Vamos partir dos sete aforismos de Hermes Trismegisto no Caibalion para descobrir estes objectos do céu profundo, que tanto intrigam e consomem vastos recursos à Ciência.
Primeiro aforismo: O Princípio do Mentalismo.
O Todo é Mente; o Universo é Mental.
Poderemos elencar dois aspectos: o primeiro basear-se-á na nossa íntima relação com o universo que nos rodeia. É através da nossa mente que passa toda a fenomenologia da existência com a qual interagimos, provocando continuamente o seu colapso, segundo a física quântica, apontando para que o mundo material é criado pela consciência.
O Segundo aspecto, surgirá na concepção desde sempre transmitida na filosofia védica, querendo nós reportar à filosofia mais antiga, de que tudo o que existe foi ideado primeiramente na Mente do Uno, o Grande Arquitecto, o Absoluto, o Gérmen na Raiz, o Logos, reflectida nos arquétipos explicados por Platão, como se a realidade fosse apenas a Sua pegada ou a Sua assinatura.
Sob este último aspecto reside um grande acervo de opiniões muito actuais, do lado da Ciência, suportadas algumas por modelos matemáticos, defendendo que o Universo é Consciência. Neste campo, conceptualmente materialista, situa-se a Teoria da Informação Integrada (TII) de Giulio Tononi (2004 e 2014), embandeirada no símbolo Phi (Φ). Defende axiomaticamente que o todo não é a simples soma das partes, permitindo posteriormente comparar matematicamente por outras teorias, a estrutura organizacional do nosso cérebro com a recente descoberta da estrutura filamentar do Universo, a Laniakea, que é composta por mais de 100.000 galáxias, incluindo a Via Láctea e o Aglomerado da Virgem, com um diâmetro aproximadamente de 520 milhões de anos-luz.
O Pampsiquismo, de certo modo, aplica esta ideia a toda a natureza e aos seus aspectos evolucionistas através da sua mais recente Teoria Holo-Morfogenética, iniciada por Rupert Sheldrake.
Em cada galáxia reside um Buraco Negro representando, segundo as concepções mais recentes, centros de energia titânica, na base da qual estão os Glóbulos de Fermi, que na nossa opinião constituem quais nodos inter-sinápticos por onde flui a informação depois de ser retida. É assim que Stephen Hawking, Maldacena, Lee Smolin e tantos outros chegam á conclusão de que a informação não se perde nos Buracos Negros.
Segundo aforismo: O Princípio da Correspondência.
O que está em cima é como o que está em baixo, e o que está em baixo é como o que está em cima.
O comentário anterior poderia perfeitamente ter continuidade neste segundo aforismo, ao compararmos a organização neurológica cerebral com a organização e distribuição das galáxias no Universo. Isto levaria a supor a existência de uma estrutura fractal que de “alto a baixo” reproduzisse de alguma forma um padrão comum a toda a natureza.
Aqui poderíamos inserir a topologia espacial De Sitter na representação da estrutura do horizonte de eventos de um Buraco Negro e, de forma semelhante conceber a estrutura do Universo sob a topologia k=1 com o mesmo padrão e em consonância com a Teoria de Roger Penrose da Cosmologia Cíclica Conforme (CCC).
Ou seja, a informação em vez de ser destruída no interior do Buraco Negro, seria acumulada ou armazenada numa superfície bidimensional que de forma semelhante a um holograma projectaria uma imagem de si mesmo em três dimensões, como a figura geométrica dos peixinhos se projectariam de forma infinita na fronteira do horizonte de eventos, como mostra a figura 2.
Ao apresentar apenas duas dimensões o Buraco Negro faz desaparecer o conceito de gravidade, como nos tem sido transmitida, assume a gravidade quântica no espaço granular e, repõe a sua inerente entropia com uma imagem tridimensional. A gravidade que sempre foi tão importante em termos da Relatividade Espacial é trocada pela quantização “granular” do espaço.
Aplicando este conceito a todo o Universo (Leonard Susskind e Gerard’t Hooft), este seria um holograma, no qual as informações tridimensionais estão “impressas” em superfícies bidimensionais situadas na esfera imaginária que circunda nosso Universo. Seria como uma “flatland” onde os seus habitantes viveriam sem saber num mundo com apenas duas dimensões. Assim, espantosamente o nosso mundo tridimensional seria apenas uma ilusão, fazendo-nos regressar, de forma muito concreta, à concepção milenar dos Vedas (Maya).
