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Culturas

Egito e o Nilo

Luis F. Ayala 0 255

A civilização egípcia desenvolveu-se dentro de um duplo quadro geográfico. Por um lado, os grandes desertos do sul, que confinavam com a Núbia, eram áridos e obrigavam os homens ao trabalho constante e à preocupação por manter uma agricultura florescente. Não era tarefa simples. Era necessário prever o abastecimento de água, canalizá-la e construir tanques, para garantir colheitas florescentes. As cidades estavam relativamente isoladas, como ilhas num mar de areia reverberante, cujas ondas de dunas cobriam e descobriam gradualmente vestígios já antigos do período médio. Pelo contrário, o Delta, ao norte, formava as terras baixas, com territórios férteis, capazes de dar várias colheitas num ano. O viajante Nilo abria-se em várias bocas, algumas naturais e outras criadas pela mão do homem, e ia desaguar no Mediterrâneo, formando uma grande porta de comunicação entre o Egito e as grandes culturas mediterrâneas produzindo assim um intercâmbio de valores culturais e materiais entre os povos. O Nilo, além de dar água a todo o território e fornecer o limo fertilizante nas cheias anuais, era a principal via de comunicação. Era a grande estrada fluvial, a coluna vertebral civilizatória. Através dele, os barcos cruzaram territórios durante a após o Período Pré-dinástico, e alcançou-se a unificação política que historicamente personificamos em Narmer, o primeiro rei do alto e baixo Egito.

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Explorações e Conquistas: a Viagem das Ideias

Mª Dolores F.-Fígares 0 321

Entre as duas polaridades extremas no eixo equinocial do mundo, a China no Oriente e no Ocidente a zona de influência da cultura grega: Itália, sul da Gália, Sicília, Cartago, Sardenha e a costa sudeste da Espanha, teceram-se juntas ao longo dos séculos influências e civilizações. As ideias viajaram pelos mais inesperados caminhos, fertilizando no seu rastro as grandes extensões onde surgiram as culturas dos povos semitas, Irão e a Índia, verdadeiros intermediários, lugares de síntese duradouros.
Embora tenhamos a ideia de dois mundos diferentes, que vivem a História com ritmos diferentes, o Oriente e o Ocidente partilham desde tempos antigos formas culturais e meios técnicos, a tal ponto que a divisão entre estes dois mundos é artificial e só resulta de uma oposição inventada pelo reducionismo. Também é impreciso atribuir às chamadas «culturas superiores» todos os avanços civilizatórios, e considerar os povos que sucessivamente invadiram os seus domínios como bárbaros desprovidos de qualquer cultura, pois eles também contribuíram para aumentar o património cultural.

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Sekhmet, a Deusa das Muitas Faces

João Porto 0 558

Em Dezembro de 2017, a descoberta arqueológica de 27 estátuas em granito de Sekhmet (Sachmet, Sakhet, Sekmet ou Sakhmet) com dois metros de altura, na margem oeste de Luxor, em Kôm el-Hettan, no templo do faraó Amenhotep III (1390 – 1352 AC), situado a cerca de 3 quilómetros do Nilo e que abrange uma área superior a 385.000 metros quadrados, confirmou de uma vez por todas o papel importante e sempre muito pouco compreendido desta deusa egípcia com cabeça de Leoa.

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Conectando com as Musas

Mirta Lopez 0 531

O célebre aforismo grego “Conhece-te a ti mesmo… e conhecerás o Universo e os Deuses” é o alicerce que nos leva a conceber a nossa verdadeira identidade, o que implica a capacidade de recordar experiências essenciais. Deste modo, na sua lógica conta com que as famosas Musas, filhas de Mnemosine, a memória, inspirem o mundo dos seres humanos como a sua mãe faz no mundo dos Seres Divinos. Como teria dito o admirado Platão, nós, seres humanos, também precisamos recordar a nossa origem divina para não nos perdermos neste mundo que nos rodeia. Hesíodo é quem melhor as descreve e que lhes concede o poder do omniconhecimento. Fá-las indispensáveis para quem quer saber ou fazer algo de real importância. Cantam o passado, presente e futuro para transmitir o conhecimento e abrir uma comunicação entre nós e o mais elevado da Natureza; ou seja, as artes que representam inspiram a estabelecer um elo entre a terra e o céu, entre nós e os deuses.

