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Filosofia

O Meu Amigo Inseto

Carlos Adelantado 2 515

Uma noite qualquer, como na maioria das noites, estava lendo recostado na cama. Era um livro de conferências do professor Jorge A. Livraga.

O fim do dia, a obscuridade ao redor, o silêncio…

À luz da pequena lâmpada na mesa de cabeceira, a minha atividade intelectual prolongava-se nos momentos prévios ao sono.

A leitura, a reflexão, a paz no coração… Tudo era perfeito.

De repente, ele apareceu, um pequeno inseto. Perturbador, insensível à minha presença e incapaz de ficar quieto.

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Meios de Comunicação. A Informação Confusa

Delia Steinberg Guzmán 0 235

Uma parte importante do mundo – o nosso mundo – vive à custa dos meios de comunicação social. Não é a maioria, mas em todo o caso é aquela que tem suficiente peso para atrair a atenção geral e tornar-se no centro dos acontecimentos.

E mais: se a história do nosso tempo tivesse que ser escrita e o enfoque histórico dependesse dos meios de comunicação, seriam contados alguns factos que dizem respeito às zonas do planeta e aos países que governam o destino de toda a humanidade, ou seja, que se falaria de poucos em detrimento de muitos que, como é habitual, permaneceriam na triste sombra do anonimato, nas trevas do desinteresse e do egoísmo. O curioso é que o egoísmo e o desinteresse não são naturais no coração do homem comum, mas crescem sob a asa da informação que lhe é oferecida, imitando inconscientemente as personagens que assim agem, podendo fazê-lo de outra maneira.

Muitas vezes foram feitas tentativas para mudar o mundo, e este século não ficou imune a essas tentativas. Em cada momento, individual ou coletivamente, um meio ou outro foi utilizado para alcançar essa mudança; e agora vemos que, apesar dos esforços de alguns e da hipocrisia de muitos, as coisas permanecem as mesmas. Por outras palavras: a única igualdade que conseguimos é que as coisas continuem como antes; que persistem a desigualdade, a injustiça, a exploração dos fracos em todos os sentidos, a corrupção e que as minorias continuam a determinar o curso da história ou, pelo menos, o que nela é contado.

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Às Portas de Uma Nova Idade Média

Jorge Angel Livraga 0 382

Antes de mais, devo dizer-vos que a Idade Média é algo completamente natural. Todas as coisas são pautadas por um sistema de ritmo. Há Verões, há Invernos, há dias e há noites. Há momentos felizes e há momentos infelizes. Todas as coisas continuam como elos de uma corrente, umas com as outras. As montanhas com os vales, os vales com as montanhas. Assim, ao longo do passado humano, encontramos muitas vezes idades médias.
Que significado se dá a uma Idade Média? É algo que está entre uma coisa e outra, que está na metade; uma espécie de “mergulho” ou depressão no que consideraríamos um nível civilizacional; chamamos a isso Idade Média. Como já mencionámos várias vezes, a China, por exemplo, que é milenar e não sabemos exatamente quando começou a sua civilização, pois em épocas longínquas já a encontramos trabalhando os metais, fazendo filosofia, tendo religião, tratados de arte militar, etc., sofreu várias idades médias.

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O Ritual Funerário no Antigo Egito

Luis F. Ayala 0 399

O pensamento egípcio era profundamente religioso. Para aqueles homens, o universo não poderia ser produto do acaso nem uma consequência de simples estados da matéria. Da matéria em si não se poderiam formar as estrelas nem os rios nem nada da natureza e menos ainda os estados de consciência do homem. Era uma concepção deísta da vida. Se encontramos no Egito mostras de uma religiosidade simples e fetichista, também encontramos ali sinais da mais alta metafísica religiosa. Considerar esta religiosidade primitiva, é desconhecer nossa realidade presente, na qual todos os estados possíveis se dão a um mesmo nível e onde o símbolo prevalece desprovido do sentido tradicional.

Sem embargo, poderiam perguntar: porque havia tantas múmias de animais sagrados no Egito? A lista destes animais embalsamados seria imensa, embalsamaram bois, carneiros, gatos, crocodilos, íbis, peixes, falcões, etc.

Nesta base são considerados zoólatras. O egípcio não embalsamava os animais pelos animais em si. Não há aqui zoolatria. Faziam-nas porque assim representavam a manifestação vital de uma forma cósmica, o Neter.