Terceiro aforismo: O Princípio da Vibração.
Nada está parado; tudo se move, tudo vibra.
Novamente, este aforismo vem no seguimento de alguns princípios que derivam dos fenómenos apresentados no anterior, confirmando como veremos a intrínseca ligação entre todos.
Um Buraco Negro é por excelência o fenómeno que ilustra bem este aforismo.
Por definição as suas convulsões quânticas que caracterizam o seu estado para além do horizonte de eventos, conduzem-nos à concepção de estados vibracionais intensíssimos, onde a singularidade e os valores infinitesimais que surgem da sua lógica matemática, gerados no conflito entre a Relatividade e a Mecânica Quântica, desaparecem, substituídas pelo conceito de espaço granular – os átomos do espaço, e pela topologia 2D, como vimos anteriormente.
Dotado de uma massa de 7 bilhões de vezes a do Sol, esta imagem foi divulgada pelo Event Horizon Telescope em 10 de Abril de 2019.
Estamos a falar da natureza quântica do espaço, o seu tecido, traduzida no conceito da sua “granularidade” ou como “espuma” e referenciado numa escala terrivelmente diminuta, conhecida como escala de Planck (10-35 metros), representado pelo símbolo ℓP – o comprimento de Planck.
Então, pela sua natureza, aplica-se ao espaço o Princípio da Incerteza de Heisenberg (formulado em 1927) onde as flutuações e superposições quânticas criam um “oceano” de ondas vibracionais mesmo perto do zero absoluto. É este espaço que é retorcido no Buraco Negro encaminhando sobre si toda a matéria e a própria luz formando um disco de acreação com intensos campos electromagnéticos, correntes de gás ionizado e emissão de raios gama, formando redemoinhos colossais em torno da sua ergoesfera (no modelo simples de Kerr-Schwarzschild). Nem a própria luz escapa, mas, no entanto, toda a informação, que configura a estrutura da matéria, é guardada na superfície 2D do seu horizonte de eventos, que cresce de acordo com a informação avassalada. Como se cada galáxia, através do seu Buraco Negro central, criasse uma memória das suas origens e do seu fim, necessária á reposição, no fim dum éon manvatárico, a um novo ciclo que dará origem.
Quarto aforismo: O Princípio da Polaridade.
Tudo é duplo; tudo tem dois pólos; tudo tem o seu oposto; o igual e o desigual, são a mesma coisa; os opostos são idênticos em natureza, mas diferentes em grau; os extremos tocam-se; todas as verdades são meias-verdades; todos os paradoxos podem ser reconciliados.
Praticamente todas as galáxias possuem um Buraco Negro central, os designados Núcleos Activos Galácticos, alguns 1000 vezes superiores ao nosso. Deste Buraco Negro Central partem normalmente duas bolhas de gás ionizado, gigantescas direccionadas em sentidos opostos. A nossa galáxia, a Via Láctea, também dá conta da existência de tais estruturas que foram estudadas recentemente pelos astrónomos do telescópio WHAM (Wisconsin H-Alpha Mapper) e pelo Telescópio Hubble, que mediram pela primeira vez estas bolhas calculadas em cerca de 50.000 anos-luz de comprimento. Denominadas Bolhas de Fermi, assemelham-se a uma estrutura tipo ampulheta. Ali residem potentes jactos de gás ionizado conformados por campos magnéticos colossais e emissões de raios X e gama gerados no impacto da radiação cósmica e de partículas com velocidades relativísticas com o gás e dando forma á estrutura bicónica visível em raios X com um globo a norte e outro a sul do plano galáctico.
Esta imensa explosão datada de 3,76 milhões de anos, que se acredita ter lançado um flash de luz sobre galáxias nossas vizinhas e sobre os nossos próprios céus, ilustra bem a polaridade magnética presente no fenómeno que deverá ter dado origem á ignição de milhares de estrelas agora presentes em aglomerados estelares alojadas perto do núcleo central da nossa galáxia.
