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Culturas

A Trágica Profecia de Malthus

Jorge Angel Livraga 1 285

Há alguns meses atrás, por ocasião de um congresso sobre a Hispano América, surgiu o tema da fome entre os povos do chamado, por alguns, Terceiro Mundo, e por outros, Grupo de Países em Desenvolvimento.
Mais tarde, diferentes meios da imprensa espanhola estavam interessados no tema mencionado e por alguém que, há 150 anos, desde Londres, lançou um folheto no qual se faziam algumas reflexões muito originais para o seu tempo, sobre as probabilidades de que a Humanidade fosse um dia, não muito distante, vítima do flagelo da fome ao nível quase planetário. Era o reverendo Thomas Robert Malthus, nascido em 1776 e falecido em 1834.
A sua obra não pretendeu ter muita importância, e tanto é assim que este cientista a publicou de maneira anónima, expondo a sua teoria simplista sobre a progressão geométrica em que a Humanidade crescia e a aritmética em que podia produzir alimentos, envolta nos algodões de um ecletismo invejável. Diz, por exemplo: o autor (…) é consciente de que ao usar tão negras tintas fê-lo convencido de que existem realmente na imagem e não são o resultado de preconceitos nem temperamento rancoroso. Na verdade, digno exemplo a seguir por todos os que vivemos no século XX, tão carregado de absolutismos e que costumamos escrever sem ter seriamente em conta que as nossas razões podem estar erradas.

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O que a Inteligência Artificial nos Mostra sobre Verônica?

Desvelar a aparência física de grandes nomes da História é um sonho de grande parcela de estudiosos, admiradores ou, mesmo, curiosos, querendo tornar sua abordagem particular sobre aquela figura como algo mais imersivo. Dar uma “cara” a um nome nos é instintivo e intensamente emblemático, pois passamos para um nível quase tangível, factual. Assim, após a reconstrução dos rostos de várias personalidades (ou devoções) – como Maria de Nazaré, a Virgem de Guadalupe, Francisco e Clara de Assis e a “princesa da Disney” Pocahontas -, o acadêmico e designer Átila Soares da Costa Filho recorre novamente à inteligência artificial para revelar como teria sido uma das mais recordadas santas na História da Igreja: Verônica de Jerusalém.

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A Alma da Pintura em Roma

José Carlos Fernández 0 686

Os romanos afirmaram que a sua arte pictórica deriva da Grécia e que a partir do século III a.C. teria assimilado as suas técnicas e estilos. Não tiveram pouca importância na transferência deste fogo artístico as campanhas militares na Sicília e na Magna Grécia; também o Círculo dos Scipios, filósofos, historiadores e poetas que foram a corte de Csipio Emílio, um círculo que mereceria o elogio de Cícero.

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Naumaquia

É dia festivo, cem mil pessoas se reuniram no Anfiteatro Flávio. Milhões de tijolos e blocos de várias pedras e mármores ergueram este vulcão artificial em cuja seio ruge a multidão sob o artístico tecto de bronze, cristal e sedas douradas orladas de púrpura. A arena não se vê, pois a imensa superfície está coberta pelas águas que desde a noite anterior fluem por um canal de três bocas. Os pálios e tapeçarias avermelhadas bordadas com águias douradas e machados de prata pendem das varandas de mármore âmbar para as águas sussurrantes. Duas grandes colunas coríntias pairam sobre este lago artificial; sobre cada uma, um escudo de sólida placa de bronze ostentando a imagem, de perfil, do Imperador e da sua esposa. Guirlandas de louros pendem de capitel em capitel, e de ambos os lados, em tripés gregos, arde o incenso da Índia.