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Múmias do Antigo Egito II. O Sacerdote Nesperennub

Juan Martín Carpio 0 262

Uma das múmias e as suas cartonagens que nos acompanham nesta exposição é a do sacerdote Nesperennub, da XXII dinastia (943 a.C. – 716 a.C.) cuja capital era a cidade de Bubastis no Delta. Corresponde a uma época de decadência que pode ser considerada como sendo do 3º Período Intermediário. Os seus governantes eram de origem líbia, do povo Meshwesh, berberes. Por que é interessante mencionar estes dados? Bem, para entender que, embora as classes governantes já não possuíssem toda a grandeza, conhecimentos e participação em sistemas iniciáticos internos, há, porém, uma casta sacerdotal que preserva, pelo menos em parte, as tradições antigas. No entanto, tendo isso em conta, nem sempre os elementos simbólicos ou rituais que mencionaremos aqui se mantiveram em vigor em todas as épocas. Nesperennub é filho de outro sacerdote chamado Ankhefenkhons. Entre os seus títulos estavam os de “Aquele que Abre as Duas Portas do Céu em Karnak”. Ou seja, que se declara como um que conhece os “caminhos celestes”, que é capaz de abrir as duas portas, ou seja o possuidor das “duas chaves”, bem como as duas chaves que foram dadas a “Pedro”. Como comenta H. P. Blavatsky em Ísis sem Véu, vol. III, o seu nome “PTR”, embora geralmente seja traduzido por “pedra”, na verdade tem a sua origem na dos antigos sacerdotes “videntes” ou “intérpretes” “peter” ou “patar”.

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A Aventura de Nezahualcóyotl

A história de um rei, senhor de Texcoco, no vale do México, que foi poeta, construtor e filósofo, mas que – como todos os grandes homens – a sua vida é composta de luzes e sombras. A história de cada ser humano é composta de luz e sombra, como tudo o que se manifesta neste mundo dual. Nenhum homem pode escapar à ação desta dualidade. Quanto maior a luz que emitirmos, maior será a sombra que podemos projetar. Na madrugada de 28 de abril de 1402 no Vale do México, nasceu Acolmiztli Nezahualcóyotl, filho de Ixtlixóchitl, o velho, sexto senhor de Texcoco, e Matlacihuatzin, filha de Huitzilihuitl, segundo senhor de Tenochtitlan. Desde a infância, Nezahualcóyotl recebeu uma cuidadosa educação com o sábio filósofo Huitzilihuitzin, que soube despertar no jovem príncipe o afeto pelo conhecimento do antigo pensamento tolteca, sensibilidade poética e piedade; além disso, Huitzilihuitzin sabia como ser um aliado fiel de Nezahualcóyotl em tempos de adversidade. Também foi instruído no Calmecac, uma escola onde foram formados os filhos de nobres e sacerdotes, que estava sob a proteção do deus Quetzalcoatl e colocava um cuidado primário no autossacrifício, o conhecimento e o espírito.

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Múmias do Antigo Egito. A Vida que Continua

Juan Martín Carpio 0 309

Geralmente entende-se a mumificação como um processo pelo qual o cadáver adquire maior solidez e resistência à corrupção e desintegração. Embora o objetivo inicial pudesse ter sido esse, a realidade é que na maioria das mumificações, a sua rica composição em líquidos balsâmicos, perfumes, sais e resinas, etc., deteriorava bastante os corpos. De facto, aqueles enterrados nas areias do deserto em tempos pré-dinásticas conservavam-se melhor do que as múmias posteriores. Desde os primeiros tempos, uma constante foi o uso do natrão, um carbonato de sódio natural que tende a hidratar-se fortemente e, portanto, é capaz de extrair os líquidos dos corpos com os quais entra em contato. O hieróglifo que o representa, ḥsmen, poderia ser traduzido como “aquilo que torna firme, permanente ou estável por toda a eternidade”, que é justamente a função do natrão. Curiosamente, no papiro médico de Ebers há uma fórmula para “permanecer eternamente jovem”, na qual, além do pó de alabastro (alba-astrum, a estrela da manhã ou Vénus), mel e outras substâncias, e incluído o natrão. O natrão aparece às vezes entre as ligaduras, dentro da múmia, ou noutras cavidades naturais, etc. Isso consistiria principalmente em “mumificar”, ou seja, secar, como se faz com o peixe salgado, ou no processo de cura de certas carnes conhecidas de todos. Os demais ingredientes utilizados variaram com o tempo, mas em geral eram perfumes, óleos, gomas resinosas, etc., cuja finalidade era “embelezar”, cuidar, mostrar respeito e honrar o defunto.