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A Economia da Felicidade: o Decrescimento Económico Controlado

Carlos Paiva Neves 0 298

Amiúde, damo-nos conta com a reflexão sobre a ideia de felicidade. Esse exercício parece estar envolto numa complexidade que muitas vezes é referida como subjetiva. Vamos tentar simplificar, uma vez que essa subjetividade está muito provavelmente relacionada com a infelicidade e a insatisfação do ser humano. Parecendo dois conceitos antagónicos, atrevo-me a afirmar que a via para a infelicidade é muito mais percetível, do que aquela ideia que teimamos em dificultar, quando buscamos a sua natureza – a felicidade. Porque não assumimos o caráter singelo e puro da felicidade, como um estado de espírito que está tão perto de nós? A felicidade pode transmitir-nos com grande fulgor, e simplesmente, um estado de uma consciência plenamente satisfeita. A sua origem do latim, felicitas, pode significar fertilidade, felicidade, boa fortuna, sorte, favor dos deuses e prosperidade. Heráclito, filósofo pré-socrático (500-450 a. C.), deixou-nos com esta máxima: Se a felicidade residisse nos prazeres do corpo, diríamos que os bois são felizes quando encontram feno para pastar. Sócrates (470-399 a. C.) afirmava aos seus discípulos que tinha tudo o que desejava, mas que adorava ir ao mercado para descobrir que continuava completamente feliz, sem todo aquele monte de coisas. Platão (428-348 a. C.) promoveu o exercício da temperança no que diz respeito à busca de riqueza material, de modo que, ao fortalecer a moderação, a pessoa pudesse preservar assim, a ordem de sua psique. Diógenes de Sínope (412-323 a. C.), filósofo cínico interpretou a felicidade através de uma vida simples, e a necessidade de retornar à natureza, apesar de todas as convenções e costumes que nos tendem a afastar. Epicuro (342-270 a. C.) identificou que a raiz do mal se encontra na intemperança dos desejos, que sobre o efeito de uma falsa representação do prazer e da felicidade, impulsiona-nos a possuir sem limite, quando não é buscar a qualquer preço um diminuto poder ou glória de um curto momento. Lao Tse (V-IV séc. a. C.), filósofo da Antiga China, preconizou a rejeição do supérfluo, e defendeu uma certa ética da frugalidade e da autolimitação, valorizando a busca de harmonia com a natureza, mais do que a acumulação de bens materiais. Diz-nos ainda, Lao Tse, que a sabedoria é o caminho que desprende o excesso, a extravagância e o exagero. A ideia de felicidade não tem, afinal, qualquer subjugação ao subjetivo material, sem ligação às conquistas da posse e das coisas transitórias.

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O Príncipe de Maquiavel

Isabel Areias 0 286

Apresentar um dos principais nomes da política no Renascimento, entendendo por política o tratamento dos assuntos da “polis” com o intuito de a harmonizar através de um Ideal que a unifique, ou como diria Platão, de um arquétipo promotor de justiça, pode ser desafiante quando falamos da obra “O Príncipe” de Maquiavel.

Niccolò di Bernardo dei Machiavelli, integrou um importante momento histórico vivido no período do Renascimento entendido como a canalização de um retorno às origens e aos ideais platónicos e neoplatónicos do mundo clássico. Esta magnífica etapa do nosso movimento histórico procurou igualmente recuperar o conhecimento de uma das maiores civilizações de todos os tempos, o Egipto e a tradição Hermética, que milénios antes tinha edificado o conhecimento iniciático e mistérico, ao qual o renascimento não ficou indiferente. Estamos perante o reaparecimento dos fundamentos que alicerçaram a edificaram grandes civilizações com foco no Humanismo e na razão ética, com o paulatino afastamento do pensamento dogmático vigente até esse momento.

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Jakob Böhme: o Príncipe dos Obscuros

Françoise Terseur 0 461

A Teosofia alemã dos séculos XVI e XVII está impregnada de naturalismo e de um panteísmo híbrido, alicerçado numa mistura de misticismo e teologia, utilizando três fontes de inspiração: Deus, o Homem e a Natureza.
A Teosofia de Jakob Böhme surgiu da conjunção entre o hermetismo, representado por Paracelso, e o misticismo alemão, que juntos prefiguraram o sistema de Baader. Podem também ser traçadas algumas analogias entre a Cabala judaico-cristã, frequentemente associada à Teosofia, e a sua cosmogonia mística. Os escritos de Böhme contêm muitas semelhanças com as teorias filosóficas da Alemanha do século XIX, sendo ele considerado um precursor de Espinosa e Schelling. A sua influência foi significativa no pensamento alemão, particularmente em Franz von Baader. Böhme exerceu um verdadeiro fascínio sobre Hegel e toda a geração romântica, tendo a sua influência também chegado ao campo religioso, tanto na Holanda como na Alemanha, através do pietismo.