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Duat: a Jornada da Alma-Faraó-Sol através das Horas da Noite

Alejandra Arias 0 1262

Fernando Schwarz (2), ao explicar os sete níveis de manifestação, diz-nos que no plano astral ou da «manifestação invisível» é onde encontramos os deuses mais próximos dos humanos (Osíris, Ísis, Seth e Néftis). Os deuses vivem neste plano na forma de ba ou duplo divino. Esclarece que, embora o chamemos de «o duplo», na realidade é o primeiro; e são os corpos visíveis os verdadeiros «duplos» ou duplicados desta forma ou matriz. É neste plano, diz-nos, onde se encontra o Duat. Do nosso ponto de vista humano, ainda mais manifestado, o Duat não é subterrâneo, embora esteja representado abaixo do horizonte. Em vez de submundo, Carpio (3) prefere referir-se a ele como «Intra Mundo». «Embora o (a) Duat possa ser concebido como uma espécie de lugar, na realidade é menos um lugar do que uma «condição de ser» que as coisas têm quando deixam a existência física e antes de voltarem a entrar nela» (1). Não é apenas para onde vão os mortos, mas de onde vêm os vivos. «É a fonte de toda vida, saúde e fertilidade no reino físico» (1).

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Sobre as Vidas Gémeas

Carlos Adelantado 0 438

O objetivo destas linhas não é, de forma alguma, oferecer um estudo académico aprofundado sobre as almas gémeas, muito menos perder-se em intrincados meandros do ocultismo onde o mais fácil e provável é cometer ingénuos erros; não é sequer correto, talvez, falar de almas gémeas quando a verdadeira intenção é seguir os passos, profundos e inquietos, dos grandes homens que foram no mundo. Vale a pena falar, portanto, com verdadeiro entusiasmo e sem falsos preconceitos, de Corações Irmãos. No mundo antigo, especialmente no que nos diz respeito aos episódios de guerra, temos numerosos testemunhos disto. Homero, o filho predileto das Musas, conta-nos no último ano da Guerra de Troia, como em pleno combate e no auge da batalha, encontrarão-se, do lado grego, o líder Diomedes, e do lado troiano, Glauco. Estes dois guerreiros, unidos pela sagrada hospitalidade que revelaram os seus antepassados, vão trocar as suas armas em sinal de amizade, sem que o sangue derramado à sua volta numa furiosa oferenda à dor e à morte, seja um obstáculo que os impeça de estarem em harmonia, isto é, coração com coração. De bronze eram as armas de Diomedes, filho de Tideo, e forjadas em reluzente ouro tinham sido as de Glauco.

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O Conceito Político de Roma

O nome do autor não aparece 0 445

Há um ditado tristemente correto que diz que “a História é escrita pelos vencedores”. O revisionismo histórico de hoje invalida em parte esta sentença, mas a sua execução é muito difícil porque as próprias fontes dos feitos passados aparecem viciadas e defeituosas. Quando as pessoas hoje se referem a Roma de um ponto de vista político, geralmente a imaginam como uma nação conquistadora que escravizou centenas de povos, levando a imoralidade e a violência para onde ia. Mas será que isto é exato? Ao julgar Roma, geralmente tomamos em conta os seus aspetos negativos, que ela tinha, como todas as formas de civilização. Mas, seria justo e exato julgar o cristianismo apenas pelas fogueiras inquisitoriais ou, o atual século, pelos campos de concentração e câmaras de gás? É evidente que uma análise construtiva nos deve levar à consideração dos valores morais e materiais positivos que tendem a contrabalançar e até mesmo esfumar as imperfeições lógicas da existência humana.

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Ciência na Antiga Grécia

Antonio Russo 0 1044

É necessário para abordar o tema da Ciência e, em particular, o que significava a Ciência nos tempos antigos, como na Grécia pré-helénica, clássica e helénica, para tentar definir o que se entende hoje por Ciência e ver se na antiguidade mencionada se entendia o mesmo.

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A Origem do Universo segundo as Tradições Africanas

Franco P. Soffietti 0 1740

Até algumas décadas atrás, no âmbito académico ocidental, quando se falava da história da humanidade, considerava-se que os povos africanos não eram considerados parte dela. Talvez por os identificarem como seres selvagens ou por terem costumes diferentes dos europeus, pensavam que não tinham passado digno de guardar na memória. Mas isto foi mudando nos últimos tempos e o aprofundamento nas antiquíssimas culturas africanas, permitiu trazer novamente à luz fragmentos do conhecimento da humanidade em contacto com a sabedoria atemporal.

