Que importância teve a técnica no devir da Humanidade? Pela sua própria definição, trata-se daquela série de meios pelos quais o ser humano consegue dominar a matéria. E, no entanto, os elementos técnicos não são os únicos a serem levados em conta, quando se trata de medir um índice de progresso. Nos nossos dias, estamos imbuídos num culto à técnica, de tal maneira que calibramos os graus e excelências das civilizações com base nas suas técnicas mais ou menos avançadas. E, para além disso, apegamo-nos ao nosso próprio modo de vida. Quando visitamos monumentos pertencentes a povos da antiguidade, ficamos mais impressionados com as semelhanças que podemos encontrar com as nossas técnicas do que com as suas realizações religiosas ou metafísicas.
Do ponto de vista filosófico, a técnica não é a única expressão da cultura humana, mas é apenas uma das suas muitas expressões e, para além disso, podem existir muitas formas de técnica.
Os antigos chineses, por exemplo, no segundo milénio a.C. já possuíam formas de bússolas, assim como também os fenícios. No século passado, exibíamo-las nos museus sem reconhecê-las como tal, pois não eram bússolas tal qual como nós as entendemos.
Como surgiu a técnica na Humanidade? O ser humano tem vários aspetos de desenvolvimento, de autoconhecimento e de domínio da natureza. Nem todos os povos deram a mesma importância à técnica e é um erro observar as diferentes civilizações do ponto de vista do desenvolvimento, somente neste aspeto.
A ciência oficial estabelece o alvorecer da técnica no período paleolítico, quando o ser humano começou a trabalhar a pedra, com as suas diferentes classificações, que só se referem às obras de grupos humanos e não a estes em si mesmos. Por isso, é difícil saber o porquê dessas mesmas obras. Geralmente, vemos, desde a Antiguidade, aquilo que está em contacto epidérmico connosco, mas não em profundidade.
Heródoto, nos seus nove livros de História, por exemplo, descreve minuciosamente a vida religiosa e os cultos de alguns lugares e, no entanto, menciona, numa passagem, que o primeiro rei dos Ptolomeus tinha um modelo de navio que chegava a ter onze fileiras de remos.
Também se refere a um grande relógio existente em Alexandria que, ao dar as horas, apareciam as doze figuras dos trabalhos de Hércules.
Estes povos, certamente, tinham elementos de técnica avançada, mas não lhe davam a importância que nós lhe damos agora e os conhecimentos e a imaginação que possuíam canalizavam-nos noutras direções, aplicavam-nos noutros campos.
Vale a pena perguntar: poderíamos construir catedrais góticas hoje em dia com a técnica que temos? Claro, mas nós não as construiríamos porque não lhe encontraríamos significado.
A técnica, de alguma forma, existe desde os primórdios da Humanidade. O importante é referirmo-nos ao impacto psicológico que a técnica tem atualmente sobre nós, sem esquecer a nossa própria alienação técnica.
Temos que nos fazer uma pergunta: até que ponto a nossa técnica desenvolvida reflete um materialismo interior, ou até que ponto a evolução exagerada da técnica também não nos afeta, materializando-nos? O ser humano, que se identificou exageradamente com a técnica, passa a ter uma dependência desses elementos materiais, iniciando um círculo vicioso, no qual o ser humano faz a técnica e a técnica faz o ser humano.
Essa busca pela atração e escape da técnica pode ser comprovada, ao vermos quantas vezes fizemos descobertas e quantas vezes as esquecemos, como se de alguma forma os humanos lhes tivessem temor e as esquecessem.
A tabela anexa, preparada pelo Prof. Fernando Schwarz, da Nova Acrópole de França, reflete essa tomada e abandono das descobertas científicas e técnicas.
Isto demonstra-nos a existência de ciclos de alienação no ser humano, isto é, que o ser humano nem sempre pensa da mesma forma, buscando diferentes facetas do conhecimento.
