser eterno. Por esse motivo o ser humano tem dentro de si o princípio da imortalidade pois nunca pensa que vai morrer, a não ser que esta realidade surja à sua frente. A ideia de que tudo é eterno, que a dor é eterna ou que a alegria é eterna gera na primeira o desespero e na segunda o descuido. Quando pensamos nas inúmeras dores já passageiras, podemos perceber este sentido de eternidade. Quando imaginamos as alegrias sentidas, também entendemos este sentido de eternidade pois para o nosso Eu passado, naquele cenário da vida, aqueles momentos eram realmente eternos, da mesma forma que estes também nos parecem ser. Caímos assim no princípio da ilusão, o qual não descarta o princípio da ação – pois é necessário agir sobre as adversidades – mas que deixa o Ser Humano entregue ao desespero do momento e ao prolongamento do medo para um estado de incerteza e ansiedade.
Princípio da Ciclicidade
Existe na vida um movimento cíclico cuja espiral gera o princípio da evolução. Tal como a Natureza, ao longo da nossa existência, temos momentos de Primavera, Verão, Outono e Inverno. Da mesma forma que também os temos ao longo de um dia, uma semana ou outro período da nossa vida. Viver um Verão tem as suas benesses, mas também os seus perigos. A confiança pode ofuscar, criando certezas ilusórias. A Primavera traz o renascimento de um Inverno agreste mas também a vaidade das flores e frutos conquistados. Talvez a estação mais difícil para o Ser Humano seja o Outono. A queda das folhas que antes floriam na nossa árvore e sobre as quais existe agora o despedir para que outras possam nascer. A perda continua a ser a grande dor do Ser humano, mas só o Inverno, esse casulo alquímico e solitário de regeneração interior, leva à Primavera. O Inverno é difícil se não compreendemos as leis da vida. Se não compreendemos alguns princípios inerentes à existência humana. No momento presente, cada um de nós se encontra numa determinada estação. Compreendê-la permite perceber o passado, tomar boas decisões no presente e preparar o futuro.
Princípio da Perspetiva:
Tudo na vida tem a cor que os nossos olhos desejam ver. Podemos olhar para uma circunstância da vida e colorir essa situação com o medo ou com a esperança, com o amor ou com o ódio, com a realidade ou a ilusão. No entanto, existem motores internos que determinam as cores que colocamos à vida, sendo por isso mais difícil do que gostaríamos.
A perspetiva sobre a qual observamos a vida é fruto de um contínuo trabalho interior de conhecimento de nós próprios, dos outros e da Natureza. A maturidade e a sabedoria são dois aspetos importantes nesta visão. Caminham juntas e por isso permitem colocar ao longo da vida a cor da intuição, ou seja, do conhecimento de leis nas quais determinado acontecimento gera inevitavelmente determinada consequência. A possibilidade de colocar nas circunstâncias a cor da oportunidade, da aprendizagem e da curiosidade sobre nós mesmos leva-nos à humilde citação “Só sei que nada sei”. Caso a vida esteja colorida pela dor, pelo medo, pela perda, pela dúvida, a única lição que tiramos é o desespero, obstáculo à aprendizagem pois em tudo podemos aprender. Quando dominados pela confusão mental, própria do medo, a questão: Qual o meu Dever? Pode encaminhar o Ser Humano para a luz. Por estarmos tão presos às regiões inferiores, esta questão deve ser constante pois neste caminho existem deveres ante o quotidiano mais simples, deveres ante as circunstâncias mais difíceis e deveres ante a nossa própria alma. O sentido do Dever tem o tamanho da nossa Consciência e esta tem o tamanho dos nossos Arquétipos, as Ideias Puras que ordenam a própria vida.
Princípio da Coragem e da Confiança
Porque não vencemos o medo? O que temos a perder quando frente à vida deixamos de temer? A resposta é nada. Não temos nada a perder. Mas apenas se tem coragem quando se confia. Apenas se tem coragem quando dentro do Ser Humano habita algo maior do que ele mesmo. Algo que o puxa e o inclina para à frente, dando-lhe esperança. Confiar na Vida é a melhor forma de obter coragem. Pois de forma mágica ela encarrega-se de colocar as “peças” no devido lugar. A ordem e a evolução são dois princípios da Natureza cujo resultado gera harmonia. No entanto, ordenar implica uma certa dor pois ninguém gosta de retirar velhas caixas de memórias e mágoas do seu coração. Conhecendo a dificuldade que temos em caminhar em direção ao certo e ao correto, a vida enreda situações inesperadas e impensáveis cujo fim não é mais do que o encontro com os nossos maiores “inimigos”. Aqueles que fomos guardando. Aqueles que por medo escondemos sem saber que na verdade são os nossos maiores amigos. Mas tal como o “patinho feio”, preferimos rejeitar, sem sabermos que nestas feridas está o nosso cisne branco, aquele que guarda a maior lição da nossa vida. Confiar que a dor é o momento em que “algo” nos toca para que possamos retornar ao nosso Dharma é recuperar a esperança.
Assim, como superamos o medo?
Sabendo que nada é eterno, tudo é passageiro.
Sabendo que tudo é cíclico, nada permanece imóvel.
Sabendo que Vida é a grande Mestra que tudo repõe.
Maria Isabel Areias