A Natureza, dizem-nos os grandes livros de Sabedoria Oriental, tem três características básicas, das quais participa também e em elevado grau, o homem. Estas são satwa ou harmonia superior, rajas ou acção e, por último, tamas ou inércia. Quando vemos todas as coisas belas que se poderiam fazer no mundo, mas que permanecem nas sombras do nada, quando tocamos o coração humano, encontrando neles um pequeno tesouro de sonhos lamentavelmente inéditos, vemos confirmada esta última característica da matéria, fazendo do homem presa… sempre que este decide levantar o estandarte dos seus ideais, algo detém a sua marcha no caminho, e cai, quase sempre cai. Cai no poço da mediocridade, da nulidade, do fracasso. Mas não cai sozinho. Com ele, vão todas as almas que pensou ajudar com a sua obra ou a sua ideia, as almas que devia proteger e não quis. Corações órfãos de pai são, aqueles a quem se expulsam, junto àquele que desconhecia o seu dever para com eles, ao páramo da dor.
Exílio dos Pandavas. Wikipedia.
Essa qualidade, tamas, é desgraçadamente a que impera na alma de todos os homens. A que mofa as suas armas no combate, a que tinge o seu céu de cinzento, a que amarra as suas mãos. Essa qualidade tão próxima de nós próprios é, então, contra o que o homem tem que lutar dentro de si mesmo.
Matando o “melhor amanhã faço”… o “mais à frente”, é como livrar a horta do mundo de todas as suas ervas daninhas. Ervas daninhas que, no geral, partem e germinam nos nossos terrenos interiores.
Mal vista uma necessidade, sufoquemo-la “já”, sem esperar melhores tempos – vã desculpa mental daquele que não tem quilates de soldado. Amparar-se sob as sombras incertas do futuro, para evitar realizar no presente, não é próprio de corações despertos. O coração desperto não se detém, não espera, não vacila, porque nele, está toda a força do mundo e sentindo-a, qualquer tempo é bom, para a boa Acção.
Amável leitor, são tristes os suspiros na velhice… e as mãos vazias. Cada homem que fracassa, faz do mundo um fracassado. Destruir a corola de um sonho é tão monstruoso como destruir a vida de um ser… E para que jamais turvem as nossas horas o “eu teria sido capaz”… ou o “se eu tivesse lutado”, bom é que aprendamos a aproveitar a energia derramada de cada um dos nossos minutos, como se fossem grãos de ouro com os quais devemos construir a mais maravilhosa das estátuas: a da nossa própria realização, posta ao serviço de todos os homens do mundo.
Belerofonte montado em Pegasus, por Tiepolo. Wikipedia.