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O Coração de Jade da Antiga Hattusa

José Carlos Fernández 0 1020

Viajar para o coração do Império Hitita, para a cidade de Hattusa é uma experiência formidável. Encravada no centro da Anatólia, entre montanhas e penhascos que surgem do altiplano, centenas de templos (dos quais quase não há vestígios) e residências oficiais se estendem por uma área de mais de 2 quilómetros quadrados. Na época hitita, e já na sua decadência, foi devastada por um incêndio, por volta do ano 1.178 a.C. e sobre as suas ruínas se ergueu uma nova luvita ou cidade neo-hitita.

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O Sufismo, Algo Mais que Uma Religião

Ramón Sanchis Ferrándiz 1 1094

Toda a religião tem dois aspetos que a complementam, um exotérico e outro esotérico, porque existem crentes que não se contentam com o cumprimento dos rituais e normas de conduta, nem uma conceção intelectual da divindade, mas sim com uma experiência profunda que os leva à união com Deus. São aqueles que buscam, dentro da tradição, um caminho ascético ou místico, uma senda espiritual (tasawwuf), aqueles que caminham para o conhecimento esotérico à margem da corrente religiosa mais ortodoxa.

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Divindades Egípcias: Mut, a Deusa do Mistério

Jordania Santos 0 1866

Na tríade tebana reconhecemos o aspeto feminino Mut, a mãe dos deuses e do mundo, relacionada também com a deusa Sekhmet, a deusa leoa combativa e curativa, que representa os dois aspetos fundamentais da feminilidade de Mut. Essa Deusa surge das Águas Primordiais e traz à vida os mistérios da dimensão visível, que juntamente com Amón garantiam a manutenção da ordem cósmica e a sua projeção na Terra. A partir da décima oitava dinastia do Império Novo adquire importância o seu culto, substituindo em Tebas a deusa Amonet como esposa de Amón. Amonet, a deusa do Mistério, refere-se ao oculto, como deusa protetora e primordial, personifica o vento norte, que traz vida. Ela era representada como uma serpente, ou mulher com a cabeça de uma serpente, com a coroa vermelha do Baixo Egito em Tebas e sob a aparência de uma mulher com a cabeça de rã em Hermópolis, que juntamente com Amón e os outros três casais criadores geram todo o manifestado.

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Atlântida: Destruição das Teorias Antropológicas Materialistas

Jorge Ángel Livraga 0 476

As teorias que sobre o desenvolvimento das civilizações e, a antiguidade do Homo sapiens, desenvolveram os “evolucionistas” e o materialismo, em geral, no início do século XIX, desmoronam estrondosamente.
Aqueles de nós que fomos e somos leitores habituais da Doutrina Secreta de HP Blavatsky sabemos como, há um século, a autora teve que lutar contra a “evidência” da “ciência oficial” sobre a antiguidade abreviada do homem, a não existência da Atlântida. e a crença de que a cultura humana não tinha mais de 6.000 anos. Certos conhecimentos, como o conhecimento astronómico, foram atribuídos a centros civilizacionais gregos, se não romanos.