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O Dia em que Mary Poppins foi Egoísta e o Dia em que Walt Disney Salvou a sua Alma

José Carlos Fernández 0 297

“Disney disse a ela [Pamela L. Travers, a autora da personagem Mary Poppins] que era muito arrogante. Ela respondeu, “Sou?”, “Sim” , reafirmou ele. “Pensas que sabes mais sobre Mary Poppins do que eu sei.” “Bem, arrogante ou não”, respondeu ela, sorrindo, “penso que sei mais do que tu.” Disney destacou, triunfal, “não, não sabes mais”.

As muitas aventuras desta ama mágica foram geradas na infância de Pamela – a solidão da sua infância, sonhando acordada com Allora, o carácter dominante da sua tia materna, nas regras e preceitos de viver que lhe deram – e no seu amor por AE e os mistérios da criação que ouviu dos seus lábios e leu nos poemas de Yeats e Blake”.

Mary Poppins foi chamada “Deusa Mãe”, uma bruxa, uma fada boa, uma mulher sábia, uma “Mãe extática”, exemplificada como Artemis e como Sofia, Maria Magdalena ou a Virgem Maria. Diz-se que contém segredos Zen ou que compendia o Zen. [1]

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A Responsabilidade

Carlos Adelantado Puchal 0 351

Perguntaram-me sobre a responsabilidade, e à minha memória acudiu a longa viagem de Ulisses de regresso à sua pátria. Estou convencido de que, entre as múltiplas chaves em que podemos interpretar a narrativa de Homero, uma delas é a responsabilidade.
No sentido de cumprir com as suas obrigações, Ulisses acudiu à guerra de Troia. E não foi sozinho. Junto com ele navegaram os homens da sua pequena ilha, e junto com ele embarcaram, após dez anos de batalhas, para regressar à sua terra.
Homero conta-nos as aventuras extraordinárias que viveram, os perigos que sortearam, as tristezas e as alegrias que todos compartilharam. Através das grandes vicissitudes que os atingiram, destaca sempre o grande sentido de responsabilidade que Ulisses sente em relação aos seus companheiros.
Num dos episódios, sabemos que chega a solicitar que o amarrem ao mastro do navio, pois pretende escutar o canto das sereias sem cair na tentação de sucumbir a elas. É um momento crucial da odisseia.

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Tempo de Fazer

Delia Steinberg Guzmán 0 271

O compromisso que assumi nesta ocasião é tentar falar do nosso tempo; sobre este tempo que me atrevo a chamar de TEMPO DE FAZER.

Escolhi este tema porque nós, aqueles que gostamos de pensar no nosso tempo e nos questionarmos sobre a época em que vivemos, às vezes também gostamos de rever palavras e escritos antigos.

Textos muito antigos que todos conhecemos nos contam como Deus trabalhou seis dias e no sétimo descansou. Isto deveria ser uma norma para nós, um guia para a ação; porém, os seres humanos do nosso tempo são tão especiais e únicos, temos tanta capacidade de contrariar absolutamente quaisquer leis que nos sejam impostas, que fazemos exatamente o contrário: dos sete dias primordiais, trabalhamos um, e os outros seis descansamos; não sabemos do quê, mas descansamos.

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A Trágica Profecia de Malthus

Jorge Angel Livraga 1 419

Há alguns meses atrás, por ocasião de um congresso sobre a Hispano América, surgiu o tema da fome entre os povos do chamado, por alguns, Terceiro Mundo, e por outros, Grupo de Países em Desenvolvimento.
Mais tarde, diferentes meios da imprensa espanhola estavam interessados no tema mencionado e por alguém que, há 150 anos, desde Londres, lançou um folheto no qual se faziam algumas reflexões muito originais para o seu tempo, sobre as probabilidades de que a Humanidade fosse um dia, não muito distante, vítima do flagelo da fome ao nível quase planetário. Era o reverendo Thomas Robert Malthus, nascido em 1776 e falecido em 1834.
A sua obra não pretendeu ter muita importância, e tanto é assim que este cientista a publicou de maneira anónima, expondo a sua teoria simplista sobre a progressão geométrica em que a Humanidade crescia e a aritmética em que podia produzir alimentos, envolta nos algodões de um ecletismo invejável. Diz, por exemplo: o autor (…) é consciente de que ao usar tão negras tintas fê-lo convencido de que existem realmente na imagem e não são o resultado de preconceitos nem temperamento rancoroso. Na verdade, digno exemplo a seguir por todos os que vivemos no século XX, tão carregado de absolutismos e que costumamos escrever sem ter seriamente em conta que as nossas razões podem estar erradas.