No século XIX, os positivistas resolveram o problema da história, ao estabelecer com o materialismo histórico, uma curva ascendente na evolução do ser humano desde o seu estado mais selvagem. De acordo com essa teoria, no início, o homem tinha uma mentalidade mágica e explicava tudo através da magia; então, veio o homem religioso, que comunicou essa magia obscura; depois, o homem filosófico, que extraiu uma série de símbolos e conceitos abstratos para explicar a natureza. E, finalmente, chega o homem científico: aquele que demonstra e conhece as coisas.
Contudo, essa teoria materialista foi refutada pela descoberta de torres arqueológicas que mostram que, sob uma cultura, não se encontra necessariamente outra de desenvolvimento inferior.
E hoje, na América, podemos ver que, ao lado daqueles imensos monumentos construídos com precisão e grandiosidade, encontramos o pobre homem de hoje que só pode ganhar dinheiro tirando fotos ao lado de algumas ruínas.
Assim, do ponto de vista filosófico, o ser humano, como tal e como um todo, ascende e desce na sua evolução.
Hoje em dia, vemo-nos como na balaustrada de um salto para o vácuo em termos de técnica. Estamos a entrar numa fase em que o nosso mundo não se sente satisfeito com a técnica, descobrindo que esta não lhe responde a todas as perguntas.
No início da grande produção em série, o ser humano ficou deslumbrando pelas linhas de montagem. Hoje, porém, mais uma vez sentimo-nos inclinados para o trabalho humano feito diretamente. Trata-se agora de dar um toque humano às coisas.
Novamente, o ser humano sente sede de diferenciação, sede de humanismo, sede de reencontro consigo mesmo.
Estamos cansados da grande máquina de massificação.
Abrimo-nos para algo que já está dentro de nós, mas que não queremos aceitar: que o tempo da técnica passou, que há um novo humanismo a bater às portas do futuro.
O ser humano está a voltar às antigas fontes. Hoje, tudo o que se baseia exclusivamente na base do material está condenado ao fracasso, seja no plano político, no económico, no religioso, no social. O indivíduo está a renascer em cada ser humano que se sente afogado pelo ambiente massificante.
Paradoxalmente, uma instituição como a Nova Acrópole, que propõe a abordagem filosófica dos problemas do ser humano, é hoje algo muito atual, muito necessária e prática.
Hoje, a Humanidade precisa de ideologia, de convivência, de compreensão. Até onde saibamos satisfazer essa sede, cumpriremos o nosso destino histórico.
Precisamos aprender a tirar as mãos da matéria, mesmo que seja aos poucos. Precisamos de criar um laboratório onde possamos elaborar o novo humanismo necessário, um elixir da vida.
E tudo aquilo que nos queira massificar, que nos queira igualar, é algo do passado, não é algo do futuro.
Jorge Ángel Livraga Rizzi
Publicado na revista Nova Acrópole num. 30 Madrid, Julho de 1976
Resumo da Conferência do mesmo título ditada na sede da Nova Acrópole em Madrid
Alguns dados sobre a investigação científica.
As descobertas científicas não são um atributo exclusivo da era industrial.
Os antigos alcançaram mais de uma vez descobertas que agora chamamos de “novas”.
Aqui está uma tabela que levará o leitor a refletir sobre inúmeros conhecimentos esquecidos nos nossos dias e que estão enterrados no inconsciente da História aguardando o seu novo despertar.
Conceções |
Conhecidas |
Redescobertas |
Teoria |
Uluka |
Boyle |
Teoria |
Zenão |
Einstein |
Teoria |
Anaximandro |
Darwin |
A |
Pitágoras |
Copérnico |
Influência |
Posidónio |
Kepler |
A |
Parménides |
Galileu |
Planetas |
Demócrito |
Úrano |
A |
Demócrito |
Galileu |
Meteoritos, |
Diógenes |
Academia |
Música |
Pitágoras |
Radioastrónomos |
Aviação |
Dédalo |
Os |
Turborreactor |
Hierão |
Von |
Robots |
Os |
Charles |
Canalização |
Knossos |
s. |
Existência |
Platão |
Bjarni |
Interessante artigo e bem analisado pelo professor. Bem curioso algumas descobertas antigas e quando foram encontradas. Por vezes o mais difícil é definir cientificamente(limites e nuanças), ou em uma linguagem notável a precisão da técnica. Mas todos percorriam na mesma direção 😀