Ethan Green Hawke, conhecido principalmente como ator e cineasta, contabiliza quatro obras literárias. A última obra a ser publicada, em 2015, é o livro: Regras para um Cavaleiro.
A ideia de escrever este livro surgiu em Ethan após a leitura de uma carta escrita por Sullivan Ballou, veterano norte americano da guerra civil, que se encontrava numa situação similar à da personagem principal do livro, Thomas Hawke.
Ethan trabalhou cerca de 7 anos nesta obra com o objetivo de fornecer aos filhos uma linha condutora, clara e coerente nos vastos momentos em que o trabalho lhe limitava o contacto contínuo com eles.
Apesar deste ser um livro escrito propositadamente para os seus filhos, adolescentes, as verdades que dele se extraem são profundas e intemporais, tendo a sua origem nas mais nobres obras da humanidade como são exemplos o Dhammapada e o Bhagavad Gita.
A história deste livro remonta-nos para uma carta datada de 1483, descoberta muitos anos depois, na cave da quinta da família Hawke.
Thomas Lemuel Hawke, o autor da carta e protagonista central do livro, perde a mãe no seu nascimento e passa uma infância e adolescência perturbadas.
O ponto de partida do livro é, tal como na grande maioria dos percursos filosóficos, um conflito interno: Os remorsos a que Thomas é submetido pelo seu comportamento destrutivo e a falta de propósito da razão pela qual tinha nascido.
Imaginem a dor excruciante que uma lagarta, à medida que se transforma, deve experienciar, sem sequer ter a mínima ideia do que será a exultação do vôo.
Crise é evolução. Um ponto de viragem que chega com o propósito de nos fazer encontrar novos caminhos a percorrer, novos horizontes para crescer.
Perante esta crise, Thomas procura o seu Avô – pai da sua falecida mãe – tido como um dos homens mais sábios do reino, para que o aceite como seu escudeiro e, através dos seus ensinamentos, lhe dê as ferramentas necessárias para se tornar num Cavaleiro.
Nunca anuncies que és um cavaleiro, apenas comporta-te como um. Não és melhor do que ninguém, e ninguém é melhor do que tu.
Ser Cavaleiro não significava apenas saber montar a cavalo, ou ter um título nobiliárquico. Não era uma posição alcançável por qualquer um. Tinha um significado muito mais profundo. Era uma posição de prestígio e de responsabilidade, digna apenas dos que optavam por viver uma vida segundo uma conduta ética que estivesse em harmonia com a Natureza.
“Repara”, continuou o avô, mergulhando os seus pés velhos e cansados na água fria, “eu conheço a alegria dos peixes através da minha própria alegria. Nós nadamos no mesmo rio.”
Esta conduta ética é intemporal, vive em todas as épocas e alcança-se através da prática da virtude. Este cavaleiro, que age perante esta ética sempre viva, é também ele, intemporal.
Cavaleiro é aquele que, independentemente da época histórica em que se encontra, domina o seu Eu animal. Aquele que enfrenta e comanda a personalidade perante a adversidade ou o conforto. Aquele que tem capacidade de discernimento e de prudência para optar, em qualquer circunstância, pelo justo, pelo belo e pelo bom.
É com base na relação entre Thomas e o seu Avô (tal como acontece no Bhagavad Gita entre Arjuna e Krishna) que a narrativa da obra se desenrola.
Uma lista composta por 20 regras, denominadas como: “Regras para um Cavaleiro” é cedida a Thomas por parte do seu Avô.
São estas regras, comentadas com pequenas histórias que derivam tanto dos ensinamentos do Avô como das experiências vivenciadas por ambos, que agora, perante o decorrer de uma batalha da qual teme não regressar, Thomas compõe a carta que escreve aos seus filhos.
A beleza que existe neste livro, composto por histórias tão comuns, é que cada um pode discernir os vários ensinamentos que delas florescem. A sua comprovação também está apenas à distância do trabalho individual e interno de cada um.
“Hmmmm”, ele resmungou. “Dou graças por ter perdido a maior parte do meu dinheiro. Se podes perder algo num naufrágio, então não é realmente teu!”. Ele golpeou a sua sela e riu para si mesmo. “Não esperes nada e irás desfrutar de tudo!”.
Ao termos uma atitude prática coerente com os valores retirados deste livro, é com brevidade que experienciamos que os ensinamentos do Avô de Thomas, não são mais do que agir de acordo com a nossa Voz Interior, quando temos a alma pura e a mente serena. Esta é a razão desta ética ser universal e intemporal. Cada um de nós tem em si mesmo o seu Avô, o seu Mestre, ansiosamente à espera por ser ouvido, ansiosamente à espera de ser relembrado.
Para seguir para Norte, um cavaleiro deve usar a Estrela do Norte para o guiar, mas não chegará à Estrela do Norte. O dever de um cavaleiro é somente prosseguir naquela direção.
A conduta do Ser Humano é o reflexo do seu Eu Interior, o objetivo do Ser Humano é ser o seu melhor a cada momento.
Nuno Fragoeiro
Referências
Hawke , Ethan Green, Rules for a Knight, Knopf, 2015, New York
Entrevistas e apresentação do livro Por Ethan Hawke:
Ethan Hawke’s book ‘Rules for a Knight’ inspired by family.
Ethan Hawke’s “Rules for a Knight” in studio q.