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Dello Amore de Ficino e o Caminho para a Alma se Unir ao Divino

José Ramos 0 306

Marsilio Ficino nasceu em Florença, em outubro de 1433. Em 1451, recebeu a consagração como clérigo, dedicando-se simultaneamente ao estudo e divulgação do Neoplatonismo, inspirado em fontes antigas como Platão, Dionísio Areopagita, Avicena, Alfarabi, Avicebron, Cícero, Santo Agostinho, Apuleio, Plotino, Calcídio e Macróbio.

Em 1456, iniciou a redação das suas primeiras obras filosóficas: Libri quattuor Institutionum ad Platonicam disciplinam; De laudibus medicinae; De voluptate; De virtutibus moralibus; Compendium de opinionibus philosophorum circa Deum et animam; De furore divino; e De quattuor sectis philosophorum.

Em 1458, o seu pai enviou-o à Universidade de Bolonha para estudar medicina. No ano seguinte, dedicou-se ao estudo do grego, traduzindo várias obras, incluindo os Hinos Órficos e as obras de Hesíodo e Homero.

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Gilgamesh e a Roda dos Astros

Laura Winckler 0 452

Sumérios, babilónios, hurritas e hititas conheciam esse mito, e podemos estimar que a poesia épica grega antiga o tomou como modelo, uma vez que o personagem de Héracles é semelhante a Gilgamesh em vários aspetos. As suas marcas sobreviverão até à Idade Média europeia, onde o encontraremos sob a forma de São Jorge e do dragão, o que lembra uma das obras do herói sumério.
A versão suméria parece hoje ser mais pobre que a versão babilónica, devido à perda das tábuas mais antigas. Restam apenas 35.000 versos do épico sumério. A seguir apresentaremos a versão de Kramer, tentando encontrar as correspondências astrológicas do relato.
Na verdade, o mito de Gilgamesh é um mito solar; razão pela qual, poderá em determinado momento, vencer os escorpiões, símbolos da consumação da vida, que deverão ceder-lhe o lugar. Igualmente, o seu caráter é confirmado por sua oposição à deusa lunar Inana. A passagem pelos doze signos do Zodíaco, refletem-se nos trabalhos de Gilgamesh e, na realidade, em toda a sua existência. Isto confirma o parentesco entre o mito de Gilgamesh e o de Hércules.

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A Sabedoria de Ptahhotep – Um Ideal de Autorrealização e Serviço aos Outros

Julien Scott 0 497

De acordo com a lenda medieval, do Egito, o filósofo grego Parménides inventou a lógica enquanto sentado numa rocha no Egito. Isto indica a crença de que a filosofia grega foi muito inspirada pela sabedoria do Egito, e isso revela que isto não é somente uma lenda. Pitágoras – o grande inventor da palavra filosofia na Grécia – foi avisado pelo seu professor Thales para viajar para o Egito, onde o próprio Thales tinha sido ensinado. E Platão ele mesmo passou vários anos estudando com sacerdotes egípcios em Heliópolis.

Porque, então, a maior parte dos livros nos dizem que a filosofia começou na antiga Grécia? Porque, de acordo com a nossa atual visão do mundo, herdada dos séculos XVIII e XIX, é impossível acreditar que um povo como os egípcios, que acreditavam em magia, pudessem ter tido uma filosofia. E ainda agora, de acordo com o recente livro do antigo sábio Egípcio Ptahhotep1, os antigos egípcios tinham uma palavra para filosofia: merut nefret, que significa desejar sabedoria ou desejar um ideal, que é praticamente idêntico à palavra grega filosofia, ou amor à sabedoria. O filósofo é a pessoa que ama a sabedoria e quer tornar-se sábio, ou alguém que ama o ideal e pretende alcançá-lo na sua vida. Ptahhotep torna isto ainda mais explícito na seguinte afirmação: A pessoa educada é aquela que alimenta a sua alma realizando na terra o ideal nele contido. Por outras palavras, todos nós temos um ideal no eu interior e aquele que tem o sentido desse ideal esforça-se por trazê-lo à realidade. Este é o significado original de filósofo em ambas as tradições da Grécia e do Egito.

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O Mundus Imaginalis
Na Prática da Imaginação Ativa e Visualização1

Agostinho Dominici 0 421

A razão porque a imaginação é um conceito tão poderoso e importante para compreender é que sem ela a criatividade humana seria dramaticamente diminuída. Mas este conceito está sujeito a várias interpretações (psicológicas, filosóficas, espirituais, etc.) e por isso muito difícil para uma simples definição. De momento será suficiente dizer que a imaginação é a faculdade da mente de gerar imagens . Com esta definição, posso também concentrar a atenção da nossa discussão perante um outro conceito chave, o da mente. É um outro conceito que ainda é mais difícil determinar, na verdade um grande mistério, algo que está na base da atividade humana e cósmica. E, estou aqui acrescentando o adjetivo cósmico porque todas as cosmogonias da antiguidade postuladas como primeiro ato de criação, um ato de ideação. O Demiurgo (i.e., A Mente Cósmica) primeiro imaginou o universo e depois trouxe-o para a manifestação. Da mesma forma a miríade de objetos que enchem (e muitas desarrumam!) as nossas vidas, eram primeiro imaginadas nas nossas mentes e só depois dada uma forma física tangível.