Ou seja, a destruição avassaladora de matéria pelo Buraco Negro (não da informação subjacente que a enforma ou faz parte dela) é a mesma fonte de criação de novos mundos. Esta duplicidade de carácter oposto, representa um aspecto comum a estes objectos cósmicos cujo horizonte de eventos cresce á custa da matéria que engole e devolve em parte depois de processada e que inclusivamente poderá estabelecer a sua influência na estrutura do halo da tão propalada Matéria Escura que envolve a nossa galáxia.
Quinto aforismo: O Princípio do Ritmo.
Tudo tem fluxo e refluxo; tudo tem as suas marés; tudo sobe e desce; tudo se manifesta por oscilações compensadas; a medida do movimento à direita é a medida do movimento à esquerda; o ritmo é a compensação.
O Buraco Negro na sua actividade forma uma vasta zona de choque onde a radiação impacta o meio circundante tal como as regiões de formação estelar criam “ventos” formados pela radiação estelar, modelando as áreas à sua volta em bonitas formações nebulares. As Zonas Moleculares Centrais (ZMC) nos centros galácticos são zonas de formação estelar em que no nosso caso ronda uma produção em cerca de 0.1 M☉/ano, o que é relativamente modesto se compararmos esta taxa com a galáxia Messier 82 que é 100x maior.
Se adicionarmos a actividade do Buraco Negro no centro da nossa galáxia com a actividade da ZMC, teremos um espaço local muitas vezes expandindo-se para o espaço intergaláctico, repleto de fluxos e refluxos de plasma, como marés de um vasto oceano, dando evidência a um universo de características electromagnéticas em concorrência com a gravidade.
Por toda a galáxia são comuns as estruturas de plasma tipo toroidais, formações tipo confinamento zeta (Z-Pinch), em camadas de plasma duplas, bilobadas, dipolares, dipolos magnéticos, todos derivando de formações electromagnéticas do plasma (considerado o 4º estado da matéria). Para tal é ver as configurações adquiridas por algumas nebulosas planetárias, por remanescentes de Supernovas ou as ejecções de massa coronal do nosso Sol e de outras estrelas (jactos de massa coronal que envolvem o nosso planeta e criam por exemplo os fenómenos pulsáteis das Auroras boreais e austrais).
Aqui não poderei de deixar de referir a opinião de Helena Blavatsky no Livro Secreto de Dzyan, ao defender a importância de um universo eléctrico contrapondo-o ao gravitacional Newtoniano.
De facto, todo o espaço galáctico e intergaláctico é permeado por correntes eléctricas e campos magnéticos cuja natureza potentíssima modelam e dão ritmo ao meio e aos corpos que nele existem e aos quais os Buracos Negros dão o seu maior contributo.
Sexto aforismo: o Princípio da Causa e Efeito.
Toda a causa tem seu efeito, todo o efeito tem a sua causa; tudo acontece de acordo com a Lei; o acaso é simplesmente um nome dado a uma Lei não reconhecida; existem muitos planos de causalidade, porém nada escapa à Lei.
Apenas algumas centenas de milhões de anos após o Big Bang, as primeiras estrelas do universo eram imensamente massivas, de tal modo que tinham uma vida muito curta. Com uma metalicidade muito pobre, constituídas maioritariamente à base de hidrogénio e hélio, que consumiam rapidamente, explodiam cedo por tal razão, em potentes Supernovas assimétricas, criando Buracos Negros, e dando origem a estrelas de segunda geração mais pequenas, como o nosso Sol, e que como tal ainda hoje estão presentes.
Destas primeiras estrelas foram criados os primeiros elementos pesados, tais como o carbono, o ferro e o zinco que constituíram as sementes do que viria a seguir-se. Após isso os restantes elementos só surgiriam por reacções da nucleossíntese na segunda geração de estrelas, os elementos necessários à vida, como se tivessem aparentemente surgido de um acaso.
Destas Supernovas gigantescas que originaram Buracos Negros iniciais, formaram-se os futuros Núcleos Galácticos Activos que reionizaram todo o espaço em redor pleno de hidrogénio e hélio, incentivando a formação de novas galáxias.
Simulações em computador acompanhadas por observações astronómicas na área da espectroscopia, mostraram e comprovaram um longo processo de construção do Universo. Estas Supernovas iniciais eram assimétricas em vez de esféricas, projectando potentes jactos de elementos pesados, tais como o zinco, no espaço circundante, espalhando assim as sementes que aglutinariam os elementos necessários ao aparecimento das galáxias, ancoradas em Buracos Negros originados na explosão titânica destas Supernovas, comportando-se como autênticos processadores de informação necessária à evolução das galáxias (ver Relação M-sigma cujo mecanismo foi sugerido por Joseph Silk e Martin Rees em 1998).
