O que prefere: encontrar-se com um amigo para um café ou passar a mesma quantidade de tempo trocando mensagens, de trás para frente, sobre o mesmo tópico? Muito provavelmente a maioria de nós prefere a primeira, mas normalmente acabamos por fazer a segunda. Mas será que dez mensagens podem realmente igualar-se a uma conversa cara a cara? Pode um emoji substituir o sorriso e o olhar nos olhos de um amigo? É a rede digital o mesmo que uma comunidade?

Nos últimos anos, as nossas interações humanas foram corroídas pela tecnologia moderna em quase todas as áreas das nossas vidas. As lojas substituíram os amistosos empregados das caixas por faixas de auto-check-out, nos aeroportos os funcionários úteis de check-in por máquinas, no trabalho realizamos reuniões virtuais e agora comunicamo-nos principalmente por escrito. No entanto, sem ouvir o tom da voz e reparar nas subtilezas da linguagem corporal, frequentemente as palavras escritas podem ser facilmente mal-interpretadas. Falar com alguém pessoalmente normalmente dá-nos uma compreensão muito mais precisa de uma situação e até os negócios começaram a perceber que o segredo do sucesso está na conexão humana. Quando há pertença há compromisso e quando há compromisso há produtividade.

Há poucas dúvidas sobre os efeitos positivos da tecnologia moderna. A possibilidade de construir redes globais, manter amizades de longa distância e comunicar-se rapidamente com muitas pessoas de uma vez são apenas algumas das suas vantagens. No entanto, a triste verdade é que, para todos os amigos que possamos ter nas redes sociais, os estudos mostraram que o círculo de amigos e confidentes encolheu dramaticamente nas últimas duas décadas e que, como resultado, as pessoas sentem-se mais sós do que nunca. Quase um quarto dos entrevistados diz que não tem amigos ou confidentes – um aumento de 14% desde que todos nós ficamos tão digitalmente conectados.

A tecnologia moderna também mudou o namoro e os nossos relacionamentos íntimos. Pode já ter ouvido falar de “amizades coloridas” – um fenómeno bastante confuso do namoro moderno. Estes são “relacionamentos” não comprometidos e que são tão completamente indefinidos que aqueles que estão num não sabem se estão num relacionamento ou não. É mais do que uma amizade, mas não um relacionamento, o que significa que não há limites claros e, portanto, permite que as pessoas tenham um comportamento deveras mau e saiam impunes.

Que receita segura para muita mágoa, para uma montanha-russa de esperança e desilusão, para a incerteza quando todos nós desejamos alguma forma de estabilidade e certeza! O filósofo e sociólogo Zygmunt Bauman fala do “amor líquido” – uma metáfora para os encontros cada vez mais breves e superficiais que caracterizam o amor moderno e a fragilidade dos laços humanos.

Sorriso. Pexels

Existem muitos estudos que mostram quão importante é o contacto humano para a nossa saúde. Conexões sociais fortes levam a um aumento de 50% da esperança de vida, fortalecem o nosso sistema imunitário e melhoram o nosso bem-estar físico e psicológico. A ausência delas é mais prejudicial à saúde do que a obesidade, o tabagismo e a pressão alta, e os impactos emocionais da solidão podem efectivamente desencadear alterações celulares que modificam as expressões genéticas dos nossos corpos.

Somos seres profundamente sociais. Brene Brown, professora e autora de muitos livros populares, diz:

“Um profundo sentimento de amor e pertença é uma necessidade irresistível de todas as pessoas. Quando essas necessidades não são atendidas, não funcionamos como deveríamos. Nós quebramos. Nós desmoronamos. Nós entorpecemos. Doí-nos. Nós magoámos os outros. Nós ficamos doentes.”

O falecido poeta e filósofo John O’Donohue escreveu:

“Neste mundo pós-moderno, a fome de pertença raramente foi mais intensa, mais urgente. […] E, embora a tecnologia pretenda unir-nos, na maioria das vezes tudo o que produz são imagens simuladas que nos distanciam das nossas vidas. A ‘aldeia global’ não tem estradas ou vizinhos; é uma paisagem sem rosto e impessoal, da qual toda a individualidade foi apagada.”

Não importa quanta tecnologia teremos no futuro, algumas coisas permanecerão fundamentais, e uma delas é a profunda conexão entre os seres humanos. Mas parece que a conexão digital impactou negativamente a nossa capacidade de nos relacionarmos. Portanto, não espere que os outros deem o primeiro passo. Abra o seu coração, ouse tornar-se vulnerável e trate os outros como gostaria de ser tratado.

Sabine Leitner
Publicado em New Acropolis U.K. em 30 de Novembro de 2019