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Desde quando Sabemos que a Terra É Redonda?

Jorge Ángel Livraga 0 206

Primeiramente destacamos que o facto de o nosso planeta ser redondo não é evidente a olho nu; e quanto ao facto de que a sua forma se deduz “facilmente” pelos eclipses da lua ao projetar sobre ela a sua “silhueta”, tampouco é certo se não se tem um conhecimento prévio. O acreditar que a humanidade chegou a determinados conhecimentos científicos pela simples via da observação dos elementos naturais, é desconhecer a parte prática do problema, sacrificando a verdade no altar dos sistemas imperantes, que necessitam, para se perpetuar, de fazer crer que o homem, apenas chegando à Ilustração e ao Materialismo, pôde derrubar os mais grossos muros da sua ignorância.

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As Perguntas de Göbekli Tepe

Paulo Alexandre Loução 0 890

Quando chegamos ao campo arqueológico de Göbekli Tepe é o seu próprio espaço com a linguagem simbólica dos seus Ts que nos desafia a esquecer a nossa forma de pensar baseada na preponderância do externo, a fim de nos sintonizarmos com as suas perguntas que são, de algum modo, também respostas, ou indicações face ao grande mistério da Vida. Do ponto de vista externo, deparamos com uma arte e arquitectura muito evoluídas realizada por caçadores-recolectores do epipaleolítico, estamos no X milénio a. C. , ou seja, há cerca de doze mil anos. No momento do nível III de Göbekli Tepe, o mais antigo até agora conhecido, e o mais impressionante pela sua qualidade técnica, não havia ainda nem agricultura, nem domesticação de animais. Estes caçadores-recolectores deixaram a sua marca de eternidade em assombrosos menires-T com relevos de grande qualidade escultórica nos chamados recintos B, C e D – que estão integrados num monte artificial com quinze metros de altura e trezentos de diâmetro. Os altos-relevos seja em 2D ou 3D são impressionantes, representam sobretudo serpentes, raposas e javalis, mas também aves, escorpiões, predadores, e outros animais. Os menires-T são eles próprios antropomórficos estilizados. Não há um antes e não há um depois, directo, a esta cultura dos Ts, só se atingiria este nível de arte e arquitectura uns seis mil anos depois, seguindo a matriz cronológica actual da arqueologia. Note-se que os Ts do local, às dezenas, são monólitos de calcário trabalhados com um peso de várias toneladas, sendo que os mais altos do recinto D pesam mais de quinze toneladas.

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Diego Gelmírez e o Roubo das Reliquias Sagradas, um Exemplo de Guerra Psicológica

José Carlos Fernández 0 594

Não é necessário ler Sun Tzu e a sua Arte da Guerra para reconhecer a importância dos símbolos na estratégia militar e na própria vida dos povos. Os símbolos têm tanta realidade no psicológico como os objetos materiais no físico; canalizam os valores psicológicos e morais de quem é regido por eles, “eletrizam” os ânimos e despertam do sonho da passividade. A história das crenças é, afinal, uma história de símbolos, e as guerras são guerras de símbolos que resumem diferentes visões do mundo. Símbolo é, por exemplo, a bandeira de um país, que encarna a Ideia ou Espírito Reitor (o Volksgheist de Hegel) e outorga unidade e destino a uma terra e às suas gentes; e que expressa os seus sonhos comuns, as suas esperanças, as suas vitórias e fracassos, a sua história. Praticamente toda a Idade Média é uma guerra religiosa entre a Cruz e o Crescente, e toda a Heráldica é uma história de símbolos que resumem genealogias e um esforço de glória acumulado durante séculos, escudos pelos quais facilmente se podia matar ou morrer. E quando o Grande Mestre do Templo outorga ao jovem Jaime I, o Conquistador, a espada do Cid, ela é um símbolo de Espanha inteira e de um velho Ideal que deve erguer-se vitorioso da sua tumba. Os mesmos heróis, que singram como tochas humanas os caminhos da História, são talismãs de carne e osso e vivem na memória e, portanto, no afã de gerações e mais gerações. A própria Santiago de Compostela, e graças à obra de Diego Gelmírez, foi um símbolo, juntamente com a obra dos “monges negros” de Cluny, do Renascimento da Europa, depois do frio e torturado sonho da Alta Idade Média.