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O Melhor Amigo do Homem e o Pior Amigo do Cão

João Pedro Pio 0 259

O Ser Humano e o Cão estão unidos desde o início, e talvez possamos dizer que um não existiria sem o outro. O Cão, porque nasceu ao aproximar-se da mente humana, e foi moldado por esta, e o Ser Humano, porque, tirando proveito das muitas forças do Cão, como fiel protetor e corajoso caçador, pôde sobreviver às muitas idades negras que o nosso mundo já viveu. O kanji (caracter japonês) para cão ilustra bem esta relação já que se escreve “犬” (lê-se inu) e é claramente representado por um Ser Humano de braços abertos com um pequeno traço assinalando o seu inseparável companheiro, situado alto e perto da cabeça.

Quem tem a oportunidade de viver com um cão pode confirmar que estes são seres especiais pois, talvez mais que qualquer outro animal, estão intimamente ligados ao Ser Humano. Ao passearem juntos, um cão frequentemente procurará o olhar do dono para saber como reagir perante o inesperado. Se o dono está medroso ou ansioso, a ameaça está confirmada e o cão prepara-se para o defender. Por outro lado, se o dono está tranquilo, isto transmite ao cão que não existe ameaça, e que não deve ladrar ou morder.

Esta ligação vai mais além da visão, e não faltam histórias de cães que, seguindo uma qualquer bússola misteriosa, atravessaram grandes distâncias, por terrenos desconhecidos, só para no final se reencontrarem com os seus desaparecidos donos. O olfato apuradíssimo que os caracteriza não é suficiente para explicar estes eventos, uma vez que em alguns casos a deslocação dos donos foi feita de avião, o que apagaria qualquer rasto olfativo para o cão. E se deixar um cão noutro país for um caso demasiado raro, conseguimos encontrar um exemplo mais comum: Quem nunca foi alertado pelo seu cão da chegada de um familiar muito antes de este bater à porta ou estacionar o carro longe de casa? Um conhecido autor, Rupert Sheldrake, famoso pela teoria dos campos mórficos, dedicou um livro inteiro a este fenómeno, intitulado “Cães que sabem quando os seus donos estão a chegar a casa”. Uma leitura recomendada para qualquer cético.

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Miguel Torga e o Veneno de Sartre

José Carlos Fernández 1 117

Ao ler o V Diário de Miguel Torga (1907-1995) constatamos que este poeta transmontano estudava, em 1949, como milhares de jovens na Europa, os livros de Jean Paul Sartre. Estes milhares, então, à medida que iam passando os anos, converter-se-iam em milhões, e o efeito tangível da filosofia deste autor existencialista haveria de se notar, nos ventos de destruição, caos, angústia e dissolução que provocaram, inclusive, no que um escritor francês chamou: a encarnação do desastre cultural francês do pós-guerra. E sendo a França o coração da Europa, essa arritmia, gangrena ou náusea, a escuridão do puro nada ou morte moral, estenderam-se por todos os membros, chegando também, está claro, a Espanha e a Portugal, nosso país irmão.

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A Chave do Triunfo

Carlos Adelantado 0 530

Em primeiro lugar, creio que devemos diferenciar o que chamamos êxitos do que é considerado um verdadeiro triunfo.

O êxito chega através do resultado feliz de um assunto, em que nos envolvemos, ou dos atos que levamos a cabo para atingir um determinado fim. Mas fazer algo com êxito não significa ser um triunfador.

De facto, toda a nossa existência é construída sobre vitórias e derrotas, quer dizer, sobre aquilo a que chamamos êxitos e fracassos, que se alternam no seu aparecimento e desaparecimento da nossa esfera de consciência. Qualquer ser humano com uma certa maturidade pode reconhecer e aceitar que, ao longo da sua vida, conheceu o sabor destes dois tipos de experiência.

O triunfo é algo mais complexo, pois não reside em coisas singelas, mas em alcançar objetivos mais elevados, graças à superação de dificuldades maiores. E por isso se relaciona de maneira natural, o triunfo com a vida, o bem mais precioso que se pode possuir, e resume-se na frase que marca o grande objetivo dos seres humanos: triunfar na vida.

