Existe na Catalunha a tradição de erguer “castelos” de Homens. A prática remonta ao século XVIII e é hoje considerada pela UNESCO como património da humanidade. De entre os diversos tipos de “castelos”, o maior e mais grandioso necessita de cerca de duas mil pessoas para subir dezassete metros de altura, o mesmo que um prédio de cinco andares. O primeiro nível chama-se pinha e é formado por centenas de pessoas comprimidas e unidas umas às outras. É essa união que protegê-los-á caso o azar faça o “castelo” desabar. Por cima da pinha é construído o forro, e depois ainda a manilha. São estes três primeiros níveis que suportam a torre, onde cada nível conta apenas com quatro pessoas firmemente agarradas umas às outras. Quanto mais se sobe no “castelo” mais a subtileza substitui a força. Enquanto na base reina a resistência física, nos níveis superiores é necessário tanta confiança nos demais como coragem para chegar cada vez mais alto. Estes níveis são normalmente formados por mulheres que, depois, suportam as crianças que sobem pelas suas costas até ao cume. Nesse instante sublime onde o “castelo” está formado, vê-se aquela que devia ser a estrutura de qualquer organização humana.

A base do “castelo” é formada por uma estrutura coesa de irmãos de armas dispostos a dar a vida uns pelos outros. São eles que permitem que tudo o resto seja construído sob os seus ombros. Não há espaço para egocentrismo ou inveja entre as suas fileiras unidas unha com carne. Eles sabem que não chegarão ao topo, nem tampouco aparecerão nas fotografias, mas que importa isso quando o resultado do seu esforço está visível para todos?

A construção da base do “castelo” / Tower competition

Quem mais sobe, mais alcança, mas nunca se pode esquecer dos companheiros que tornaram a sua subida possível. Afinal de contas, é neles que assentam os pés descalços. Além disso, quem sobe, não o faz apenas por si, mas pelo ideal que atravessa a própria estrutura. No cume, a última criança levanta a mão, e juntos, todos tocam o céu.

O “castelo” é suportado por valores e impulsionado por um ideal. Os valores são a coragem, a confiança, a união, etc… sem eles não haveria sequer o primeiro nível. O ideal é a eterna e profunda busca que leva o Homem a olhar para cima e chegar mais alto. Sem valores e sem um ideal, seria impossível chegar tão alto.

E depois de alcançar o céu? Aí segue-se a etapa mais difícil. Desconstruir o “castelo” é tão perigoso como construí-lo, pois é durante a euforia da vitória que os acidentes acontecem. E mais que uma lição de prudência, mostra-nos que em cada projeto grandioso existe um início, um meio, e, necessariamente, um fim.

Através da mão da criança, todos tocam o céu / Hiveminer – Cargolins