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O Mito Persa de Yima

José Carlos Fernández 0 1175

Trata-se de um dos mitos mais importantes da tradição avéstica. Aparece como tal no segundo Fargard de Vendidad Sade, o tratado do Militante. No entanto, ao não incluir um conjunto de preceitos morais, faz pensar os especialistas de que talvez se trate da interpolação de um mito antigo. Da Índia? Referente à humanidade primitiva, aquela que havia antecedido o Dilúvio Universal, o afundamento da Atlântida? As semelhanças com o mito bíblico de Noé ou do sumério Utnapishtin são evidentes. Neste hino Yima é o primeiro rei, o primeiro homem com que Ormuz, rei dos deuses, teria “conversado”. O primeiro que teria recebido a Lei de Ahura Mazda, a mesma que Zoroastro teria anunciado e içado como estandarte de ideias capaz de transformar a Humanidade sumida no caos da ignorância. Ahura Mazda encarrega Yima de ser o portador de uma “Revelação”, porém este se considera incapaz e aceita somente engendrar criaturas e governá-las com equidade. Compromete-se perante Ahura, “a proteger o mundo, alimentar e velar por ele”, mas não para ensinar, meditar e proclamar a Lei. Recebe de Deus os instrumentos mágicos, uma lança e um anel de ouro. Faz crescer tanto as criaturas na Terra, que esta não é suficiente para contê-las e alimentá-las, e por três vezes ele deve alargá-la com os presentes mágicos de Ormuz. Sobre esta terra renovada alargou a propagação de “gado, animais selvagens, homens, cães, pássaros e fogos vermelhos e ardentes”, até não haver mais sítio para eles e a Terra não poder aumentar mais o seu tamanho. Yima seguindo as instruções de Ormuz, vê-se obrigado a reduzir a superpopulação, fazendo uma seleção dos “germes” dos melhores exemplares. O resto é devastado por intermédio de um cataclismo em que as águas cobrem e dissolvem tudo o que pesava sobre Spendarmat (a Terra). As sementes de homens, animais e fogos são resguardadas num recinto (VARA) em que tudo cresce muito lentamente e os homens se reproduzem a cada 40 anos. Todas as criaturas selecionadas vivem em pares num reino isento de maldade e discórdia, ao abrigo das geladas águas do alto, das perigosas torrentes dos vales e da neve gelada das regiões intermédias. Yima elevou fortes e altas muralhas em torno do recinto sagrado e no seu centro, uma torre com janelas de onde se derrama um divino esplendor. Um pássaro chegado do céu, KARSHIPTA, ensina a Lei de Ahura a todas as criaturas.

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Egito e o Nilo

Luis F. Ayala 0 623

A civilização egípcia desenvolveu-se dentro de um duplo quadro geográfico. Por um lado, os grandes desertos do sul, que confinavam com a Núbia, eram áridos e obrigavam os homens ao trabalho constante e à preocupação por manter uma agricultura florescente. Não era tarefa simples. Era necessário prever o abastecimento de água, canalizá-la e construir tanques, para garantir colheitas florescentes. As cidades estavam relativamente isoladas, como ilhas num mar de areia reverberante, cujas ondas de dunas cobriam e descobriam gradualmente vestígios já antigos do período médio. Pelo contrário, o Delta, ao norte, formava as terras baixas, com territórios férteis, capazes de dar várias colheitas num ano. O viajante Nilo abria-se em várias bocas, algumas naturais e outras criadas pela mão do homem, e ia desaguar no Mediterrâneo, formando uma grande porta de comunicação entre o Egito e as grandes culturas mediterrâneas produzindo assim um intercâmbio de valores culturais e materiais entre os povos. O Nilo, além de dar água a todo o território e fornecer o limo fertilizante nas cheias anuais, era a principal via de comunicação. Era a grande estrada fluvial, a coluna vertebral civilizatória. Através dele, os barcos cruzaram territórios durante a após o Período Pré-dinástico, e alcançou-se a unificação política que historicamente personificamos em Narmer, o primeiro rei do alto e baixo Egito.

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Explorações e Conquistas: a Viagem das Ideias

Mª Dolores F.-Fígares 0 610

Entre as duas polaridades extremas no eixo equinocial do mundo, a China no Oriente e no Ocidente a zona de influência da cultura grega: Itália, sul da Gália, Sicília, Cartago, Sardenha e a costa sudeste da Espanha, teceram-se juntas ao longo dos séculos influências e civilizações. As ideias viajaram pelos mais inesperados caminhos, fertilizando no seu rastro as grandes extensões onde surgiram as culturas dos povos semitas, Irão e a Índia, verdadeiros intermediários, lugares de síntese duradouros.
Embora tenhamos a ideia de dois mundos diferentes, que vivem a História com ritmos diferentes, o Oriente e o Ocidente partilham desde tempos antigos formas culturais e meios técnicos, a tal ponto que a divisão entre estes dois mundos é artificial e só resulta de uma oposição inventada pelo reducionismo. Também é impreciso atribuir às chamadas «culturas superiores» todos os avanços civilizatórios, e considerar os povos que sucessivamente invadiram os seus domínios como bárbaros desprovidos de qualquer cultura, pois eles também contribuíram para aumentar o património cultural.