Mas o que é triunfar na vida? Fomos levados a acreditar que é alcançar uma enorme quantidade de possessões de todo o género, ou uma comodidade que nos aproxima da felicidade, sem termos de fazer o mínimo de esforço.

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Filosofia: Um Modo de Vida

Delia Steinberg Guzmán 1 643

Estou convencida de que todos os seres humanos, mesmo que não o saibam e não tenham um título, são filósofos. Estou convencida de que qualquer ser humano que questiona as coisas e quando está sozinho consigo mesmo, quer saber quem é, deu nascimento a um filósofo.
O que é a filosofia? Não gosto de definições, talvez porque tive que estudar muitas, porque percebi que nesses casos a memória pouco serve, e o que tem servido é o que nos vai ficando na Alma. A filosofia, para além dos muitos conceitos que se têm explicado ao longo da história, para além do equilíbrio de finalidades que lhe têm dado, é a Grande Arte, a Grande Ciência. É uma atitude perante a vida. É uma atitude que requer uma Ciência; se alguém se faz perguntas, necessita respondê-las. E é uma atitude que implica uma arte porque essas palavras não se podem responder de qualquer forma.
O que é atitude perante a vida? É… ir por ela com os olhos abertos; é não ter medo de indagar os grandes mistérios; é não ter medo de olhar para o Universo e perguntar-se por ele, sobre si mesmo, sobre o Ser humano. E é ali onde coincidem todos os povos, porque, em todos os momentos, quando o homem se perguntou como se une com o Universo, encontrou Deus e refletiu-O de mil maneiras.

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Civilizações Antigas e Extraterrestres

Jorge Ángel Livraga 0 757

Para o homem, a sua origem sempre foi um enigma. E esta ignorância de algo tão importante levou-o a bater à porta de todas as soluções possíveis.

Durante os ciclos de predomínio da mentalidade religiosa, cada povo assimilou e ofereceu a sua própria versão da origem do homem e das suas civilizações, atribuindo-as à intervenção de um deus ou deuses mais ou menos pessoais.

A tradição védica fala-nos das emanações de Brahma, a origem das castas; a egípcia, da roda de oleiro de Toth; a maia, dos homens da terra; a tradição suméria, da criação do homem pela obra de Marduk; a chinesa, de Pan-Kuh; a hebraico-cristã, do Adão de barro saído da invocação de Jeová; a grega, de Prometeu e a reposição dos homens feita por Deucalião; e assim tantas versões que coincidem no essencial, embora difiram nos seus aspetos exotéricos, representações e nomes.

O que podemos observar, do ponto de vista filosófico, é que cada povo projetou de alguma forma as suas próprias características para dar forma inteligível ao mistério evidente que chamamos de Deus, e da mesma forma imaginou a sua própria origem segundo as suas próprias aceitações.

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O Herói de Mil Faces. Segunda Parte

Alfredo Aguilar 0 621

Neste livro, Joseph Campbell explora a ideia de que as narrativas mitológicas geralmente compartilham uma estrutura fundamental. Daí o nome que escolheu, o monomito, já que os mitos são basicamente resumidos num, que contém todas essas características essenciais. Para explicar a jornada do herói, Campbell recorreu, além de alguns elementos de Freud, aos arquétipos de Jung, às forças do inconsciente e à estrutura dos ritos de passagem de Arnold van Gennep. Lembremos que a jornada do herói começa neste mundo normal e quotidiano, do qual parte à chamada da aventura, cruzando um umbral que o leva a um mundo sobrenatural onde não se rege a ordem e as leis do quotidiano. Embarca num caminho de provas, que tem de passar, até alcançar a vitória final e regressar vitorioso para conceder os seus dons aos seus semelhantes. Devemos considerar também que estas provas, apesar de serem simbólicas, podem aparecer na vida normal ou quotidiana de qualquer indivíduo e, uma vez chegado o caso, temos de reconhecê-las primeiro e depois superá-las. Ninguém está isento de provas nesta vida e, o ideal seria que o simbolismo dos mitos nos sirva de pauta, guia e orientação para poder enfrentá-las.

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Julgamentos e Preconceitos: um Distanciamento Filosófico

Esmeralda Merino 0 443

A filosofia é intrinsecamente, amor à verdade. Embora não tenhamos a pretensão de conhecer ou alcançar a verdade absoluta, podemos tomá-la como guia e tentar direcionar até ela as nossas ações no quotidiano, naquilo que depende de nós, ou seja, em pensar e agir, porque a vida nos apresenta oportunidades para fazê-lo. Para tomar essa decisão não é necessário ter estudado Filosofia na universidade, pois todos somos filósofos por natureza.