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Buscando o Caminho mais Curto para Aurea Chersonesus (Segunda Parte)

Carlos Paiva Neves 0 327

Em finais do século XV, o epistema geográfico estava ainda configurado pelo legado ptolemaico. A Geografia de Ptolemeu tinha sido introduzida no Ocidente por volta de 1410, com cinco edições desde 1475 até 1490 (Alegria, 1994). Estava presente nas conceções geopolíticas de D. João II, conforme vem referido por João de Barros, no âmbito da descoberta do reino do Benim, após o regresso da primeira viagem de Diogo Cão, em 1484. O cronista escreve que o rei D. João II, juntamente com os seus cosmógrafos, recorreu a Ptolemeu para obterem toda a descrição de África, a localização do reino de Preste João e também do Promontório Prasso, conhecimentos estes que determinaram o envio de navios e missões por terra, aspirando o descobrimento da Índia (Barros, 1778). De facto, antes de 1460, as informações geográficas disponíveis eram inerentes à geografia ptolemaica, mas quando ocorre o contacto com o mapa de Fra Mauro, uma espécie de inovação cartográfica para a época, a navegação em direção ao Índico ficava mais apetecível para os portugueses. A transição dos conhecimentos ptolemaicos para outras fontes cartográficas posteriores não se faria bruscamente, porque tanto em Portugal como em Castela, as referências a Ptolemeu continuariam ainda visíveis por muito tempo, como é constatado nos argumentos do cosmógrafo espanhol Andrés Garcia de Céspedes, nos princípios do século XVII, uma vez mais sobre a posição das Molucas. Apesar de tudo, convém precisar que a presença da geografia ptolemaica nas orientações geopolíticas de D. João II focalizava-se apenas na sua nomenclatura, porque a lição de Ptolemeu absorveu a experiência dos árabes, através do empreendimento cartográfico de Fra Mauro (Cortesão, 1990b). O mapa de Ptolemeu continha uma imperfeição capital que se foi dissipando com a contínua perceção do espaço Atlântico, pelos portugueses: a Taprobana estava aprisionada no seio do oceano Índico. Foi Fra Mauro, aquele cartógrafo que primeiro ousou sulcar a velha conceção ptolemaica, representando o Índico de mãos dadas com o Atlântico (Gonçalves, 1961). A toponímia ptolemaica tem correspondência com aquela que muito provavelmente Pêro da Covilhã recolheu na sua missão ao Oriente, quando buscava informações sobre as redes comerciais das especiarias mais preciosas, existentes no Índico. Segundo Ptolemeu, o meridiano de 160 graus passa sobre a Aurea Chersonesus onde se localizam Malaca, as ilhas Molucas e Banda, as quais corresponderiam às Insulae Satyrorum, situadas no meridiano de 170 graus, a sul de Sinus Magnus, perto do Equador (Cortesão, 1974). De acordo com a figura 2, a reconstrução do mundo de Cláudio Ptolemeu, à esquerda (Dilke, Harley e Woodward, 1987), mostra a localização da Aurea Chersonesus (latim), que confere com a Chrysé Chersonesus (grego), situada na península da Malásia, de acordo com o pormenor da cópia de Nicolaus de Germanus de 1467, à direita.