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Sekhmet, a Deusa das Muitas Faces

João Porto 0 1580

Em Dezembro de 2017, a descoberta arqueológica de 27 estátuas em granito de Sekhmet (Sachmet, Sakhet, Sekmet ou Sakhmet) com dois metros de altura, na margem oeste de Luxor, em Kôm el-Hettan, no templo do faraó Amenhotep III (1390 – 1352 AC), situado a cerca de 3 quilómetros do Nilo e que abrange uma área superior a 385.000 metros quadrados, confirmou de uma vez por todas o papel importante e sempre muito pouco compreendido desta deusa egípcia com cabeça de Leoa.

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Conectando com as Musas

Mirta Lopez 0 773

O célebre aforismo grego “Conhece-te a ti mesmo… e conhecerás o Universo e os Deuses” é o alicerce que nos leva a conceber a nossa verdadeira identidade, o que implica a capacidade de recordar experiências essenciais. Deste modo, na sua lógica conta com que as famosas Musas, filhas de Mnemosine, a memória, inspirem o mundo dos seres humanos como a sua mãe faz no mundo dos Seres Divinos. Como teria dito o admirado Platão, nós, seres humanos, também precisamos recordar a nossa origem divina para não nos perdermos neste mundo que nos rodeia. Hesíodo é quem melhor as descreve e que lhes concede o poder do omniconhecimento. Fá-las indispensáveis para quem quer saber ou fazer algo de real importância. Cantam o passado, presente e futuro para transmitir o conhecimento e abrir uma comunicação entre nós e o mais elevado da Natureza; ou seja, as artes que representam inspiram a estabelecer um elo entre a terra e o céu, entre nós e os deuses.

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Múmias do Antigo Egito II. O Sacerdote Nesperennub

Juan Martín Carpio 0 465

Uma das múmias e as suas cartonagens que nos acompanham nesta exposição é a do sacerdote Nesperennub, da XXII dinastia (943 a.C. – 716 a.C.) cuja capital era a cidade de Bubastis no Delta. Corresponde a uma época de decadência que pode ser considerada como sendo do 3º Período Intermediário. Os seus governantes eram de origem líbia, do povo Meshwesh, berberes. Por que é interessante mencionar estes dados? Bem, para entender que, embora as classes governantes já não possuíssem toda a grandeza, conhecimentos e participação em sistemas iniciáticos internos, há, porém, uma casta sacerdotal que preserva, pelo menos em parte, as tradições antigas. No entanto, tendo isso em conta, nem sempre os elementos simbólicos ou rituais que mencionaremos aqui se mantiveram em vigor em todas as épocas. Nesperennub é filho de outro sacerdote chamado Ankhefenkhons. Entre os seus títulos estavam os de “Aquele que Abre as Duas Portas do Céu em Karnak”. Ou seja, que se declara como um que conhece os “caminhos celestes”, que é capaz de abrir as duas portas, ou seja o possuidor das “duas chaves”, bem como as duas chaves que foram dadas a “Pedro”. Como comenta H. P. Blavatsky em Ísis sem Véu, vol. III, o seu nome “PTR”, embora geralmente seja traduzido por “pedra”, na verdade tem a sua origem na dos antigos sacerdotes “videntes” ou “intérpretes” “peter” ou “patar”.