O que significa pensar e agir com respeito à verdade? Basicamente, comportar-nos como o cavaleiro novato que, uma vez montado no seu cavalo, deve prestar atenção para tentar manejar adequadamente as rédeas da sua montaria, se quiser que ele o leve para onde pretende. Às vezes, isto exige deter o cavalo, que já se está movendo para um dos lados e corrigir o curso, se necessário.

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Terão as Propriedades da Matéria a Mesma Origem?

João Porto 0 510

As partículas fermiónicas, os quarks e os electrões, aquelas constituintes das bases da matéria ordinária, manifestam as suas características porque lhe são conferidas incontornavelmente pelos Campos Quânticos. São elas a manifestação resumida da existência desses campos ou a forma que estes utilizam para conferir a existência e a realidade conhecidas. Na dimensão dos acontecimentos quânticos, todas as partículas do Modelo Padrão, os fermiões e os bosões, emergem de flutuações verificadas num campo que poderemos definir por uma região do espaço delimitada onde existem grandezas matemáticas, vectoriais e escalares, distribuídas e mensuráveis que estabelecem relações íntimas com aquele espaço por uma função de onda. Ou seja, nesta dimensão todas as partículas no estado fundamental não excitado são ondas que emergem do vazio como partículas quando transferem a sua energia. É o que faz o Grande Colisionador de Hadrões, o maior instrumento concebido pelo Homem.

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Comentários a El Político, de Baltasar Gracián

Este artigo pretende refletir sobre a figura do homem que, sendo filósofo, chega a ser político, ou seja, o homem que, tendo-se conhecido a si mesmo, tenta ajudar os outros a fazê-lo. Este artigo pretende também extrapolar a ideia de povo ou de monarquia, como lhe chama Gracián, para todos os aspectos do ser humano considerados como «seres» que o compõem, aos quais é necessário conhecer, harmonizar e guiar como se fossem membros de um Estado, um Estado que é constituído por nós próprios.

Baltasar Gracián foi um jesuíta aragonês nascido em 1601 em Belmonte, hoje Belmonte de Gracián (Saragoça, Espanha). Homem de grande erudição, toma como referência o político perfeito, Fernando, o Católico. A obra que estou a comentar neste artigo é um constante elogio a esta figura. Não obstante, nela aparecem inúmeros reis, imperadores e figuras relevantes de todos os tempos e lugares, bem como os seus acontecimentos mais importantes, o que demonstra a sua grande erudição.

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Uma Revelação Surpreendente de H. P. Blavatsky: Jesus Cristo Reencarnou Como …o Filósofo Gnóstico Cerinto?

José Carlos Fernández 0 949

Todos os que trabalharam seriamente com a Doutrina Secreta de H. P. Blavatsky ter-se-ão dado conta da obra monumental e assombrosa que é, todo um mar insondável de conhecimentos, de erudição impossível, de sugestões impactantes, de raciocínios arrojados e impecáveis, de analogias diamantinas, brilhantíssima na sua exposição e sempre divertida e humilde nas suas ironias.
Mais de dez vezes terei lido o texto seguinte, e nunca havia imaginado como era fácil desenrolar a meada e descobrir a quem se referia, no capítulo A Doutrina dos Avatares, ao falar de Jesus Cristo como um deles.
Antes de mais, é necessário um contexto. Como quase todas as religiões (todas, se lermos nas entrelinhas), o cristianismo também aceitou a doutrina pitagórica da reencarnação e metempsicose. A pergunta: És tu o Elias que voltou? feita a Jesus, ou os ensinamentos de Orígenes, mais tarde proibidos no segundo Concílio de Constantinopla, são prova disso.

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Tradição ou Progresso?

Estudando o passado e refletindo sobre o presente, deparei-me com um par de características semelhantes. Aquilo a que se chamava milenarismo no ano 1000 – embora se chamasse assim depois do ano 1000 – é algo semelhante ao que está a acontecer agora depois do ano 2000. Antes do ano 1000, as pessoas tinham convicções muito fortes sobre a chegada do fim do mundo. Isto estava baseado no Apocalipse de João, por causa de uma frase que diz que a cada mil anos a besta desperta. Esta era a base da ideia do milenarismo sobre a extinção do mundo, apoiada pela autoridade religiosa da época.

No nosso tempo, influenciado neste caso pela autoridade científica, as pessoas voltam a pensar num tempo de catástrofes, de cataclismos, ou pelo menos no desaparecimento do nosso estilo de vida, o que para muitos seres humanos significa “o fim do mundo”, porque não concebem que possa haver outros estilos de vida.