Um bom exemplo de uma série de Causa e Efeito, que suporta a origem do Universo e que recusa o acaso, como se a configuração ou o modelo das orbitais atómicas do hidrogénio (o elemento primordial no Universo) se reflectisse, a um outro nível, nas “Bolhas de Fermi”, nos jactos assimétricos das primeiras supernovas e ainda na criação dos primeiros Buracos Negros. Esta ideia vem também de encontro ao segundo princípio inscrito no Caibalion, podendo afirmar que o macrocosmo é o reflexo do microcosmo e vice-versa. Como se uma Lei geral e universal atravessasse todas as coisas.
Sétimo aforismo: o Princípio do Género.
O Género está em tudo; tudo tem o seu princípio masculino e o seu princípio feminino; o género manifesta-se em todos os planos.
Qual o processo que faz surgir um Buraco Negro?
De um lado temos estrelas supermassivas prenhes de energia (lado feminino) e do outro lado o fenómeno violento do seu colapso (lado masculino). Neste processo estas duas forças opostas, com a sua polaridade de actuação, completam-se ao criarem um novo objecto: uma estrela de neutrões proveniente do colapso de uma estrela com massa intermédia ou um Buraco Negro quando a estrela tem uma massa enorme equivalente pelo menos a 3 massas solares.
Hoje é amplamente aceite, por razões observacionais candentes, que o centro de quase todas as galáxias, dispõem de um Buraco Negro mais ou menos supermassivo, e não apenas aquelas com núcleos activos. Isto é confirmado pela relação M-sigma, que sugere uma forte ligação entre a formação do buraco negro e a própria galáxia. Logo, mais uma vez, o acto potencial da criação supervisionado pela lei dos dois opostos, em que a falta de um evidencia o outro. Nada pode ser criado sem o equilíbrio desta aliança, um não funciona sem o outro.
Se por um lado o fenómeno implica destruição, pelo outro implica regeneração, tal como o Yin e Yang da filosofia chinesa, energias passivas e activas, negativas e positivas, quanto mais temos de Yin (escuridão, espaço), mais temos de Yang (luz, radiação), potencializando-se um ao outro na criação. O Buraco Negro assim funciona, aumentando a superfície 2D do seu horizonte de eventos (guardando a informação) ao mesmo tempo que aumenta a destruição da matéria 3D.
Conclusão
Os sete aforismos do Caibalion podem constituir uma fonte de inspiração e orientação na interpretação da fenomenologia mais material à mais subtil. Cada aforismo é importante “de per si”, mas o seu conjunto forma um corpo que dá vida ao inanimado ou revela a alma mais profunda das coisas viventes, como se a soma das partes fosse maior que o todo.
Ao utilizarmos os Buracos Negros para explorar os sete princípios herméticos, tivemos apenas o propósito de confirmar a sua universalidade extensível aos fenómenos mais redutíveis e até agora menos compreendidos do Universo e da sua cosmo génese.
Bibliografia
O CAIBALION – Os três iniciados, Estudo da Filosofia Hermética do antigo Egipto e da Grécia, Universalismo, Publicações Maitreya, 2018.
A FUNDAMENTAL RELATION BETWEEN SUPERMASSIVE BLACK HOLES AND THEIR HOST GALAXIES, Ferrarese, The Astrophysical Journal Letters. 539: 9–12.
ÍSIS SEM VÉU, Volume I, Helena P. Blavatsky.
A DOUTRINA SECRETA, Vol. III – Antropogénese, Parte I: A Evolução Cósmica, Sete Estâncias do Livro Secreto de Dzyan, de H. P. Blavatsky
THE KAVLI FOUNDATION — Kelen Tuttle (Winter 2014) – https://www.kavlifoundation.org/science-spotlights/bubbles-center-our-galaxy-key-understanding-dark-matter-and-milky-ways-past#.X_oWPkEfpPY.
Imagem de destaque: As galáxias Messier 82 e Messier 81 com Núcleo Galáctico Activo visível. Imagem do autor