Três coisas não podem ser escondidas por muito tempo: o sol, a lua e a verdade.
Buddha
A Verdade não se importa com as nossas necessidades ou desejos, não se importa com os nossos governos, as nossas ideologias, as nossas religiões. Ela ficará à espera para todo o sempre. E isto, no final, é a dádiva de Chernobyl.
Valery Legasov, na minissérie “Chernobyl”, da HBO
A minissérie de 2019 da HBO, “Chernobyl”, retrata a sua versão dos eventos que levaram ao acidente nuclear de 1986 e as suas consequências. Ao fazê-lo, apresenta uma reflexão sombria sobre a natureza da verdade e as consequências de ignorar as leis da natureza. Nesta história, o medo e a ganância – eternos inimigos da humanidade – dão as mãos para produzir um desastre cataclísmico de proporções inacreditáveis, causando imenso sofrimento e quase resultando na destruição e inabitabilidade de uma imensa faixa do planeta Terra.
A série passa-se no final do império Soviético. Cinzento, ímpio, autoritário. O governo é uma hierarquia baseada na obediência temerosa e ambição gananciosa. Toda gente tem o seu lugar na hierarquia; todos querem ser promovidos; ninguém quer falar livremente ou admitir os seus erros. Cada um é constantemente seguido e vigiado pelos temidos agentes da KGB.
Nesta atmosfera, algo terrível acontece. Um cancro está a espalhar-se. Mas ninguém quer admitir ou assumir a responsabilidade. Todos têm medo de perder o seu lugar, ou pior. A Realidade, no entanto, não se importa se a aceitamos ou não, e mesmo que um milhão de homens cegos a negue, ela continuará sendo. E assim, esse cancro continua a alastrar-se, consumindo os inocentes.
Felizmente, sempre justapostos à ignorância estão os que se dedicam à verdade. São os líderes, cientistas, místicos e artistas que aspiram viver a verdade a todo custo e contra toda a rigidez social e cegueira intelectual. E é por sua causa que a humanidade ainda tem esperança.
Em Chernobyl, são os cientistas que canalizam a voz da verdade. Alheios aos jogos dos políticos, eles olham as coisas como elas são e agem para restaurar o equilíbrio da natureza. Se a história contada pela HBO está correcta nos seus detalhes, não é exagero dizer que a humanidade lhes tem uma enorme dívida.
Karma
Os antigos tinham uma concepção maravilhosa do nosso relacionamento com a Verdade – os Hindus chamavam-lhe Karma. O Karma é um reflexo da distância que colocamos entre nós e a realidade, isto é, as leis da natureza. Quando estamos sincronizados com as leis da natureza, criamos o que é às vezes chamado de “bom karma”, trazendo resultados positivos a curto ou longo prazo. Quando não estamos em harmonia com as leis da natureza, criamos o “mau karma”, refletido no sofrimento e em resultados negativos a curto ou longo prazo.
A humanidade, infelizmente, tende para agir contra as leis da natureza. Repetidamente a história mostra-nos como indivíduos e sociedades transgridem as leis da natureza, ignorando a realidade de maneira a atingir certos objetivos que parecem valiosos na altura.
Porquê?
Talvez pensemos que uma vida melhor é possível fora dos limites que a natureza nos deu.
Talvez estejamos afligidos pelo que os Gregos chamavam de Hybris – o orgulho que leva os seres humanos a desafiar os deuses.
Tomemos, por exemplo, a cultura consumista moderna.
Claramente desconsidera qualquer observação lógica do mundo natural. Onde a natureza não conhece desperdício, porque tudo é utilizado, a obsolescência planeada depende do desperdício, e a quantidade de lixo artificial que criamos ao fabricar coisas desnecessárias é literalmente inimaginável. No entanto, continuamos a acreditar que este modo de vida terá resultados positivos a longo prazo.
O mesmo é válido para indivíduos que tentam viver uma vida que não é sua por causa das exigências externas da sociedade. Eles ignoram a sua própria natureza, pensando que é algo para se reprimir.
O certo é que as nossas acções têm consequências, para o bem e para o mal, e fechar os olhos não impedirá que as consequências das nossas acções aconteçam.
Porque não, então, tentar estudar a natureza e viver de acordo com ela? Porque não tentar estudarmo-nos a nós mesmos e viver com autenticidade?
Viver no mundo significa reconhecer que fazemos parte dele.
Todas as dimensões da nossa existência funcionam de acordo com leis, numa estrutura que hoje chamamos de Natureza. Ao nível individual, o nosso corpo, as nossas emoções, os nossos pensamentos agem de acordo com certas regras e, conhecendo e obedecendo a essas regras, colaboramos com a natureza. Além disso, ao nível social, podemos perguntar se os movimentos da história são aleatórios ou se também obedecem a certas leis desconhecidas, e se estes refletem o nosso relacionamento connosco e também com a realidade.
Viver contra a verdade não é uma boa aposta e nunca terá bons resultados a longo prazo.
Mas como encontramos a verdade?
A verdade está sempre lá, cabe a nós elevarmo-nos até ela.
A economia mundial moderna pode comparar-se a um ser humano que se entrega ao “fascínio ” da droga ou então do álcool. A certa altura perde o controle de si mesmo e quem o assume é a droga ou o álcool. O seu muito provável fim é a destruição, acompanhada de sofrimento. Será que a economia global atingiu já um ponto em que o regresso não é possível? Será que um punhado apenas de pessoas pode deter a força do provável “tsunami” que pode estar para vir. Esta a angustiante pergunta que é mais do que legítimo pôr. No final do séc XIX, um filósofo , escritor e político cubano, de nome José Marti, escrevia: “Uma causa justa no fundo de uma caverna é mais forte do que um exército” . E já no passado um rapazinho chamado David venceu o gigante Golias. Apesar do perigo em que estamos, é bom pensar nisto.
O mundo consumista e a realidade da economia mundial podem comparar-se a um ser humano que se entregou ao “fascínio” da droga ou do álcool e, claro, perdeu as estribeiras. Então, já não é ele que manda, é a droga ou o álcool. Toxicodependente ou alcoólico. O seu futuro muito provável é ser destruído, no meio do sofrimento. Voltar atrás é possível, mas muito difícil. Será que a nossa relação com a economia atingiu um ponto em que não há já retorno? Esta a pergunta que se coloca. As forças equilibrantes em sentido contrário serão suficientes para deter o que aí bem pode vir?
Será que um punhado pequeno de pessoas a remar contra a corrente pode deter o “Tsunami”. José Marti, filósofo, escritor e político cubano de finais do séc XIX, dizia “Uma causa justa no fundo de uma caverna é mais forte que um exército”. Tudo é possível.
Parabéns pelo artigo! Interessante ver o Karma como agente da verdade. Façamos o que façamos o equilíbrio é sempre a condição final e se as nossas ações estão fora da ordem natural, seremos empurrados inexoravelmente para o equilíbrio que nos dará as condições para a captação e vivência da verdade!
A verdade é clara e límpida, a nossa visão é que está turva sob camadas de preconceitos e assumpções erróneas que limitam o nosso entendimento. Sejamos conscientes dessa limitação para poder estar em sintonia com todos os elementos da natureza e restaurar o equilíbrio que o mundo e os seus integrantes necessitam.