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Buscando o Caminho mais Curto para Aurea Chersonesus (Primeira Parte)

Carlos Paiva Neves 0 636

Com a assinatura do tratado de Alcáçovas em 4 de setembro de 1479, não se pode afirmar que o interesse da Coroa portuguesa, quanto às viagens atlânticas para o Ocidente, tenha sido abandonado completamente. Anteriormente, em 28 de janeiro de 1474, através de carta de doação régia de quaisquer ilhas achadas no mar oceano, identifica-se a concessão que foi dada a Fernão Teles, de terras a descobrir para além das ilhas Floreiras, que tinham sido descobertas por Diogo de Teive e seu filho João de Teive. De acordo com este documento, subentende-se por um lado, que estas viagens não foram financiadas pela Coroa portuguesa, mas antes um reconhecimento por mercê dos serviços e remunerações a expensas do próprio Fernão Teles. De outra parte, fica bem patenteado o interesse quase obstinado da política expansionista de D. Afonso V pelos territórios da Guiné com a marca influente de seu filho, o príncipe D. João. Em carta de 10 de novembro de 1475 focaliza-se novamente a proteção dos territórios nos mares da Guiné e, inclui-se no quadro das ilhas a descobrir, povoadas ou não povoadas, a ilha das Sete Cidades. Considera-se relevante reforçar a ideia de que estas viagens para o Ocidente e sobretudo as implícitas na colonização dos Açores fundamentam a escola portuguesa de navegação no alto mar (Cortesão, 1990a), sendo natural que a sucessão da descoberta das ilhas açorianas, estimulasse ainda mais, o ímpeto aventureiro dos navegadores portugueses, após as descobertas das ilhas do Corvo e das Flores. Esta manifestação já vinha patenteada nos tempos do infante D. Henrique que aspirava descobrir terras desconhecidas no oceano Ocidental para além das que vinham descritas por Ptolemeu, acabando por observar essas ilhas a 300 léguas para lá de Finis Terrae, onde encontraram muitos milhafres ou açores (Canto, 1878).

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A Esfinge

Jorge Ángel Livraga 0 722

Segundo uma remota tradição egípcia recolhida e poetizada pelos gregos, a esfinge é um monstro com corpo de animal e cabeça de homem, que existe e não existe.
Descartando desde já as efémeras formas de crença dos distintos povos, que atribuíram caráter objetivo e tangível a esta criatura, a esfinge é um símbolo. Um símbolo não é uma mera fantasia, mas uma realidade psicológica prenhe de significados.

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Sabedoria Egípcia Escondida entre Hieróglifos e Papiros

Cláudia Barros 0 1399

Conhecemos o termo sophia desde os tempos da Grécia Antiga, e já na altura, o conceito conjugava em si quatro premissas basilares: conhecimento, ação, saber e virtude. Mas mais do que um conceito grego, a “sabedoria” traduz uma forma de conduta, de atuar e de agir de acordo com a ética. Atuar sabiamente era essencial. Possuir esta capacidade era um dom que equivalia a ter conhecimento de todas as coisas e a aplicá-las da melhor maneira, podendo-se assim contemplar a verdade camuflada do Mundo.

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Luz de Lisboa

José Carlos Fernández 0 681

Os cineastas vêm a Lisboa para filmar, porque sabem desta luz feiticeira. Assim como os publicitários, sendo usada para publicitar interesses menos sagrados do que ela. Os pintores, e os fotógrafos, querem desvendar os seus mistérios fazendo uso dos seus pincéis e do olho da sua câmara, os poetas dedicam-lhe versos e os escritores não se esquecem de incluí-la nos seus relatos e descrições, porque é uma das características mais distintas desta cidade. Os cientistas investigam os seus diferentes raios e frequências, estudam os ventos que formam e limpam o ar, as mini partículas em suspensão que a refletem e dispersam, o efeito diáfano das águas do Tejo que a devolve na face brilhante da sua linfa.

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Um Novo Modelo de Civilização

Gilad Sommer 0 953

Uma das coisas mais surpreendentes sobre civilizações antigas é a unidade do seu modo de vida. No Instituto de Artes de Chicago, por exemplo, há uma bela estela das ruínas maias de Calakmul, no México. Essa estela apresenta um governante na sua tarefa como sumo sacerdote, vestido com trajes cerimoniais, segurando objetos rituais e executando claramente um ritual importante. O ritual em questão, nós acreditamos que está relacionado com o fecho de um ciclo de dez anos no calendário maia, que foi medido com tal precisão, que hoje podemos determinar a data exata do ritual.