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A Aventura de Nezahualcóyotl

A história de um rei, senhor de Texcoco, no vale do México, que foi poeta, construtor e filósofo, mas que – como todos os grandes homens – a sua vida é composta de luzes e sombras. A história de cada ser humano é composta de luz e sombra, como tudo o que se manifesta neste mundo dual. Nenhum homem pode escapar à ação desta dualidade. Quanto maior a luz que emitirmos, maior será a sombra que podemos projetar. Na madrugada de 28 de abril de 1402 no Vale do México, nasceu Acolmiztli Nezahualcóyotl, filho de Ixtlixóchitl, o velho, sexto senhor de Texcoco, e Matlacihuatzin, filha de Huitzilihuitl, segundo senhor de Tenochtitlan. Desde a infância, Nezahualcóyotl recebeu uma cuidadosa educação com o sábio filósofo Huitzilihuitzin, que soube despertar no jovem príncipe o afeto pelo conhecimento do antigo pensamento tolteca, sensibilidade poética e piedade; além disso, Huitzilihuitzin sabia como ser um aliado fiel de Nezahualcóyotl em tempos de adversidade. Também foi instruído no Calmecac, uma escola onde foram formados os filhos de nobres e sacerdotes, que estava sob a proteção do deus Quetzalcoatl e colocava um cuidado primário no autossacrifício, o conhecimento e o espírito.

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Múmias do Antigo Egito. A Vida que Continua

Juan Martín Carpio 0 502

Geralmente entende-se a mumificação como um processo pelo qual o cadáver adquire maior solidez e resistência à corrupção e desintegração. Embora o objetivo inicial pudesse ter sido esse, a realidade é que na maioria das mumificações, a sua rica composição em líquidos balsâmicos, perfumes, sais e resinas, etc., deteriorava bastante os corpos. De facto, aqueles enterrados nas areias do deserto em tempos pré-dinásticas conservavam-se melhor do que as múmias posteriores. Desde os primeiros tempos, uma constante foi o uso do natrão, um carbonato de sódio natural que tende a hidratar-se fortemente e, portanto, é capaz de extrair os líquidos dos corpos com os quais entra em contato. O hieróglifo que o representa, ḥsmen, poderia ser traduzido como “aquilo que torna firme, permanente ou estável por toda a eternidade”, que é justamente a função do natrão. Curiosamente, no papiro médico de Ebers há uma fórmula para “permanecer eternamente jovem”, na qual, além do pó de alabastro (alba-astrum, a estrela da manhã ou Vénus), mel e outras substâncias, e incluído o natrão. O natrão aparece às vezes entre as ligaduras, dentro da múmia, ou noutras cavidades naturais, etc. Isso consistiria principalmente em “mumificar”, ou seja, secar, como se faz com o peixe salgado, ou no processo de cura de certas carnes conhecidas de todos. Os demais ingredientes utilizados variaram com o tempo, mas em geral eram perfumes, óleos, gomas resinosas, etc., cuja finalidade era “embelezar”, cuidar, mostrar respeito e honrar o defunto.

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Desde quando Sabemos que a Terra É Redonda?

Jorge Ángel Livraga 0 402

Primeiramente destacamos que o facto de o nosso planeta ser redondo não é evidente a olho nu; e quanto ao facto de que a sua forma se deduz “facilmente” pelos eclipses da lua ao projetar sobre ela a sua “silhueta”, tampouco é certo se não se tem um conhecimento prévio. O acreditar que a humanidade chegou a determinados conhecimentos científicos pela simples via da observação dos elementos naturais, é desconhecer a parte prática do problema, sacrificando a verdade no altar dos sistemas imperantes, que necessitam, para se perpetuar, de fazer crer que o homem, apenas chegando à Ilustração e ao Materialismo, pôde derrubar os mais grossos muros da sua ignorância.

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As Perguntas de Göbekli Tepe

