A abundância de informação na internet nem sempre tem bons frutos. A proliferação de notícias falsas, os casos de assédio ou a difusão de teorias inverosímeis, levaram a Google a lançar alguns programas dirigidos a formar cidadãos digitais responsáveis mediante a aplicação de princípios básicos como ser cuidadosos a partilhar conteúdos online, ter critério para decidir que tipo de informação é relevante, manter a privacidade, identificar o que pode ser publicado e o respeito pelos restantes utilizadores.

Este rio agitado está a gerar uma atitude de desconfiança em relação às informações de provêm da rede, embora, como qualquer outra generalização, crie injustiças. A rede converteu-se igualmente num campo de batalha ideológico em que as distintas facções lutam por defender os seus princípios e derrotar os dos seus inimigos, tratando de os desacreditar mediante a utilização, entre outros, de dois métodos, que são o cepticismo e a conspiração.

Estes revelaram-se como dois artifícios psicológicos, duas armas de arremesso, que são usadas por conveniência. Não há dúvida que um cepticismo saudável, uma visão crítica, nos permite seleccionar informações fora do comum. Mas, quando os que se consideram cépticos empregam o rótulo de “crentes” aos que não o são, o cepticismo saudável converte-se numa fé ou num método de desacreditar o dissidente, perdendo o seu valor. Isto fez com que, no campo da ciência, alguns cientistas se tenham organizado e criado um site onde se duvida dos cépticos (http://www.skepticalaboutskeptics.org), já que esses se auto designaram guardiões da ciência, identificando e assinalando o que sai dos limites que marcam a ortodoxia. Neste site denunciam que a Wikipedia se converteu no lugar onde o cepticismo dogmático é mais influente, destacando o grupo “Guerrilla Skepticism on Wikipedia” (http://guerrillaskepticismonwikipedia.blogspot.com), que persegue as informações que consideram paranormais ou pseudocientíficas publicadas na enciclopédia.

O mesmo acontece com as teorias da conspiração. Não parecem gozar de muita lucidez os que defendem uma origem extraterrestre de quantos artefactos antigos ou construções milenares não possamos dar uma explicação sobre o seu fabrico ou sistema de construção. O mesmo parece ocorrer com os que vêm uma “mão negra” ou movimentos de interesses obscuros por trás de feitos relacionados com a política, a economia, ou a implantação de determinadas ideologias. Os que, de uma forma ou outra, representam um mundo no qual personagens ou grupos movem os fios da nossa realidade social ou política, são imediatamente marcados como “conspiradores”, obviamente sem iniciar um debate sobre se eles estão certos, parcialmente, totalmente ou nada. É apenas outro rótulo de desprestígio utilizado por quem apenas quer desacreditar a sua abordagem.

O estudo comparado e as análises das fontes de informação dão-nos ferramentas eficazes para tentar encontrar um pouco de luz entre tanta escuridão. Talvez nem sempre estejamos seguros de que o que estamos a ler é certo, é uma notícia falsa ou uma teoria da conspiração, mas podemos aplicar alguns filtros para conceder veracidade ao que lemos:

  • Comprovar se a notícia ou informação é uma notícia falsa que se difunde com o objectivo de prejudicar alguém. Há sites que avisam dos casos deste tipo mais grosseiros, mas uma leitura atenta da informação revelará dados que nos permitam reconhecer-lhe veracidade ou não.

  • Verificar a data de aparecimento da notícia. No Google/notícias podemos ver a data de aparecimento de uma notícia e assim sabemos qual o meio de origem da mesma e a sua credibilidade. Muitas vezes uma primeira notícia gera um arrasto automático de outros meios.

  • Ver quem assina a notícia. Se estamos interessados num tema podemos descobrir os jornalistas ou investigadores que dão informações fiáveis, para isso é importante seguir a sua trajectória por um tempo.

  • Não ler só o título, que às vezes diz o contrário do que se afirma no corpo da notícia, e se a notícia tem origem num relatório ou estudo mais intenso, procurar consultá-lo, às vezes ocorre o mesmo que com o título da notícia, não tem nada a ver ou é uma visão parcial.

  • Ler a imprensa diariamente, de tendências e interesses variados.

  • Usar o senso comum.

Mesmo assim, não estamos seguros se o que lemos se aproxima da verdade ou não, mas se aplicarmos algum filtro à informação estaremos mais próximos.