Desde que me recordo, sempre senti um fascínio por estes seres vivos. Em caminhadas entre os bosques, questões como: “Há quanto tempo vive esta árvore?”, “Se pudessem falar, quantas histórias poderiam contar sobre o que sucedeu naquele local durante a sua existência?”, “Será que possuem alguma sabedoria para os seres humanos por exemplo em como habitar este planeta?”.
Nos tempos actuais, o tempo de vida médio de um ser humano ronda os 80 anos em países com as melhores condições para a longevidade. As árvores, no entanto, têm um intervalo que vai dos 30 anos, no caso de um pessegueiro, até 3000 anos, como no caso das sequóias gigantes que habitam no norte da Califórnia, algumas chegando a atingir alturas superiores a 100 m. Equivalente a 37 gerações humanas de existência, no mínimo, comparando com a esperança média da vida humana actual.
De acordo com o Darwinismo, a Teoria da Evolução, a natureza possui mecanismos de seleção que recompensam os seres mais adaptáveis às condições do planeta. Partindo desse princípio, as árvores têm evoluído por mais tempo que os seres humanos. De acordo com o conhecimento actual, as primeiras árvores apareceram há 370 milhões de anos enquanto os primeiros primatas, dos quais o Homo Sapiens é descendente surgiram há 55 milhões.
Observando as etapas de crescimento do ciclo de vida de uma árvore, desde a semente à sua maturação, na fase inicial da sua vida a árvore é um ser egoísta, que necessita de condições propícias para o seu desenvolvimento, usando tudo para crescer, oferecendo menos do que recebe. No entanto, quando esse estágio termina, esta tendência inverte-se. A árvore torna-se um ser altruísta, dando mais do que recebe.
A árvore permite a vida como a conhecemos hoje no planeta, gerando muito mais do que necessita para a sua existência. É inegável a sua vital importância para todas as espécies que habitam o globo terrestre, incluindo, obviamente, o Homo Sapiens Sapiens. Desde o fornecimento de oxigénio e absorção de CO2 na atmosfera, ao controlo e manutenção das condições climatéricas como a humidade – tanto no ar como nos solos –, passando pelas correntes de ar e o abrigo que providenciam a insectos, aves, répteis, fungos e aos próprios seres humanos. A madeira tem permitido à humanidade sobreviver a Invernos hostis, tanto através do fogo como combustível, como servindo de material de construção de casas e de inúmeros objectos que utilizamos actualmente.
Se observarmos o ser humano, não será igual? Nos primeiros estágios da vida, somos seres altamente vulneráveis tanto física, como mental e emocionalmente, precisando de todos os cuidados e condições propícias ao crescimento, até sermos independentes e atingirmos um estágio em que podemos tornar-nos altruístas, criando muito mais do que nos foi dado.
Se acreditarmos na existência da alma, componente imortal do ser humano, e até na possibilidade da reencarnação, será que no nosso trajecto espiritual começamos por sermos seres egoístas e pouco desenvolvidos, evoluindo nesta vida ou até que várias vidas se passem e nos tornemos espiritualmente mais maduros e altruístas com os outros e com o mundo?
Um facto bastante interessante que aprendi recentemente, é que algumas árvores ao crescerem mais rapidamente e mais alto que outras, acabam por bloquear a luz solar às que se encontram abaixo prejudicando o seu crescimento. No entanto, sabe-se hoje que, através do solo, com a ajuda de fungos (micélio), as árvores comunicam entre si e partilham nutrientes excedentes, com as que se encontram na sombra, para que cresçam o mais rápido possível e cheguem mais perto do Sol.
Desde tempos antigos, também para o Homem o Sol é visto como um símbolo da Verdade e Sabedoria. Buda era Iluminado. Os pagãos possuíam tipicamente no topo da hierarquia dos seus deuses um deus associado ao sol. Para os egípcios era Ra, para os nórdicos era Sol, para os gregos era Hélios, para os Hindus era Surya e assim também para outras culturas que já pereceram.
Fazendo um paralelismo entre a árvore no seu estágio maduro e um ser humano que se encontre mais desenvolvido, não será natural e indispensável a partilha da sabedoria, tal como para as árvores são os nutrientes? O que seria da humanidade se os grandes génios mantivessem para si o que sabiam ser a Verdade? Se Copérnico, Galileu, Nicola Tesla, Sócrates, Platão, Aristóteles ou Darwin e muitos outros nunca tivessem partilhado o seu conhecimento? Mesmo sendo alvo, muitas vezes, de ameaças à própria vida e das suas famílias ou pondo em causa a sua reputação.
Acredito pois, não só do ponto de vista individual mas também do colectivo, na existência desta evolução, do egoísmo ao altruísmo. Olhando para a acção humana colectiva, parece-me que estamos ainda num estágio de amadurecimento, pois ainda continuamos a retirar muito mais da natureza do que lhe damos de volta.
Ocorre-me outro paralelo expressando-o através de uma frase do pai da Psicologia Analítica, Carl Jung, “Não há árvore que toque nos céus sem as raízes tocarem no inferno”. Quanto maior a árvore, maior a fundação. Extensas são as suas raízes no solo, a parte mais “feia” e escondida. Não acontece crescimento vertical, sem simultaneamente, ocorrer na direcção oposta, no eixo Sol / Solo.
No entanto, dificilmente somos imparciais, preferimos olhar para o que é belo, agradável, deslumbrante. Será razoável assumir que o nosso “solo” é a nossa mente, o nosso passado, as nossas emoções, as nossas tendências? E as raízes a expansão da nossa autoconsciência em direcção a um desconhecido que tendencialmente evitamos porque fazê-lo é mais confortável, conhecido, previsível, rotineiro, habitual? E existirá maior desconhecido para o ser humano que o futuro? E como podemos estender as nossas raízes numa direcção desejável ou até saber que direcção tomar sem antes entender a relação de causa e efeito em eventos passados tanto a nível individual como colectivo?
Para concluir, se o processo para o crescimento individual é a expansão da autoconsciência através da observação e reflexão do mundo interior e consequente manifestação através da Acção, o mecanismo para o crescimento colectivo é igualmente feito compreendendo a nossa História, pois nela estão gravados os pensamentos e acontecimentos de toda a Humanidade. Imparcialmente, ousemos olhar tanto para o Belo como o Feio. Que o entendimento das nossas raízes cresça para que possamos tocar no céu.
Pedro Mesquita
Imagem de destaque: Árvores, Flickr