Paulo Alexandre Loução 0 1494

Quando chegamos ao campo arqueológico de Göbekli Tepe é o seu próprio espaço com a linguagem simbólica dos seus Ts que nos desafia a esquecer a nossa forma de pensar baseada na preponderância do externo, a fim de nos sintonizarmos com as suas perguntas que são, de algum modo, também respostas, ou indicações face ao grande mistério da Vida. Do ponto de vista externo, deparamos com uma arte e arquitectura muito evoluídas realizada por caçadores-recolectores do epipaleolítico, estamos no X milénio a. C. , ou seja, há cerca de doze mil anos. No momento do nível III de Göbekli Tepe, o mais antigo até agora conhecido, e o mais impressionante pela sua qualidade técnica, não havia ainda nem agricultura, nem domesticação de animais. Estes caçadores-recolectores deixaram a sua marca de eternidade em assombrosos menires-T com relevos de grande qualidade escultórica nos chamados recintos B, C e D – que estão integrados num monte artificial com quinze metros de altura e trezentos de diâmetro. Os altos-relevos seja em 2D ou 3D são impressionantes, representam sobretudo serpentes, raposas e javalis, mas também aves, escorpiões, predadores, e outros animais. Os menires-T são eles próprios antropomórficos estilizados. Não há um antes e não há um depois, directo, a esta cultura dos Ts, só se atingiria este nível de arte e arquitectura uns seis mil anos depois, seguindo a matriz cronológica actual da arqueologia. Note-se que os Ts do local, às dezenas, são monólitos de calcário trabalhados com um peso de várias toneladas, sendo que os mais altos do recinto D pesam mais de quinze toneladas.

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Diego Gelmírez e o Roubo das Reliquias Sagradas, um Exemplo de Guerra Psicológica

José Carlos Fernández 0 1420

Não é necessário ler Sun Tzu e a sua Arte da Guerra para reconhecer a importância dos símbolos na estratégia militar e na própria vida dos povos. Os símbolos têm tanta realidade no psicológico como os objetos materiais no físico; canalizam os valores psicológicos e morais de quem é regido por eles, “eletrizam” os ânimos e despertam do sonho da passividade. A história das crenças é, afinal, uma história de símbolos, e as guerras são guerras de símbolos que resumem diferentes visões do mundo. Símbolo é, por exemplo, a bandeira de um país, que encarna a Ideia ou Espírito Reitor (o Volksgheist de Hegel) e outorga unidade e destino a uma terra e às suas gentes; e que expressa os seus sonhos comuns, as suas esperanças, as suas vitórias e fracassos, a sua história. Praticamente toda a Idade Média é uma guerra religiosa entre a Cruz e o Crescente, e toda a Heráldica é uma história de símbolos que resumem genealogias e um esforço de glória acumulado durante séculos, escudos pelos quais facilmente se podia matar ou morrer. E quando o Grande Mestre do Templo outorga ao jovem Jaime I, o Conquistador, a espada do Cid, ela é um símbolo de Espanha inteira e de um velho Ideal que deve erguer-se vitorioso da sua tumba. Os mesmos heróis, que singram como tochas humanas os caminhos da História, são talismãs de carne e osso e vivem na memória e, portanto, no afã de gerações e mais gerações. A própria Santiago de Compostela, e graças à obra de Diego Gelmírez, foi um símbolo, juntamente com a obra dos “monges negros” de Cluny, do Renascimento da Europa, depois do frio e torturado sonho da Alta Idade Média.

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Buscando o Caminho mais Curto para Aurea Chersonesus (Segunda Parte)