A colapsologia diz-nos hoje que o colapso ecológico – se assim lhe quisermos chamar – coincidirá com o colapso económico. Segundo os seguidores destas teorias, tudo acontecerá ao mesmo tempo: um colapso económico, um colapso geopolítico, um colapso energético, quer dizer, vários colapsos ao mesmo tempo. Não sabemos o que desencadeará toda esta catástrofe: pode ser um terramoto na bolsa, uma doença global ou um movimento violento e destrutivo do planeta Terra.

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O Movimento e os Artefactos

Delia Steinberg Guzmán 1 440

O movimento é uma das grandes Leis da Natureza. No entanto, e pela dualidade que surge dos pares de opostos, também a inércia é uma lei.
O materialismo, que ganhou tanto crédito nos últimos séculos, introduziu de uma maneira subtil, a inércia no nosso estilo de vida, embora mascarada sob vários subterfúgios para a justificar.
O ser humano, tão rico em recursos práticos e tão débil em consciência espiritual, optou pela preguiça psicológica e física e descarregou a sua quota de movimento em artefactos de diferentes classes.
No passado remoto, quando as condições de vida passaram de itinerantes a sedentárias, os homens usavam animais – mais ou menos domesticados – para os ajudar no trabalho, ou seja, no movimento. E, também utilizaram outros homens, a quem escravizaram, para fugir dos trabalhos duros, os movimentos fortes.

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Os navegadores antigos podem ter precedido Colombo?

Jorge Angel Livraga 0 342

Este tema, que deveria ser reservado apenas aos conhecimentos científicos enfocados em critérios ecléticos e filosóficos, começa a ser, e será ainda mais com tempo, manipulado pelos interesses nacionalistas e políticos atuais que, em verdade, nada têm a ver com o facto do descobrimento…, mas servem-se disso, levando cada um, a água para o seu moinho.

Vamos enfocar a questão desde um ângulo que nos parece interessante, que é o da capacidade dos navios e da técnica geral da navegação nos tempos de Cristóvão Colombo e dos que o precederam, dentro dos limites que outorga um pequeno trabalho periodístico de divulgação.

Comecemos por assinalar a imensa obscuridade que rodeia, geralmente, todos os factos históricos, mesmo os mais próximos de nós, e daí poderemos deduzir as dificuldades que nos apresentam os mais distantes.

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A Função Mágica dos Rituais e Cerimónias

Julian Scott 0 655

De um ponto de vista esotérico, um ritual depende da existência da dimensão invisível. Esta dimensão invisível é constituída por um aspeto espiritual-mental, que é o domínio dos arquétipos ou seres vivos de ideias de que falam os platonistas; e por um aspeto astral, que é um mundo intermédio entre o espírito e a matéria, tal como a imaginação é a ligação entre o mundo das ideias e o mundo físico. Nesta visão, o mundo invisível existe, o mundo material reflete. O visível é a sombra do invisível.
Um ritual ou uma cerimónia é uma reconstituição da criação do mundo, uma oportunidade para se ligar às forças criadoras das origens e, assim, recomeçar, regenerar-se e emergir renovado. Um exemplo disto é o rito do batismo, que consiste em ser imerso nas águas primordiais, sofrer o Dilúvio e ressurgir no monte primordial de uma nova criação. Uma outra forma de encarar o ritual é vê-lo como uma porta para a dimensão invisível, um meio de acesso ao sagrado. E é por isso que os rituais são necessários, porque o invisível é, pela sua própria natureza, de difícil acesso para nós, prisioneiros como somos da carne e da matéria. Por isso, precisamos de ferramentas e dispositivos especiais para nos ajudar a alcançá-lo. Essas ferramentas são os símbolos, os mitos e os rituais.

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Resgate da Pureza da Infância

Patrícia Oliveira 0 599

Valeria a pena conhecer a versão original deste versículo, para melhor compreender o seu sentido. Ainda assim, a aventura de procurar compreendê-lo, tal como tem sido traduzido recentemente, vale por si mesma. O fascínio deste versículo encontra-se na antítese em que ele se constitui. Aparentemente, Jesus contrapõe a inocência (dos pequeninos) e a pena capital (a morte, a violência entre a violência); ou seja, para Jesus, aquele que atenta contra a inocência é réu de morte.

O que haverá de tão importante na inocência, que quem o ponha em causa deva morrer, antes que o faça? O que haverá de tão fulcral na inocência da infância, para que em outras passagens Jesus diga se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus (Jo. 3, 3) e deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas (Mt. 19, 14)? A idade da inocência termina, sensivelmente, com o início do Estádio das Operações Concretas, de Piaget (por volta dos 7 anos). Até esta idade, a criança não mente. Não sabe mentir, não vê interesse em mentir, não reconhece qualquer valor à mentira. Até esta idade, a criança conhece apenas a Verdade. Sente, pensa, vive e relaciona-se na Verdade.

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