Comentários aos Yoga Sutras 33, 5 e 11 de Patanjali

33. Amizade, misericórdia, alegria, indiferença em relação aos assuntos agradáveis ou desagradáveis, bons ou maus respectivamente pacificarão o chitta. (Edição espanhola: La calma mental se obtiene concibiendo amistad, compasión, alegría e indiferencia, respectivamente, por los que están sujetos a felicidad, dolor, mérito y demérito.)

É importante evitar as perturbações das situações desagradáveis, pois o que nos cria maior dano não são essas más situações mas os pensamentos e sentimentos que geramos em nós relativamente a elas.

Se a situação é agradável e produz felicidade, mostremos amizade, sentimento de partilha e comunhão, pois a verdadeira felicidade é a vivência da verdade que por isso deve alegrar a alma. Se a situação é desagradável, produzindo dor, deveríamos ter uma atitude de misericórdia ou compaixão pela ignorância que a causou. Se a situação é boa devemo-nos alegrar e se é má sermos indiferentes, sendo a indiferença a não identificação com esse mal.

Grande parte das nossas perturbações, desgastes mentais e astrais diários encontram-se nas reacções que produzimos em formas mentais e descargas astrais negativas no interior de nós próprios como resposta às situações com que nos vamos deparando, gerando daí sementes daninhas de ódio e agressividade que vão germinando na nossa vida.

Estar em paz / maxpixel

5. A ignorância apega-se ao perecedoiro, impuro e penoso, ao Não-Eu, em vez de reconhecer o eterno, puro e feliz Atman. (Edição espanhola: Ignorancia es ver eternidad, pureza, felicidad y Yo en lo que es caduco, impuro, dolor y no-Yo.)

A ignorância não é somente o facto de não se conhecer mas tomarmos como verdadeira a pequena parte que conhecemos e que para além de pequena muitas vezes é somente constituída por sombras.

O egoísmo e egocentrismo, assim como o instinto de poder mal dirigido, faz-nos qualificar essas sombras com os atributos do poder do real conhecimento, isto é, como eterno, puro e fonte de felicidade, mas que a vida se encarregará de fazer cair essas máscaras mostrando com uma certa dose de sofrimento, não só para nós mas para o mundo que fomos tecendo à nossa volta, porque o que pensamos ser eterno se dissolve, o que tomamos como puro se corrompe, a aparente felicidade se transforma em dor e a vida que dedicamos ao Não-Eu se consome ficando um vazio.

A grande armadilha da ignorância é talvez o poder da ilusão que deforma a realidade deixando-nos presos e estagnados no caminho. É difícil quando se está habituado a beber água barrenta imaginar que pode haver água cristalina, mas depois de a experimentar será loucura querer continuar a beber lama só porque não queremos fazer o esforço de a procurar e justificar-nos dizendo que aí também está a água. Há pois que reconhecer a natureza de cada coisa.

Diógenes sentado em seu barril / Wikipédia

11. Quando depois de atender a mente a vários objectos se concentra num só, está em samadhi. (Edição espanhola: Cuando se elimina la dispersión y surge la concentración en un punto se verifica, para la mente, la evolución al énstasis.)

A dispersão é o resultado de kama-manas (mente concreta) não dirigido, que salta de uma para outra coisa sem aprofundar em nada, pois para kama-manas não existe profundidade mas oportunidade de satisfação da curiosidade e de uma certa ilusão de poder só por ter tocado superficialmente nelas e por isso quantas mais toca mais pensa que é poderoso e se torna déspota para connosco próprios e para com os outros.

Para manas (mente pura) o seu poder está na profundidade e na capacidade de unificar todos os aspectos da vida, é o poder de concentrar, só possível no aprofundamento da realidade onde está a essência unificadora da vida.