Carlos Paiva Neves 0 672

Em finais do século XV, o epistema geográfico estava ainda configurado pelo legado ptolemaico. A Geografia de Ptolemeu tinha sido introduzida no Ocidente por volta de 1410, com cinco edições desde 1475 até 1490 (Alegria, 1994). Estava presente nas conceções geopolíticas de D. João II, conforme vem referido por João de Barros, no âmbito da descoberta do reino do Benim, após o regresso da primeira viagem de Diogo Cão, em 1484. O cronista escreve que o rei D. João II, juntamente com os seus cosmógrafos, recorreu a Ptolemeu para obterem toda a descrição de África, a localização do reino de Preste João e também do Promontório Prasso, conhecimentos estes que determinaram o envio de navios e missões por terra, aspirando o descobrimento da Índia (Barros, 1778). De facto, antes de 1460, as informações geográficas disponíveis eram inerentes à geografia ptolemaica, mas quando ocorre o contacto com o mapa de Fra Mauro, uma espécie de inovação cartográfica para a época, a navegação em direção ao Índico ficava mais apetecível para os portugueses. A transição dos conhecimentos ptolemaicos para outras fontes cartográficas posteriores não se faria bruscamente, porque tanto em Portugal como em Castela, as referências a Ptolemeu continuariam ainda visíveis por muito tempo, como é constatado nos argumentos do cosmógrafo espanhol Andrés Garcia de Céspedes, nos princípios do século XVII, uma vez mais sobre a posição das Molucas. Apesar de tudo, convém precisar que a presença da geografia ptolemaica nas orientações geopolíticas de D. João II focalizava-se apenas na sua nomenclatura, porque a lição de Ptolemeu absorveu a experiência dos árabes, através do empreendimento cartográfico de Fra Mauro (Cortesão, 1990b). O mapa de Ptolemeu continha uma imperfeição capital que se foi dissipando com a contínua perceção do espaço Atlântico, pelos portugueses: a Taprobana estava aprisionada no seio do oceano Índico. Foi Fra Mauro, aquele cartógrafo que primeiro ousou sulcar a velha conceção ptolemaica, representando o Índico de mãos dadas com o Atlântico (Gonçalves, 1961). A toponímia ptolemaica tem correspondência com aquela que muito provavelmente Pêro da Covilhã recolheu na sua missão ao Oriente, quando buscava informações sobre as redes comerciais das especiarias mais preciosas, existentes no Índico. Segundo Ptolemeu, o meridiano de 160 graus passa sobre a Aurea Chersonesus onde se localizam Malaca, as ilhas Molucas e Banda, as quais corresponderiam às Insulae Satyrorum, situadas no meridiano de 170 graus, a sul de Sinus Magnus, perto do Equador (Cortesão, 1974). De acordo com a figura 2, a reconstrução do mundo de Cláudio Ptolemeu, à esquerda (Dilke, Harley e Woodward, 1987), mostra a localização da Aurea Chersonesus (latim), que confere com a Chrysé Chersonesus (grego), situada na península da Malásia, de acordo com o pormenor da cópia de Nicolaus de Germanus de 1467, à direita.

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Buscando o Caminho mais Curto para Aurea Chersonesus (Primeira Parte)

Carlos Paiva Neves 0 934

Com a assinatura do tratado de Alcáçovas em 4 de setembro de 1479, não se pode afirmar que o interesse da Coroa portuguesa, quanto às viagens atlânticas para o Ocidente, tenha sido abandonado completamente. Anteriormente, em 28 de janeiro de 1474, através de carta de doação régia de quaisquer ilhas achadas no mar oceano, identifica-se a concessão que foi dada a Fernão Teles, de terras a descobrir para além das ilhas Floreiras, que tinham sido descobertas por Diogo de Teive e seu filho João de Teive. De acordo com este documento, subentende-se por um lado, que estas viagens não foram financiadas pela Coroa portuguesa, mas antes um reconhecimento por mercê dos serviços e remunerações a expensas do próprio Fernão Teles. De outra parte, fica bem patenteado o interesse quase obstinado da política expansionista de D. Afonso V pelos territórios da Guiné com a marca influente de seu filho, o príncipe D. João. Em carta de 10 de novembro de 1475 focaliza-se novamente a proteção dos territórios nos mares da Guiné e, inclui-se no quadro das ilhas a descobrir, povoadas ou não povoadas, a ilha das Sete Cidades. Considera-se relevante reforçar a ideia de que estas viagens para o Ocidente e sobretudo as implícitas na colonização dos Açores fundamentam a escola portuguesa de navegação no alto mar (Cortesão, 1990a), sendo natural que a sucessão da descoberta das ilhas açorianas, estimulasse ainda mais, o ímpeto aventureiro dos navegadores portugueses, após as descobertas das ilhas do Corvo e das Flores. Esta manifestação já vinha patenteada nos tempos do infante D. Henrique que aspirava descobrir terras desconhecidas no oceano Ocidental para além das que vinham descritas por Ptolemeu, acabando por observar essas ilhas a 300 léguas para lá de Finis Terrae, onde encontraram muitos milhafres ou açores (Canto, 1878).

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