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A Kalevala

Nataliya Petlevych 0 696

Um épico finlandês verdadeiramente belo, no qual as palavras tecem histórias antigas do mundo, os seus ciclos de vida e os seus heróis. Cantada e transmitida de boca em boca durante séculos, foi gravada apenas no século XIX por Elias Lönnrot.

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Etana. O Rei que Voou Até aos Céus

No Ashmolean Museum de Oxford há uma curiosa peça de 4000 anos de antiguidade, conhecida como o «prisma de Weld-Blundell». Foi descoberta num local arqueológico da antiga cidade de Nippur, pelo investigador germano-americano Hermann Hilprecht e, desde a publicação do seu conteúdo em 1906 é, possivelmente, um dos descobrimentos que mais tem dado que falar aos estudiosos, uma vez que contém, escrita em língua suméria e caracteres cuneiformes, uma detalhada lista dos reis sumérios desde os tempos anteriores ao dilúvio até aos reis da dinastia Isin, a última a que faz referência, datada do século XVIII a.C.. 

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As Quatro Rainhas do Mito Artúrico e a Ascensão da Alma Humana

Trinta anos depois, li novamente, com grande satisfação, o livro de John Steinbeck “Os feitos do Rei Artur e seus nobres cavaleiros”, uma obra infelizmente inacabada e que é um tributo à chamada “Morte de Artur” de Thomas Mallory (1415-1471), livro de referência da literatura inglesa.

No capítulo de Lancelot, este primeiro cavaleiro da Távola Redonda enfrenta uma prova onde deve vencer a magia e as tentações de quatro rainhas. Como Lancelot é o símbolo da alma humana, sendo o cavaleiro mais sublime nesta obra artúrica, as quatro rainhas simbolizam, talvez, as quatro grandes ambições horizontais que arrastam a consciência, fragmentando-a.

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Isabel de Portugal, Rainha de Espanha

Carmen Morales 0 1283

No imaginário de todos os povos, há personagens que perduram através do tempo deixando atrás de si um rastro luminoso de respeito e admiração. Entre as rainhas espanholas dos últimos séculos, há uma que se destaca pela simpatia que desperta, mais de 400 anos depois da sua morte. Referimo-nos a Isabel de Portugal, esposa de Carlos I de Espanha e V da Alemanha, rainha e imperatriz e governadora de Castela e Aragão nos momentos de regência.

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Alquimia e Imortalidade Chinesa

Agostino Dominici 0 961

A alquimia chinesa tem dois ramos principais: “alquimia externa” (Waidan) e “alquimia interna” (Naidan). Ambas as palavras estão relacionadas à palavra dan (elixir), que evolui de um significado-raiz de “essência” (a verdadeira natureza e qualidade de uma entidade). Nesta breve introdução, vou-me concentrar na tradição da alquimia externa ou Waidan. Imagem: Parte do I Ching gravada em pedra, no Museu Beilin, em Xian, China. Creative Commons

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Filosofia do Povo do Sol

José Carlos Fernández 0 1021

Com as palavras deste título, Miguel Ángel Portillo refere-se à profundidade e complexidade do pensamento asteca. Na sua excepcional obra (que já é um clássico sobre este assunto), “Los Antiguos Mexicanos”, através das crónicas e canções mexicanas, mostra que há toda uma filosofia nos seus códices, tradições orais e construções sagradas. Imagem: Huitzilopochtli. Domínio Público

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A Selva dos Deuses Egípcios e o Machado (II) Akhenaton e a Inquisição

Juan Martín Carpio 0 816

No Egito ninguém “pertencia” a uma religião, não havia osirianos, ísisianos ou amonianos. Havia sacerdotes desses cultos, mas em muitos casos permutáveis, como uma espécie de cargos administrativos, e em qualquer caso os Sumos Sacerdotes desses cultos eram apenas representantes do faraó e este representava todo o povo perante o mundo do divino, sem distinções.

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